quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Dois poemas de Noélia Ribeiro




 CINEMASCOPE


assediadores do sonho
propensos ao extermínio
mulheres perfuradas
por acrobacia macabra
interrogações sobrepostas
diante de filhos e filhas
dramaturgia em cinemascope
o choro da plateia
não remenda a sede de atalhos
a paz reside em úteros´



TEMPOS VIS


o verão da escrita
faz voar palavras
folhas verdes

o outono da fala
as faz cair
folhas mortas

em tempos vis
palavras desfolham-se



Sobre a autora




Noélia Ribeiro, poeta pernambucana, nascida em Recife, formou-se em Letras pela UnB (Universidade de Brasília). Participou da exposição Poesia agora, na Caixa Cultural (RJ), e recebeu, da Secretaria de Cultura (DF), o Prêmio Igualdade de Gêneros na Cultura. É membra da Associação Nacional de Escritores (DF) e da União Brasileira de Escritores (RJ). Publicou os livros de poesia Expectativa (1982), Atarantada (Verbis, 2009), Escalafobética (Vidráguas, 2015), Espevitada (Penalux, 2017) e assim não vale (Arribaçã, 2022). Tem poemas publicados em antologias, jornais, revistas eletrônicas. A autora reside atualmente em Brasília (DF).

sábado, 9 de agosto de 2025

Marx e Freud colocam o capitalismo no divã

Um diálogo entre psicanálise e marxismo mostra como apetite pela produtividade e o gozo insaciável são complementares. Conformar-se a uma vida sem sentido leva à (auto)exploração. Autonomia requer reinventar o desejo… e o mundo



Samo Tomšič em entrevista a Amador Fernández-Savater, no CTXT | Tradução: Rôney Rodrigues

O capitalismo é verdadeiramente uma criação excepcional na história da humanidade. Pela primeira vez, uma sociedade se dedica inteiramente à produção… pela produção em si! Produtividade pela produtividade, para satisfazer uma lógica de lucro insaciável por definição, para a qual tanto faz fabricar canhões ou manteiga, porque tudo vale se puder se traduzir em valor de troca. É o conhecido diagnóstico de Marx.

O problema é que não somos simplesmente vítimas inocentes dessa lógica absurda, mas a reproduzimos cotidianamente como cúmplices necessários. O imperativo de produtividade infinita penetra em nosso interior, através dos complexos mecanismos psíquicos descobertos por Freud e analisados posteriormente por Lacan: o mandato superegoico, a pulsão de morte, o gozo. Más notícias: estamos libidinalmente viciados na roda que nos esmaga.

A acumulação é infinita, e nosso esforço será sempre insuficiente. O Trabalho do Gozo (Paradiso Editores), o último livro do filósofo esloveno Samo Tomšič, retoma o diálogo (difícil) entre Marx, Freud e Lacan para refletir sobre a natureza de nosso mal-estar: em nível individual e coletivo, subjetivo e objetivo, estamos submetidos a mandatos que excluem, por definição, a possibilidade de satisfação, paz ou felicidade na terra.

Psicanálise e política: na complexa zona intermediária

Em que sentido a psicanálise pode ser uma inspiração política, para a transformação social, considerando que trabalha de forma individual, investiga um inconsciente estritamente singular e desconfia do coletivo como “psicologia das massas”?

Há várias boas razões para recorrer à psicanálise em questões de mudança social. Por um lado, a psicanálise aborda a questão da mudança de maneira muito específica. À primeira vista, pode parecer que ela se esforça para alcançar uma mudança individual, limitada apenas às pessoas. No entanto, a complexa relação, e até mesmo a continuidade entre o individual e o social, tem sido um problema crucial para a psicanálise desde Freud.

Basta recordar seu texto sobre a psicologia das massas, que é um escrito fundamental da filosofia política, assim como uma intervenção psicanalítica chave em questões sociais. Nele, Freud analisa a função da libido e dos afetos na formação dos grupos sociais e dos vínculos que mantêm a sociedade unida. Freud mostra que a distinção rígida entre indivíduo e grupo não se sustenta, e que tal diferenciação é sempre meramente provisória. No entanto, isso não significa necessariamente que se possa ou mesmo se deva tratar a sociedade de forma análoga às pessoas, e vice-versa.

O que isso implica, sim, é que devemos nos concentrar na zona intermediária, para compreender o que ocorre sob a dicotomia entre indivíduo e sociedade. Aqui está outra contribuição chave da psicanálise: ela destaca o problema da resistência e, especificamente, da resistência à mudança. Assim, talvez mais do que qualquer coisa, a psicanálise pode nos ajudar a pensar nos obstáculos com os quais uma política emancipatória inevitavelmente deve lutar ao perseguir seu objetivo de transformação social.

Se não é de continuidade ou de aplicação, que tipo de relação é então a que existe entre psicanálise e política?

Eu levaria a sério a sugestão de Lacan. Em determinado momento, ele argumentou que a análise do “prazer” por Freud é homóloga à análise da produção de mais-valia por Marx. Mais uma vez, a questão aqui não é a similaridade dos dois processos – caso contrário, falaríamos de analogia –, mas sim sua identidade lógica.

