segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Das Minhas Lembranças 51

Imagem: Jornal GGN
 

- Ei, acorda!

     Virei para o outro lado, mas alguém insistiu: - Vamos, acorde, temos novidade no quarto! Ergui da cama, sonolento. Esfreguei os olhos com os punhos cerrados. 

     - O que foi?

     Não me recordo quem e quantos, três?, quatro talvez,  encontravam-se ao redor de minha cama naquela noite em que a lua projetava sua luz  prateada pelas janelas abertas. Se não me falha a memória, o Brasileiro fazia parte dos que me sacudiram, para me informar que o Valmir chegara do pomar das terras de um sitiante vizinho do Ginásio Agrícola, com uma mala cheia de laranjas e a depositara sobre o seu armário. Devia ser por volta da meia noite. Valmir dormia um sono benfazejo.  Pudera, deveria estar cansado pela caminhada de cerca de quatro quilómetros, com a mala no ombro. 

     - Que tal a gente pegar a mala e nos fartarmos? Sugeriu outro colega, cujo nome não me recordo. Mas estou quase certo ser um craque de bola, lá de Montanha, cidade fértil de craques. Como não me lembrar de Vovô, que depois de me dar uma caneta, chutou da entrada da área, para marcar o quarto gol contra o nosso time? 

     - É agora! Consenti sem titubear.

     Calmo e silenciosamente peguei a mala e a levei ao terreiro, colado ao dormitório. Abri-a calmamente e a luz da lua iluminou seu interior. Lá estavam elas, lindas, amarelinhas e pedindo para serem chupadas. E assim fizemos em justa partilha.  Talvez ali a gente tenha entendido o significado da distribuição justa. Quanto ao Valmir, cuidamos de deixar as mamuchas e as cascas na mala, para que ele entendesse o significado do egoísmo. Recoloquei a mala de volta sobre o armário do nosso colega, que dormia um sono profundo.  Seu ronco ecoava pelo dormitório. 

     No dia seguinte ficamos observando os movimentos do Valmir. Quando ele abriu a mala... Bem, aí não me lembro o que aconteceu. Não sei se caímos na gargalhada ou se o mistério foi mantido. Mas que o colega ficou com cara de tacho, não tenho dúvidas.


Ginásio Agrícola de Colatina - atualmente IFES
 

J Estanislau Filho

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Das Minhas Lembranças 50


 Imagem: Revista Rural

Saborear os frutos do pomar, somente à mesa do refeitório. Proibido e severamente punido quem ousasse pega-los nos pés. Era o que eu,  Benil e Reginaldo queríamos naquela tarde morna de um domingo em que professores e funcionários descansavam.  Queríamos frutas frescas, escolhidas a dedo.  O domingo nos convidava. Mas tinha um problema. Não poderíamos ser pegos em flagrante, principalmente eu, já com duas suspensões nas costas.  Uma terceira, seria expulso. Os frutos mais saborosos são os proibidos. E lá fomos nós, inocentemente felizes com a proeza. 
     Estávamos sob a sombra de um pé de laranja, canivete na mão, quando ouvimos uns passos vindo em nossa direção.  Minha ficha caiu! O que fazer? Sebo nas canelas. Corri como nunca, coração saindo pela boca. Não sei como passei entre os fios de uma cerca de arame farpado. Cheguei ao dormitório e respirei fundo. Nos dispersamos na corrida, tipo cada um por si. Minha roupa estava coberta por carrapichos. O meu quarto e de mais seis colegas estava vazio. Enquanto me livrava dos carrapichos, o Benil chegou. Disse-lhe ser mais seguro a gente se separar por uns dias. Perguntei pelo Reginaldo, ele não sabia. 
     Depois de umas longas duas horas o Reginaldo apareceu, com um sorriso enigmático. O professor Bergamaschi me flagrou e me pressionou pra saber quem estava comigo, informou.  E deixou em suspense se nos dedurara. Em seguida nos acalmou, mas ainda manteve um suspense: - o professor me disse que eu não serei suspenso se contar quem estava comigo. Estou pensando no que fazer.  Minha expulsão dependia do Reginaldo. Durante dois ou três dias permaneci apreensivo. 
     - E aí, Regis, já decidiu o que dizer? Perguntei-lhe na segunda-feira. 
     - Não sei, Jampruca! Eu recebera esse apelido, quando disse que minhas raízes eram de Jampruca.  Apelido que eu odiava, mas não manifestava, para  não "colar". A mágoa por ter saído de lá, depois de ter sido chutado no traseiro pelo Cabo Adão, sob a mira do revólver do delegado Matias, não passara. Acho que vou ter de contar, o professor ameaça levar ao conselho, emendou.
     Dias depois o Reginaldo arrumou a mala e foi cumprir a suspensão, lá em Montanha, onde morava. 

