Imagem do filme Crônica de uma Morte Anunciada de Garcia Marquez´
Lá pelos idos de 1977, creio, iniciei a escrita de A Construção da Estrada de Ferro, uma novela, que pelo tamanho, me parece que pode ser considerada um romance. Delírios de Rosas é um fragmento
do romance, em forma de conto, que se encontra em meu livro Crônicas do Amor Virtual e Outros Encontros, de 2012. A Construção da Estrada de Ferro não tem previsão de lançamento.
Fabrício Valdéz esfregou os olhos com os punhos cerrados, naquela manhã em que o cheiro de rosas brancas invadiu seu valhacouto, serpenteou sob a manta de estampas coloridas, presente dos ciganos, que a cada quatro anos, no verão torrencial, armavam barracas de lonas puídas em suas terras, para vender tachos de cobre aos moradores do vilarejo, cavalos e burros decrépitos como se fossem jovens, graças a artimanha de colori-los com tintas extraídas de plantas. O cheiro das rosas penetrou em suas narinas, expulsando de vez o sono de uma noite premonitória.
Sentou-se com dificuldades, tateou o chão com os pés à procura das pantufas de cetim rotas, única lembrança de Catarina Flor, que o abandonara naquela noite de tempestade desmesurada, com as andorinhas em algaravias, e que decidira, para colocar-se a salvo dos tormentos dos remorsos, revelar com quantas mulheres havia se deitado no transcorrer de vida a dois. Pela primeira vez ao longo dos trinta e três anos de solidão, praguejou que merda ao refletir sobre o sentido das palavras de Flor, seu desgraçado, réprobo, porque não carregou esta ignomínia para o túmulo!
Às vésperas de completar noventa e oito anos, trinta e três de solidão em companhia de bêbados, drogados e prostitutas, não estava certo de alcançar a cocaína que o reanimava desde que Catarina Flor desaparecera naquela noite sob a chuva de granizo, que provocara uma desordem descomunal no vilarejo, matando porcos, cavalos, galinhas, cães e outros seres indefesos, destelhando casas, deixando por vários dias um odor putrefato.
O cheiro de rosas brancas intensificou-se ao tentar tocar a aldrava e desta vez lamentou que merda, como pude magoar minha prófuga andorinha! Neste instante uma rajada de vento descerrou as janelas e pétalas de rosas, como aves migratórias invadiram o quarto, pousando suavemente sobre sua cama, no chão, nos móveis. Milhões de pétalas foram cobrindo o corpo caquético de Fabrício Valdéz e entre elas identificou Catarina Flor, vestida de branco, dançando com leveza, tendo nos lábios e nos gestos a pureza dos justos. As pétalas foram se amontoando placidamente no valhacouto até alcançar o teto. As que não conseguiram espaço interno foram amontoar-se ao redor da casa sob os olhares diáfanos de lírios, de rosas.
J Estanislau Filho
Fone> 32 99963-0023
Narração ímpar em escrita toda bem cuidada - trazendo ao leitor uma paixão secreta pela Crônica, que faz as plavrfas bailarem com toque de sabedoria sob nossos olhos tão leigos, parabéns Escrtor Estanislau*****, beijos da Luiza Michel
ResponderExcluirObrigado pela presença, volte sempre Luiza. Abraço.
ExcluirLinda crônica Estan, o que é um Amor Platônico, passa o tempo que for e fica enraizado,com a tristeza na alma!
ResponderExcluirObrigado Maria, bom tê-la entre as minhas leitoras. Abraço.
ExcluirTu nos faz enxergar a cena
ResponderExcluirEscreveu difícil, meu amigo rsrs Gosto do seu jeito de escrever. Abraço da Olynda
Obrigado Olynda, volte sempre. Abraço.
ExcluirA presença marcante das flores deu uma incrível sensibilidade ao conto. Amo flores! Perfeito.
ResponderExcluirObrigado pela presença Maria José, seja sempre bem-vinda. Abraço.
ExcluirArrasou Estan..Parabéns!
ResponderExcluirValeu Alice, sempre bem-vinda. Abraço.
ExcluirParabéns, Estanislau, pelo seu belo e reflexivo texto! Grata, pela indicação do seu blog! beijos ternos,
ResponderExcluirObrigado pela leitura, sempre generosa! Valeu demais...
ResponderExcluirBelíssimo conto, caro JEstanislau. O contexto é um despertar de emoções que ficam na lembrança como as lendas infantis. Sensacional! Parabéns e um grande abraço.
ResponderExcluirObrigado, Antenor. Sua leitura e comentário me honram. Abraço fraterno!
ResponderExcluirLeio e me deleito, como a inspiração supera aquilo que se julga o certo. Há uma aura de sofrimento misturado com esperança embora na avançada idade ainda há tônus para pensar adiante. Flores ornam o momento final, sejam elas júbilos ou transtornos do fim. Parabéns pelo talento e pelo delírio.
ResponderExcluirObrigado 🙏 Arnaldo. Sempre bem-vindo.
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