segunda-feira, 25 de junho de 2018

Neblina


Imagem: jef



não queria sair da cama
naquela manhã
contudo o piar da jaçanã
ecoou distante
nesse exato instante
desabraçou-se do cobertor
para respirar o ar lá fora
e abraçar a sua dor
                        quis chorar  -
quis gritar
as lágrimas não o socorreram
e o grito
ah o grito foi de satisfação
o sol vazou a neblina e derramou
a luz em seu coração

Imagem: jef

domingo, 24 de junho de 2018

A Lucidez Cruel de Malu Aires

                                                  
                                                      Texto escrito por Malu Aires *


Lula, como presidente do Brasil, país com milhões de miseráveis e trilhões em riquezas, poderia ter seguido os passos do seu antecessor e ficado milionário. Tornado os filhos e amigos, milionários. 
Poderia estar descansando numa fazenda qualquer no interior do país, com pista de pouso pro seu jatinho. Poderia ter dezenas de apartamentos e imóveis no exterior - NY, Barcelona, Paris... 
Sabe por que poderia? Porque, no Brasil, país com milhões de miseráveis, parte da sociedade brasileira só respeita gente que fica rica sem esforço algum, sem honestidade nenhuma. 
"Esse soube ser esperto" - diz o que nasceu pra burro e desonesto.
Os iguais cheiram o rabo uns dos outros. 
A família Marinho, dona da Globo e das maiores fortunas do país, não tem um centavo lícito. Mas janta com ministro do Supremo. 
O dono da Ambev (e seus sócios) ficaram ricos da noite pro dia com informações privilegiadas do governo FHC. Ninguém mexe com eles.
Não mexem, sequer, com um doleiro pé-de-chinelo, de Londrina, vão mexer com o homem mais rico das Américas? 
Não, né?
Com essa gente que manda matar, ninguém mexe.
No Brasil, acontece sempre um fenômeno muito estranho. Ladrão sai das colunas de escândalo, direto pra lista Forbes, em um ano. 
O dono do Banco Safra é um deles e, toda a lista do escândalo Zelotes já está limpinha na Forbes. 
A sonegação fiscal no Brasil chega, por ano, a roubar dos cofres públicos R$1 trilhão. 
Estão todos estes trilhões nas listas Exame, Valor, Forbes... 
Todo mundo aplaude, porque os Marinho dizem que, toda vez que sai uma lista dessa, o Brasil ganha mais investidores. E o trouxa que acha que TV lhe dá informação de graça, acredita.
O mercado paga anúncio em forma de reportagem que afirma que o Brasil quebrou e que a conta é o aposentado quem vai pagar.
O trouxa acredita e aceita manso. 
Na reportagem do ano anterior, o anunciante pagou matéria que afirmava que o pré-sal dava prejuízo ao país. 
E o trouxa acreditou e continua acreditando, mesmo, um ano depois, quando a matéria diz que a Shell vai ter lucro e não vai pagar imposto nenhum pelo pré-sal furtado.
Ah, e a gasolina subiu de novo, trouxa.
Dezenas de bilhões pra Shell e nada pro aposentado. 
Trilhões de dólares pra Shell, até 2040 e 20 anos sem investimentos no Brasil com educação, saúde e infraestrutura.
Tá aí, o tal Padrão FIFA que os desmiolados pediam, em 2013.
O roubo é o maior do século. Mas nada é dito. O repórter nem comenta. O jornal nem anuncia em letras garrafais "SHELL ROUBA DO BRASIL R$40 BI AO ANO"
Claro que não.