Vista parcial de Montanha-ES


J Estanislau Filho



sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Das Minhas Lembranças 49

Governador Valadares-MG


O que me levou ao rompimento com a disciplina da escola agrícola está escondida em algum canto do cérebro. Talvez seja pela fidelidade ao meu grupo de colegas, que exercera alguma influência sobre mim; talvez pela minha essência rebelde; talvez também, pelo meu senso de justiça; talvez ainda por informações precárias, devido a ditadura, de que havia, por parte dos estudantes, nas capitais, resistência ao regime de exceção.
     Aconteceu em duas ocasiões de eu ser punido com suspensão e mandado  passar uns dias em casa. Obviamente que achei injusta tais punições. Eu me lembro da ordem do diretor no quadro de aviso me expondo ao corpo docente e discente.  Ao final do aviso sobre os motivos da punição estava escrito, em caixa alta: cientifique-se e cumpra! Assim, sem chances de defesa.  A minha primeira suspensão se deu por eu ter respondido "grosseiramente" ao responsável pela limpeza do dormitório, quando pedi a ele permissão de entrar no dormitório (esquecera um material escolar), que ficava fechado a entrada de alunos durante a limpeza. Uma advertência, creio, seria suficiente. Uma suspensão poderia me levar a outra, do meu pai. Acho que não fui advertido pelo meu pai por causa  de minha irmã, freira, que saíra de casa lá pelos treze anos, para um internato de freiras. Alaíde,  ao se tornar freira recebeu o nome de Maria das Neves, irmã Maria das Neves.
     Na segunda suspensão, não me lembro o motivo, fiquei hospedado na casa de um colega, em Governador Valadares. Não me recordo se meus pais ficaram sabendo.  Me hospedei justamente na casa de um colega em que dera um murro em seu rosto e ele caíra no chão. Ao se levantar quase caiu de novo,  zonzo. Esta reação violenta me levou a refletir sobre o meu temperamento. Mas esse evento foi abafado, não chegando aos ouvidos do diretor. 
     Uma terceira suspensão me levaria a expulsão do internato agrícola. Conto como aconteceu no próximo capítulo. 

J Estanislau Filho

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Das Minhas Lembranças 48

Balsa que faz a travessia do Rio Doce, em Itapina-Imagem: Google


Umbelina Alves da Silva-Dona Bela, minha mãe



Em 1968 foi a minha vez de escapar dos perrengues em que nos encontrávamos.  Meu pai, que saíra de Jampruca às pressas, para Engenheiro Caldas, vivia uma situação financeira complicada.  A solução encontrada foi me enviar para o internato, no Ginásio Agrícola de Colatina-ES, uma escola federal.  Carlos, meu irmão caçula viria me fazer companhia no ano seguinte. 

     1968 foi ano em que o ditador Costa Silva editou e publicou terrível AI-5.  Mas eu não sabia e não tinha a menor ideia do que isso significava. Queria jogar bola, ver televisão, estudar e ler os livros da biblioteca, obviamente sem as publicações contrárias ao regime.  Eu me embarquei na onda de "esse é um país que vai pra frente", "ame-o ou deixe-o", "ninguém segura esse país" e por aí vai, e nas horas dançantes em que dançava o bilisquete.  Era um filhote da ditadura.

Os ditadores Costa e Silva e Médice

     No primeiro ano fui um aluno relativamente exemplar. Estudava, participava do projeto agrícola. Cada aluno ou pequeno grupo de alunos recebia uma área para plantio de hortaliças. Os mais corajosos pegavam áreas maiores e plantavam milho. No primeiro ano plantei quiabo. A colheita foi boa. Tínhamos uma cota. Atingida a cota, a escola nos pagava um valor pelo excedente. Com a grana recebida no primeiro ano, não foi necessário pedir dinheiro ao meu pai, para passar as férias em casa. Teve um ano que passei as férias na escola, para evitar despesas com passagens, sempre de trem, na segunda classe, de Governador Valadares a Itapina, onde desembarcava e pegava uma balsa para atravessar o Rio Doce, e seguir à pé, com a mala nas costas até a escola. Me lembro do saboroso frango assado, com farofa,  preparado  por Dona Bela, minha mãe. Aconteceu umas duas vezes de me desembarcar em Colatina e pegar o ônibus até a escola.  

Ponte sobre o Rio Doce em Colatina-Imagem: Google

     Não sei até que ponto eu fora manipulado pelo Diretor, José Ribeiro, que me levou à condição de líder geral. O Odilon deixara a liderança e a escola,  após se formar. Em 1969 eu fazia discurso inflamado sobre o país, tipo porque me ufano do meu país.  Isso acontecia, geralmente em datas cívicas, no hasteamento da bandeira.  No dia 7 de setembro desfilávamos nas ruas do centro de Colatina, em que eu tocava um tambor, na fanfarra. Nossos trajes eram calça e camisa caqui, talvez para imitar uniforme militar. Mas não fui um líder exemplar, como o diretor queria. O esporte, a literatura e o teatro me atraíam..  Atuei em duas peças, dirigidas pelo professor Filogônio.  Fui elogiado diante de meus colegas de sala, pelo professor de português,  Wallace Pimentel, quando escrevi sobre a ida do homem a lua, em 1969.  Foram três anos bons, livres das dificuldades do lar. Mas teve um ano em que tivemos de passar uns dias em casa: faltou comida na escola. Hoje entendo que  faltou verbas do governo federal. 

