terça-feira, 30 de setembro de 2014

Quadro Invisível



Enquanto pinto tua imagem
Na tela de minha memória
Uma alegria me contagia
E por instantes, louca
Grito e silencio, corro e paro
E faço surgir junto a ti
Um sol que me ilumina
Na certeza de te ter comigo
No momento em que você nasce
Coberto por meus traços
Nesse meu quadro invisível
Onde te componho
Com a delicadeza deste amor


Camille Simeone

De todos os beijos...








E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada, ai
           Chico Buarque

De todos os beijos
os nossos.
Os do olhar
Os do sorriso
Os de bom dia e boa noite
Os triviais
Os sociais
Os que atiçam nossa fome...

De todos os beijos
os nossos.
Os de ansiada espera
Os de saudades declaradas
Os de paixão e desejo
Os de alma reencontrando seu lugar.

De todos os beijos
os nossos.
Os que ainda não demos
Os que nos prometemos
Os que farão falta na ausência
Os que anunciam a hora
Os que dizem o quanto
és meu e eu sou tua...

De todos os beijos
os nossos beijos, Meu Amor!


Edna Lopes 

SEDUTOR









Dançou comigo à meia luz...
Beijou-me a boca...
Roubou suspiros e assaltou
os meus sentidos...
Deixou-me ao sol de uma manhã,
sem a certeza,
de que o amanhã pudesse haver,
com o mesmo encanto....
Não disse adeus, nem fez promessas...
Truncou futuro ao meu amor...

ana maria gazzaneo


http://www.recantodasletras.com.br/poesias/4974255

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

PRAZERES







Sombra minha que toda amada
Ao costado de cada um de nós
Fica o som desta opaca flor de lis
Coloridas latitudes caminhamos

Por lagos perdidos nos despimos
Em suaves vestígios de prazeres
Submetidos a um bom vai e vem
Da água cujo gosto desconheço

As razões todas deste encontro 
Estão em olhos bem esverdeados
Levanto-me porque a vida é minha
Bebemos do vinho em centelhas

Abrasando nossas quentes bocas
Em fragrância toda que indagada
Atravessas meu túnel descoberto
Navegas assim em solidão errante...

Luiza De Marillac Bessa Luna 

Especulações em torno da palavra homem





Mas que coisa é homem,
que há sob o nome:
uma geografia?

um ser metafísico?
uma fábula sem
signo que a desmonte?

Como pode o homem
sentir-se a si mesmo,
quando o mundo some?

Como vai o homem
junto de outro homem,
sem perder o nome?

E não perde o nome
e o sal que ele come
nada lhe acrescenta

nem lhe subtrai
da doação do pai?
Como se faz um homem?

Apenas deitar,
copular, à espera
de que do abdômen

brote a flor do homem?
Como se fazer
a si mesmo, antes

de fazer o homem?
Fabricar o pai
e o pai e outro pai

e um pai mais remoto
que o primeiro homem?
Quanto vale o homem?

Menos, mais que o peso?
Hoje mais que ontem?
Vale menos, velho?

Vale menos morto?
Menos um que outro,
se o valor do homem

é medida de homem?
Como morre o homem,
como começa a?

Sua morte é fome
que a si mesma come?
Morre a cada passo?

Quando dorme, morre?
Quando morre, morre?
A morte do homem

consemelha a goma
que ele masca, ponche
que ele sorve, sono

que ele brinca, incerto
de estar perto, longe?
Morre, sonha o homem?

Por que morre o homem?
Campeia outra forma
de existir sem vida?

Fareja outra vida
não já repetida,
em doido horizonte?

Indaga outro homem?
Por que morte e homem
andam de mãos dadas

e são tão engraçadas
as horas do homem?
mas que coisa é homem?

Tem medo de morte,
mata-se, sem medo?
Ou medo é que o mata

com punhal de prata,
laço de gravata,
pulo sobre a ponte?

Por que vive o homem?
Quem o força a isso,
prisioneiro insonte?

Como vive o homem,
se é certo que vive?
Que oculta na fronte?

E por que não conta
seu todo segredo
mesmo em tom esconso?

Por que mente o homem?
mente mente mente
desesperadamente?

Por que não se cala,
se a mentira fala,
em tudo que sente?

Por que chora o homem?
Que choro compensa
o mal de ser homem?

Mas que dor é homem?
Homem como pode
descobrir que dói?

Há alma no homem?
E quem pôs na alma
algo que a destrói?

Como sabe o homem
o que é sua alma
e o que é alma anônima?

Para que serve o homem?
para estrumar flores,
para tecer contos?

Para servir o homem?
Para criar Deus?
Sabe Deus do homem?

E sabe o demônio?
Como quer o homem
ser destino, fonte?

