quarta-feira, 22 de julho de 2015

Distúrbio de Sono



durmo muito, demais até.
não se trata de um sono comum
nem de um sono qualquer:
acordo combalido,
não sei como me sinto...
é algo assim, como estar aturdido.

não vejo nada e vejo tudo - estranha díade.
é um sono que me pega quando menos espero.
quando não quero...

alimentar é um tormento:
a comida desce insossa estômago adentro.
chego a dar vômito, frêmito.

fui a dois neurologistas e ambos diagnosticaram:
- do ponto de vista neurológico você não tem nada.
- então o que tenho, doutor?
- não sei, talvez falta de amor!

ao final de um certo ano e durante o seguinte fui um zumbi.
e fui aprovado em exame de direção!
quando não identificava o norte...
talvez seja a tal sorte.

durante um ano fiz tratamento homeopático
com um médico simpático
e as crises minimizaram.
tive uma ou duas
não sei ao certo
mas recua.

no ano que passou tive uma...
se não me engano.
Então comecei a fazer planos...

o novo ano mal começou tive duas
no final de fevereiro!
parece brincadeira...
Então radicalizei: fui consultar um psiquiatra,
para ver se a crise passa.

quanto ao diagnóstico: conversou tergiversou.
confesso ter entendido bulhufas.
achei-o desequilibrado e ranheta
pra não dizer filho da puta!
assim que me receitou um tarja preta.
então disse-lhe na bucha: - está pensando que sou louco?
e ele: - que é isso velho? Nem um pouco!

receitou-me fluoxetina paroxetina lítio venlafaxina e rivotril...
então inquiri: - com tanto remédio terei disfunção erétil!
ele não disse nada...
apenas deu um sorriso irônico
enquanto sobre a minha cabeça
pairava uma nuvem negra
ao me receitar viagra...


J Estanislau Filho
do livro Palavras de Amor - páginas 68 e 69 - 2010 - Biblioteca24horas.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Ela





Ela é minha musa
minha música
a vida em forma de som
minha sonoterapia meu dom
minha ida minha volta
envolta em túnica de cetim.

Ela é tudo para mim
meu começo e meu fim
um filme de Feline
felina a me arranhar
com as cordas vocais de Lenine
um doce de sapoti
sapato a me apertar.

Um choro um riso um grito por aí
uma contorcionista
contornando a pista
da Avenida João César
ela dá a César o que é de Deus
um beijo um aceno um adeus
não sei se ela foge de mim...

... Se não quer me ver
ou se tem medo
não sei medo de quê
ou se não quer mesmo saber
de amar de querer
não sei se sente culpa
ou se enche de ternura.

Quem sabe ela quer ajuda
não sei se ela procura
um amigo um pai
não sei aonde ela está
nem para onde vai
ela está em todo lugar
talvez menos em meu coração.

Talvez esteja perdida
ou a procura de uma razão
um sentido para  sua vida
talvez não tenha noção
de que a existência é passageira
ela passa ligeira
mas cegue cegamente decidida
tecendo a teia
com a linha que a vida lhe deu
rezando e agradecendo a Deus.


                                                                           

                                                                                      J Estanislau Filho

                                                                   Do livro Todos os Dias são Úteis- páginas 21 e 22.

Imagem: Av. João César de Oliveira - Contagem-MG