quarta-feira, 23 de março de 2022

Das Minhas Lembranças 25



Imagem: eu em Brasília


Ainda sob os efeitos das comemorações da posse de Lula à presidência, em,  2003, as eleições municipais se aproximavam.  Derrotar Ademir Lucas/PSDB, candidato à reeleição, era uma questão,  que ia além da disputa política, em 2004.  A perda de amigos e amigas num deslizamento de terra na Vila Julia Kubitschek (Bairro Industrial), devido ao descaso da prefeitura, deixou sequelas em mim e em minha família.  Uma tragédia que poderia ter sido evitada se a prefeitura tivesse tomado medidas preventivas.  Não foi por falta de avisos da diretoria da ACBI (Associação Comunitária do Bairro Industrial), da qual fui presidente e coordenador. 

     Assim, alegre com a chegada do PT à presidência, triste pela perda  recente de dez amigos e amigas, soterrados, entrei de corpo e alma na campanha, que elegeu Marília Campos/PT, prefeita de Contagem, em 2004.  Uma vitória que não pude comemorar, pois minha saúde física e mental fora abalada. 

Marilia Campos

     Terminada as apurações, num domingo, fui para casa, caí na cama e dormi. Até então não tinha consciência do meu estado de saúde. Posteriormente eu me lembraria de um momento,  lá no comitê eleitoral, à Rua Tiradentes, de que sentira uma vertigem. Fui acordado por Eliana, depois de ter dormido das 19h de domingo, até por volta das 18h da segunda-feira.  Acordei "grogue". Comi algo meio que à força.  Não sentia o sabor.  Atendendo ao chamado de Eliana, Gildete Martins e Nelsinho chegaram em minha casa e me levaram a uma emergência, em Betim. Na ocasião eu morava em Esmeraldas. Lá chegando, o Gil me deixou deitado sobre um banco de concreto, para ir ao guichê de atendimento.  Dormi. 

     Levei um tempo para entender o que estava acontecendo. Eu me encontrava numa cadeira, diante de um médico, que me fez algumas perguntas.  Os exames tinham sido feitos enquanto eu dormia. Isso já era por volta da meia-noite.  E veio o diagnóstico: você é saudável, não tem nada. Não é possível, pensei, tem que ter algo. 

     Depois de uns dias de repouso, retornei às atividades.  Respondia, com irritação, que sim, quando algum companheiro me perguntava se estava bem.  Eu estava envolvido na transição de governo. A posse de Marília estava próxima. Havia disputa política de quem iria fazer parte do novo governo.  

     Nessa altura eu tinha certeza de que algo não ia bem com a minha saúde.  Fui a um neurologista em Betim, que confirmou o diagnóstico do médico da emergência: do ponto de vista neurológico, você não tem nada.  Não era possível. Ele não quis me encaminhar para exames. Por minha conta, fiz um eletroencefalograma e uma tomografia cerebral. De novo, nada.  Como assim?, eu andava sentindo umas nuvens obscuras sobre minha cabeça, como disse um dia, em tom  de brincadeira, ao Zé Geraldo e Gil.  Meu sono continuava desorganizado.  Dormia onde não podia, como em plena  seção da câmara de vereadores.  Esse transtorno só passou no dia em que Letícia marcou uma consulta com um médico do hospital municipal, que me receitou clonazepan.  Eu estava num estresse profundo.  Anos depois eu me livraria do clonazepan. 


Um Minuto de Silêncio

1 – S onhavam seus sonhos e não

2 – O uviram quando a

3 – T erra tremeu

4 – E não acordaram a tempo de

5 – R ealizarem seus projetos de vida

6 – R achaduras no solo

7 – A nunciavam um possível

8 – D eslizamento como de fato

9 – O correu

10 S oterrando muitos e vitimando 10 vidas em 16 de janeiro de 2003.




     Apesar do estresse, continuei a militância, participando de reuniões e assembleias para eleger os representantes da sociedade civil na conferência das cidades.  Eleito representante por Contagem, no dia em que seria votado o delegado, que iria representar Minas Gerais, não dei conta.  O companheiro José Carlos, então suplente, assumiu a tarefa.  Participei na organização do  movimento de transporte de passageiros, que resultou em licitação, e na legalização do transporte alternativo (perueiros). Contribui na implantação do orçamento participativo.  Marquei presença, também, na conferência municipal de saúde. 

     2006 se aproximava, com novas eleições aos executivos e legislativos, estaduais e federais.  Denúncias do mensalão abalavam o governo Lula e muitos petistas estavam desnorteados.  Debilitado eu iria fazer parte do diretório municipal do PT/ Contagem.

     No próximo capítulo, conto o que se passou. 




