quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Terceirização: STF é anti-trabalhador. Seremos todos "UBER"



Por Fernando Brito
A regra do nosso Judiciário é a regra da selva: o poder dos mais fortes não tem contraste.
Por sete votos a quatro, o Supremo Tribunal Federal aprovou a farsa ampla, geral e irrestrita da terceirização.
De agora em diante, todos os trabalhadores de um empresa poderão ser “alugados” de outra.
Não mais, limpeza, vigilância, reparos e outras atividades que não sejam a principal.
Se a Volkswagen ou uma rede de supermercados quiser, não terá um empregado sequer.
Basta contratar a empresa de um mercador de seres humanos e pagar pelos serviços.
Como despesa operacional, claro, abatida em seus impostos.
Em tese, é solidariamente responsável pelo pagamento de salários e encargos sociais dos “subtrabalhadores” que vão lhes prestar serviços, mas qualquer um que já tenha tido contato com estas empresas sabe como isso é duvidoso.
E como a Justiça do Trabalho já não é gratuita para o trabalhador, muitos vão deixar de procurar seus direitos, por não terem meios para isso.
Da mesma forma que enfraquece os trabalhadores, que passam a ser de duas “categorias”, embora fazendo o mesmo trabalho. Adivinhe quem vai ganhar menos…
Dizem que vai “baratear” o custo da mão de obra. e os encargos sociais foram pagos tal como seriam na contratação direta, não há forma de que seja, senão pagando salários menores.
A terceirização é especialmente cruel com os empregados de mais idade. Sem vínculo com a empresa, é fácil dizer “não quero essa velha por lá”. O “fornecedor de gente” vai discutir, dizer que ela é experiente, capaz, etc?
“Dona Fulana, infelizmente vamos ter de descontinuar os seus serviços”…
Vai para o lixo.
Alegam que isso é vital para a “recuperação econômica”.  Cármem Lúcia chegou a dizer que  proibindo a terceirização generalizada as empresas deixariam “de criar postos de trabalho” aumentariam “a condição de não emprego”.
Lula, que os ministros odeiam tanto, criou 15 milhões de empregos sem terceirização assim.
O retrocesso que o Brasil vive, patrocinado pela mídia, pelo governo do golpe e pelo Judiciário não fica só na política, desde ao mundo do trabalho de milhões de brasileiros.
Temos ministros sórdidos ao ponto de, 24 horas após terem aumentado os salários de seus gordos e vitalícios cargos, praticar esta crueldade com gente humilde.
Estão nos empurrando para uma selva semi-escravocrata do trabalho precário que começamos a superar há mais de 70 anos, com a CLT.
Por eles, logo seremos todos motoristas de Uber.
E pior,  em um país tão pobre que, salvo uma casta de privilegiados em que nem sequer poderá pagar a corrida.




Fonte: http://www.tijolaco.com.br/blog/terceirizacao-stf-e-antitrabalhador-seremos-todos-uber/

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Filhos da Terra Capítulos: 7 - O Tempo Passa Rápido - 8 - Meu Guri


                                                                     Imagem: jef




Rapidinho: 

Filhos da Terra é uma novela dividida em vinte cinco capítulos. Narra a trajetória de Zenaide, uma ninfeta, que se envolve num mundo do sexo, droga e fúria. A história de uma garota da periferia; pobre, sensual, que sonha com o sucesso. Zenaide e sua família, num turbilhão de sentimentos. Um jornalista, como um anjo de guarda, surge em sua vida. Um amigo, um pai; um amor. 
Capa: Berzé; Ilustrações do miolo: Eliana; editoração eletrônica: Fernando Estanislau; impressão: Editora O Lutador - 2009, primeira edição. 
Agradeço pela leitura e peço a quem encontrar algum erro de gramática ou digitação, por favor, me avise.


7 - O Tempo Passa Rápido

O sonho de Elói de sair da camisa-de-foça da mídia empresarial se desmoronou. Acabou por assimilar essa realidade e seguir em frente, tentando driblar as armadilhas ideológicas dominantes, no esforço de manter-se coerente. Felizmente sedimentara uma relação de confiança com as lideranças dos movimentos sociais, importantes fontes de suas reportagens, embora elas continuassem passando pelo crivo do chefe de redação. Acreditava estar cumprindo um importante papel na divulgação correta dos fatos produzidos pelos dois mundos antagônicos da sociedade, o de poucos que muito possuem e os de muitos que pouco ou nada possuem. Sentia-se feliz com o trabalho desenvolvido na comunidade. O jornal da associação era uma ferramenta importante na organização das lutas pelas melhorias do bairro e na integração dos moradores; a sua contribuição fora decisiva. Agora raramente pediam-lhe ajuda, pois caminhavam com as próprias pernas. A amizade com os vizinhos solidificara-se, gostavam dele sinceramente e conversavam de igual para igual. Alguns não conseguiam romper com o servilismo, outros continuavam desconfiados, mas no geral, era bom. "Paciência revolucionária, ensinou Lênin", dizia para si. Quase dois anos se passaram e não tinha planos de sair do bairro operário. Muita coisa mudara: umas para melhor, outras para pior. Embora menos assíduo, continuava frequentando a casa de Dona Sônia. Zenaide estava a cada dia mais linda, desfilara no Minas Mostra Mulher; Edileuza abandonara a igreja e frequentava o forró da associação, quase sempre acompanhada de Tenório. Estava mais bonita, pois se livrara da rigidez da doutrina religiosa. Tão ou mais bela que, a irmã, mulher no melhor sentido da palavra. Tinha por volta de vinte e cinco anos de idade, continuava responsável e sedutora. Marcelo não tinha jeito: a cachaça o estava destruindo. Dona Sônia continuava a mãezona de sempre, vigilante, uma matriarca liberal. A nota triste era Wallace. Transformara-se em menor infrator e com fortes indícios de que fora cooptado por narcotraficantes. Tinha dúvidas quanto ao futuro de Zenaide. Primeiro por causa da realidade social; segundo por não levar a sério os estudos, vivendo no mundo da lua, sonhando com a fama e se dedicando pouco de realizá-lo. Ultimamente andava enrabichada com alguns homens bem mais velhos. Iria completar quinze anos e ele queria ir à festa de aniversário. "Meu Deus", pensava Elói, "não sou nenhum salvador da pátria, mas como quero tanto que esta menina não sucumba, quero ajudá-la e não sei como. Vou conversar mais com ela, intimá-la a dar um rumo. Não pode se perder...". 
     Pousou o copo de uísque sobre a mesa ao ouvir a batida na porta. Reconheceu o toque de Zenaide e correu para abrir. Assustou-se ao vê-la em prantos: - Oi, o que aconteceu? Pegou água com açúcar e ela bebeu, com as lágrimas caindo dentro do copo. Após conduzi-la até a sala, deitou-a na poltrona, com a cabeça em seu colo. Acariciou seus cabelos com ternura e cantou uma canção até ela adormecer.
     Olhando-a em seu sono inocente, o jornalista começou a pensar sobre a juventude atual e a comparar com a sua geração. Aos treze anos participava ativamente da luta pela redemocratização do país, pelo socialismo e continuava engajado por transformações sociais. Entretanto, apesar de continuar acreditando que o melhor modelo de organização social ainda fosse o socialismo, via-o como algo distante. Estudou com afinco a ascensão do neoliberalismo no mundo, desde Margareth Teacher e Ronald Reagan na década de setenta do século 20 até a sua introdução tardia na América Latina. Acompanhou, confuso, a queda do socialismo no leste europeu e do muro de Berlim; não se julgava herói da resistência, mas contribuíra para pôr abaixo a ditadura militar brasileira, quando ela dava sinais de esgotamento, durante o governo do ditador Ernesto Geisel e ouviu João Batista de Figueiredo dizer que daria um tiro no coco se ganhasse um salário mínimo; sentiu na pele como é duro viver sob as botas do autoritarismo, sem liberdade de expressão e organização; chorou a morte de Henfil e foi testemunha ocular da proliferação da AIDS; lembrou-se das manifestações estudantis e operárias, com as ruas e praças tomadas pelo povo, exigindo diretas-já. Fora protagonista de alguns momentos históricos. Participou ativamente  da primeira eleição presidencial, depois dos longos anos de ditadura; carregou faixas, fez passeatas, organizou comitês eleitorais, colocou adesivos e botons do seu candidato em todo o corpo, transformando-se em um outdoor móvel; viu o seu candidato ser batido por um jovem oriundo da elite; assistiu ao seu impeachment e a eleição e reeleição de um ex-professor, intelectual sofista; acompanhou, pela imprensa, com indignação, jovens da classe média de Brasília incendiar o índio Gaudino. Na esfera internacional, aplaudiu a eleição de candidatos de esquerda na América Latina; a resistência do povo cubano; viu pela tv a guerra imperialista estadunidense no Golfo Pérsico; a humilhação imposta pelos sionistas de Israel ao líder palestino Yasser Arafat; o eterno conflito entre judeus e palestinos; o desmoronamento das torres gêmeas em onze de setembro; a invasão do Afeganistão e do Iraque; os ataques na Faixa de Gaza; o aumento da poluição e do aquecimento global; das desigualdades sociais; do terrorismo  e do narcotráfico. 
     Observando a garota mais linda do bairro dormindo na poltrona, perguntava sobre os sonhos da juventude atual. Concluiu que a ditadura militar fora substituída pela ditadura econômica; a censura governamental da ditadura sobre os veículos de comunicação dera lugar à censura patronal e a autocensura; uma parcela de bons e aguerridos companheiros de lutas por transformações sociais ocupavam cargos no primeiro escalão do novo governo. O metalúrgico Luis Inácio Lula da Silva, após três derrotas, finalmente chegara à Presidência. Participara dessa eleição, sem o entusiasmo das anteriores. Depois da publicação da Carta aos Brasileiros, tinha dúvidas sobre os rumos do governo que ajudara a se eleger e de como a população, especialmente a jovem se comportaria diante da nova conjuntura. De qualquer maneira, um operário no governo federal e a elite em polvorosa significava um avanço. Pensava no futuro daquela garota pobre e bonita, dormindo um sono profundo no sofá. O novo governo conseguiria promover as mudanças necessárias, para transformar esta realidade cruel, que exclui milhões de cidadãos a uma vida digna? Nessas horas a figura patética de Lech Valessa, esperança dos trabalhadores poloneses surgia, como um fantasma em seu imaginário.
     Suas reflexões foram interrompidas quando Zenaide acordou. Olhou para ela com carinho e perguntou: - Quer fazer um lanche? Como uma criança que para de chorar e se distrai com um brinquedo, ela acenou que sim, com um sorriso devastador. 
     - Pois então, vamos preparar um sanduíche da hora e depois quero que me conte as novidades, porque estava chorando...