     Sim, fui líder geral. Não me lembro se pelo voto. De qualquer forma, tinha a simpatia dos colegas, que me aplaudiam pela versatilidade. Do futebol ao volei; da literatura ao teatro; da fanfara aos discursos; do projeto agrícola às horas dançantes, não fazia feio. Jogava em todas as posições. Era ruim com as meninas. Reprimido e tímido nas questões de amor. Sim, lá também estudavam garotas internas. Tive um amor platônico por Marlete. Aninha, filha do diretor, não era pro meu bico. Parece que o Méier, carioca, dono de uma calça jeans de fazer inveja na galera, conquistou a garota.  A minha turma era formada por Benil, de Mutum, Roberto, de Aimorés, terra de Sebastião Salgado e Reginaldo, de Montanha.  Mas interagia com outros, o Dário, de Sobrália, por exemplo, no primeiro ano, gostava muito de mim. Sempre me pedia pra cantar:

"Vestiu uma camisa listrada
E saiu por aí
Em vez de tomar chá com torrada
Ele bebeu Parati
Levava um canivete no cinto
E um pandeiro na mão
E sorria quando o povo dizia
Sossega, Leão, sossega Leão..." 

Tinha o baiano, Valmir,  caladão. O Zé Carlos e Reginaldo  eram de Montanha-ES, onde fomos disputar uma partida de futebol em que perdemos por 5 x 2. Foi quando conheci o mar, em Conceição da Barra. E a bela lagoa de águas diáfanas Juparanã. Teve muita gozação dos capixabas ironizando os mineiros. Diziam, por exemplo, que o Astrogildo e o Vitorino, lá de Mutum, foram de manhã, com toalha e sabonete lavar o rosto nas águas salgadas.
Lago de Juparanã, Linhares-ES. Imagem: Google

     E o líder geral decepcionou o diretor.  Os detalhes, conto no próximo capítulo. 


J Estanislau Filho

     

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Das Minhas Lembranças 47

 

Campo de futebol de Jampruca onde dava minhas caneladas


A literatura entrou em minha vida assim que aprendi a lê. Por não termos TV a leitura era uma forma de diversão. Nas ondas do rádio, ouvia Jerônimo, o Herói do Sertão.  O que realmente me atraía era as músicas dos Beatles e da jovem guarda. Acreditava que os Beatles eram uma espécie de cover de Renato e Seus Blues Caps.  Mas voltando a leitura, Gessi, minha irmã, que estudava no internato de freiras em Nova Era, nas férias trazia umas revistas de fotonovelas, Grande Hotel, Capricho, que eu devorava a ponto de me apaixonar por uma atriz.  Já o meu irmão, Altair, que fugiu dos perrengues da roça e foi pousar seus sonhos em Belo Horizonte ao final da década de cinquenta,  quando vinha passear em Boleirinha, onde tínhamos um pedaço de terra em que meu pai e minha mãe garantiam o nosso sustento com vacas e lavouras, trazia os livrinhos de bolso. Outro irmão,  o Jair, que também escapou da labuta do campo, indo estudar num seminário em Araçuaí, trazia a tiracolo, livros de filosofia e alguns romances. Me lembro de ter lido Guerra e Paz, de Tolstoi,  um calhau de cerca de oitocentas páginas, por volta dos treze anos.


Igreja Católica, construída por José Estanislau - meu pai

    Em 1964 aconteceu o golpe militar, que mudaria o rumo de nossas vidas. Me lembro vagamente  de meu pai com o ouvido colado no rádio, comentando algo a respeito.  Aos treze anos esse evento não despertava  o meu interesse.  Assim como o Lalá, Altair e Jair, eu também pensava em escapar dos perrengues da zona rural. Enquanto isso e quando podia, batia uma bola nos gramados do campo de futebol de Jampruca, ou no terreiro de Seu Carlos Carneiro.  A bola era um pé de meia cheia de trapos, ou uma bexiga de boi.  Foi mais ou menos nessa época que rabisquei meu primeiro poema, A Partida:


Partirei, sim, partirei
Em busca de meu ideal
Para onde vou não sei,
Sei que vou, é o substancial!