Falar de homologia intervém assim na zona complexa que mencionei antes, entre o individual e o social, e se esforça para “desconstruir” essa dicotomia demasiado simples. Uma leitura analógica não faria exatamente isso. Afirmaria a dicotomia e trataria a sociedade como um macroindivíduo e o indivíduo como uma microssociedade. Uma leitura homológica, por outro lado, detecta a mesma lógica na esfera social e subjetiva, sem afirmar que essa lógica seja em si mesma subjetiva ou social. É, em sentido estrito, ambas as coisas.

Para mim, essa leitura homológica faz mais sentido porque implica que a psicanálise não revela mecanismos transhistóricos e transculturais do inconsciente – isso seria uma leitura junguiana –, mas expõe a imersão total dos processos de pensamento no modo de produção social historicamente predominante. Para evitar qualquer mal-entendido, isso não significa que o inconsciente como tal seja capitalista, nem que se livrar do capitalismo significaria se livrar do inconsciente. A homologia significa que nosso modo inconsciente de gozo está, no mínimo, codeterminado, se não sobredeterminado, pela lógica da produção capitalista. Se a ordem social muda, logicamente, os processos inconscientes também mudam.

O mistério do gozo: uma satisfação insatisfatória

Do que falamos quando falamos de gozo (jouissance)? É o mesmo que pulsão? É algo natural ou cultural, biológico ou simbólico? Como foi sua descoberta por Freud em termos de “pulsão de morte” e sua reelaboração conceitual por Lacan em termos de “gozo”?

Há uma grande confusão em torno do termo “gozo”, e essa confusão se refere à tradução do termo freudiano “Lust”. Essa palavra alemã tem sido comumente traduzida como “prazer”, o que não é totalmente incorreto, mas também não é totalmente correto. Uma tradução mais adequada seria talvez “luxúria”, se nos limitarmos ao inglês. O cristianismo sabia que o “gozo” era uma questão de pecado e estava diretamente relacionado à morte, e a psicanálise freudiano-lacaniana certamente adotou essa lição.

Mas voltando à sua pergunta, em Freud e mais tarde em Lacan, “Lust” representa a continuidade entre prazer e desprazer. Em nível consciente, posso experimentar uma atividade como beber ou fumar como desagradável, pode me dar ressaca, mas inconscientemente ainda constitui uma satisfação prazerosa. Isso significa que eu gosto e não gosto ao mesmo tempo? Bem, sim, mas também significa que há uma dimensão do gozo que me é estranha, embora ocorra em mim. Lacan apontou isso em relação à atividade de falar, repetindo constantemente “ça parle” (o isso fala), o que significa tanto quanto: não posso controlar todos os efeitos da fala. Mas também poderíamos dizer “ça jouit” (o isso goza), ou seja, há um nível de gozo no qual meu bem-estar já não é central.

Aqui é onde entra em jogo a pulsão que você já mencionou em sua pergunta. O gozo não é o mesmo que a pulsão, mas sem dúvida é o objeto privilegiado da pulsão. Em poucas palavras, a pulsão exige prazer, exige o próprio ato da satisfação e, nesse sentido, a pulsão é simbólica, cultural, uma exigência que não para de exigir. Um instinto, por exemplo, é uma exigência que vai e vem, mas a pulsão persiste. Freud descreveu a pulsão como uma “força constante”. No entanto, a pulsão e seu objeto, o gozo, não são simplesmente abstratos, mas também encarnados, materiais, corpóreos, o que, no entanto, não os torna “naturais”.

A hipótese do gozo, conforme você explica em seu livro, questiona algumas hipóteses otimistas como as de Aristóteles ou Adam Smith, que apontam em última instância para formas de harmonia social baseadas no prazer ou no interesse. A descoberta da pulsão seria a “má notícia” que a psicanálise trouxe consigo: não há fim da história, nem equilíbrio possível do social.

Exatamente, a pulsão é precisamente uma força que desfaz constantemente o equilíbrio que, por exemplo, se restabelece provisoriamente uma vez que ocorre uma satisfação. Freud também teve que aprender essa lição. No início, ele concebeu o chamado “princípio do prazer” como um princípio de diminuição da tensão. Quando uma tendência inconsciente – o desejo ou a pulsão – obtém sua satisfação, a afetação do aparato psicossomático diminui, o estímulo irritante é suprimido, e a sensação de prazer é o efeito lógico e corporal dessa diminuição.

Mas uma vez que a pulsão se revela uma força constante – e em Freud ela é entendida assim precisamente a partir da perspectiva da perseverança da pulsão de morte –, isso implica uma perturbação constante no aparato psíquico. A satisfação torna-se dificilmente distinguível da insatisfação, e a pulsão é, em última instância, uma exigência de mais gozo ou, dito de outro modo, uma exigência de satisfação contínua.

Aqui é onde o conceito freudiano de pulsão se aproxima suspeitosamente das descrições de Marx do capital como pulsão de autovalorização, de acumulação, etc. Poderíamos até tomar Marx como um corretivo para Freud neste ponto, já que Marx mostra que existe algo como uma história das transformações da pulsão (ou o que Freud chamava de “vicissitudes” ou “destinos” da pulsão), enquanto Freud tende a pensar a pulsão para além das circunstâncias históricas que determinam seu modo de funcionamento.