                                                                                             Imagem: Google


8 - Meu Guri

A notícia caiu como uma bomba na vizinhança: Wallace, de apenas treze anos tornara-se um assassino. Muitos desconfiavam e até mesmo sabiam de sua atividade, agora confirmada. As pessoas se perguntavam como isso aconteceu e não encontravam uma resposta. É verdade que ele era uma criança de pouca conversa, mas não muito diferente das outras. Gostava de jogar "peladas" na rua; brincar com carrinho de rolimã e jogar fincas em períodos chuvosos; comer cachorro-quente no carrinho de Dona Geralda e até frequentava as aulas regularmente. A rua ficou fervilhada de policiais armados até os dentes. Todos foram pegos de surpresa. Dona Sônia gritava, dizendo que seu filho era trabalhador e estudante dedicado, Marcelo dizia coisas desconexas; Edileuza estava no trabalho e Zenaide evaporou-se.
     Na redação do jornal os repórteres policiais saíram às pressas, para cobrir a ação da polícia. Elói estava nas realizando uma reportagem sobre a ocupação, por sem-tetos ligados à Central de Movimentos Populares, de uma área de terreno irregular e só viria a tomar conhecimento do ocorrido à noite, por meio de Zenaide. Além dos policiais, uma multidão de repórteres e de curiosos se aglomeraram na rua, para assistir ao espetáculo. Dona Sônia, entre anestesiada e incrédula com o que via, não para de repetir que Wallace era um bom menino, seu filhinho querido, responsável. "Justo agora que ele estava feliz com a televisão de vinte e nove polegadas e com o DVD", lamentava-se. Algumas amigas chegaram para consolá-la e ela não parava com o refrão sobre as qualidades de seu guri. Mas a polícia não conseguiu prendê-lo e ninguém sabia informar o seu paradeiro; assim como chegaram, policiais e repórteres deixaram o local. Dona Sônia fora intimada a comparecer na delegacia a fim de prestar esclarecimentos. 
     O município de Contagem ocupa um lugar de destaque em matéria de violência entre os municípios que integram a região da capital mineira. Mas foi em Betim, município vizinho de Contagem, que o traficante Fernando Beira Mar se estabelecera por um tempo, para expandir seus negócios. Não se tem um estudo da influência de Beira Mar no aumento da violência na região, mas a distribuição e o consumo de drogas aumentaram muito depois de sua estadia. Nas escolas, professores e alunos estão sempre assustados; nos bairros, vilas e favelas acontecem o mesmo. A violência urbana é o assunto discutido em algaravias por todos os cantos. Cada um tem a sua tese. Seu Adão, policial aposentado é categórico: "Beira Mar plantou aqui as sementes da droga, aliciando e municiando um exército de delinquentes juvenis, que hoje espalha o terror". Para Maria Lituana, vizinha de Dona Sônia é "a falta de temor a Deus, que leva à violência", enquanto seus Osvaldo culpa os políticos, que "só sabem roubar e enganar o povo, é preciso acabar com os políticos
, todo mundo deveria anular o voto", concluía com os olhos esbugalhados. A mística Tereza Singela anunciava que "em 2012 o mundo irá passar por uma mudança de paradigma com a chegada do Messias, que virá para salvar o mundo da catástrofe". O jovem carismático Izak, seguidor do Padre Marcelo, concordava com Maria, enquanto a evangélica pentecostal Neuza de Paula afirmava que "só quem aceitar Jesus e passar pelas águas, estará protegido das tentações do corpo e da alma". Geraldo Bernardes, comunista de carteirinha, dizia que "a causa da violência é o modelo capitalista, egoísta e concentrador de riquezas, que leva o povo à fome, sem alternavas de sobrevivência, conduzindo-o à criminalidade e à alienação, ao invés da participação política consciente, para promover as mudanças necessárias", argumento prontamente rebatido por Amâncio, proprietário da Padaria Pão Nosso, assaltado diversas vezes, com a tese de que "não é nada disso, o que acontece é que estes malandros não querem trabalhar, a solução é diminuir a maioridade penal e estabelecer a pena de morte, aí vocês vão ver a violência acabar, porque pra mim é olho por olho, dente por dente, lugar de malandro é debaixo da terra, de preferência em pé, para não ocupar espaço, porque não dá pra ficar bancando vagabundo em cadeia, quem paga as contas são as pessoas de bem, assunto encerrado". "Encerrado pra você - vociferou o grafiteiro Maisena, que detestava os arroubos autoritários de Amâncio -, concordo em parte com o Geraldo, na parte em que ele falou da concentração de riquezas nas mãos de poucos. Quanto a participação política não acredito nisso não. Primeiro que são meia-dúzia de gatos pingados, segundo porque esta meia dúzia passa a maior parte do tempo em reuniões  chatas, corporativas e intermináveis, dão muitas idéias aos mandam-chuva. É preciso detonar os caras, botar pra foder, seja com ações coletivas ou individuais, derrubar a ordem estabelecida na bazuca, amedrontar os figurões, dizer que seus dias de fartura vão acabar". Geraldo Bernardes balançava a cabeça negativamente, afirmando que "isso é anarquia. Assim continuava a algaravia, algumas vezes encerrada aos tapas ou em cerveja no boteco do Nestor. 