No Brasil, parte da nossa sociedade aceita patifaria dessa, calado. Senta na frente da TV com prato na mão, enche a boca de feijão e farinha e engole a ladainha toda a seco.
Depois, quer descontar a revolta nos filhos, na esposa, no primeiro infeliz que cruzar o seu deprimente caminho. Enche a cara de cerveja de milho transgênico, o ano inteiro, pra votar (de ressaca pesada) no primeiro palhaço que der as caras nas urnas. 
"Pior não fica" - fica sim. Sempre fica. Olha aí!
Colocaram Lula pra servir de saco de pancadas, enquanto o roubo segue livre, atravessando todas as fronteiras. 
A folha de pagamentos dos desembargadores do TRF-4 compraria uns 10 triplex daquele, por mês. Quem julga juiz? Quem quebra sigilo bancário de juiz?
Não é o dinheiro que some pelo ralo, dia a dia, que importa pro cidadão revoltado com tudo que assiste na TV. Os tribunais podem ficar com todo o dinheiro do roubo. O juiz responsável pode até investir em ações, com os valores retidos em juízo. Os delatores podem até sair livres e ricos, da cadeia. Os promotores, virarem "consultores" dos corruptores.
O que importa? Quem mexe com peixe grande?
Cadeia não é pra rico. Nem pra rico corruptor, nem pra rico estuprador condenado a 278 anos.
O cidadão só quer falar de "triplex". E com um deboche da sua própria condição de classe-média assalariada, que nem ele se dá conta. Ele não está falando de um apartamento na Avenue Foch, em Paris. Sua indignação não vale o salário do desembargador. Não vale o aeroporto da pista de pouso do narcotráfico de Minas. Sua indignação não chega ao valor de um prêmio do BBB. Um roda-roda Jequiti. 
A indignação com tamanha micharia, esvazia a legítima revolta de um quarto, em Salvador, acondicionando R$51 milhões em cash. 
É muito zero na cabeça, muito escândalo pra esquecer numa semana. Melhor falar do triplex. Mais fácil de pronunciar que "Avenue Foch".
O cidadão não quer Lula preso porque ele congelou investimentos no país, por 20 anos. Não quer Lula preso porque foi o ex-presidente que deu o pré-sal brasileiro pra Shell. O cidadão não quer Lula na cadeia porque foi Lula quem entregou a base de Alcântara pros EUA, as terras produtivas pra China, a água pra Nestlé. Não quer Lula preso porque ele tem rádios, TVs, aeroportos, fazendas... O cidadão sabe que Lula não tem nada comparado a isso, não cometeu nenhum desses crimes que estão fadados ao esquecimento. 
O que não dá na TV, ninguém se lembra. 
O cidadão quer Lula preso porque o juiz quer Lula preso. Porque a TV quer Lula preso. Porque a Shell quer Lula preso.
Com Lula preso, terão tempo de sobra pra colocar todo o país à venda por R$1.
Lula, com essa sentença, perde seus direitos, sua liberdade. Com esse processo-farsa, perdeu esposa, inclusive. 
Mas Lula não perde triplex nenhum a leilão porque o imóvel nunca foi dele. Dinheiro nunca importou a Lula, ou ele teria sido imagem e semelhança do seu antecessor - rico, blindado, amigo íntimo de banqueiros internacionais, dono de instituto intocável, dono de imóveis milionários e com imenso espaço em jornais e TV pra posar de príncipe, até o fim da miserável existência.
Pra isso, Lula teria que vender o Brasil a R$1 pra Shell.



Com essa sentença, quem perde fortunas é o Brasil. 
Com essa sentença, o povo brasileiro perde toda a sua dignidade e suas garantias legais e cidadãs. O povo perde emprego, criança perde creche, doente perde hospital, a juventude perde ensino superior, a família perde casa e renda, o país perde respeito e futuro.
A Shell vai ser dona do Brasil e todo país que a Shell ganha de governos, políticos e juízes corruptos, fica na merda.
Vamos comemorar a possível prisão do Lula, pra virar o ano soltando fogos pela gasolina beirando os R$8 o litro, o gás, R$100. 
Vamos festejar, idiotas!
Vamos festejar nossa própria sentença de miséria perpétua! 
Enfim, agora temos o país de bosta que todos os bostas queriam de volta.

      *Malu Aires é cantora, compositora, instrumentista e produtora musical

sábado, 9 de junho de 2018

Se a vida não me faltar, vamos nos reencontrar



Há dois meses estou preso, injustamente, sem ter cometido crime nenhum.

Há dois meses estou impedido de percorrer o País que amo, levando a mensagem de esperança num Brasil melhor e mais justo, com oportunidades para todos, como sempre fiz em 45 anos de vida pública.