Engenheiro Caldas - MG

     Saímos de Jampruca em 1966, para Engenheiro Caldas, por conta de encrenca política envolvendo meu pai, que fora candidato a Juiz de Paz, suplente, talvez, Me lembro de uma passagem do seu boletim de campanha em que dirigia a supostos adversários: "... cuspindo e escarrando dentro da Igreja como se estivessem em pleno campo".  Isso e provavelmente outros, foram os motivos políticos que o obrigara a vender as terras de "porteira fechada" e sair imediatamente. Antes, porém, eu fui usado como álibi, para que a perseguição política se concretizasse. Aconteceu numa partida de futebol, do Atlético de Jampruca. O estádio era cercado por lascas de madeira e cobravam ingressos para ver o jogo. Encostei a charrete na beira da cerca. De pé sobre a charrete eu apreciava a partida, como outros faziam, inclusive, sentados sobre a cerca. De repente o Delegado Matias e o Cabo Adão, atendendo ao Bené, zagueiro e "dono" do time e do estádio, dirigiram até a mim e bateram no lombo do cavalo.  Pulei da charrete. O Cabo Adão me deu um chute no traseiro. Caí. Do chão vi o interior do cano do revólver do Delegado, apontado para mim. Mijei nas calças. Meu pai surgiu não sei de onde, para tirar satisfação.  Em alguns dias, tivemos de sair da cidade,  rumo a Engenheiro Caldas, de onde parti para o internato, em Colatina, no estado do Espírito Santo. Lá eu me tornaria líder estudantil.  Conto tudo no próximo episódio. 


J Estanislau Filho

 

Ginásio Agrícola de Colatina - Hoje IFES

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Amigas e amigos, companheiras e companheiros

Imagem: Google

Com o fim das eleições de 2022, obviamente não é o fim da participação política. Com a eleição de Lula, inicia-se um novo ciclo em que a participação de todas e todos é fundamental na implantação de políticas públicas, que beneficiem especialmente os mais pobres.  Elegeu-se um presidente comprometido com as causas populares e sociais. Por outro lado, temos um  Congresso  de maioria conservadora,  para não dizer outra coisa. Não será uma tarefa simples dialogar com o novo parlamento. O chamado centrão está mais forte, venderá caro o apoio.  E sabemos que sem a anuência do legislativo, as dificuldades aumentam. Portanto,  a participação popular, por meio das conferências temáticas, que virão, é que vai sensibilizar os parlamentares.  Que cada uma e cada um, em sua trincheira,  do seu jeito, na luta em defesa da Democracia e dos direitos sociais. Vamos precisar de todo mundo, como diz a canção O Sal da Terra, de Beto Guedes: 


Anda!
Quero te dizer nenhum segredo
Falo nesse chão, da nossa casa
Vem que tá na hora de arrumar
Tempo!
Quero viver mais duzentos anos
Quero não ferir meu semelhante
Nem por isso quero me ferir
Vamos precisar de todo mundo
Pra banir do mundo a opressão
Para construir a vida nova
Vamos precisar de muito amor
A felicidade mora ao lado
E quem não é tolo pode ver
A paz na Terra, amor
O pé na terra
A paz na Terra, amor
O sal da—
Terra!
És o mais bonito dos planetas
Tão te maltratando por dinheiro
Tu que és a nave, nossa irmã
Canta!
Leva tua vida em harmonia
E nos alimenta com seus frutos
Tu que és do homem, a maçã
Vamos precisar de todo mundo
Um mais um é sempre mais que dois
Pra melhor juntar as nossas forças
É só repartir melhor o pão
Recriar o paraíso agora
Para merecer quem vem depois
Deixa nascer, o amor
Deixa fluir, o amor
Deixa crescer, o amor
Deixa viver, o amor
O sal da terra


J Estanislau Filho

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Bolsonero e dez frases terríveis


Minha especialidade  é matar
Comer gente também quero
Falo tudo isso sem vacilar
Pois meu nome é Bolsonero!

Quero ver fogo nas matas
Da Amazônia ao Pantanal
Para poder ganhar umas notas
Do agronegócio ilegal!

Meus filhos não namoram negras
Também não vão virar veados
É a minha lei,  são minhas regras
Pois foram todos bem educados!

Sou Bolsonero, o sacana
Odiar petralha é minha sina
Gosto de uma moto bacana
E de vender a cloroquina

Quer que eu faça o que?
É só uma gripezinha, é!
É como uma chuva, vai atingir você
Se tomar vacina vai virar jacaré!

Repito, não sou coveiro
Pra enterrar quem morreu
Morre gente no mundo inteiro
Antes eles do que eu

Sou amigo de Bob Jefferson
Atirador de granada na polícia
Quem nos abençoa é Padre Kelmon
O padre fake  da milícia!


J Estanislau Filho


As 10 frases mais terríveis de Bolsonaro:





1) "Deveriam ter sido fuzilados uns 30 mil corruptos, a começar pelo presidente Fernando Henrique Cardoso."

2) "O filho começa a ficar assim meio gayzinho, leva um coro, ele muda o comportamento dele. Olha, eu vejo muita gente por aí dizendo: ainda bem que eu levei umas palmadas, meu pai me ensinou a ser homem.“

3) "Não empregaria mulheres com o mesmo salário (...) tem muita mulher que é competente"

4) "Trabalhadores tem que escolher entre ter direitos ou emprego"

5) O grande erro foi torturar e não matar

6) Os gays não são semideuses. A maioria é fruto do consumo de drogas”

7)“Fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Nem para procriador ele serve mais”.