Leiam no próximo capítulo: 



9 - As Revelações de Zenaide


Breve autobiografia

Sou J Estanislau Filho, mineiro de São João do Oriente-MG, autor de nove livros de crônicas, contos, novelas e poesias. Um escritor marginal, auto-didata e leitor compulsivo. Assim que aprendi a ler, minhas primeiras leituras foram: foto-novelas, quadrinhos e livros faroestes. Por meio dos clubes de leituras tive contato com a poesia de Castro Alves, Cecília Meireles, Fagundes Varela, Raimundo Correa, Olavo Bilac, entre outros, na Escola Municipal Cel. Antonio Lopes em Jampruca-MG. Estão vivas em minha memória as professoras Dejanira, Dona Bertinha e Iracema. Aos 13 anos de idade, li Guerra e Paz de Tolstoi, em seguida quase toda obra de Shakespeare, José Alencar, Machado Assis e iniciei estudos filosóficos, com a leitura de alguns pré-socráticos. Em seguida li O Ateneu de Raul Pompéia; O Bom Crioulo de Adolfo Caminha; livros de psicologia, resenhas literárias. Em Engenheiro Caldas, em 1968 completei o ensino fundamental, para, em seguida, em regime de internato completar o antigo ginasial, no Ginásio Agrícola de Colatina-ES. Com a chegada do homem à lua, minha redação sobre o tema, foi elogiada e lida pelo meu professor de Língua Portuguesa. Neste período rabiscara meus primeiros versos em um diário. Terminado o curso ginasial, impossibilitado de seguir os estudos, mudei-me para a capital mineira, em busca de trabalho. Continuava lendo de tudo: de literatura a filosofia, passando por psicologia. Ernest Hemingway, Jean-Paul Sartre, R. D. Line, Mayacovisky, Bertold Brecht, Lygia Fagundes Telles, Karl Marx, Dostoiévisky, Kafka, José J Veiga, Murilo Rubião, Virginia Wolf, Verlaine, Fernando Arrabal, Jean Genet; Willian Faulkner; Gabriel Garcia Marquez; Dalton Trevisan, Fausto Wolf, João Antonio... Por meio dos cine-clubes, em especial o Cine Clube da Face, conheci e lia O Pasquim, Opinião, Movimento, enfim a chamada imprensa alternativa ou, nanica. Até que, em 1984, lancei meu primeiro livro de poemas, semi-artesanal, Nas Águas do Arrudas em que se percebe o choque cultural, entre o urbano e rural. Também em 1984, participei da antologia: Poetas Gerais das Minas, com prefácio de Dom Pedro Casaldáliga e um estudo de Frei Beto sobre os quatro séculos da poesia mineira. Em 1987 e 1991 lancei: Três Estações e O Comedor de Livros. Em 2006 publiquei - Edição do Autor - meu primeiro livro de crônicas: Crônicas do Cotidiano Popular. Em 2009 um duplo lançamento: Filhos da Terra (contos, crônicas, uma novela, alguns textos com fecho poético) e Todos os Dias são Úteis - poesias. Em 2011 sai o Palavras de Amor (Biblioteca 24 horas); em 2012 Crônica do Amor Virtual e Outros Encontros (Editora Protexto). Em novembro de 2015 lançei A Moça do Violoncelo-Estrelas, dois livros em um. No prelo o romance A Construção da Estrada de Ferro, iniciado em 1979 e concluído em 2014; As Aventuras de Raul (Infanto-Juvenil); Outras Espécies (contos). Não tenho uma escola literária, no sentido acadêmico. Aprendi, com Górky, na universidade da vida. Peguei gosto pela crônica, lendo Rubem Braga.


                                   Na trilha da Cava Amarela - Cel. Xavier Chaves - MG
                                                                      Imagem: ma


quinta-feira, 23 de agosto de 2018

A Quadrilha de Vila Mendes


                                                                      Imagem: jef


Calma aí. Vou logo avisando que esta quadrilha é da fuzarca.  Rouba, e como rouba o coração da gente. Até pensei colocar o título de Ladrões de Corações. Quem mora em Coronel Xavier Chaves conhece demais estes ladrões. Pulam, dançam e se divertem divertindo-nos. Presenciei algumas apresentações: No Sumidouro, São Caetano, em Lagoa Dourada, em Coroas. Fotografei, fiz vídeos e me diverti. Moro aqui em Coroas  (gosto desse nome de antes da emancipação) há quatro anos.  A nossa querida Coronel Xavier Chaves. Aqui eu escolhi para viver, até, quem sabe, a morte me separe. Pois bem, conversei com o Rosney, o idealizador da quadrilha, sobre fazermos um registro da trajetória desta turma da fuzarca, a sua história. Vamos conversar, quem sabe colher depoimento dos integrantes, postar fotos, etc. Nada acadêmico. Informação com diversão. Afinal é esse o propósito da quadrilha. Pela conversa inicial com o Rosinei, vocês irão se surpreender com esta galera da Vila Mendes, que tem integrantes de toda a cidade, incluindo a zona rural. Mas isso é assunto para outra conversa. As violas, os violeiros, os sanfoneiros, os casais... Coisa linda. Os troféus. A luta para manter viva a tradição. Tenho pensado, também, falar sobre a banda de música, as baterias... Ah, tem também um grupo de oficina de teatro. Já escrevi sobre a trilha da Cava Amarela e o maior jequitibá do mundo. Do mundo, sim! A serra do Retiro. A linha do trem e uma série de minicontos (surpresa), que tem como cenário, boa parte de Coronel. Quem tiver sugestão, sugiram.  O projeto agora é A Quadrilha da Vila Mendes. Aguardem. 

