terça-feira, 30 de agosto de 2022

Das Minhas Lembranças 40


O sonho de realizar um projeto sem as amarras da política partidária me levou a criar o Grupo Oficina de Sonhos.  Como na maioria das vezes, não me lembro o ano.  Com certeza,  ao final dos anos 90.   A ideia fixa me levou a perder o sono em algumas noites e sonhar com um projeto de literatura, música e teatro, tendo como eixo, o comportamento. A frase de Raul Seixas "sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só; sonho que se sonha junto é realidade", me levou a Geraldo Bernardes, velho companheiro de militância e ao novo amigo, Rubens Pinheiro.  Expus a ideia aos dois, que toparam de imediato.  Rubens sugeriu atrairmos o Marcos Aurélio, o Marquinhos, com experiência de luta no movimento sindical e popular.  A  primeira reunião, que oficializou o grupo, aconteceu na casa de Rubens. Laura, sua companheira, providenciou café e pão de queijo. Dessa reunião nasceu o nome Oficina de Sonhos, que começaria a editar e publicar o boletim Intercâmbio, de meio ofício de quatro páginas, com textos curtos, para incentivar as pessoas a leituras. Decidimos, também, que a nossa sede seria móvel.  Ora na casa de um membro, ora na casa de outro, com o cafezinho e os bolos, por conta do anfitrião. Foi aí que surgiu um problema: o grupo não podia ser um Clube do Bolinha. As as mulheres, no caso as nossas companheiras precisavam ser integradas. E com o tempo, pensar na integração de outras pessoas, caso quisessem.  Mas não queríamos um grupão.  Nossas companheiras foram convidadas e toparam.  Assim, com a integração de Eliana, Laura, Lúcia e Simone, o grupo teve a sua ampliação. Elson Pego também veio logo em seguida, trazendo seu violão, que pertencia ao Rubens, debaixo do braço, animando nossas reuniões com músicas de Xangai, Elomar, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Rubinho do Vale, entre outros.  Era um sonho alto para as nossas condições financeiras, com os custos divididos entre os integrantes, de acordo com a capacidade de cada um. 

     Eu fiquei responsável pela primeira página, a capa, Geraldo Bernardes,  pela segunda, Rubens Pinheiro pela terceira e o Marquinhos pela quarta.  A tiragem inicial de cinco mil exemplares foi distribuída nos locais previamente definidos: Escolas Júlia Kubistischek,  Maria do Amparo, Nossa Senhora Aparecida (Bairro Industrial)  e Machado de Assis,  Antônio Confrade (Bairro Amazonas), que se tornaram pontos fixo, pela boa aceitação.  Sempre na entrada do horário noturno. Outro local definido foi na saída da missa da Igreja São José Operário e no centro comercial do bairro. Uma vez distribuímos o boletim na feira do Bairro Amazonas. 

     No próximo capítulo trago os conteúdos do nosso primeiro número .  Aguardem.


Geraldo Bernardes, Rubens Pinheiro, Estanislau, Dayrell e Altair
 


J Estanislau Filho

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Das Minhas Lembranças 39

Imagem: Google


Tentarei fazer um resumo do que pretendo ser o último capítulo de minha participação como conselheiro do meio ambiente no COMAC (Conselho de Defesa do Meio Ambiente de Contagem). Os fatos aqui narrados são fragmentos e não seguem, portanto,  ordem cronológica.

     No bairro Nova Contagem não havia rede de esgoto, na época em que fui conselheiro. Uma das causas era a falta de interesse das autoridades. Esgoto é uma obra que fica escondida debaixo da terra. Não dava votos. Talvez ainda não.  Muitos políticos gostam mesmo é de obras com visibilidade, como asfalto, túneis e viadutos. Havia uma empresa que fazia a limpeza (e loby) com sua frota de caminhões limpa-fossas. Imaginem o quanto esta empresa ganhava com a falta de esgoto e quanto de prejuízo causava ao meio ambiente. 



