terça-feira, 30 de agosto de 2016

sonho 8 - dualidade










gatos assustados
felinos feridos
uma mulher dual observa
 dividida entre o macho e a fêmea
romper ou submeter-se
à comodidade do conforto do quarto
este conforto desconfortável
guiar uma carroça
ou guiar um automóvel
mover-se na imobilidade
enquanto sob seus pés o chão derrete
a beleza é passageira
e o cavalo arreado à sua espera
agora ela recorda tudo que sonhara
o inconsciente desperta
e a consciência desespera



Da série Sonhos - inéditos














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segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Cegueira e linchamento, um artigo de Raduan Nassar *

Cegueira e linchamento

Por Raduan Nassar

O inglês Robert Fisk, em artigo no jornal londrino "The Independent", afirma que, segundo as duras conclusões do relatório Chilcot sobre a invasão do Iraque, o ex-primeiro ministro Tony Blair e seu comparsa George W. Bush deveriam ser julgados por crimes de guerra, a exemplo de Nuremberg, que se ocupou dos remanescentes nazistas.

O poodle Blair se deslocava a Washington para conspirar com seu colega norte-americano a tomada do Iraque, a pretexto de este país ser detentor de armas de destruição em massa, comprovado depois como mentira, mas invasão levada a cabo com a morte de meio milhão de iraquianos.

Antes, durante o mesmo governo Bush, o brutal regime de sanções causou a morte de 1,7 milhão de civis iraquianos, metade crianças, segundo dados da ONU.

Ao consulado que representava um criminoso de guerra, Bush, o então deputado federal Michel Temer (como de resto nomes expressivos do tucanato) fornecia informações sobre o cenário político brasileiro. "Premonitório", Temer acenava com um candidato de seu partido à Presidência, segundo o site Wikileaks, de Julian Assange.

Não estranhar que o interino Temer, seu cortejo de rabo preso e sabujos afins andem de braços dados com os tucanos, que estariam governando de fato o Brasil ou, uns e outros, fundindo-se em um só corpo, até que o tucanato desfeche contra Temer um novo golpe e nade de braçada com seu projeto de poder -atrelar-se ao neoliberalismo, apesar do atual diagnóstico: segundo publicação da BBC, levantamento da ONG britânica Oxfam, levado ao Fórum Econômico Mundial de Davos, em janeiro, a riqueza acumulada pelo 1% dos mais ricos do mundo equivale aos recursos dos 99% restantes. Segundo o estudo, a tendência de concentração da riqueza vem aumentando desde 2009.

O senador Aloysio Nunes foi às pressas a Washington no dia seguinte à votação do impeachment de Dilma Rousseff na exótica Câmara dos Deputados, como primeiro arranque para entregar o país ao neoliberalismo norte-americano.

Foi secundado por seu comparsa tucano, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, também interino-itinerante que, num giro mais amplo, articula "flexibilizar" Mercosul, Brics, Unasul e sabe-se lá mais o quê.

Além de comprometer a soberania brasileira, Serra atira ao lixo o protagonismo que o país tinha conseguido no plano internacional com a diplomacia ativa e altiva do chanceler Celso Amorim, retomando uma política exterior de vira-lata (que me perdoem os cães dessa espécie; reconheço que, na escala animal, estão acima de certos similares humanos).

A propósito, o tucano, com imenso bico devorador, é ave predadora, atacando filhotes indefesos em seus ninhos. Estamos bem providos em nossa fauna: tucano, vira-lata, gato angorá e ratazanas a dar com pau...

Episódio exemplar do mencionado protagonismo alcançado pelo Brasil aconteceu em Berlim (2009), quando, em tribunas lado a lado, a então poderosa Angela Merkel, depois de criticar duramente o programa nuclear do Irã, recebeu a resposta de Lula: os detentores de armas nucleares, ao não desativá-las, não têm autoridade moral para impor condições àquele país. Lula silenciou literalmente a chanceler alemã.

Vale também lembrar o pronunciamento de Lula de quase uma hora em Hamburgo (2009), em linguagem precisa, quando, interrompido várias vezes por aplausos de empresários alemães e brasileiros, foi ovacionado no final.

Que se passe à Lava Jato e a seus méritos, embora supostos, por se conduzirem em mão única, quando não na contramão, o que beira a obsessão. Espera-se que o juiz Serio Moro venha a se ocupar também de certos políticos "limpinhos e cheirosos", apesar da mão grande do inefável ministro do STF Gilmar Mendes.

Por sinal, seu discípulo, o senador Antonio Anastasia, reproduz a mão prestidigitadora do mestre: culpa Dilma e esconde suas exorbitantes pedaladas, quando governador de Minas Gerais.

Traços do perfil de Moro foram esboçados por Luiz Moniz Bandeira, professor universitário, cientista político e historiador, vivendo há anos na Alemanha. Em entrevista ao jornal argentino "Página/12", revela: Moro esteve em duas ocasiões nos EUA, recebendo treinamento. Em uma delas, participou de cursos no Departamento de Estado; em outra, na Universidade Harvard.

Segundo o Wikileaks, juízes (incluindo Moro), promotores e policiais federais receberam formação em 2009, promovida pela embaixada norte-americana no Rio.

Em 8 de maio, Janio de Freitas, com seu habitual rigor crítico, afirmou nesta Folha que "Lula virou denunciado nas vésperas de uma votação decisiva para o impeachment. Assim como os grampos telefônicos, ilegais, foram divulgados por Moro quando Lula, se ministro, com sua experiência e talento incomum de negociador, talvez destorcesse a crise política e desse um arranjo administrativo".