Em última instância, Freud reintroduz a referência ao registro da biologia, empreendendo assim uma tentativa desesperada de renaturalizar a pulsão. Mas aqui também a lição a ser extraída não é que “o capitalismo inventou a pulsão” ou algo do tipo. É simplesmente que o capitalismo mobilizou com sucesso – e, ao fazê-lo, transformou – uma força de abstrações simbólicas que em Marx e Freud leva o nome de “pulsão”.

O gozo do capital e nossa insatisfação permanente

O capitalismo impõe o gozo? Ou impõe um tipo de gozo? O mesmo, igualmente, a todos os sujeitos?

O capitalismo impõe um modo específico de gozo, e o exemplo mais batido desse gozo imposto, “padronizado”, seria a forma mercantil e o consumismo. Podemos observar aqui como a satisfação e a insatisfação, o prazer e o desprazer, formam um contínuo. Tomemos novamente o exemplo do tabaco. Não se trata apenas de uma atividade que não serve para nada – não satisfaz nenhuma necessidade “vital” específica –, mas também revela o que é essencialmente o gozo. Lacan diz que o gozo é o que não serve para nada, o que não tem nenhuma finalidade. Assim, em uma atividade como fumar não há nenhuma aparência de satisfação de necessidades, mas pura satisfação da pulsão.

Um exemplo um pouco diferente, no qual teríamos uma aparência de satisfação de necessidades coexistindo com a satisfação no nível do gozo inútil, é a comida rápida. É bastante revelador que o menu de uma cadeia típica de comida rápida consista em um hambúrguer cheio de aditivos e uma bebida carbonatada com excesso de açúcar. Ambos estimulam e satisfazem ao mesmo tempo a necessidade de comer e beber, mas a sensação de satisfação é extremamente efêmera.

Outro exemplo seria a força de trabalho, a mercadoria que todos devemos encarnar no universo capitalista. No processo de trabalho, devemos produzir valor para legitimar nossa existência aos olhos do sistema capitalista. O que está igualmente em jogo nesse processo é o encontro com a demanda insaciável de mais-valia. Essa demanda nunca se satisfaz – se o fizesse, o sistema deixaria de existir – e isso era precisamente o que Marx queria dizer: o capitalista tem uma fome insaciável, “lobuna”, de mais-valia.

Em alemão existe a expressão Heißhunger, que significa algo como apetite voraz ou ânsia por comida, e que pode ser melhor exemplificada em relação à comida junk no consumo individual e ao consumo sistêmico da força de trabalho. Como corpos de trabalho, não somos mais do que comida rápida para o sistema.

O esgotamento psíquico e a insatisfação permanentes que afligem tantos trabalhadores no Norte global têm a ver com essa pinça entre dois infinitos (o infinito do gozo, o infinito da produção) na qual estamos presos? Não se acrescentam hoje novos infinitos: o infinito do digital, das finanças, etc.?

Acredito que é precisamente isso, e não vejo por que o infinito do digital ou das finanças traria algo novo. São expressões contemporâneas da infinitude virtual do simbólico, na qual o capitalismo desdobra seu parasitismo letal. Podemos observar, por exemplo, como as chamadas “redes sociais” – que seriam melhor descritas pelo termo “antissociais” –, desde o X (Twitter) passando por Facebook e Instagram até TikTok e além, acabaram se tornando o melhor ambiente possível para a satisfação dos impulsos agressivos. Seria possível até dizer que essas plataformas digitais são ambientes ideais para a satisfação ininterrupta do que Freud chamava de pulsão de agressividade.

Uma cura política?

Há outros modos de elaborar a pulsão, formas de sublimação emancipadora? Também em nível social ou coletivo?

Claro, a importância da psicanálise nesse terreno segue ligada ao fato de que ela luta por uma transformação do modo de gozo predominante.

Quando Freud falava de “mal-estar” ou “mal-estar na civilização”, ele o associava às exigências impossíveis que a “cultura” moderna – podemos substituir esse termo por “capitalismo” sem prejudicar excessivamente o argumento de Freud – impõe a seus sujeitos. Nesse contexto, Freud também argumentava que a “cultura” se baseia na repressão das pulsões e pode até ser equiparada à “tendência repressiva”. Segundo Freud, vivemos em uma “cultura da repressão”, o que não significa que estejamos isolados de modos de gozo genuínos e autênticos. Em Freud, e isso é o que Foucault não entendeu bem ao criticar a chamada “hipótese repressiva”, a repressão não significa opressão. Em todo caso, a repressão estabelece as bases para a opressão, mas para Freud ela também representa uma organização específica do gozo e um “destino” da pulsão. Essa organização é sem dúvida exploradora, e Freud diz isso claramente.

Mas qual modo de gozo menos explorador seria possível não é uma resposta que se possa esperar da psicanálise. É certo que a repressão é mais propensa a produzir agressividade, tanto psicológica quanto social, e que para a psicanálise a sublimação é uma alternativa à repressão. Mas não é certo que todos os problemas relacionados ao gozo se resolvam com a sublimação. Aqui é onde a psicanálise se aproxima da crítica madura de Marx à economia política: eles não olham para uma bola de cristal para prever o futuro – como será uma sociedade comunista, como se sentirá um modo de gozo não capitalista. Em vez disso, organizam o esforço para resolver a bagunça em que nos encontramos no presente.