J Estanislau Filho
Escritor e poeta


                                                                    Imagem: jef

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Filhos da Terra: Capítulo 5 - Wallace Surpreende - Capítulo 6 - Medo e Desejo




Rapidinho: 

Filhos da Terra é uma novela dividida em vinte cinco capítulos. Narra a trajetória de Zenaide, uma ninfeta, que se envolve num mundo do sexo, droga e fúria. A história de uma garota da periferia; pobre, sensual, que sonha com o sucesso. Zenaide e sua família, num turbilhão de sentimentos. Um jornalista, como um anjo de guarda, surge em sua vida. Um amigo, um pai; um amor. 
Capa: Berzé; Ilustrações do miolo: Eliana; editoração eletrônica: Fernando Estanislau; impressão: Editora O Lutador - 2009, primeira edição

Agradeço pela leitura e peço a quem encontrar algum erro de gramática ou digitação, por favor, me avise.



5 - Wallace Surpreende

Na realidade, o que aconteceu com o taciturno Wallace não revelava nenhuma surpresa. Muitas vezes ele dera mostra do seu caráter arredio. Os familiares não acreditavam nos comentários dos vizinhos, julgando-os maledicentes. Um belo dia ele chega em casa e entrega à mãe uma quantia significativa de grana, dizendo: - Mãe, essa grana eu consegui fazendo um biscate aqui, outro ali, fui juntando. É para a senhora comprar umas coisinhas pra casa. E foi se retirando. - Vem cá, meu filho - chamou Dona Sônia com firmeza delicada -, aqui tem bastante dinheiro, quero saber de tudo, direitinho. Wallace parou e olhou a mãe no fundo dos olhos: - Eu já sei o que a senhora está pensando... Não roubei não, mãe, tenho trabalhado duro, não estou vendendo drogas, fique sossegada. Por acaso tenho faltado às aulas?
     Dona Sônia ficou satisfeita com a resposta e acreditou no filho. Wallace entrou no quarto sem reboco, arredou um pequeno guarda-roupas e em seguida tirou o boné, e do fundo dele retirou um pacote, escondendo-o no buraco do tijolo. Quando ele recolocava o guarda-roupas no lugar, Dono Sônia entrou de repente. - O que você está fazendo? - perguntou desconfiada. - Puxa vida, mãe - respondeu irritado - a senhora não sai da cola! Esse caco de guarda-roupas está mancando, estou tentando dar um jeito. - Está bem, não precisa se irritar - respondeu a mãe, acariciando a face do filho. - Só vim saber se quer que eu compre alguma coisa para você, umas roupas, um tênis, pois o dinheiro que me deu dá para fazer umas boas compras na feira do Paraguai, além de abastecer a cozinha. Ó meu filho, meu querido! Todo mundo te criticando porque desaparece sem avisar... Vem cá, deixa a mamãe te dar um abraço! Hoje à noite quero todo mundo em casa, para um jantar grã-fino. Vou fazer um frango à milanesa, daquele que você adora - dizia enquanto passava carinhosamente a mão na cabeça do filho. Wallace desvencilhou-se dos braços da mãe, disse que não precisava que lhe comprasse nada, mas que desse uma grana pra Zenaide comprar roupas bonitas e uma bíblia de capa de couro para Edileuza. - E para a senhora - disse com ternura - um vestido longo, um sapato de bico fino, corrente e brinco folheado a ouro. - Não tem dinheiro para tanto e precisamos economizar, porque em primeiro lugar está o estômago e a saúde - disse sorrindo. - Não se preocupe, vou trabalhar e trazer mais - respondeu o filho, convicto. 
     A mãe saiu para providenciar as compras, enquanto Wallace ligava o som, para ouvir funk.
     À noite, reunidos em volta da mesa, Dona Sônia serviu um jantar, regado a refresco de uma, o preferido de Wallace. Todos exibiam roupas novas. Marcelo estava elegante em sua jaqueta jeans; a mãe exibia o vestido longo com estampas de flores, um colar de pérolas falsas, brincos e anéis de prata, e não folheados a ouro, conforme pedira o filho. - Uai mãe, cadê os folheados a ouro? Perguntou Wallace. - Eu sonhava com um colar de pérolas, para combinar com ele, achei melhor usar brincos e anel de prata - respondeu com um piscar cúmplice. 
     - Mãe, a senhora devia ter deixado eu ir às compras com a senhora! Reclamou Zenaide. - Vocês são bregas, não entendem de moda - completou, fazendo um breve desfile na pequena cozinha, mostrando a nova coloração dos cabelos - cor de caju, segundo ela - e um vestido curto, magenta, com decote nas costas. Sapatos e bijuterias combinavam bem. E para surpresa geral, Edileuza veio com uma calça de laycra justa, uma blusa branca, que deixava à mostra uma pequena parte do quadril. Nádegas empinadas, seios pontiagudos, batom suave e cabelos soltos. 
     - Mas quanta modificação! Exclamou Zenaide. - Cadê os complementos? Colar, pulseiras, brincos e anéis? Puxa maninha, você está um pedaço de mau caminho, deste jeito você vai levar os pastores da igreja ao pecado! Edileuza ficou vermelha, desviando o rumo da conversa: - Quer que ajude a servir, mãe?
     - Não filha, não precisa. Você está linda, a evangélica mais linda e hoje eu sirvo o jantar, recolho as vasilhas. Esse jantar e todos estes presentes são frutos do trabalho do meu guri. Obrigado, amore mio! Dona Sônia gostava de se gabar de sua origem italiana. Segundo ela, seus avós vieram de Torino e pertenciam a uma família abastada. O jantar teria transcorrido em clima de paz e harmonia se Marcelo, após o terceiro copo de cerveja, não tivesse colocado em dúvida a origem do dinheiro de Wallace. 
     - Fale a verdade - disse com ar provocativo -, como foi que você conseguiu esta grana? Não me diga que foi trabalhando...
     - Mãe - respondeu Wallace -, dá um jeito neste bebum!
     - Marcelo - interveio Dona Sônia -, você sabe que eu não gosto de briga na família, temos de estar unidos. Faça o favor de pedir desculpas ao seu irmão!
     - Eu pedir desculpas pra este pivete? Nunca - respondeu Marcelo, deixando o copo tombar ligeiramente, molhando a toalha. 
     - Não dá ideia pra ele, gente, basta um golezinho e ele começa com a baixaria - gritou Zenaide.
     Wallace caiu no seu mutismo habitual e não houve consequências. Em seguida Zenaide começou a falar de seu projeto:
     - Tenho novidades. Parou para observar a reação da família e criar um clima de suspense.
     - Espero, em nome de Jesus, que sejam boas novidades - disse Edileuza com as mãos sobre a bíblia de capa de couro.
     - Vamos menina, desembucha, conta logo a novidade - completou Dona Sônia.
     - Esta minha irmã vai fazer sucesso - disse Wallace, saindo do silêncio.
     - É o seguinte... - fez um breve silêncio, para criar um clima de suspense -, a Tânia Mara me disse hoje que vai me apresentar ao dono de uma grife, para que eu possa desfilar no Minas Mostra Mulher. 
     - Faço ideia - interrompeu Edileuza -, deve ser um desfile de peitos e bundas. 
     - Peito, bunda e coragem não me faltam. Você, Edileuza, bem que poderia participar, mas passou da idade - retrucou com ironia.
     - Explica isso direitinho - disse Dona Sônia, sem parar de recolher os talheres -, porque filha minha não vai pôr a bunda de fora, "na-na-ni-não"! Basta o pilantra que queria te enganar, dizendo conhecer estilistas, parando o carrão em nossa porta... Safado!
     - Bunda de fora? Eu também quero ver - resmungou Marcelo.
     - Mais respeito - advertiu a mãe -, estamos falando de sua irmã.
     - Gente, o que é isso? Vocês não flagram nada de nada. Trata-se de um desfile de modas! Respondeu Zenaide, rindo com ar superior.
     - E quanto você vai ganhar? Perguntou a mãe, esfregando as mãos.
     - Calma, não é assim! É uma oportunidade, para eu mostrar os meus dotes...
     - Que dotes - disse novamente Marcelo, meio dormindo.
     - Se for para a sua felicidade, filha, eu apoio. De mais a mais, Deus escreve certo por linhas tortas - disse Dona Sônia, atirando um beijo à filha.
     - Não tem nada garantido. A Tânia Mara, vocês sabem, é puro gogó, mas ela costura para uma marca famosa, é do ramo. Estou esperançosa, tenho acompanhado os acontecimentos, tenho treinado no quarto. Preciso de umas aulas de passarelas, mas como? O desgraçado do Elói, jornalista de merda, promete, promete e nada!
     - Por falar nele, porque não veio ao jantar? Perguntou Edileuza. 
     - Fui à casa dele várias vezes, mas não o encontrei. Parece que está viajando a serviço do jornal ou de uma ong. Para quem não sabe, ong é uma organização não governamental - informal Zenaide, com ar de entendida. 
     - Maninha, você vai fazer sucesso na passarela - incentivou Wallace. 
     - Enquanto isso, vai sonhando. Mas agora a festa acabou, quero ver a minha novela - disse Dona Sônia, saindo da cozinha. 
     Marcelo dormia e roncava, Edileuza abriu a bíblia, Wallace foi para o quarto ouvir funk. Zenaide, com ar sonhador, ficou diante do espelho um longo tempo, consertando os cabelos com as pontas dos dedos, enquanto Dona Sônia suspirava diante da tv com o Antonio Fagundes.