Imagem: Google

    Numa ocasião visitei uma área de nascente, que um empreendedor queria drenar, para construir uma obra, próxima ao lago da mata do Confisco, que causaria um impacto negativo, atingindo, inclusive, a bacia da Pampulha. Convidamos a Loló, não me lembro se ela atuava no Consórcio da Pampulha ou na associação do bairro Bandeirantes, que se localiza nas proximidades da lagoa da Pampulha, para, juntos, denunciarmos e barrarmos esse empreendimento.  Levamos a pauta à TV Globo Minas, que foi conosco ao local.  Pactuamos que a Loló falaria à repórter, para que eu fosse preservado e assim evitar retaliações por parte de gente do governo de Contagem. A reportagem foi ao ar. Na reunião seguinte do conselho, percebi olhares de gente do governo como se quisessem dizer: " ah eu sei que foi você quem estava por traz dessa denúncia à imprensa".  Só depois entendi:  minha imagem fora flagrada pelo cinegrafista, quando eu apontava com o dedo, o local da nascente. Foi uma questão de segundos, o suficiente para me identificarem. 

     Em uma reunião do conselho o ambiente estava tenso, creio, por conta de uma pauta  que poderia autorizar a instalação de um empreendimento, ao final aprovado por um voto de diferença. Se o conselheiro titular não tivesse faltado àquela reunião, haveria um empate e o secretário Juca Camargos teria de dar o voto minerva. Aí então ele teria de dizer de que lado estava. O conselheiro suplente votou com o secretário. Ficamos sem saber se foi armação ou coincidência. O conselheiro titular votaria por barrar o empreendimento. 

     Por último, lembro que antes da reunião do conselho,  eu me reunia com as lideranças que me conduziram ao COMAC, para analisarmos e deliberarmos sobre a pauta, enfim, como eu deveria votar. Meu suplente era o Geraldo Ferreira Pinto, mais conhecido por Índio, morador do bairro Petrolândia, sempre presente, no movimento popular e em defesa do meio ambiente.  


J Estanislau Filho

 

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Das Minhas Lembranças 38

 

Feira de Nova Contagem


Fui fazer uma palestra sobre educação ambiental em uma escola do bairro Nova Contagem.  Mas antes conto um pouco do surgimento do bairro, próximo ao bairro Retiro. 
     Newton Cardoso fora eleito prefeito de Contagem em 1972, ainda  sob a ditadura militar (lembrando que o regime permitia eleições municipais, disputado por apenas dois partidos, o MDB, oposição de fachada e ARENA, da situação) ano em que cheguei ao município,  vindo do interior,  cheio de sonhos. Newton governou  de 1973 a 1977 e de 1983 a 1986,  sempre pelo MDB.  A carreira política de Newton teve início nesse período até chegar ao Governo do Estado e se elegendo várias vezes deputado federal.  Uma de suas promessas de campanha era doar lotes e casas. Nesta época não existia o plano diretor e os bairros surgiam sem planejamento algum. Os empreendimentos imobiliários vendiam lotes e apenas abriam as ruas com tratores, tudo sem infraestrutura.  Depois os moradores se viravam para conquistar,  junto aos órgãos governamentais as melhorias, como água, luz, coleta do lixo e transportes. Calçamento, escolas, postos de saúde e outras melhorias,  seriam em outro momento, quando o novo bairro passara pelo adensamento desorganizado.  Enquanto a água  não chegava, abriam cisternas.  O despejo do esgoto era em fossas.  Primeiro a cisterna, depois levantar o barraco, pular pra dentro e fazer "gato",  pra conseguir luz.  Enquanto isso, a iluminação era à luz de velas.  Aí o Newtão entrou com a promessa de dar casas. Assim nasceu o Nova Contagem. 
     Voltando a palestra, fui bem recebido pela coordenadora da escola.  Não me lembro o nome dela. Em uma sala, a professora reuniu os alunos e as alunas para eu começar a conversa. Nem bem iniciara, eis que entra um aluno, acredito que entre 12/13 anos, senta-se ao lado da professora e a abraça, em seguida dá-lhe um beijo na face e fala pra mim: - Minha professora é linda, né professor? Um silêncio constrangedor toma conta da ambiente.  A professora pede ao jovem para não interromper. Volto a falar sobre a necessidade de participação dos moradores na preservação do meio ambiente.  O inquieto aluno volta a interromper a minha fala, conversando alto com alguém.  A professora pede licença e  o retira da sala.  Continuo a palestra. Depois das perguntas e respostas, encerro. 
     Antes de ir embora, tomo um cafezinho na cantina da escola. A professora me pede desculpas pelo "incidente" e me conta que o jovem aluno "é irmão de um traficante, que sempre aparece na escola,  armado, para defender seu protegido, no caso de algum processo disciplinar". 