Você faz uma analogia entre o “trabalho elaborativo” da psicanálise e o da organização política, ambos “práticas do impossível”. Poderia desenvolver isso? Se o capitalismo explora o “mal-estar civilizatório”, como você diz, poderia se pensar a luta política como uma forma de “cura”?

Bem, não quero dizer que basta olharmos para a prática psicanalítica e encontraremos uma saída para o capitalismo. Em Televisão, Lacan faz a famosa observação: “Quanto mais santos, mais risadas; esse é meu princípio, ou seja, a saída do discurso capitalista, que não constituirá um progresso se ocorrer apenas para alguns”. Não vou entrar em comentários sobre o que “santo” ou “risada” significam aqui, mas me concentrarei apenas na afirmação de que só faz sentido falar em “progresso” – mudança “discursiva” ou “estrutural” no modo social de produção – se ele concernir a todos e não apenas a alguns.

Na história do liberalismo econômico e político, “progresso” é um termo muito problemático, incrustado em um marco ideológico que segrega a humanidade em diferentes grupos (raças, classes), dos quais apenas alguns são supostamente capazes de se desenvolver, enquanto outros ficam estagnados na “barbárie”, no “primitivismo”, na “natureza”, etc. Em outras palavras, presume-se que o “progresso” nunca pode ser “para todos”.

Lacan é, então, um liberal que prega o progresso universal? Não acredito, mas também não acho que ele seja comunista. Aqui é onde entra em jogo a pergunta sobre qual é o objetivo e o produto do trabalho psicanalítico – o que Freud chamava de “trabalhar a fundo” (Durcharbeiten). O que me parece valioso na psicanálise é o aspecto em que ela constitui um vínculo de trabalho muito específico, uma aliança, cujo objetivo é produzir um “excedente”. Esse excedente é a mudança no “modo” ou “organização” do gozo do sujeito. No entanto, a mudança não é tanto um estado ou condição definida na qual se termina, um estado de “felicidade” – outro termo ideológico problemático do arsenal do liberalismo –, mas sim um processo.

Curar significa trabalhar sobre as causas estruturais que condicionam meu sofrimento, e mesmo que seja eu quem fala, não me encontro sozinho no processo de trabalho. Estou em um vínculo social com meu analista, o que significa que há uma dimensão comum em jogo, e o nome dessa dimensão comum é precisamente a mudança estrutural. É nisso que ambos trabalhamos.

Esse modelo pode ser aplicado ao âmbito das lutas emancipatórias?


Tirar essa conclusão precipitada seria idealista. No entanto, não quero excluir a possibilidade de que se possam extrair algumas lições, por exemplo, que é necessário um “trabalho compartilhado” para entrelaçar a multiplicidade das lutas sociais – de âmbitos como gênero, economia, raça, ecologia, etc.– dentro de um horizonte comum de transformação social. Refiro-me à fala de Freud sobre as “profissões impossíveis” (daí a formulação “prática do impossível”) porque o resultado desse “trabalho compartilhado” é aberto, mas também porque as lutas políticas emancipatórias se encontram efetivamente em uma posição impossível ao ter que enfrentar toda a maquinaria sistêmica, sua resiliência estrutural e sua resistência contra uma mudança profunda na forma como praticamos as relações sociais.

Ao mesmo tempo, acredito que a organização das lutas por uma ordem social justa não contém uma visão preestabelecida dessa ordem, mas apenas um conjunto de ideias, estratégias e políticas emancipatórias em constante evolução. Em outras palavras, elas não propõem uma visão “providencial” de um futuro sem atritos, de uma sociedade sem lutas, contradições ou antagonismos. Se assim fosse, seria possível aspirar a uma sociedade imóvel, o que é uma ficção perigosa. Algo análogo ocorre na psicanálise, onde a cura não significa aspirar a um estado em que todos os problemas de nossa existência sejam simplesmente resolvidos e acabemos em uma forma de vida normalizada ou normativa. Pelo contrário, ao introduzir ordem e ausência de atritos em nossas vidas, a psicanálise nos envolve em um novo antagonismo, no qual não nos sentimos necessariamente sozinhos ou abandonados à nossa sorte. Nesse sentido, a psicanálise é também uma prática de solidariedade no sentido forte da palavra.