Lula não assumiu a Casa Civil, foi rechaçado no Supremo Tribunal Federal pelo ministro Gilmar Mendes, um goleirão sem rival na seleção e, no álbum, figurinha assim carimabda por um de seus pares, Joaquim Barbosa, popstar da época e hoje estrela cadente: "Vossa Excelência não está na rua, está na mídia, destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro... Vossa Excelência, quando se dirige a mim, não está falando com seus capangas do Mato Grosso, ministro Gilmar".

Sugiro a eventuais leitores, mas não aos facciosos que, nos aeroportos, torciam o nariz ao ver gente simples que embarcava calçando sandálias Havaianas, que acessem o site Instituto Lula - o Brasil da Mudança.

Poderão dar conta de espantosas e incontestes realizações. Limito-me a destacar o programa Luz para Todos, que tirou mais de 15 milhões de brasileiros da escuridão, sobretudo nos casebres do sertão nordestino e da região amazônica. E sugiro o amparo do adágio popular: pior cego é aquele que não quer ver.

A não esquecer: Lula abriu as portas do Planalto aos catadores de matérias recicláveis, profissionalizando-os, sancionou a Lei Maria da Penha, fundamental à proteção das mulheres, e o Estatuto da Igualdade Racial, que tem como objetivo políticas públicas que promovam igualdade de oportunidades e combate à discriminação.

Que o PT tenha cometido erros, alguns até graves (quem não os comete?), mas menos que Fernando Henrique Cardoso, que recorria ao "Engavetador Geral da República", à privataria e a muitos outros expedientes, como a aventada compra de votos para sua reeleição.




* Raduan Nassar é escritor, autor de "Lavoura Arcaica" e "Um Copo de Cólera", e vencedor
                                         


                                                           do Prêmio Camões 2016.

fonte: www.lula.com.br

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

CÍRIOS






Os dias do futuro se erguem à nossa frente
como círios acesos, em fileira –
círios dourados, cálidos e vivos.

Os dias idos ficaram para trás,
triste fila de círios apagados;
os mais próximos ainda fumaceiam,
círios pensos e frios e derretidos.

Não quero vê-los, que me aflige os seu aspecto.
Aflige-me lembrar a sua luz de outrora.
Contemplo, adiante, os meus círios acesos.

Não quero olhar para trás e, trêmulo, notar
como se alonga depressa a fileira sombria,
como crescem depressa os círios apagados.


Konstantinos Kaváfis

entre quatro paredes



entre quatro paredes

o grito foi
de prazer talvez
não sei


ouvi seu gemido
senti seu espasmo
seria orgasmo?

sei da cor dos olhos
vermelhos vermelhos
tristeza quem sabe

pediu copo d’água
sorriu enigmática
demos uma trégua

lençol molhado
no chão a toalha
silêncio calha

frente a frente
lado a lado
petrificados

daí a pouco
o som rouco
eriça os pelos

finda o marasmo
molambos criam
zoeira e orgasmo.




Poema do livro Palavras de Amor - página 98 - Editora 24 horas


No ar o meu mais recente lançamento:

Dois livros em um, pelo preço de um: R$25,00

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Uma carta aberta ao jornalista Flávio Freire, que escreveu uma matéria no O Globo sobre a saída da minha mãe hoje (01 de agosto de 2016):

Ela sorri. Ela sorri sempre. Ela ri até quando chora. Ela sorriu desmedidamente até no dia que eu fui visitar ela numa penitenciária de segurança máxima, onde ela ficou 45 dias. Me deixaram vê-la depois de 30 dias que ela passou em período de "triagem", onde só podia tomar banho de sol 3 vezes por semana, passava todo o resto do tempo trancada numa cela de 2 metros. Ficou as primeiras 48 horas seguidas nessa mesma cela, sem luz nenhuma. Sem saber que horas eram, sem poder pedir pra que os seus advogados trouxessem uma lâmpada, afinal, eram regras do presídio. Sem acesso a uma caneta pra escrever uma carta pros filhos dela. Com as costelas machucadas porque estava dormindo num colchão fino que fazia com que ralasse as costas a noite toda. Ah, ela estava na ala das prisioneiras do PCC, umas das mais perigosas do país.

Não, ela não tinha sido condenada... Sequer julgada... Mas aí estava. Cada vez que ela tinha que ver um advogado, o que acontecia diariamente, ela precisava fazer aquela revista humilhante, sem roupa alguma.. Mas sabe o que ela fez nessas 3 horas que permitiram que eu ficasse com ela? Ela sorriu. Riu, deu gargalhada de cada história que contei. Sorriu com a alma mesmo, riu de chorar.

Desculpe, se te incomoda muito, Flávio. Mas é o jeito que a minha mãe sabe viver. Eu sei que você e muitas pessoas preferiam que ela estivesse triste e cabisbaixa no pior momento da vida dela.

Mas a minha mãe é assim: ela sorri. O que você chama de não demonstrar fragilidade, é apenas uma felicidade interna que injustiça nenhuma desse mundo vai tirar dela. E eu só posso agradecer ao universo por isso. Sei que pra você não é nada pessoal, é só mais uma matéria lixo que você acha que vai ter alguma audiência ou alguns amigos vão compartilhar no Facebook. Mas pra mim não, pra mim é a minha vida toda, é a mulher que eu mais amo no mundo sendo retratada como uma pessoa sem sentimentos.

Eu espero, de coração, que você tenha alguém na sua vida como a minha mãe: que ri e sorri mesmo
quando as coisas não vão nada bem.


Por Alice Requião no Facebook