AVAREZA
ÁLVARO tinha como alvo esconder o patrimônio. Desconfiado, pensava que quem se aproximava dele, era por interesse de lapidar sua economia. Andava pelas ruas da pequena cidade em que morava, com sua chinela de dedos, roto e sempre desacompanhado. Não tinha amigos. Amizade apenas com o dinheiro. Ao contrário da maioria das pessoas, não era consumista. Não viajava, não frequentava restaurantes, nem mesmo a sua casa era minimamente confortável. Guardava a sete chaves uma montanha de dinheiro, parte dele num colchão recheado de notas. Seu Paulo, o único conterrâneo, que teve acesso à casa de Álvaro, espalhou entre os moradores, que viu um baú descomunal, trancado por um enorme cadeado, onde guardava seu precioso tesouro.
IRA
ARI, o irado. Assim o nomeou seu amigo Santos. Ari é a fúria em pessoa. Nele mora apenas sentimentos de rancor e ódio. Nada presta. Viver não vale a pena, morrer também não. Ninguém compreende como o pacato Santos o tem em consideração. Santos deve ter vocação pra santo, para interagir com esse pulha, afirma o beato Horácio, seu parceiro de dominó.
SOBERBA
ARMANDO sempre armava uma "casinha" contra alguém, que na sua visão, pudesse superá-lo. Estava sempre de nariz empinado, peito estufado. Humilhar outras pessoas era o seu esporte favorito. Armando se considerava melhor em tudo, o suprassumo. Do jogo de cartas ao futebol; das análises de conjuntura às previsões climáticas; da colheita de frutas à culinária; no modo de vestir à contemplação da beleza. Desmontava qualquer argumento contrário. Armando era, além disso, um negacionista. Discordava até mesmo de alguém que concordasse com suas ideias. Dava uma sonora e corrosiva gargalhada ao suposto adversário.
INVEJA
IRMA é irmã da inveja. Andam lado a lado. Está sempre atenta à vida das pessoas. Cresce o olho no patrimônio alheio. Se a vizinha compra uma televisão nova, além de querer saber porquê, vai ao Magazine Luíza e compra outra melhor. Inveja o sapato de uma, implica com o cabelo de outra. Gosta de ir à casa das pessoas e botar olho gordo nos jardins. Quando Jurema, sua parceira de fofocas viajou para Punta Cana, Irma entrou em depressão.
LUXÚRIA
SADE, tinha sede de sexo. Mas não era sádico, nem masoquista. O prazer vinha sempre em primeiro plano. Movido pelo desejo, não media esforços nas conquistas. A sedução brotava de seus poros, criando uma atmosfera de lascívia irresistível. Sade não se prendia a nenhuma moral conservadora, que interdita o erotismo. Sexo jamais fora sinônimo de pecado. Tinha o corpo e o desejo livres.
PREGUIÇA
PERPÉTUA, permanece atenta ao que considera seu direito à preguiça. Defende com argumentos sólidos, que a preguiça é um direito sagrado. Esparramada na poltrona, não se incomoda com a pia cheia de louça. Quem na verdade condena o ócio, não passa de um escravocrata, diz convicta. A mente de Perpétua perpetua o pensamento de Paul Lafargue, que disse a mais de cento e cinquenta anos, que todos temos direito à preguiça, para o descanso, o lazer e a criatividade.
GULA
GULLIVER, vive uma ambivalência com a gula. Gosta de se empanturrar de tudo, mas se enche de culpa, por admitir que a gula é um pecado. Cumpriu a promessa de subir de joelhos as escadas da Penha. Foi a Aparecida do Norte, pedir a Nossa Senhora, que aplacasse sua gula. Santas e santos não atenderam suas súplicas. A gula e a culpa aumentaram, para o mal de seus pecados. Sua última tentativa foi se fartar num enorme banquete. O método, segundo uma cartaomante, era infalível. Após a comilança, foi conduzido ao hospital onde fez uma cirurgia bariátrica. Finalmente Gulliver controlou o apetite, mas a ambivalência continua. Não sabe se foi a ciência ou a crença que o salvou da gula.
Interessante o modo de escrever os pecados capitais. Alguns personagens parecem da vida real. 👏🏽👏🏽👏🏽
ResponderExcluirConcordo com a Antônia, está muito interessante a sua abordagem com os personagens, crível e pitoresca, adorei!!! - Maria Ventania.
ResponderExcluirChocante,todos nós temos alguns pecados.
ResponderExcluirInteressantes, os teus "retratos". Jogando com nomes e características, tu és bem criativo! Um abraço da Beatriz.
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