Fonte: https://outraspalavras.net/crise-civilizatoria/marx-e-freud-colocam-o-capitalismo-no-diva/


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CAPA, FREUD E LACAN, FREUD E MARX, GOZO, LUTAS EMANCIPATÓRIAS, MAL-ESTAR CIVILIZATÓRIO, PSICANÁLISE E MARXISMO, PULSÃO DE MORTE


segunda-feira, 21 de julho de 2025

A Terra Desolada





 (T.S Eliot)


Abril é o mais cruel dos meses, germina
Lilases da terra morta, mistura
Memória e desejo, aviva
Agônicas raízes com a chuva da primavera.
O inverno nos agasalhava, envolvendo
A terra em neve deslembrada, nutrindo
Com secos tubérculos o que ainda restava de vida.
O verão; nos surpreendeu, caindo do Starnbergersee
Com um aguaceiro. Paramos junto aos pórticos
E ao sol caminhamos pelas aleias de Hofgarten,
Tomamos café, e por uma hora conversamos.
Big gar keine Russin, stamm’ aus Litauen, echt deutsch.
Quando éramos crianças, na casa do arquiduque,
Meu primo, ele convidou-me a passear de trenó.
E eu tive medo. Disse-me ele, Maria,
Maria, agarra-te firme. E encosta abaixo deslizamos.
Nas montanhas, lá, onde livre te sentes.
Leio muito à noite, e viajo para o sul durante o inverno.
Que raízes são essas que se arraigam, que ramos se esgalham
Nessa imundície pedregosa? Filho do homem,
Não podes dizer, ou sequer estimas, porque apenas conheces
Um feixe de imagens fraturadas, batidas pelo sol,
E as árvores mortas já não mais te abrigam,
nem te consola o canto dos grilos,
E nenhum rumor de água a latejar na pedra seca. Apenas
Uma sombra medra sob esta rocha escarlate.
(Chega-te à sombra desta rocha escarlate),
E vou mostrar-te algo distinto
De tua sombra a caminhar atrás de ti quando amanhece
Ou de tua sombra vespertina ao teu encontro se elevando;
Vou revelar-te o que é o medo num punhado de pó.


(Trecho de Terra Desolada, de T. S. Eliot. Tradução de Ivan Junqueira)


Thomas Stearns Eliot foi um poeta, dramaturgo, crítico literário e editor literário americano-britânico. É considerado um dos representantes mais importantes do modernismo literário e um dos maiores poeta.

terça-feira, 8 de julho de 2025

enquanto não vens


virás bem sei trazendo no olhar alegria e o fogo da paixão
enquanto não vens vejo aves migratórias enfeitando o céu
o balançar das cortinas
o silêncio do quarto
o sol nascendo e se pondo para dar lugar às estrelas
enquanto não vens eu me perco no devaneio das horas
marco o tempo no desgaste dos utensílios domésticos
com rios e afluentes inundando meu rosto
e a pele que amacia na flacidez da memória
enquanto não vens retirei o relógio da parede
e o coloquei no fundo do baú debaixo de grossos cobertores


J Estanislau Filho

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Criaturas

     



      Nem bem o dia é  interrompido pela noite, estranhas criaturas saem  de seus esconderijos à procura de suas presas, para satisfazerem seus instintos mórbidos, com sangue nos olhos, cognição reduzida.  As vítimas preferidas são as  criaturas de luz, pelas quais têm ódios mortais.  Mas não pensem, que apesar das limitações cognitivas, essas estranhas criaturas não tenham  métodos. Atacam a base das criaturas de luz, os seres que consideram  inferiores. Entre os métodos utilizados, tem um que seduziu grande parte da base dos seres de luz: a inversão de valores. Toda a maldade que as criaturas da obscuridade pratica, atribui  às criaturas da luminosidade, ou seja, a mentira como verdade. Quando  destruíram  as instalações das sedes de proteção à liberdade, disseram que foram agentes dos seres de luz infiltrados. Tendo, portanto, a mentira como método, a inversão de valores conquistou corações e mentes, uma vez que eles dispõem  de mecanismos sofisticados de distribuição em massa. Assim, seus métodos vão minando a utopia, o sonho de um lugar em que todos possam viver em harmonia.

     A luta entre as criaturas da noite, contra as criaturas do dia vem de tempos imemoriais. Há quem acredite que o fim desse embate está próximo. Ainda não é possível prever, quem sairá vitorioso. As do dia dizem que as da noite estão em seus últimos estertores, as da noite contra-atacam, com mais mentiras. A mais recente é a de que as criaturas do dia são responsáveis pelo desequilíbrio planetário,  por consumirem demais.  As criaturas do dia respondem, que as da noite acumulam renda per capta. Poucos sabem o que isto significa.


J Estanislau Filho




sábado, 21 de junho de 2025

Dois poemas de Marise Castro

 

Imagem cedida pela autora



Lapsos...

 

Tinha a chuva que contava de ledos
finais de tardes e de carinhos
 
Havia o vinho, guardado na adega,
sempre a insinuar outros caminhos...
 
E as palavras escasseavam, enquanto
chamas de velas tremulavam
 
E as sombras se faziam auras
nos recortes das lembranças,
se inventando torvelinhos.
 
E pouco importava o livro caído
ou suas folhas reviradas
 
A poesia éramos nós,
 
em cada ínfimo momento
tornado doce lapso de tempo.



Ou Não Desculpe Nada...

  

Desculpa a sala
Desculpa a cara
Desculpa a mácula...
 
 
Desculpa por algumas crianças ganharem doces balas,
 
Desculpa por algumas ganharem apenas... balas!
 
 
Mas vocês, pequeninos, nas suas solitárias valas,
Não desculpem, de alguns, a mentira que resvala.
 
 
Ou não desculpem nada...
 
por cada inocente voz que subitamente se cala,
nem por cada indecente rajada de balas,
nem a cada um que omite qualquer fala...
 
Culpem tudo... é melhor!