J Estanislau Filho

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Das Minhas Lembranças 37

Imagem: O Tempo

Ser um conselheiro do meio ambiente me deu a chance de aprender e levar  conhecimento à várias pessoas.  Educação ambiental era uma das atividades, sempre com o suporte do mandato da Vereadora Letícia da Penha-PT.  Fiz palestras em escolas, igrejas. Por onde passava, falava de protegermos as águas e de implantarmos a coleta seletiva.  A bacia hidrográfica de Várzea das Flores ( Contagem e Betim) era a menina de nossos olhos, com desdobramentos na bacia da Pampulha, em BH, uma vez que muitos córregos de Contagem desaguam na Lagoa da Pampulha.

     Nas organizações de bairros eu sempre repetia, como um mantra sobre a coleta seletiva. Nas escolas, sobre Vargem das Flores. Tínhamos pressa. E para que isso se tornasse realidade, não bastava convencer a população. Precisávamos convencer as autoridades. Entre as ações, por meio do Deputado Estadual Rogério Correia, conseguimos, depois de idas e vindas, reuniões, debates, criar a APA Vargem das Flores.  Outra iniciativa foi a criação da ASMAC, Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis de Contagem.  Além do trabalho de convencer as autoridades, precisávamos catar catadores, os principais protagonistas da criação da entidade. Para juntar os catadores e criar a ASMAC, a participação do Padre Ferreira foi fundamental.  As conquistas não caem do céu. Até chegarmos a esse estágio, tivemos de superar obstáculos.  Necessário a participação popular. Foi isso que fizemos nas palestras nas escolas Ovídio Guerra, no bairro Eldorado, numa escola em Nova Contagem e em vários debates com organizações da sociedade civil. Produzimos e distribuímos boletins, vídeo.  Na escola Ovídio Guerra, com um projetor eu mostrava e palestrava para alunas e alunos sobre Vargem das Flores e os córregos  que formavam o lago. Muito lixo no curso dos córregos: garrafas pet, brinquedos e sacolas de plástico, pneus, sombrinhas, tecidos. Eu e a cinegrafista Marli Côrrea (estávamos produzindo um vídeo) seguimos o curso de um desses córregos, à partir do Bairro Retiro até ele desaguar no lago.  Que tristeza!  No percurso, esbarramos com um varal de roupas e outras tralhas, onde o ribeirão fazia uma curva acentuada.  Era uma cerca de arame farpado. Quando o córrego enchia, as peças de tecido carreadas se prendiam na cerca. Assim que as águas baixavam surgia aquela imagem surreal, parecida com uma tela de Salvador Dali.  Mais triste ainda foi ao chegarmos no lago: milhares de garrafas pet, uma montanha. Um funcionário da prefeitura me revelou que caminhões saíam dali, lotados.  Nesse dia, o recolhimento das garrafas não aconteceram.


Imagem: Google

     Para não alongar, deixarei para o próximo capítulo o que aconteceu numa escola de Nova Contagem e numa Igreja Católica do Bairro Riacho das Pedras.