8) “Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff”



9) “Vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre”

10) "Bolsonaro diz na TV que seus filhos não ’correm risco’ de namorar negras ou virar gays porque foram ’muito bem educados’’"



Todas as imagens: Google


Fonte das dez frases: https://www.esquerdadiario.com.br/As-10-frases-mais-terriveis-de-Bolsonaro-27039

terça-feira, 18 de outubro de 2022

Os novos capatazes

Imagem: Google
 
A escravidão ainda mora nos corações e mentes de muitos de nós, tenhamos consciência disso, ou não. 

     À época em que negros e negras eram tratados como animais, pelos donos de terras e de gente, havia a figura do agregado, o negro a quem era permitido sentar-se à mesa como se fosse membro da família. Esse privilégio consentido dava uma ar de superioridade perante seus irmãos de cor.  Esse agregado fazia o papel de vigilante atento aos interesses do senhorio e  para manter  o privilégio. 


Imagem: Google

     O tempo passou. A escravidão foi "abolida".  Vieram os imigrantes, maioria de italianos, para o trabalho na indústria nascente, enquanto negros e negras eram jogados à própria sorte. Sem um mínimo de estudo e qualificação profissional, não teriam chances de trabalho na indústria que se instalava, consequentemente â qualidade de vida. Essa classe Geni, como diz a música de Chico,  que todos podem cuspir, que é feita pra apanhar, tinha o seu oposto, a  emergente classe média, branca, ocupando os melhores postos de trabalho.  É essa classe branca, racista,  que passa a exercer o papel de agregado, atenta aos interesses da elite e para  manter privilégios.  A classe média tem abaixo de si, na escala social, a sua Geni, para atirar pedras e se sentir superior, para compensar a inveja que tem da elite. 

     O tempo passa e chegamos aos dias atuais. A luta de classes passou por transformações. Temos agora a classe média alta, a média média,  a baixa e os excluídos,  esses últimos sendo a maioria de  negros e negras.  A classe média pode se dar ao luxo de ter a empregada doméstica, ou outros serviçais, para a tarefa do serviço pesado e ter tempo livre para o lazer e se qualificar para alçar novos postos mais bem remunerados. Tempo e recursos, também, para manter os filhos nas melhores escolas, sem a necessidade de trabalhar, para ajudar nas despesas da casa. 


Imagem: Google

     Na busca de bens escassos, os pobres também querem ascender socialmente. Nada mais justo. Mas falta-lhes condições. Sem acesso a boas escolas e tempo aos estudos, a disputa é desigual.  Até que surja alguém que resolva defendê-los.  Entra em cena um governante popular, com políticas de inclusão social. A classe média se vê ameaçada, com a possibilidade de ascensão dos pobres.   A elite sabe que pode usar a classe média como massa de manobra, na defesa de seus interesses. E tem a grande mídia e seus prepostos sob controle. Se o governante popular ultrapassar a linha da qual ela não quer que ultrapasse, esta elite vai promover um golpe. Sabe que pode contar com seus capatazes, sempre de prontidão para irem às ruas, a classe média branca, racista,  de verde amarelo, fingindo-se indignada com a corrupção,  que para ela, só acontece na política nas  empresas estatais.   A corrupção da elite fica invisível, quando o golpe é financiado exatamente  pelos endinheirados, para saquear o orçamento público e "comprar" estatais, como a Petrobras e outras a preço de banana. Ou às vezes, de graça. 

     Esta é a herança do sistema escravista, que continua internalizado em muitos de nós. Sem rompermos com o racismo racial e toda forma de racismo, seremos refém da elite do atraso. 

Imagem: Google

     


 J Estanislau Filho

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Jardim das Rosas Veremelhas

 

 

Imagem: Jefil Serra do Caraça


O bairro se chamava Jardim das Rosas Vermelhas, mas não havia rosas de espécie alguma. Segundo os moradores mais antigos, antes de se tornar uma área residencial ali existia uma plantação de rosas vermelhas. Antes de o empreendimento ser instalado, ainda segundo alguns antigos moradores e de acordo com pesquisa realizada pelo ambientalista Jacinto Flores, o arrendatário da área travara uma batalha judicial na tentativa de transformá-la em uma unidade de conservação. Todavia, a especulação imobiliária foi mais convincente e obteve o licenciamento ambiental. As ruas foram abertas, o roseiral destruído e no local foram construídas casas e galpões. Em homenagem ao antigo roseiral, os empreendedores deram o nome ao bairro de Jardim das Rosas Vermelhas.

     Jacinto Flores decidiu aprofundar sua pesquisa acerca da origem do bairro. Após uma série de entrevistas com os moradores decidiu por fazer uma leitura nos anais da Câmara Municipal. Foi recebido com um sorriso largo pelo Presidente da Casa, que, após ser convencido das boas intenções do ambientalista, colocou o arquivo à sua disposição, nomeando um funcionário para auxiliá-lo.

     - É com satisfação e orgulho que liberamos os documentos para a sua apreciação, mesmo porque aqui é a casa do povo e os documentos são públicos - completou o Vereador se despedindo.