Fui privado de conviver diariamente com meus filhos e minha filha, meus netos e netas, minha bisneta, meus amigos e companheiros.

Mas não tenho dúvida de que me puseram aqui para me impedir de conviver com minha grande família: o povo brasileiro.

Isso é o que mais me angustia, pois sei que, do lado de fora, a cada dia mais e mais famílias voltam a viver nas ruas, abandonadas pelo estado que deveria protegê-las.

De onde me encontro, quero renovar a mensagem de fé no Brasil e em nosso povo.

Juntos, soubemos superar momentos difíceis, graves crises econômicas, políticas e sociais.

Juntos, no meu governo, vencemos a fome, o desemprego, a recessão, as enormes pressões do capital internacional e de seus representantes no País. Juntos, reduzimos a secular doença da desigualdade social que marcou a formação do Brasil: o genocídio dos indígenas, a escravidão dos negros e a exploração dos trabalhadores da cidade e do campo.

Combatemos sem tréguas as injustiças.

De cabeça erguida, chegamos a ser considerados o povo mais otimista do mundo.

Aprofundamos nossa democracia e por isso conquistamos protagonismo internacional, com a criação da Unasul, da Celac, dos BRICS e a nossa relação solidária com os países africanos.

Nossa voz foi ouvida no G-8 e nos mais importantes fóruns mundiais.

Tenho certeza que podemos reconstruir este País e voltar a sonhar com uma grande nação. Isso é o que me anima a seguir lutando.

Não posso me conformar com o sofrimento dos mais pobres e o castigo que está se abatendo sobre a nossa classe trabalhadora, assim como não me conformo com minha situação.

Os que me acusaram na Lava Jato sabem que mentiram, pois nunca fui dono, nunca tive a posse, nunca passei uma noite no tal apartamento do Guarujá.

Os que me condenaram, Sérgio Moro e os desembargadores do TRF-4, sabem que armaram uma farsa judicial para me prender, pois demonstrei minha inocência no processo e eles não conseguiram apresentar a prova do crime de que me acusam.

Até hoje me pergunto: onde está a prova?

Não fui tratado pelos procuradores da Lava Jato, por Moro e pelo TRF-4 como um cidadão igual aos demais.

Fui tratado sempre como inimigo.

Não cultivo ódio ou rancor, mas duvido que meus algozes possam dormir com a consciência tranquila.

Contra todas as injustiças, tenho o direito constitucional de recorrer em liberdade, mas esse direito me tem sido negado, até agora, pelo único motivo de que me chamo Luiz Inácio Lula da Silva.

Por isso me considero um preso político em meu país.

Quando ficou claro que iriam me prender à força, sem crime nem provas, decidi ficar no Brasil e enfrentar meus algozes.

Sei do meu lugar na história e sei qual é o lugar reservado aos que hoje me perseguem.

Tenho certeza de que a Justiça fará prevalecer a verdade.

Nas caravanas que fiz recentemente pelo Brasil, vi a esperança nos olhos das pessoas. E também vi a angústia de quem está sofrendo com a volta da fome e do desemprego, a desnutrição, o abandono escolar, os direitos roubados aos trabalhadores, a destruição das políticas de inclusão social constitucionalmente garantidas e agora negadas na prática.

para acabar com o sofrimento do povo que sou novamente candidato à Presidência da República.

Assumo esta missão porque tenho uma grande responsabilidade com o Brasil e porque os brasileiros têm o direito de votar livremente num projeto de país mais solidário, mais justo e soberano, perseverando no projeto de integração latino-americana.

Sou candidato porque acredito, sinceramente, que a Justiça Eleitoral manterá a coerência com seus precedentes de jurisprudência, desde 2002, não se curvando à chantagem da exceção só para ferir meu direito e o direito dos eleitores de votar em quem melhor os representa.

Tive muitas candidaturas em minha trajetória, mas esta é diferente: é o compromisso da minha vida.

Quem teve o privilégio de ver o Brasil avançar em benefício dos mais pobres, depois de séculos de exclusão e abandono, não pode se omitir na hora mais difícil para a nossa gente.