                                                                 Imagem: Google 


6 - Medo e Desejo

Edileuza continuava passando pelo mesmo itinerário, antes e depois do culto, e quando se aproximava do local em que fora beijada pelo homem misterioso, seu corpo era invadido por um misto de medo e desejo. Na noite sem lua da primeira quarta-feira de abril, ela saiu do templo com a fé abalada, por conta de denúncias de corrupção envolvendo altos dirigentes da igreja. "Na hora de pedir o voto, eles prometem mundos e fundos, dão tapinha nas costas, mas depois de eleitos, desaparecem", dizia indignada. A sua igreja fora se meter em política, ela mesma votara nos candidatos indicados pelo pastor, que foram eleitos com expressivas votações. E foram estes que, apesar da resistência, dera o seu voto, foram acusados de desvio de verbas públicas. O culto desta quarta-feira decisiva nos rumos de sua fé, foi atípico. Pouco se falou das sábias palavras de Jesus, mas de política e de Satanás. O pastor, tendo a bíblia na mão, porém fechada, esbravejava contra o Satanás, que propaga a mentira e injúria, para afastar os homens do caminho do Senhor. Que as denúncias contra os dirigentes, eleitos pela poderosa luz do Espírito Santo, para levar a salvação ao Congresso Nacional, eram obras do espírito das trevas. Edileuza não se conteve, interrompeu o pastor e disse o que pensava: Irmão, eu sempre achei que a igreja não devia mexer com política e só devia cuidar das coisas do Senhor. O povo evangélico vem sendo usado, para eleger pastores há muito tempo e esta não é a primeira vez que políticos evangélicos são acusados de desviarem-se do caminho de Jesus. Eu não voto mais em ninguém, acabou, aleluia - concluiu e se retirou.
     Mal saíra da igreja, distraiu-se seguindo pela rua pouco iluminada. Sempre que passava pelo local, onde fora abordada, parava e olhava com tremores no corpo. Nessa quarta-feira escura, parou e sentou-se sobre o meio-fio, com os pensamentos confusos. Não frequentaria mais a Igreja Nacional do Reino do Amor: "Vou esperar que Espírito Santo me ilumine, para que eu possa enxergar o verdadeiro caminho do Senhor", pensava, olhando as estrelas, suspirando, com o corpo em brasa. "Por onde anda aquele sujeito?" - perguntava para si. "Ele parece um bom sujeito, gostaria de vê-lo novamente, se possível hoje. Tenho quase certeza de que ele me segue... bem podia ser..."
     - Edileuza, desculpe-me, você saiu de repente do templo - disse alguém na penumbra.
     - Quem é você? - perguntou Edileuza, levantando-se, assustada.
  - Sou o Tenório, não está me reconhecendo? Você saiu antes de louvar ao Senhor, fiquei preocupado.
     - Obrigada, mas não precisa se preocupar, quem anda com Jesus não tem medo de assombração - respondeu, com convicção.
      - Você ficou irritada com o culto de hoje, por quê?

    - Ah Tenório, quanta hipocrisia! A praga da corrupção contaminou a nossa igreja, não acredito mais, desisto.

                                                          Imagem: Google

     - Você é uma mulher inteligente, Edileuza. Eu não consigo entender, mas confio demais em você.
    Ela percebeu o nervosismo de Tenório. Há cerca de dois meses, após a abordagem, naquele mesmo local, ele passara a frequentar a igreja. Não tirava os olhos de cima dela e uma vez ofereceu-se para levá-la em casa. A desconfiança sobre as reais intenções de Tenório de frequentar a igreja fora sentida desde o primeiro dia. Havia algo de nebuloso nele, que a amedrontava. Por duas vezes, durante o culto, sentira a presença dele, sentira o roçar de seus braços sobre os seus e a sua respiração sôfrega. A mesma respiração que a desnorteara.
     - Tenório, me diz uma coisa - perguntou de supetão -, você é um psicopata? 
     - O que é isso? - arguiu o singelo Tenório.
     - Uma pessoa desequilibrada, um pervertido!
     - Em nome de Jesus, Edi, não estou entendendo. 
     - Não adianta, você não iria admitir. Bom, preciso ir - disse Edileuza, levantando-se. 
     - Admitir o quê? Espere, vou com você, está escuro, pode ser perigoso - ofereceu Tenório timidamente. 
     - Está bem, então vamos.
   Caminharam com passos lentos, em silêncio. Aquele trecho da rua estava bastante escuro e Edileuza sentiu um calafrio, quando Tenório esbarrou em seu corpo. Pareceu-lhe um esbarrão de propósito. Ambos diminuíram os passos, como se tivessem um acordo tácito de não saírem da penumbra. Mas a iluminação aproximava-se. Subitamente pararam. Tenório avançou em sua direção. Edileuza vislumbrou em seu olhar um estranho brilho. Não teve forças para fugir.


Continua no capítulo 7 - O Tempo Passa Rápido

                                                  Publicações de J Estanislau Filho:

                                                                    Imagem: jef
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terça-feira, 21 de agosto de 2018

Sabem do que são feitos os direitos, meus jovens?



"Quando concretizamos direitos, damos um sentido à tragédia humana e à nossa própria existência!"





Por Raquel Domingues do Amaral *, no Pequenas Igrejas

Sentem o seu cheiro?

Os direitos são feitos de suor, de sangue, de carne humana apodrecida nos campos de batalha, queimada em fogueiras!

Quando abro a Constituição no artigo quinto, além dos signos, dos enunciados vertidos em linguagem jurídica, sinto cheiro de sangue velho!