J Estanislau Filho

sexta-feira, 11 de março de 2022

Das Minhas Lembranças 24

 

A participação da militância, nas campanhas ao governo do estado, assim como ao governo federal,  sempre foi conectada às campanhas de deputados estaduais e federais,  principalmente estaduais. Como o mandato da Vereadora Letícia da Penha tinha relação política mais próxima com mandado do Deputado Estadual Rogério Correia, era para ele que fazíamos campanha, prioritariamente,  com as respectivas "dobradinhas",  com os candidatos a federais, apoiados por nós.  Em 2002 contribuímos na reeleição de Rogério e, finalmente, Lula presidente, com panfletagens nas ruas, em comícios,  feiras, portas de fábricas, pontos de ônibus, caixas de correios. Onde tivesse um evento, uma aglomeração, lá estávamos, divulgando os nossos candidatos. 

     Com Lula na presidência, viria uma intensa atividade do mandato, com a nossa participação nas conferências temáticas: saúde, educação, meio ambiente, por exemplo.  Ampliar a participação popular era o nosso norte, o que exigia mobilização permanente na cidade, para escolher os nossos representantes nas conferências.  Mobilização que ultrapassava as fronteiras de Contagem, que nos levava a Belo Horizonte, Betim, Ibirité, enfim, a região metropolitana.  Através de entidades da sociedade civil, como associações de moradores, centrais sindicais, Central de Movimentos Populares, ong's, algumas vezes nos deslocávamos para  cidades do interior do estado. 

     Democracia não é apenas ir às urnas de quatro em quatro anos e escolher quem vai nos governar.  Sem a participação nas decisões de governos,  corremos o risco de ver nossas reivindicações desatendidas. Muitos de nós, antes da chegada do PT aos governos, não sabíamos sequer o que era orçamento público.  A participação popular também não é somente para dar sustentação aos governos populares. Além de garantir que os projetos de interesse popular sejam atendidos,  é uma forma de fiscalizar o dinheiro público, para que não seja desviado para outros fins, da corrupção, inclusive.

     Com erros e acertos, afinal a participação direta nas decisões do governo federal fosse novidade (tínhamos experiência de participação nas prefeituras conquistadas pelo partido),  nos engajamos no projeto  de inclusão social do governo Lula.   A institucionalidade impunha (e impõe) limites burocráticos,  mas dentro desses limites buscamos garantir e ampliar direitos. 


Meu irmão e parceiro de lutas e letras: Lalá, no Recanto das Letras, Sô Lalá


     No próximo episódio contarei,  como foi a eleição de Marilia Campos à prefeitura de Contagem.


 J Estanislau Filho


sexta-feira, 4 de março de 2022

Das Minhas Lembranças 23


Após o impeachment de Fernando Collor, ao final de 1992, a classe dominante se reorganiza em torno do vice-presidente, Itamar Franco. Cria-se o Plano Real, que elege Fernando Henrique Cardoso, em 1994. Lula é derrotado pela segunda vez. 

     Em 1996 acontecem as eleições municipais. Newton Cardoso é o novo prefeito de Contagem, pelo PMDB. Letícia da Penha se reelege vereadora e eu passo a fazer parte, oficialmente, do mandato democrático e popular,  sendo o responsável pela comunicação.  O mandato me dá o suporte necessário à militância no movimento popular, cultural e ambiental. 

     Em 1998, Fernando Henrique Cardoso se reelege Presidente da República, com a aprovação da emenda da reeleição, em que é acusado de comprar votos de Deputados e Senadores.  Lula é derrotado pela terceira vez. 

     O Deputado Estadual Durval Ângelo é o candidato do PT a prefeito, em 2000, sendo derrotado pelo tucano Ademir Lucas.  Letícia se reelege, com uma votação expressiva.  O chute inicial da campanha foi precedido por um encontro de petistas e apoiadores, na sede do PT, com o lançamento do Almanaque Político 2000.  Uma ideia que me perseguia a um bom tempo, que pude realizar, com o apoio da vereadora e do mandato.  Um almanaque político leve e bem humorado, diferente do material de campanha até então praticado. Nesse almanaque publiquei minha crônica Olhar, que faria parte do meu livro Crônicas do Cotidiano Popular de 2006.  Juntamente com Ivanir Gorgozinho,  criamos  um boletim, no formato criado por Ignácio Hernandez, que fazia muito sucesso entre os usuários do metrô, o Integração. O nosso, Expresso Popular, de conteúdo diferente, vinha com os títulos, em sua maioria, de filmes, tais como: A Hora do Espanto, O Homem que Queria Ser Rei, Mudança de Hábito, Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos, assim por diante. Assim como o Integração Metrô, do PT, o nosso expresso fez muito sucesso, pelo bom humor, sem perder conteúdo. 


J Estanislau Filho