Sei que minha candidatura representa a esperança, e vamos levá-la até as últimas consequências, porque temos ao nosso lado a força do povo.

Temos o direito de sonhar novamente, depois do pesadelo que nos foi imposto pelo golpe de 2016.

Mentiram para derrubar a presidenta Dilma Rousseff, legitimamente eleita.

Mentiram que o país iria melhorar se o PT saísse do governo; que haveria mais empregos e mais desenvolvimento.

Mentiram para impor o programa derrotado nas urnas em 2014.

Mentiram para destruir o projeto de erradicação da miséria que colocamos em curso a partir do meu governo.

Mentiram para entregar as riquezas nacionais e favorecer os detentores do poder econômico e financeiro, numa escandalosa traição à vontade do povo, manifestada em 2002, 2006, 2010 e 2014, de modo claro e inequívoco.

Está chegando a hora da verdade.

Quero ser presidente do Brasil novamente porque já provei que é possível construir um Brasil melhor para o nosso povo.

Provamos que o País pode crescer, em benefício de todos, quando o governo coloca os trabalhadores e os mais pobres no centro das atenções, e não se torna escravo dos interesses dos ricos e poderosos.

E provamos que somente a inclusão de milhões de pobres pode fazer a economia crescer e se recuperar.

Governamos para o povo e não para o mercado.

É o contrário do que faz o governo dos nossos adversários, a serviço dos financistas e das multinacionais, que suprimiu direitos históricos dos trabalhadores, reduziu o salário real, cortou os investimentos em saúde e educação e está destruindo programas como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, o Pronaf, Luz Pra Todos, Prouni e Fies, entre tantas ações voltadas para a justiça social.

Sonho ser presidente do Brasil para acabar com o sofrimento de quem não tem mais dinheiro para comprar o botijão de gás, que voltou a usar a lenha para cozinhar ou, pior ainda, usam álcool e se tornam vítimas de graves acidentes e queimaduras.

Este é um dos mais cruéis retrocessos provocados pela política de destruição da Petrobrás e da soberania nacional, conduzida pelos entreguistas do PSDB que apoiaram o golpe de 2016.

A Petrobrás não foi criada para gerar ganhos para os especuladores de Wall Street, em Nova Iorque, mas para garantir a autossuficiência de petróleo no Brasil, a preços compatíveis com a economia popular.

A Petrobrás tem de voltar a ser brasileira. Podem estar certos que nós vamos acabar com essa história de vender seus ativos. Ela não será mais refém das multinacionais do petróleo. Voltará a exercer papel estratégico no desenvolvimento do País, inclusive no direcionamento dos recursos do pré-sal para a educação, nosso passaporte para o futuro.

Podem estar certos também de que impediremos a privatização da Eletrobras, do Banco do Brasil e da Caixa, o esvaziamento do BNDES e de todos os instrumentos de que o País dispõe para promover o desenvolvimento e o bem-estar social.



Sonho ser o presidente de um País em que o julgador preste mais atenção à Constituição e menos às manchetes dos jornais.

Em que o estado de direito seja a regra, sem medidas de exceção.

Sonho com um país em que a democracia prevaleça sobre o arbítrio, o monopólio da mídia, o preconceito e a discriminação.

Sonho ser o presidente de um País em que todos tenham direitos e ninguém tenha privilégios.

Um País em que todos possam fazer novamente três refeições por dia; em que as crianças possam frequentar a escola, em que todos tenham direito ao trabalho com salário digno e proteção da lei.

Um país em que todo trabalhador rural volte a ter acesso à terra para produzir, com financiamento e assistência técnica.

Um país em que as pessoas voltem a ter confiança no presente e esperança no futuro.

E que por isso mesmo volte a ser respeitado internacionalmente, volte a promover a integração latino-americana e a cooperação com a África, e que exerça uma posição soberana nos diálogos internacionais sobre o comércio e o meio ambiente, pela paz e a amizade entre os povos.

Nós sabemos qual é o caminho para concretizar esses sonhos.