Vejo cabeças rolando de guilhotinas, jovens mutilados, mulheres ardendo nas chamas das fogueiras!

Ouço o grito enlouquecido dos empalados.

Deparo-me com crianças famintas, enrijecidas por invernos rigorosos, falecidas às portas das fábricas com os estômagos vazios!

Sufoco-me nas chaminés dos Campos de concentração, expelindo cinzas humanas!

Vejo africanos convulsionando nos porões dos navios negreiros.

Ouço o gemido das mulheres indígenas violentadas.

Os direitos são feitos de fluido vital!

Pra se fazer o direito mais elementar, a liberdade,
gastou-se séculos e milhares de vidas foram tragadas, foram moídas na máquina de se fazer direitos, a revolução!

Tu achavas que os direitos foram feitos pelos janotas que têm assento nos parlamentos e tribunais?

Engana-te! O direito é feito com a carne do povo!

Quando se revoga um direito, desperdiça-se milhares de vidas …

Os governantes que usurpam direitos, como abutres, alimentam-se dos restos mortais de todos aqueles que morreram para se converterem em direitos!

Quando se concretiza um direito, meus jovens, eterniza-se essas milhares vidas!

Quando concretizamos direitos, damos um sentido à tragédia humana e à nossa própria existência!

O direito e a arte são as únicas evidências de que a odisseia terrena teve algum significado!”


* Juíza Federal



Fonte: https://jornalggn.com.br/noticia/sabem-do-que-sao-feitos-os-direitos-meus-jovens

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Agradecimento


                                                                   Imagem: jef

Agradecimento

Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me dio dos luceros, que cuando los abro,
Perfecto distingo lo negro del blanco
Y en el alto cielo su fondo estrellado
Y en las multitudes el hombre que yo amo
Violeta Parra Sandoval


Amaldiçoamos um mundo de coisas: o sol inclemente ou a falta dele; a chuva ou a sua ausência. Amaldiçoamos as dificuldades da vida e até mesmo por termos nascidos; amaldiçoamos nossos pais e a pátria; a Deus por nos ter jogado nesse mundo de injustiças. Praguejamos contra os políticos, corruptos ou não, chamando-os de farinha do mesmo saco; não temos saco de suportar o vizinho ou o mendigo. Selecionamos alvos preferenciais, para destilar nossos ódios. Nos insurgimos contra as árvores, que oxigenam o ar e nos fornecem sombras. Como bestas-feras destruímos reputações com calúnias. Nestes tempos virtuais, criamos ou compartilhamos notícias falsas, produzidas por fake's news. Em meio a esta cegueira coletiva, nos tornamos cães raivosos.
Não, não se pode generalizar. Há muita gente que pratica a solidariedade; que se coloca no lugar do outro. Há quem vê a vida como dádiva.
Eu queria escrever uma crônica que comovesse as pessoas; que as convencesse de que a bondade gera bondade e transforma o mundo. Tenho consciência de que é uma luta desigual, nada fácil. A força contrária não é invencível, mas é necessário conhecer sua estratégia. A maldade, assim como o ódio, são armas produzidas, para garantir uma hegemonia, que não se comove com o sofrimento de outros seres. Não sejamos tolos, até porque, bondade não é sinônimo de tolice.

"A bondade em palavras cria confiança;
a bondade em pensamento cria profundidade;
a bondade em dádiva cria amor."
Lao-Tsé

"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar".
Nelson Mandela

Dito isso, volto ao tema do agradecimento. Como não agradecer a terra, que germina o grão, que se transforma em nosso pão de cada dia? A água que jorra e sacia a sede; o sol que aquece; a brisa que alivia o calor. Agradeçamos a vida que nos foi concedida; aos pais, que nos ensinaram os primeiros passos; as professoras e professores a nos mostrar o mundo mágico das letras, dos números; o primeiro flerte; os políticos, que elaboraram bons projetos de inclusão social.
Tenho muitas dívidas de gratidão, que é impossível citar nomes. Por isso, como símbolo de minha gratidão à vida, deixo impresso no coração de cada uma e de cada um, que ler esta singela crônica, um fragmento da Prece para oferenda de luz:


Ó grande e compassivo Buda!
Neste mundo,
Existem pessoas que precisam de tua luz
para que virem a página de seus problemas;
Existem pessoas que precisam de tua luz
Para que reflitam e se autoconheçam;
Existem pessoas que precisam de tua luz
De bondade e honestidade;
Existem pessoas que precisam de tua luz




quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Filhos da Terra: Capítulos 3 e 4

Rapidinho: 

Filhos da Terra é uma novela dividida em vinte cinco capítulos. Narra a trajetória de Zenaide, uma ninfeta, que se envolve num mundo do sexo, droga e fúria. A história de uma garota da periferia; pobre, sensual, que sonha com o sucesso. Zenaide e sua família, num turbilhão de sentimentos.
Um jornalista, como um anjo de guarda, surge em sua vida. Um amigo, um pai; um amor. 

Capa: Berzé; Ilustrações do miolo: Eliana; editoração eletrônica: Fernando Estanislau; impressão: Editora O Lutador - 2009, primeira edição 

Agradeço pela leitura e peço a quem encontrar algum erro de gramática ou digitação, por favor, me avise.


