quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Personalidades negras brasileiras








Aqualtune (c.1600-?) - princesa e comandante militar



Nascida no Reino do Congo, Aqualtune era uma princesa que ocupou um importante papel na sua terra natal. Comandou um exército de 10 mil homens contra o Reino de Portugal defendendo seu território.
Derrotada, foi vendida como escrava e trazida para Alagoas. No engenho onde estava como escrava ficou sabendo da existência do Quilombo dos Palmares e fugiu para o local levando consigo vários companheiros.
Ali teria três filhos que se destacariam na luta contra a escravidão: Ganga Zumba e Gana, líderes no Quilombo dos Palmares; e Sabina, a mãe de Zumbi.
A causa da sua morte é incerta, mas seus feitos ajudaram a consolidar o Quilombo dos Palmares como refúgio dos escravos na colônia.






Tereza de Benguela (?-1770) - rainha do Quilombo de Quariterê


Foi a rainha do Quilombo de Quariterê, no Mato Grosso. Após a morte do companheiro, liderou a luta do quilombo contra os soldados portugueses. Sua grande inovação foi a instituição de um Parlamento no quilombo onde se discutiam as normas que regulavam o funcionamento do lugar.
Após ter tido seu exército derrotado, Tereza de Benguela foi morta e decapitada com a cabeça exposta em praça pública. Desta maneira, o governo pretendia o castigo por desafiá-lo servisse de exemplo para todos.
Dia 25 de julho, data de sua morte, é celebrado o Dia da Mulher Negra no Brasil.








Mestre Valentim (1745-1813) - paisagista e arquiteto



Valentim da Fonseca e Silva, mais conhecido como Mestre Valentim, era filho de um contratador e diamantes e uma negra. Nasceu em Serro, Minas Gerais, e mais tarde, Valentim foi levado para o pai a Lisboa onde estudou.
No Brasil, estabeleceu-se no Rio de Janeiro, então capital da colônia. Prestou serviço para as grandes ordens religiosas e realizou trabalhos para o Mosteiro de São Bento, a Igreja de Santa Cruz dos Militares e a Igreja de São Pedro Clérigos (já demolida).
Chamado de "Aleijadinho carioca" pelo seu talento foi também o autor do traçado original do Passeio Público e do Chafariz das Marrecas.
No entanto, sua obra mais conhecida é chafariz localizado na atual Praça Quinze, onde centenas de escravos recolhiam água para abastecer as casas.






Luís Gama (1830-1882) - escritor e ativista político


Nascido na Bahia de uma liberta e de um português empobrecido, Luís Gama nasceu livre, mas foi vendido como escravo pelo pai que estava endividado.
Foi para São Paulo aos 10 anos e trabalhou como escravo doméstico. Aprendeu a ler aos 17, e nesta época, conseguiu provar junto aos tribunais que era mantido como escravo injustamente e que, portanto, deveria ser posto em liberdade.
Um vez livre, Gama passou a atuar como rábula, um advogado sem diploma que pleiteava causas específicas. No seu caso, Luís Gama conseguiu libertar mais de 500 escravos alegando que todo negro chegado ao Brasil após 1831 deveria ser livre, tal como dizia a Lei Feijó.
Escritor abolicionista, o enterro de Luís Gama foi um verdadeiro acontecimento em São Paulo acompanhado por 4000 pessoas.
Em 2015, a OAB - Ordem de Advogados do Brasil, lhe concedeu postumamente o título oficial de advogado.







João da Cruz e Souza (1861-1898) - poeta e escritor


Nascido em Desterro, atual Florianópolis, Cruz e Souza era filho de escravos alforriados, e recebeu uma educação esmerada por parte da família do ex-senhor do seu pai. Aprendeu idiomas estrangeiros e matemática, mas seria recusado como promotor na cidade de Laguna por ser negro.
Partiu para a capital, onde foi arquivista da Estrada de Ferro Central do Brasil. Colaborava com diversos jornais e estava atento a causa abolicionista que se desenrolava naquele momento.
Publicou três livros em vida, mas foi sua obra póstuma "Evocações" que lhe garantiu um lugar entre os grandes escritores brasileiros.
Seus poemas são os primeiros do estilo simbolista no Brasil. Apesar disso, faleceu tal qual um poeta romântico, pois a tuberculose terminou com sua vida quando tinha apenas 36 anos.


Acrobata da dor


Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta …

Pedem-se bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
nessas macabras piruetas d’aço. . .

E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço.

Cruz e Souza









Mãe Menininha do Gantois (1894-1986) - Iyálorixá



Nascida na Bahia, Escolástica da Conceição de Nazaré, era descendente de uma linhagem de Iyálorixás ou líderes femininas que comandam um terreiro de Candomblé.
Mãe Meninha do Gantois foi escolhida aos 28 anos para ser a dirigente do Gantois, terreiro que havia sido fundado por sua bisavó.
Na década de 30, as celebrações de Candomblé ou Umbanda estavam proibidas por lei. Porém, ela se destacou em fazer que o Candomblé fosse conhecido por intelectuais e políticos.
A legião de admiradores da mãe de santo incluíam nomes como Jorge Amado, Dorival Caymmi, Vinícius de Moraes, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa, etc.
Graças a sua sabedoria, a religião afro-brasileira ganhou mais visibilidade e respeito.







Marielle Franco (1979-2018) - socióloga, ativista e vereadora

Natural do Rio de Janeiro, nascida no Complexo da Maré, Marielle Franco estudou Sociologia graças a uma bolsa na PUC/RJ. Posteriormente, cursaria o mestrado em Segurança Pública na Universidade Federal Fluminense (UFF).
Após a graduação, se envolveria com os movimentos pelos direitos dos negros e das mulheres. Entrou para a política filiando-se ao PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) e foi assessora do deputado estadual Marcelo Freixo (1967), atuando especialmente na Comissão de Direitos Humanos.
Disputou as eleições municipais, elegendo-se como a quinta vereadora mais votada e a terceira mulher negra a ganhar este cargo na cidade do Rio de Janeiro.
Em 2018, Marielle Franco voltou suas atenções para a intervenção federal que está ocorrendo no estado Rio de Janeiro e se tornou uma das principais críticas deste projeto.
Foi assassinada, junto com seu motorista, enquanto voltava para casa, após participar de um evento sobre mulheres negras no bairro da Lapa.






                                                                 Por Juliana Bezerra
                                                                Professora de História


 Fonte: https://www.todamateria.com.br/personalidades-negras-brasileiras/






10 comentários:

  1. Muito bom Stan. Grandes personagens da nossa cultura. Abraços

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  2. INTERESSANTE E PRIMOROSA PESQUISA HISTÓRICA!ADOREI.

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  3. Exatamente texto. Tecidos com capricho e conhecimento de causa. Parabéns Estanislau. Abraço da Luiza

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    1. Sempre uma alegria receber seu comentário. Volte sempre. Abraço.

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  4. Muito bom poder contar com personalidades importantes, Tivemos o Zumbi do Quilombo dos Palmares, Castro Alves era descendente de negros, Machado de Assis tinha parentes negros. Muito bela pesquisa, atualmente temos grandes personalidades no esporte, na música, e até na política como o grande senador Paulo Pain, o candidato nestas eleições de outubo tivemos o Marcelo Cândido que já foi prefeito daqui de Suzano, e seu pai foi deputado. Forma pessoas que deixaram ou deixam seus nomes na história. Aplausos mil

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    1. Sem dúvida, Norma. São muitos personagens negros e negras que fizeram e fazem história. A lista é grande. Abraço afetuoso.

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