Hoje ele passa pela realização de eleições livres e democráticas, com a participação de todas as forças políticas, sem regras de exceção para impedir apenas determinado candidato.

Só assim teremos um governo com legitimidade para enfrentar os grandes desafios, que poderá dialogar com todos os setores da nação respaldado pelo voto popular.

É a esta missão que me proponho ao aceitar a candidatura presidencial pelo Partido dos Trabalhadores.

Já mostramos que é possível fazer um governo de pacificação nacional, em que o Brasil caminhe ao encontro dos brasileiros, especialmente dos mais pobres e dos trabalhadores.

Fiz um governo em que os pobres foram incluídos no orçamento da União, com mais distribuição de renda e menos fome; com mais saúde e menos mortalidade infantil; com mais respeito e afirmação dos direitos das mulheres, dos negros e à diversidade, e com menos violência; com mais educação em todos os níveis e menos crianças fora da escola; com mais acesso às universidades e ao ensino técnico e menos jovens excluídos do futuro; com mais habitação popular e menos conflitos de ocupações nas cidades; com mais assentamentos e distribuição de terras e menos conflitos de ocupações no campo; com mais respeito às populações indígenas e quilombolas, com mais ganhos salariais e garantia dos direitos dos trabalhadores, com mais diálogo com os sindicatos, movimentos sociais e organizações empresarias e menos conflitos sociais.

Foi um tempo de paz e prosperidade, como nunca antes tivemos na história.

Acredito, do fundo do coração, que o Brasil pode voltar a ser feliz.

E pode avançar muito mais do que conquistamos juntos, quando o governo era do povo.

Para alcançar este objetivo, temos de unir as forças democráticas de todo o Brasil, respeitando a autonomia dos partidos e dos movimentos, mas sempre tendo como referência um projeto de País mais solidário e mais justo, que resgate a dignidade e a esperança da nossa gente sofrida. Tenho certeza de que estaremos juntos ao final da caminhada.

Daqui onde estou, com a solidariedade e as energias que vêm de todos os cantos do Brasil e do mundo, posso assegurar que continuarei trabalhando para transformar nossos sonhos em realidade.

E assim vou me preparando, com fé em Deus e muita confiança, para o dia do reencontro com o querido povo brasileiro.

E esse reencontro só não ocorrerá se a vida me faltar.

Até breve, minha gente

Viva o Brasil! Viva a Democracia! Viva o Povo Brasileiro!

Luis Inácio Lula da Silva





Publicações de J Estanislau Filho:


1 - Nas Águas do Arrudas - poesias - 1984
2 - As Três Estaçoes - poesias - 1987
3 - O Comedor de Livros - poesias - 1991
4 - Crônicas do Cotidiano Popular - 2006
5 - Filhos da Terra - crônicas, contos com fechos poéticas - 2009
6 - Todos os Dias são Úteis - poesias - 2009
7 - Palavras de Amor - poesias - 2011
8 - Crônicas do Amor Virtual e Outros Encontros - 2012
9 - A Moça do Violoncelo (contos) e Estrelas - poesias - 2015



No prelo:

* Outras Espécies - Minicontos
* As Aventuras de Raul - Infanto juvenil
* A Construção da Estrada de Ferro - Romance
* Novas Crônicas do Cotidiano Popular.

* Poemas Inéditos

terça-feira, 5 de junho de 2018

O último poema

                                                              Imagem: Google






No caminhar das coisas,
no tanger das horas,
um rastro de inocência esmaece na poeira do tempo.
A algaravia de outrora silencia ante
a estupidez das coisas vigentes.
Os sinos não dobram mais,
pois os sineiros abandonaram o posto.
A cruz na curva do asfalto não recebe o afago das flores,
resiste às intempéries e a voracidade dos cupins,
como a implorar em orações ao céu plúmbeo,
que a salve desse silêncio sepulcral.
O amor caminha com passos trôpegos
e a paixão corre afoita.
As coisas continuam coisas desumanizadas.
As folhas caem no outono e dão seus lugares a roupas novas.
Enquanto isso o novo homem nasce coberto de rugas e rusgas,
sob velhas regras.
Ninguém parece se importar mais com o andar das coisas.
As ondas do mar parecem cansadas de beijar as areias, erodir barreiras e o gado segue obedecendo o aboio do vaqueiro indolente.
Não se ouve barulho na lagoa.
Tudo está num silêncio de sangrar,
silêncios e estrondos de aviões riscando o céu,
de preces na terra e gemidos no mar.
Refinarias não refinam o ouro negro.
A plataforma 136 submergiu com onze operários.
A base militar de Alcântara explodiu
 e fragmentou no ar vinte uma pessoas.
O último poema entalado na garganta se despede em silêncio.
Amém