     Flores descobriu que o zoneamento do bairro, antes classificado como Zona de Ocupação Restrita, fora transformado em Zona Adensada pelos vereadores. Saiu da egrégia casa com uma pulga atrás da orelha.

     Enquanto isto, o funcionário que o auxiliara na pesquisa repassava ao Presidente da Câmara as informações que arrancara do ambientalista. "Ele parece disposto a ir em frente com a pesquisa; demonstrou insatisfação com a mudança de zoneamento, alegando que nascentes e córregos foram drenados e me fez várias perguntas: se a mudança de zoneamento tivera a anuência do conselho de meio ambiente, se houve audiência pública. Eu não soube responder, apenas disse que o Secretário alega que o meio ambiente prejudica o desenvolvimento da cidade". Dito isto, saiu da sala.

     No dia seguinte Jacinto Flores fez uma visita ao Secretário de Meio Ambiente, que o recebeu com um sorriso leve, ofereceu-lhe uma cadeira e cafezinho.

     - Em que posso ajudá-lo? - perguntou o Secretário.

     - Estou realizando uma pesquisa sobre o processo de formação de novos bairros, como surgem os loteamentos atuais, enfim, o que leva uma população a ocupar uma determinada área - respondeu Jacinto tentando demonstrar ingenuidade, para não assustar o Secretário.

     - Nós cumprimos rigorosamente a lei. Trata-se de um empreendimento imobiliário que vem trazendo inúmeros benefícios. Primeiro o de recuperar uma área degradada; em seguida, diminuindo o déficit habitacional, muito grave no município; reservamos uma área para instalação de industrias não poluentes, a fim de resolver outra questão grave, a geração de emprego. Basicamente é isto.

     - Quem era o dono daquelas terras, antes de ser loteada?

     - Não sei, o senhor teria que ir ao cartório de registro de imóveis, por quê?

     - Dizem que ali existia um roseiral belíssimo, córregos e nascentes, gostaria de ter acesso a fotos, para ter uma ideia de como era.

     - Uns pezinhos de rosas murchas, mal cuidadas, aliás, o antigo proprietário degradou a área toda, provocando erosões. Uma tragédia ambiental! - completou o Secretário com expressão de asco.

     - Mas o senhor disse que não conheceu o antigo proprietário - Jacinto Flores rebateu de pronto, para em seguida se arrepender.

     - O fato de não ter conhecido e ainda não conhecê-lo não me impede de conhecer as terras, caso contrário, nem poderia ser Secretário - respondeu com rispidez, avisando que a audiência terminara, pois estava na hora de receber uma comissão de moradores de outro bairro.

     Ao sair da secretaria, o ambientalista avaliou que a sua "pesquisa" começava a esbarrar em obstáculos complicados. Começou a traçar uma nova estratégia. Decidiu procurar as instâncias superiores do Estado e da União. Estava convencido da existência de crimes ambientais e de corrupção no licenciamento do Jardim das Rosas Vermelhas.

     Identificou-se na recepção da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e após receber um crachá foi autorizado a assistir à reunião do CPA.

     Tentou se manifestar na reunião, porém nenhum conselheiro se dispôs a conceder-lhe a palavra. Retirou-se frustrado com a impressão de estar sendo vigiado.

     Após idas e vindas em diversos órgãos, conseguiu a cópia de um documento que apontava irregularidades na gestão do Secretário.

     Tentou falar novamente com as autoridades municipais, contudo, todos o tratavam com frieza e até mesmo com agressividade.

     Escurecia e fazia muito calor. Jacinto Flores saiu de casa para tomar um suco na lanchonete da esquina. Mal dera alguns passos na rua e se chocou com um homem mal encarado: - Ei, olha por onde anda, idiota! - Desculpa - respondeu Jacinto. - Desculpa porra nenhuma - gritou o estranho, desferindo-lhe um soco. Pego de surpresa, Jacinto não esboçou nenhuma reação, enquanto o desconhecido sumia na penumbra.

     Disposto a desvendar o caso do Jardim das Rosas Vermelhas, Jacinto decidiu se aproximar ainda mais dos moradores. Ganhou a confiança do presidente da associação e, juntos, levaram o caso a imprensa.

     Passados exatos quinze dias da exibição da reportagem o corpo do ambientalista foi encontrado nos escombros próximo da via férrea com duas rosas vermelhas na boca.



J Estanislau Filho





sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Das Minhas Lembranças 46


Talvez seja mesmo por preguiça, que encerro neste número 46 o registro dos conteúdos  do informativo Intercâmbio.  Digitar tudo está  se tornando uma tarefa árdua.  Como disse anteriormente,  esse resgate foi possível, por encontrar em meus arquivos uma série de exemplares.  Ao redigir, descobri que parece ser de 1997. Sem maiores delongas, nosso boletim de número 9 ficou assim:


Capa:


TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA


J Estanislau Filho


     Nascemos nus.

     Criança fica  pelada na frente dos adultos, sem medo. Recebe abraços, carícias. Um prazer ser tocado: pele na pele, cheirinho bom. Uma delícia!