 

 

Marise Castro


Sobre a autora

“Artista” desde a pré-escola, Marise Castro ‘burlou’ o desejo dos pais e enveredou pelo mundo das Artes. Graduou-se em Artes Cênicas  (Bacharelado), posteriormente em Educação Artística (com Licenciatura), e atualmente cursa Artes Visuais/Escultura na UFRJ. É Professora de Artes Visuais e Poeta amadora nas horas vagas. A Licenciatura em Educação Artística a colocou em contato com diversas formas de expressão (Pintura, Gravura, Escultura etc.), e o curso atual com a Escrita de Artista e a Fotografia. Ama e trata a Arte como Vida! 


terça-feira, 17 de junho de 2025

Os Dragões - Murilo Rubião




Os primeiros dragões que apareceram na cidade muito sofreram com o atraso dos nossos costumes. Receberam precários ensinamentos e a sua formação moral ficou irremediavelmente comprometida pelas absurdas discussões surgidas com a chegada deles ao lugar.

Poucos souberam compreendê-los e a ignorância geral fez com que, antes de iniciada a sua educação, nos perdêssemos em contraditórias suposições sobre o país e raça a que poderiam pertencer.

A controvérsia inicial foi desencadeada pelo vigário. Convencido de que eles, apesar da aparência dócil e meiga, não passavam de enviados do demônio, não me permitiu educá-los. Ordenou que fossem encerrados numa casa velha, previamente exorcismada, onde ninguém poderia penetrar. Ao se arrepender de seu erro, a polêmica já se alastrara e o velho gramático negava-lhes a qualidade de dragões, “coisa asiática, de importação europeia”. Um leitor de jornais, com vagas ideias científicas e um curso ginasial feito pelo meio, falava em monstros antediluvianos. O povo benzia-se, mencionando mulas sem cabeça, lobisomens.

Apenas as crianças, que brincavam furtivamente com os nossos hóspedes, sabiam que os novos companheiros eram simples dragões. Entretanto, elas não foram ouvidas. O cansaço e o tempo venceram a teimosia de muitos. Mesmo mantendo suas convicções, evitavam abordar o assunto.

Dentro em breve, porém, retomariam o tema. Serviu de pretexto uma sugestão do aproveitamento dos dragões na tração de veículos. A ideia pareceu boa a todos, mas se desavieram asperamente quando se tratou da partilha dos animais. O número destes era inferior ao dos pretendentes.

Desejando encerrar a discussão, que se avolumava sem alcançar objetivos práticos, o padre firmou uma tese: os dragões receberiam nomes na pia batismal e seriam alfabetizados.

Até aquele instante eu agira com habilidade, evitando contribuir para exacerbar os ânimos. E se, nesse momento, faltou-me a calma, o respeito devido ao bom pároco, devo culpar a insensatez reinante. Irritadíssimo, expandi o meu desagrado:

— São dragões! Não precisam de nomes nem do batismo!

Perplexo com a minha atitude, nunca discrepante das decisões aceitas pela coletividade, o reverendo deu largas à humildade e abriu mão do batismo. Retribuí o gesto, resignando-me à exigência de nomes.

Quando, subtraídos ao abandono em que se encontravam, me foram entregues para serem educados, compreendi a extensão da minha responsabilidade. Na maioria, tinham contraído moléstias desconhecidas e, em consequência, diversos vieram a falecer. Dois sobreviveram, infelizmente os mais corrompidos. Mais bem-dotados em astúcia que os irmãos, fugiam, à noite, do casarão e iam se embriagar no botequim. O dono do bar se divertia vendo-os bêbados, nada cobrava pela bebida que lhes oferecia.A cena, com o decorrer dos meses, perdeu a graça e o botequineiro passou a negar-lhes álcool. Para satisfazerem o vício, viram-se forçados a recorrer a pequenos furtos.

No entanto eu acreditava na possibilidade de reeducá-los e superar a descrença de todos quanto ao sucesso da minha missão. Valia-me da amizade com o delegado para retirá-los da cadeia, onde eram recolhidos por motivos sempre repetidos: roubo, embriaguez, desordem.

Como jamais tivesse ensinado dragões, consumia a maior parte do tempo indagando pelo passado deles, família e métodos pedagógicos seguidos em sua terra natal. Reduzido material colhi dos sucessivos interrogatórios a que os submetia. Por terem vindo jovens para a nossa cidade, lembravam-se confusamente de tudo, inclusive da morte da mãe, que caíra num precipício, logo após a escalada da primeira montanha. Para dificultar a minha tarefa, ajuntava-se à debilidade da memória dos meus pupilos o seu constante mau humor, proveniente das noites maldormidas e ressacas alcoólicas.

O exercício continuado do magistério e a ausência de filhos contribuíram para que eu lhes dispensasse uma assistência paternal. Do mesmo modo, certa candura que fluía dos seus olhos obrigava-me a relevar faltas que não perdoaria a outros discípulos.

Odorico, o mais velho dos dragões, trouxe-me as maiores contrariedades. Desastradamente simpático e malicioso, alvoroçava-se todo à presença de saias. Por causa delas, e principalmente por uma vagabundagem inata, fugia às aulas. As mulheres achavam-no engraçado e houve uma que, apaixonada, largou o esposo para viver com ele.