3 - O Microcosmo de Elói

Elói G. de Araújo era um jornalista cético com a mídia empresarial. Para os inimigos, um frustrado. Era repórter de um jornal de grande circulação na região metropolitana. Ao se formar, acreditava poder realizar grandes reportagens, contribuindo, assim, na divulgação da verdade dos fatos. Sentiu o primeiro baque na reportagem de estreia ao denunciar um deputado corrupto, ligado ao tráfico de pedras preciosas. Tomou todos os cuidados, pois receava jogar lama em inocentes. Checou fontes, documentos, ouviu todos os lados envolvidos. A decepção foi enorme ao ouvir do chefe de redação, que a sua matéria não seria publicada, pois o deputado era empresário influente e responsável por boa parte do faturamento do jornal, através de anúncios diários. Elói engoliu seco e só não pediu demissão, porque precisava do emprego. A segunda decepção veio quando o colocaram como redator do caderno de veículos. Não se entregou. Não estudara seis anos de jornalismo, para escrever sobre virabrequim, platinado e corridas, assunto, aliás, que não conhecia. Consultou alguns colegas de redação sobre como elaborar as matérias e eles responderam em uníssono: - Aqui nada se cria, tudo se copia na internet.
     Foi a campo e fez uma extensa reportagem sobre sonegação fiscal das montadoras de veículos, provando como elas exerciam pressão sobre o governo, para obter redução de IPI, e mesmo com a redução, elas não repassavam os impostos recolhidos dos contribuintes ao governo, numa mega sonegação. Provou a prática de apropriação indébita. O chefe de redação elogiou a matéria, mas disse que não poderia ser publicada daquela forma, iria editá-la. No dia seguinte, de fato, a matéria fora publicada. Elói não se conteve. Procurou o chefe e soltou os cachorros: - Pô cara, você arrebentou com a minha matéria e ainda por cima assinou como sua?! Aliás foi melhor assim, porque isto aí não tem nada a ver com o que escrevi. 
     - Calma Elói - respondeu o chefe -, eu conversei com a direção e eles elogiaram a matéria, mas sugeriram que deveríamos denunciar o governo, afinal é o responsável pela fiscalização. Você acha que o governo é inocente?
     - Não acho que o governo seja inocente, mas o fato é que há sonegação e ponto. Quanto ao governo, podemos pautar - retrucou Elói.
     - Não posso contrariar os interesses do jornal, vamos publicar como está e ponto final. Não é o governo que paga os nossos salários. Qual é, Elói? Sabe tanto quanto eu o quanto os políticos são corruptos!
     - Não venha com provocações, porque você também sabe, assim como eu, como os empresários, inclusive os da mídia empresarial são corruptos. De qualquer forma não deixa de ser interessante o jornal denunciar um governo, que esse veículo de comunicação, assim como tantos outros, ajudaram a se reeleger. Um governo que abafou CPI's; privatizou estatais lucrativas a preço de banana em conluio com aliados; sucateou o Estado... - retrucou Elói, indignado.
     - Nada ficou provado e não vamos generalizar. Nem todos os empresários, nem toda mídia são podres - respondeu o chefe.
     - Você está desviando o assunto. Eu fiz uma matéria e você, num suposto acordo com o patrão, fez uma edição porca, sacana. Nem vou discutir ética jornalística...
     - Deixa de bancar o bom mocinho. Você sabe como as coisas funcionam. Não há nada que se possa fazer.
     Saiu da sala inconformado com os rumos da imprensa. Os anos de luta contra a censura oficial desembocavam na censura patronal. A partir daí, convenceu-se definitivamente de que a grande mídia estava a serviço do capital e não mudaria a postura. Acomodou-se, para preservar o emprego. Enquanto isso tentaria construir uma alternativa de colocar em prática o seu projeto. Nesse mesmo dia tomou a decisão de mudar para um bairro operário e se comprometer com os movimentos sociais, com a ideia de assessorá-los na área de comunicação. Alugou um pequeno imóvel e em poucos dias adaptara-se relativamente à nova vida. Estava feliz com a escolha. Os moradores gostavam dele; ajudou a montar um informativo da associação do bairro, participava de reuniões e a amizade com Zenaide iluminava seu pequeno mundo. Era um home livre, sem laços familiares, pois seus pais faleceram sem dar-lhe irmãos. Não tinha afinidade com os primos latifundiários, que odiavam o MST. Sentia-se bem com a família de Dona Sônia. Sua casa era simples, como convém a um homem do povo. Móveis simples e práticos. De luxo, apenas um aparelho de som moderno, muitos discos e uma garrafa de uísque doze anos, um prazer de que não abria mão. Um computador, instrumento de trabalho, ligado a internet, livros espalhados pela casa. Não tinha carro, o salário de jornalista não permitia. Às vezes usava o carro do jornal, com o motorista, para pegar um bico - freelancer - de algum parlamentar de esquerda. Sonhava sair da camisa-de-força da mídia empresarial, mas precisava do salário e o jornal dava-lhe mais visibilidade. Lá no fundo queria emplacar uma grande reportagem, ganhar projeção nacional. 'EGO... E de Elói, G de Gouveia e O de Oliveira, não, não é nada disso, quero fazer uma reportagem que contribua no avanço da consciência da realidade desse país de miseráveis, de idosos injustiçados e crianças abandonadas". Sentiu o olhar penetrante do Comandante fustigando-lhe a consciência. O poster de Che Guevara, com um charuto na boca, estava afixado na parede do escritório, protegido por uma moldura simples, de vidro. Havia também uma foto em preto e branco de trabalhadores rurais com foices e enxadas, de Sebastião Salgado. Nas horas vagas bebia o uísque com bastante gelo e água, enquanto ouvia as canções de Chico Buarque, Gil, Silvio Rodriguez, Pablo Milanês, Xangai e músicos independentes. Nestas horas seus pensamentos voltavam para Zenaide, a garota de seus sonhos dourados. Ele a via com seus cabelos longos da cor do ouro, envolta em um vestido branco, transparente, desfilando sob os aplausos de um público imaginário. Ela desfilava sedutoramente para ele, lentamente se desnudando, chamando-o para si, alisando suavemente os seios empinados, com um sorriso moleque. "O que é isso, Elói, está viajando? Não vê que ela é apenas uma adolescente sonhadora, enlouqueceu? Ah, mas que ela é uma doce tentação, isso ela é!". Voltando à realidade, espantando os devaneios, ocupava-se em pensar numa maneira de ajudar a garota mais linda do bairro a realizar seus sonhos. Ela tinha garra, era inteligente, determinada e muito bonita. Não a deixaria desamparada e não permitiria mais que esses pensamentos torpes o dominassem. Jamais abusaria da confiança de Dona Sônia, da família que o acolhera com afeto. Zenaide agora era como se fosse uma filha. Dormiu abraçado ao travesseiro.


4 - O Segredo de Edileuza

Edileuza não deixava de ir aos cultos da Igreja Nacional do Reino do Amor, nas terças, quintas, sábados e domingos. Com seu vestido cinza batendo no tornozelo, uma blusa cobrindo até a altura do pescoço, cabelos longos maltratados e com a cara fechada, saía com a bíblia debaixo do braço e o olhar fixo no chão, para que não pairasse nenhuma dúvida entre os vizinhos sobre a sua pureza. Pagava o dízimo em dia e era sempre elogiada pelo pastor, por sua conduta ilibada.
     Por conta de sua dedicação, fora escolhida pelo pastor para estudar a bíblia com os superiores, m vistas a tornar-se uma pastora e poder levar a mensagem de Jesus aos pecadores. Em casa ninguém sabia, pois desistira de converter a família. Quando era cobrada pelo pastor, para se empenhar mais na conversão dos familiares, ela respondia que "em casa de ferreiro o espeto é de pau". "Não é por falta de esforço não - continuava - eles ainda não foram tocados, irmão, mas sangue de Jesus tem poder, aleluia!". "Aleluia, irmã", respondia o pastor.
     Ao retornar à sua casa, depois do culto de uma terça-feira de verão em que lera e uma passagem do deuteronômio, caminhando em meu a penumbra da rua, a jovem evangélica foi abordada por um rapaz. Edileuza apertou o passo, procurando afastar-se, porém foi imobilizada, tendo a boca tapada, com vigor: - Não grite e tudo acabará bem - ameaçou o estranho. Ela não esbouçou nenhuma reação, apenas orava, pedindo proteção ao Senhor, enquanto o rapaz levantava seu longo vestido e alisava suas coxas e seios.
     - Vou retirar a mão de sua boca, promete que não vai gritar? Perguntou o rapaz. Edileuza balançou a cabeça afirmativamente.
     - Ótimo, assim é melhor, não quero machucá-la. Quero que se entregue, pois sou louco por você - disse o moço, excitado, subitamente beijando-a na boca.