J Estanislau Filho 

terça-feira, 9 de agosto de 2022

Das Minhas Lembranças 36


 Várzea das Flores

Parque Gentil Diniz

7 de agosto de 2022.  Depois de tomar o café da manhã, decidi fazer uma faxina básica na casa. Enquanto passava o pano de chão,  refletia sobre quem poderia se interessar pelas minhas lembranças.  Não vou cair na armadilha do utilitarismo.  E os pensamentos tomaram outro rumo.  Como desenvolver a narrativa de como fui eleito ao Conselho Municipal do Meio Ambiente de Contagem, o COMAC?  Continuei a faxina, enquanto Antonia lavava umas peças de roupa e eu buscava na memória o que acontecera naquela manhã. Sei que foi numa manhã. Quanto ao dia, mês e ano, não sei exatamente. Provavelmente em 1998. Ou seria 1999. Bastava ir à secretaria e pesquisar as atas, mas como disse lá atrás, optei somente pelo que a memória traz à tona.  Sei que no dia da escolha houve uma tentativa de impedir a minha participação, por parte da assessoria do Secretário Juca Camargos,  sob a alegação de que a denominação da entidade que me indicara, a Associação Comunitária do Bairro Industrial, deveria ser 'associação de moradores'.  Que coisa!  Célia Cristina Zatti, funcionária da prefeitura, lotada na Secretaria do Meio Ambiente, intercedeu a nosso favor e o impasse foi superado.  A vereadora Letícia da Penha foi conselheira, representando o legislativo municipal. 
     No processo de escolha do representante da sociedade civil eu me lembro de que havia um outro candidato à vaga ao conselho.  Nos reunimos com as lideranças, para a definição.  Não sei como chegamos ao consenso, se houve votação ou se o concorrente retirou a candidatura.  Enfim, fui eleito, com o apoio de cerca de quinze entidades.  E logo após tomarmos posse, houve um café e confraternização. À partir desse dia, iria enfrentar os interesses dos chamados empreendedores, em outras palavras, especuladores  imobiliária  em pautas que pretendiam avançar sobre áreas protegidas pela legislação ambiental, em especial sobre a represa de Vargem das Flores, responsável pelo abastecimento de água de cerca de 70%  da população de Contagem.  Um curso rápido sobre a legislação ambiental foi ministrado aos novos conselheiros por Célia Cristina e Sirlene.  Siglas como LP (licença prévia), LI (licença de instalação),  EIA-RIMA (Estudo de Impacto Ambiental-Relatório de Impacto do Meio Ambiente),  passaram a fazer parte do meu trabalho. A represa de Várzea das Flores passou a ser prioridade em nossa luta, que se desdobrou na coleta seletiva do lixo.  As reuniões do conselho aconteciam no Parque Gentil Diniz, aconchegante, preservado, com árvores e pássaros, além de miquinhos.  E você, que me lê, morador de Contagem ou não, faça uma visita. É legal!

J Estanislau Filho

Parque Gentil Diniz


 

terça-feira, 2 de agosto de 2022

Das Minhas Lembranças 35


 Imagem: acervo de Jefil

Nos reunimos para deliberar sobre as comemorações dos vinte anos da ACBI.  Formamos grupos e cada um ficaria responsável por uma ou mais tarefa. Eu e Dona Iris ficamos de captar recursos junto aos vereadores. Outro grupo ficou responsável pela cozinha, outro pra fazer contato com entidades que pudessem participar e contribuir com o evento, etc.  Dona Iris Rodrigues tinha bom trânsito com o vereador Gueber Ferreira. Com o livro de ouro debaixo do braço fomos à Câmara.  Alguns vereadores contribuíram com uma merreca.  O Gueber, além de uma pequena contribuição em espécie, cedeu o palco, com som e um operador à nossa disposição,  o Vander Rodrigues. O forró, que fechou a noite de festa foi um sucesso, com dois grupos sertanejo se revezando no palco.  Dona Terezinha me convidou pra uma dança, respondi que não sabia dançar, ela não se importou. Mas mal começamos, ela desistiu.  Não consegui acompanhá-la.
     Durante o dia teve rua de lazer, patrocinada pelo SESC-MG. Lá pelas dez horas teve uma celebração ecumênica, com a participação dos padres Osvaldo, Carlos Pinto e dos pastores Paulo César e outro da Igreja Presbiteriana. Contamos ainda com a contribuição do coral espírita Elevar, sob a regência do maestro Cléber, sob um sol de rachar moleira. Do coral eu me lembro de Eliana Belo, Mariza Lopes, José Prado, Maria Lúcia Freitas.  A celebração ecumênica foi articulada por  Eva Torres, atendendo a solicitação de Rubens Pinheiro. 
     Não fossem as ações de Aparecida Novelo, Dona Geralda, Dona Iris e Dona Terezinha, não teríamos os deliciosos salgados, acompanhados pelas bebidas vendidas pelo Jáder durante o forró.  
     Foi como representante da Associação Comunitária do Bairro Industrial, que disputei uma vaga no COMAC - Conselho de do Meio Ambiente de Contagem, para representar a sociedade civil. É o que narrarei a seguir. 




J Estanislau Filho