Tudo fiz para destruir a ligação pecaminosa e não logrei separá-los. Enfrentavam-me com uma resistência surda, impenetrável. As minhas palavras perdiam o sentido no caminho: Odorico sorria para Raquel e esta, tranquilizada, debruçava-se novamente sobre a roupa que lavava.

Pouco tempo depois, ela foi encontrada chorando perto do corpo do amante. Atribuíram sua morte a tiro fortuito, provavelmente de um caçador de má pontaria. O olhar do marido desmentia a versão.

Com o desaparecimento de Odorico, eu e minha mulher transferimos o nosso carinho para o último dos dragões. Empenhamo-nos na sua recuperação e conseguimos, com algum esforço, afastá-lo da bebida. Nenhum filho talvez compensasse tanto o que conseguimos com amorosa persistência. Ameno no trato, João aplicava-se aos estudos, ajudava Joana nos arranjos domésticos, transportava as compras feitas no mercado. Findo o jantar, ficávamos no alpendre a observar sua alegria, brincando com os meninos da vizinhança. Carregava-os nas costas, dava cambalhotas.

Regressando, uma noite, da reunião mensal com os pais dos alunos, encontrei minha mulher preocupada: João acabara de vomitar fogo. Também apreensivo, compreendi que ele atingira a maioridade.

O fato, longe de torná-lo temido, fez crescer a simpatia que gozava entre as moças e rapazes do lugar. Só que, agora, demorava-se pouco em casa. Vivia rodeado por grupos alegres, a reclamarem que lançasse fogo. A admiração de uns, os presentes e convites de outros, acendiam-lhe a vaidade. Nenhuma festa alcançava êxito sem a sua presença. Mesmo o padre não dispensava o seu comparecimento às barraquinhas do padroeiro da cidade.

Três meses antes das grandes enchentes que assolaram o município, um circo de cavalinhos movimentou o povoado, nos deslumbrou com audazes acrobatas, engraçadíssimos palhaços, leões amestrados e um homem que engolia brasas. Numa das derradeiras exibições do ilusionista, alguns jovens interromperam o espetáculo aos gritos e palmas ritmadas:

— Temos coisa melhor! Temos coisa melhor!

Julgando ser brincadeira dos moços, o anunciador aceitou o desafio:

— Que venha essa coisa melhor!

Sob o desapontamento do pessoal da companhia e os aplausos dos espectadores, João desceu ao picadeiro e realizou sua costumeira proeza de vomitar fogo.

Já no dia seguinte, recebia várias propostas para trabalhar no circo. Recusou-as, pois dificilmente algo substituiria o prestígio que desfrutava na localidade. Alimentava ainda a pretensão de se eleger prefeito municipal.

Isso não se deu. Alguns dias após a partida dos saltimbancos, verificou-se a fuga de João.

Várias e imaginosas versões deram ao seu desaparecimento. Contavam que ele se tomara de amores por uma das trapezistas, especialmente destacada para seduzi-lo; que se iniciara em jogos de cartas e retomara o vício da bebida.

Seja qual for a razão, depois disso muitos dragões têm passado pelas nossas estradas. E por mais que eu e meus alunos, postados na entrada da cidade, insistamos que permaneçam entre nós, nenhuma resposta recebemos. Formando longas filas, encaminham-se para outros lugares, indiferentes aos nossos apelos.


sábado, 7 de junho de 2025

simples assim...

imagem: Google



a gota de orvalho
que cai da flor
a ave no galho
duma árvore qualquer
o fruto que colho
com amor


simples assim...


Imagem: Sebastião Salgado



o sorriso das crianças
que brincam na rua
a mulher de tranças
num gingado feliz
renova a esperança
alegria voa


simples assim...


Imagem: Google



não faltarão estrelas
nem raios de sol
uma lua tão bela
onde moram os sonhos
com a sua presença
estrela maior


simples assim...


J Estanislau Filho

segunda-feira, 2 de junho de 2025

Governo sob ataque sincronizado de Congresso, rentismo e Moody’s





Por Jeferson Miola

Congresso, rentismo e agência Moody’s coordenam ataques sincronizados ao governo Lula. Garroteiam o governo para asfixiá-lo e deixá-lo sem fôlego na eleição de outubro de 2026.

Nos últimos dias, os maiores bancos estadunidenses, JPMorgan e Bank of América, “aumentaram a aposta em investir no Brasil”, o que é sinônimo de pilhagem, por um motivo muito esclarecedor: “a eleição presidencial de 2026 já batendo na porta dos mercados com uma visão predominante de ‘Lula fora’, o que poderia servir de trampolim para uma nova política fiscal no País”, reporta matéria do Estadão.

Para analistas da Morgan Stanley, “o calendário eleitoral nos próximos 18 meses abre a oportunidade para iniciar uma mudança de política ‘muito necessária’ no País, especialmente na área fiscal”.
“Embora ainda estejamos a 18 meses da próxima eleição presidencial no Brasil, vemos sinais de enfraquecimento do apoio à plataforma política atual em relação à média histórica”, afirmam os banqueiros, no que pode ser entendido como uma aposta para inviabilizar a continuidade do projeto democrático liderado por Lula, mesmo sabendo que isso significa a retomada fascista no país em bases ainda mais ferozes, apesar do verniz falso-civilizado do capitão do Exército Tarcísio de Freitas.