     De repente vem a bronca:

     * Menino(a) sem vergonha. Vá se vestir!

     * Menina, feche esta perna, senão vai apanhar!

     Nascemos nus, inocentes. Depois nos ensinam que a nudez é feia. É preciso esconder o corpo.

     VERGONHA + MEDO=CULPA

     Assim vamos crescendo e compreendendo a lógica dos adultos. REPRIMIDOS,  nos tornamos inseguros e... em alguns casos, PROMÍSCUOS, vertente perversa da REPRESSÃO. Cheios de sentimentos de CULPA E MEDO, estamos preparados para o convívio social: SUBJUGADOS, ANULADOS. 

     Nascemos nus. À medida em que crescemos, cobrimos e nos cobrem com as mais estranhas vestes. Até o fim dos nossos dias, quando nos colocam um paletó de madeira. 


A página 2 (miolo) ficou assim:


TRUQUES & GALHOS


................................................................................Geraldo Bernardes


* PARA TER UM CORAÇÃO SAUDÁVEL

   Substitua a manteiga por óleo de milho. Em vez de usar ovos inteiros nas omeletes ou receitas, utilize somente as claras. Prefira o iogurte no lugar do creme de leite. Prefira o leite desnatado ao leite integral. Quanto aos queijos, prefira os mais branquinhos, como o Minas e Ricota. 


*    SOPA DE GORDURA

      Para tirar o excesso de gordura de sopas e ensopados, quando estiverem prontos, adicione algumas pedras de gelo, mexendo para a gordura aderir às pedras e retire antes que elas derretam. Ou ainda, embrulhe as pedras em um pedaço de gaze ou toalha de papel e passe levemente  sobre a superfície da sopa. 


*    FERMENTO RESISTENTE

      Para que o fermento em pó dure mais, guarde-o na geladeira. 


                                                   PENSAMNETO


             "O homem que se vende recebe sempre mais do que vale". Barão de Itararé


A página 3 (miolo), assim:


POIS É...

                    Eva Torres e Rubens Pinheiro


A FRATERNIDADE E OS ENCARCERADOS


A campanha da fraternidade de 1997 veio resgatar em nossa memória o drama em que vivem os encarcerados e suas famílias. A divisão social e racial tem sido um dos fatores principais das injustiças em nossa sociedade, porém, é comum ver pessoas, sem conhecimento profundo, defendendo a  pena de morte como solução para certos casos. 

     Segundo dados do Ministério da Justiça de 1994, há no Brasil 130.000 presos, sendo: 96% homens, com média de 2,15 presos por vaga e a maioria pobre, 95%. O ser humano é sempre maior que sua culpa, mas, quem erra perante a Sociedade tem o direito de se reabilitar, sem discriminação. 

      A campanha propõe que ajudemos o encarcerados, construindo com eles novas formas de vida, porque, juntamente com suas famílias, são entregues à própria sorte. Lutar pela vida e as oportunidades de direito, como cristãos e cidadãos de todos os segmentos é um desafio para todos nós, direito à Saúde, Educação e trabalho digno. Só assim prevalecerá a JUSTIÇA E A FRATERNIDADE entre nós. 


Na quarta página (contracapa) foi assim:


RIR AINDA É O MELHOR REMÉDIO


UM JEGUE CHAMADO CARDOSO


Marcos Aurélio - Marquinhos


A história de hoje fala de uns jegues urbanos e suas respectivas famílias. Os tais jegues atendem pelo nome de Cardoso Industrial A ou B - 1117  e seu primo Industrial A ou B - 1112, como preferir o usuário. Os jegues prestam serviço "e que serviço" de transporte há muito tempo, habituados a andar sempre na hora, digo, de hora em hora e como tradição familiar, com carga máxima (carroça suja, disfarçada de coletivo), sendo que um dos jegues (1112-B) se pirulitou pras bandas do Barreiro. Tais jegues são de propriedade de uma outra família, cada vez mais rica com o trabalho dos velhos animais. 

     Outra família já está com o direito garantido de que seus jegues não serão amolados por 10 anos, "sem concorrência", é mole? Direito garantido por padrinhos ocupantes da Prefeitura de Contagem. Bom, o jeito, sô, é pô os jegues pra corrê e pressioná os Vereadores a revogarem tal Lei de Prorrogação. Portanto, abra o olho, usuário de jegue coletivo, "senão, vamos andar de jegue a vida toda".

CONCORRÊNCIA JÁ! 





sexta-feira, 23 de setembro de 2022

O que há, José?

Ilustração: charge do Berzé, sobre o autor



Acaso a chuva que não veio
Não trouxe um meio,
Um veículo de fé?

Acaso as bombas no Afeganistão
Vingarão o Pentágono?
Saber quem você é
Resolverá a questão?

Dará pernas a crianças mutiladas?
Saciará a fome no mundo?
Suprimirá o latifúndio?

Qual é a dúvida, José?
Se muçulmanos são fundamentalistas?
Quais são os terroristas
Que derrubaram as torres gêmeas?