                                                                Imagem: Domínio público

     Foi um beijo longo, com as mãos debaixo do vestido, percorrendo freneticamente o corpo de Edileuza, que amolecia. Empurrou-a contra o muro, levantou o vestido, deixando à mostra duas coxas rosadas, grossas e rígidas, em seguida desabotoou o sutiã e beijou sofregamente os seios, desferindo suaves mordidas nos mamilos. Edileuza permaneceu inerte. Apos longos loucos minutos, o rapaz pôs-se a chorar diante de uma mulher de sentimentos opostos, que não sabia se gritava por socorro ou se consolava o agressor. Ao perceber que era dona da situação, perguntou: - Quem é você e o que quer de mim? Mas não obteve resposta. O rapaz fugiu na penumbra. Edileuza levou a mão nas coxas molhadas de esperma e sentiu um arrepio. Ao chegar em casa foi direto para o seu quarto, em silêncio. Zenaide folheava uma revista de modas e assim continuou, sem prestar atenção na irmã, que se atirou na cama sem tirar a roupa, com a bíblia sobre o peito e o olhar perdido no teto de telha de amianto. Em seguida dormiu.
     Ao ver a irmã dormindo, Zenaide retirou a bíblia delicadamente e a colocou sobre o criado. Percebeu que ela tinha o sono agitado, balançando a cabeça negativamente e dizendo "não, não, pare satanás, não me tente". Zenaide acordou-a carinhosamente, alisando com suavidade os cabelos da mana. Edileuza abriu os olhos, assustada, olhando a irmã, que dizia: - Você estava tendo um pesadelo, por isso te acordei. Minha irmãzinha, o que está acontecendo?
     - Não está acontecendo nada - respondeu -, foi um pesadelo, obrigada. 
     - Como não? Você se debatia agitadíssima. Acho que anda rezando demais. Olha que pra tudo tem limite, devia mesmo arranjar um homem, fazer sexo e descarregar as energias armazenadas.
     - Você é uma depravada - respondeu, agressiva.
     - Aí é que você se engana - retrucou Zenaide.
     - Anda por aí mostrando o rabo como uma puta - disse a beata, com o semblante carreregado.
     - Mostro sim, o rabo é meu. Quem não quer ver estrela, não olhe para o céu. Agora quer saber de uma coisa? Tenho quase quatorze anos e sei muito bem mais do mundo que você. Sei o que quero, ainda não transei. Faço o meu charme, jogo as tranças, sei seduzir os homens, mas farei sexo com quem eu quiser, na hora em que eu quiser. Não estou preocupada com isso, por enquanto. Quero ganhar dinheiro, muito dinheiro e sair desse buraco. Estou me preparando, correndo atrás, pode ter certeza - disse Zenaide, com um olhar sonhador.
     - Tudo bem, irmãzinha, mas primeiro você devia aceitar Jesus!
     - Não me venha com este papo, Edi. Já aceitei Jesus, só que do meu jeito, tá legal? Vamos mudar de assunto, senão a gente acaba brigando - respondeu Zenaide, voltando a folhear a revista.
     Edileuza tirou o vestido de costas pra irmã, com receios de que ela visse nódoas em suas coxas. Em seguida dirigiu-se ao banheiro. Enquanto a água caía em seu corpo, lembrava do beijo e das mãos do rapaz alisando seu corpo. Ficou excitada. 



                      Em estoque os últimos exemplares de A Moça do Violoncelo-Estrelas


Na próxima quarta um novo capítulo de Filhos da Terra

terça-feira, 14 de agosto de 2018

cacto

                                                             Imagem: Google


"Mandacaru quando fulôra na seca
É o sinal que a chuva chega no sertão..."
Luiz Gonzaga em O Xote das Meninas





resistente espinhosa
defende-se como pode
do chão tórrido seca brava
pacientemente espera
e viceja quando chove
[flor se abre esplendorosa]
espinhos afiados melhor ter cuidado
brota no cerrado
alimenta e mata a sede
não teme maus presságios
e se ergue lenta e perseverante para o céu
flor da caatinga
que fulôra na seca como a cantiga
do cancioneiro popular



                                                                  Imagem: Google



Da série "pra não dizer que não falei das flores" - leia também azaleia, magnólia, cravina, crisântemo...

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

A linha e o trem



Sobre a linha passa o trem, com um monte de vagões carregado de minério. É nesta linha que faço a minha caminhada, por volta das dezesseis horas, até lá pras seis. Geralmente nas segundas, na terça tenho oficina de teatro, quartas e quintas. Vou, à pé. Alguns vão de carro ou de moto, até o inicio da linha. Vou até a boca do túnel,às vezes o ultrapasso, para beber água da mina. Água mineral. Às vezes levo a câmera e tiro fotos. Filmei o trem uma vez. Às vezes encontro com o Afrânio. Às vezes o Vilmar passa de carro, sem acelerar, para não levantar poeira e prejudicar os andarilhos. O Vilmar é educado. Assusto quando ele passeia com um pitt-bul. A Luana, às vezes também coincide de eu vê-la. Agora de moto, antes numa bicicleta. Tive alguns parceiros e parceiras de caminhada. Mais parceiras. Parentes, amigos e amigas que me visitam, geralmente eu os levo pra caminhar na linha [Não podendo acomodador a todos em minha casa, sugiro a pousada de Neusa Vale].  

Meu filho, Fernando teve medo de entrar na mina d'água. Mas entrou, com o Raul. Vi umas três vezes um homem correndo, com um aparelho de medir batimento cardíaco. Uma amiga de caminhada me disse que era o Olímpio. Costumo, digo, costumava me encontrar com o Camilo. Uma vez tive a impressão duma jovem, que caminhava sozinha, ficar assustada comigo. Será que sou tão feio assim? O Ângelo, teve um período, que a gente sempre se via na caminhada. Nos últimos dois meses, tenho caminhado no campo de futebol. Então falo de acontecimentos daí pra trás. Me lembro também de ver o Fúvio , antes de ele ser prefeito, e a Eliane, antes de tornar-se primeira dama. Tinha um moço, que conheço de vista, caminhava, não, corria ao lado de um cão. Pastor alemão, se não me engano. Até bati um papo com o cão e o seu dono. Durante a caminhada é comum ver o trem carregado de minério, passar apitando. Em sinal de alerta e cumprimento. Como disse lá atrás, fiz um vídeo. Um monte de vagões lotado de minério. Cheguei a contar mais de cento e tantos. Ah, ia me esquecendo do Irineu da Dona Adélia. Sempre o convido pra caminhar, mas ele sempre adia. É divertido caminhar na linha do trem. Gosto muito de ir pelo caminho da pinguela sobre o ribeirão. Mosquito? Não sei. Tirei uma foto pendurado, como se estivesse caindo lá do alto. Não pode ser eu quem tirou a foto. Não me lembro quem foi esta pessoa generosa. Umas duas vezes, passando pelo caminho do Engenho Século XVIII, encontrei o Joaquim. O Grilo, lá do Geno, que vez em quando encontramos no campo de futebol, onde caminho atualmente, tem a mania de me chamar de Joaquim.

      A história tá muito esticada, preciso finalizar e para isso, gostaria que os xavierenses, principalmente, me respondessem:  para onde vai tanto minério? Passa, também, com fios máquinas, bobinas e tubos de aço, além de cimento. Mas bonito mesmo são as árvores e os pássaros, gaviões, maritacas, uns pequeninos. E ter atenção com a cascavel. Eu vi uma esticada, tomando um banho de sol. Linda. Tem muitas histórias sobre a linha do trem. Que também é ponto de encontro de amores norteados e desnorteados. O povo fala demais.
     Engraçado, lembrei de uma coisa: nunca vi ninguém da área de saúde na caminhada na linha do trem. Logo eles, que vivem dizendo pra gente, que caminhar faz bem pra saúde. Esquisito, né?
     Agora, pra terminar mesmo, pra onde vai o trem e a linha, com  tanto minério nas costas?



J Estanislau Filho








Imagens: acervo do autor