J Estanislau Filho


Publicações do autor

1 - Nas Águas do Arrudas - poesias - 1984
2 - As Três Estaçoes - poesias - 1987
3 - O Comedor de Livros - poesias - 1991
4 - Crônicas do Cotidiano Popular - 2006
5 - Filhos da Terra - crônicas, contos com fechos poéticas - 2009
6 - Todos os Dias são Úteis - poesias - 2009
7 - Palavras de Amor - poesias - 2011
8 - Crônicas do Amor Virtual e Outros Encontros - 2012
9 - A Moça do Violoncelo (contos) e Estrelas - poesias - 2015




No prelo:

* Outras Espécies - Minicontos
* As Aventuras de Raul - Infanto juvenil
* A Construção da Estrada de Ferro - Romance
* Novas Crônicas do Cotidiano Popular.
* Poemas Inéditos


domingo, 3 de junho de 2018

Cinco anos neste junho e um país cansado


                                                            Imagem: Tijolaço



Por Fernando Brito



As “jornadas de junho”, que a tantos iludiram, completam cinco anos este mês.

Não eram apenas 20 centavos, como dizia o mote original do movimento, logo substituído pelo “padrão Fifa” para tudo.

Os 20 centavos já foram acrescentados várias vezes nas passagens de ônibus e o “padrão Fifa”, nem é preciso dizer, virou sinônimo de lama.

Os blackblocs, tão misteriosamente aparecidos quanto logo desaparecidos, deixaram de usar as camisetas enroladas nas cabeças, à guisa de máscaras, e deram seu papel de destruição a rapazes elegantemente trajados de ternos e togas.

Todo o sentimento de autoestima, de afirmação coletiva e de esperança que o país desenvolvera, em pouco tempo, foi lançado fora e substituído pela velha e recorrente síndrome do vira-latas e pelo “todos são ladrões”, que desbordou rapidamente para o ódio, na política e mesmo nas relações pessoais.

O sonho do desenvolvimento, que vinha em marcha,  dissipou-se e deu lugar ao pesadelo de uma crise pavorosa para milhões de brasileiros sem emprego e renda e para os milhares que voltaram às calçadas, tiritando de frio neste junho, diante dos nossos olhos impotentes.

Chamaram de primavera o que eram os temporais que prenunciavam o fim do nosso verão nacional e estamos, agora, em pleno inverno político, econômico e social: sem líderes, sem progresso, sem o mínimo de harmonia que nos permita vermo-nos como um povo.

O último que o tentou passa frio e solidão em Curitiba.

Há um sentimento de cansaço, de esgotamento que aplastra nosso país, verdade que num mundo que parece caminhar para trás.

Precisam nos confundir, precisam tirar nossas referências, precisam nos manter contidos em tribos politicas ou “identitárias” para que não (re)descubramos que não é o que nos separa o que nos pode fazer avançar, mas o que nos une.

Desde o golpe, a direita e a mídia tiveram todo o poder, tiveram todos os meios para rasgar, deformar, amputar direitos e, até, para encarcerar os símbolos daqueles tempos.

                                                           Imagem: Google

O que conseguiu foi o desastre que presenciamos.

E do qual não sairemos se, entre nós, seguirmos batendo pé por vinte centavos e não aceitando quem não nos seja como um “padrão Fifa”.

A intransigência, a intolerância, a desagregação, tudo o que divide nos enfraquece.


                                                                                     Imagem: Google






Fonte: http://www.tijolaco.com.br/blog/cinco-anos-neste-junho/