Que o exército do Talebã
É um bando de fanáticos?
Que a Klu Klu Klux Kan
São cidadãos pacatos?

Ou mais: que os carismáticos
Assim como os evangélicos
Que dançam gospels axés
São enigmáticos?

Que os programas de auditórios
Não têm ideologia
Os seus repertórios
São inocentes fantasias?

Sai dessa, ô José!
Zé Mané, Zé Ruela, Zé Dendágua, Zé Qualquer!

O capitalismo é um jogo de interesses.
Por trás da ingênua prece
E do precoce político oportunista
Ou no brinde dos capitalistas.

O poema que você lê
A música que você ouve
O noticiário da TV
Os fatos inéditos
Tudo foi para o caixa dois.
Contabilizaram prejuízos onde havia crédito
E dividiram o débito com você.
Custo e benefício
São meros artifícios
Da ideologia dos salafrários
Para fazê-lo culpado, alienado.
José Otário!

J Estanislau Filho

Poema que integra meu Nas Águas do Arrudas de 1984






sábado, 17 de setembro de 2022

Das Minhas Lembranças 45

 

O Grupo Oficina de Sonhos, que publicava o Informativo Intercâmbio teve uma vida de compromisso com a cultura, que vai de 1998 a 2003.  Começou com quatro visionários: Estanislau, Geraldo Bernardes, Marquinhos e Rubens Pinheiro.  Em seguida, Eliana, Elson Pego, Laura e Lúcia,  entrariam para  o grupo.  Publicamos cerca de 30 edições, distribuídos, preferencialmente entre os estudantes do ensino médio. Foram mais de cem mil boletins. Depois do terceiro número, provavelmente, em algumas escolas, professores vinham ao nosso encontro, para nos pedir alguns exemplares, que serviam de apoio em suas aulas. Isso era muito gratificante e nos estimulava prosseguir. 

     Felizmente eu mantive em meu arquivo quase todos os exemplares, o que facilitou contar aqui, apesar de algumas lacunas.  Além de seus fundadores, contribuíram com o grupo: Lair Estanislau, Eva Torres, Isis Aguiar, Neila Guimarães, José Francisco, Antoniele, Gabriel Silva, Antonio Marcos, Rodrigo. Apoiamos a criação de outro grupo, formado por adolescentes, o Grupo S/A (Sociedade Alternativa), composto por Fernando Stanys (meu filho), Tony Marcos, Fabiano, Charley, Léo e Paulinho, sob a coordenação de Eliana. Também colaborou com o grupo, ilustrando e diagramando, Roberto Caio, também meu filho.  Sem esquecer, que na reta final, recebemos o apoio cultural do SITRAEMG. 




     O número 27 do Intercâmbio, que prenunciava o fim do grupo, trouxe na capa um texto assinado pelo Tony.  Na páginas 2 a Eliana escreveu sobre meditação. na página 3, eu e o Rodrigo, que viria a se formar em jornalismo, fizemos uma pesquisa sobre o comércio da Rua Tiradentes e descobrimos uma venda, que funcionava desde 1965.  Na quarta página o Elson Pego dissertou sobre algumas frases de efeito, como por exemplo,  "Deve-se usar agulha descartável para injeção letal?".  Reproduzo o texto que eu e Rodrigo escrevemos na página 3, na coluna POIS É...:


Mercearia Leandrense Ltda


     Ao passar pela rua Tiradentes, 2.642 - Bairro Industrial - a Mercearia Leandrense desperta atenção. Em tempos de lojas de conveniências, shopping's e coisa e tal, a mercearia, que em pequenas cidades e lugarejos é chamada de venda, mantém viva a tradição de um comércio em extinção, principalmente nas metrópoles.

     Assim como a venda do "Seu Lidirico", lá em Araçuaí, como canta o músico Edilberto, a Mercearia Leandrense  - cunho nome é uma homenagem à Leandro Ferreira, município do oeste de Minas, de onde vieram os fundadores - tem de tudo um pouco: fumo de rolo, queijo, pinga com mel, palha de milho, isqueiro, facão, agulhas e linhas, lampião, chicletes, querosene, alho, lamparina, bomba de matar mosquito. Tem feijão, arroz, milho, tudo bem pesado em uma antiga balança de prato. E atrás do balcão, educada e feliz, Delfina perguntando o que o freguês deseja.

     A venda ou mercearia, "funciona neste endereço desde 1965, fundada pelo meu pai Elói da Costa Coelho, hoje com 93 anos", conta Delfina.

     "Sou feliz, nasci para o comércio. Meu pai me iniciou na profissão aos sete anos. Temos aqui todo tipo de freguês, do mais simples ao mais elegante. Eu e meu marido tocamos o negócio", diz Delfina com um leve sorriso. 

     Pois é, o Oficina de Sonhos deseja vida longo ao "Seu Elói", à Delfina e seu companheiro de luta, à toda família, e claro, à Mercearia Leandrense. 




J Estanislau Filho