Para cumprir a profecia do rentismo e sua mídia hegemônica de que a situação é crítica e de que é preciso cortar gastos sociais, a agência Moody’s, cuja confiabilidade vale tanto quanto uma nota de três reais, rebaixou a nota de crédito do Brasil com o manjado argumento “da deterioração fiscal”.

Editoriais da Rede Globo e da imprensa dominante então redobraram a exigência de corte dos orçamentos sociais, do fim do aumento real do salário mínimo, medida preconizada por Armínio Fraga, e, também, do fim dos mínimos constitucionais do SUS e da educação.
Hugo Motta, aquele presidente da Câmara que precisa aplicar gumex no cabelo para tentar parecer crível, escalou o deputado Pedro Paulo, do partido do Kassab, para avançar a eliminação desses direitos sociais sob o disfarce da reforma administrativa.

O que uma coisa [a reforma administrativa] tem a ver com a outra [o aumento real do salário mínimo e a garantia de verbas para saúde e educação]? Absolutamente nada!
O que está em curso, na verdade, é o mais audacioso ataque à Constituição de 1988 desde o teto de gastos criado com o golpe de 2016.

O escarcéu hipócrita em torno do decreto do IOF escamoteia a nova ofensiva do rentismo e do poder econômico, que defendem austeridade fiscal com o objetivo de ampliar a apropriação obscena do orçamento da União e dos fundos públicos pelas finanças.
Até Gabriel Galípolo, aquele que continua a política de juros estratosféricos do bolsonarista Campos Neto, reproduziu a histeria do mercado.
Passando por cima do Haddad, ele telefonou diretamente para alertar Lula sobre “ruídos na sociedade”, ou seja, para vocalizar o sentimento da Faria Lima e da turma da pesquisa Focus. Como foi atendido pelo presidente, sua deslealdade a Haddad ficou atenuada.

Os parasitas da riqueza nacional são insaciáveis. Eles não se contentaram com os cortes de 31 bilhões do orçamento que o governo foi obrigado a fazer devido, aliás, à armadilha que o próprio governo armou para si com o Novo Arcabouço Fiscal e o déficit zero.
Num figurino mais assemelhado ao gangsterismo político que à prática parlamentar, Motta e Alcolumbre distribuíram ultimatos e ameaças ao governo.

Usurparam a prerrogativa de regulação tributária do governo, colocaram a faca no pescoço e ainda prometeram represálias caso o Executivo recorra ao STF para garantir sua prerrogativa constitucional. Agiram como o agressor que ameaça com mais violência a vítima que denuncia a agressão à polícia.

O plano de sabotagem do governo conta, ainda, com um profissional no ramo: Arthur Lira, aquele que diz se sentir orgulhoso em ser cogitado como vice de Bolsonaro.
Presenteado por Motta com a arma poderosa da relatoria do projeto da isenção de imposto de renda para quem ganha até cinco mil reais, Lira sinaliza dificuldades para a aprovação dessa promessa de campanha do Lula que beneficia mais de 20 milhões de contribuintes.


quarta-feira, 28 de maio de 2025

Os Lobos

 

Imagem: Google

Os lobos ocupam um lugar especial em meu coração.

     O primeiro que vi, aproximou-se de mim, desconfiado, como é da natureza dos lobos.  Fixei meus olhos nos dele, também com cuidado, para não assustá-lo,  Esse primeiro encontro foi rápido, mas deixou a percepção de que nos encontraríamos novamente. É pelos olhos que se conhece o coração de um lobo. Sempre tive dúvidas do caráter de quem não se deixa olhar, abaixando as vistas.  Como um novo encontro  fora tacitamente estabelecido no primeiro, o segundo aconteceu de forma calorosa, como se nos conhecêssemos de longa data.  E nos revelamos em total transparência. Nascia ali uma amizade verdadeira, que duraria por longos anos. Conheci  inteiramente os sentimentos dos lobos, que esse, em especial, me revelava. 

     Nossos encontros tornaram-se rotineiros, em cada um os vínculos solidificavam. Fui conhecer seu lar. A matriarca da família me recebeu com alegria. O nome dela era Margarida, que me adotou como mais um  filho. Agora eu fazia parte da comunidade dos lobos. Os laços ampliavam, assim como, a nossa cumplicidade. Muitas vezes dividi com eles saborosos e fartos cardápios de carne. Os lobos são carnívoros. 

    Ah, estava me esquecendo de apresentar o lobo do meu primeiro encontro, que me fez acreditar que a amizade construída no respeito e na empatia, perdura. Trata-se de Berzé Lobo. Por meio dele, faço  parte dessa alcatéia, composta por Pedro Lobo, Eugênio Lobo, Gabriel, Maria José, que se encantou e... a lista é grande, pois além dos filhos e filhas, têm netos e netas, como a Tetê e o Chico, o Samuel, sobrinhos, sobrinhas....  E a Tuta, que foi fazer companhia à Dona Margarida e a Zezé!



Imagem: Instagram

Foto: Raul, meu neto num flagrante