Que milagre é o homem?
Que sonho, que sombra?
Mas existe o homem?




Carlos Drummond de Andrade

domingo, 28 de setembro de 2014

O homem trocado






O homem acorda da anestesia e olha em volta. Ainda está na sala de
recuperação. Há uma enfermeira do seu lado. Ele pergunta se foi tudo bem.
- Tudo perfeito - diz a enfermeira, sorrindo.
- Eu estava com medo desta operação...
- Por quê? Não havia risco nenhum.
- Comigo, sempre há risco. Minha vida tem sido uma série de enganos...
E conta que os enganos começaram com seu nascimento. Houve uma troca
de bebês no berçário e ele foi criado até os dez anos por um casal de
orientais, que nunca entenderam o fato de terem um filho claro com olhos
redondos. Descoberto o erro, ele fora viver com seus verdadeiros pais. Ou
com sua verdadeira mãe, pois o pai abandonara a mulher depois que esta não
soubera explicar o nascimento de um bebê chinês.
- E o meu nome? Outro engano.
- Seu nome não é Lírio?
- Era para ser Lauro. Se enganaram no cartório e...
Os enganos se sucediam. Na escola, vivia recebendo castigo pelo que não
fazia. Fizera o vestibular com sucesso, mas não conseguira entrar na
universidade. O computador se enganara, seu nome não apareceu na lista.
- Há anos que a minha conta do telefone vem com cifras incríveis. No mês
passado tive que pagar mais de R$ 3 mil.
- O senhor não faz chamadas interurbanas?
- Eu não tenho telefone!
Conhecera sua mulher por engano. Ela o confundira com outro. Não foram
felizes.
- Por quê?
- Ela me enganava.
Fora preso por engano. Várias vezes. Recebia intimações para pagar dívidas
que não fazia. Até tivera uma breve, louca alegria, quando ouvira o médico
dizer:
- O senhor está desenganado.
Mas também fora um engano do médico. Não era tão grave assim. Uma
simples apendicite.
- Se você diz que a operação foi bem...
A enfermeira parou de sorrir.
- Apendicite? - perguntou, hesitante.
- É. A operação era para tirar o apêndice.
- Não era para trocar de sexo?


Luis Fernando Veríssimo

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O Beijo


Lábios úmidos unidos
espanta palavra louca
que vem da sua boca
ferindo os meus ouvidos.
Deixe somente os gestos
violar os meus sentidos.
Beijo de amor rasgado
vindo de lábios serenos
piso leve este terreno
pra não sair machucado
pois queda de amor doi
e me deixa alucinado.
Beijo que me deixa solto
aprisiona-me em seus braços.
Livrando-me destes laços
estou perdido estou pouco,
seu beijo doce veneno
amor e sonho envoltos.


J Estanislau Filho - do livro Todos os Dias são Úteis - Edição do Autor - esgotado.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Por que ninguém dá a pesquisa que diz que o brasileiro é um dos sujeitos mais felizes do mundo?




Como é o país que você na mídia? E como é o Brasil visto pelos brasileiros?

Bem, parecem dois países diferentes.

Acaba de sair uma pesquisa mundial do instituto Gallup, em associação com a empresa americana de bem estar Healthways.

Foram ouvidas pessoas de 135 países, com o objetivo de avaliar o grau de satisfação delas. As entrevistas focavam em aspectos vitais da vida de cada um de nós: de dinheiro a saúde, das relações sociais ao encaixe na comunidade.

O Brasil ficou em quinto lugar.

É uma posição excepcional. Nas piores colocações você encontra países em guerra, como Iraque e Afeganistão.

Isto significa que o brasileiro está feliz. É feliz. É otimista. Gosta de seu país e de sua vida, e acha as coisas vão melhorar.

Não preciso dizer que este levantamento foi virtualmente ignorado pela imprensa brasileira. O único lugar em que o vi – além do próprio DCM – foi no site da Exame.

Compare o brasileiro tal como é apresentado pela mídia com este que emergiu da pesquisa.

O BM – chamemos assim o Brasileiro da Mídia – é um sujeito atormentado, neurótico, infeliz, revoltado. Tem ódio do seu país, e desprezo pelos seus conterrâneos. Sente vergonha de dizer que é brasileiro no exterior.

Ele pode ser personificado em Jabor, numa referência masculina, ou em Rachel Sheherazade, numa referência feminina.

Agora examinemos o BV, o Brasileiro de Verdade. É aquele que os estrangeiros escontraram nas ruas, na Copa do Mundo. Afável, sorridente, bem humorado, gentil. De bem com a vida, de um modo geral.

O BV é a negação do BM.

Um desses dois brasileiros não faz sentido, e você pode bem imaginar qual.

O que está por trás do retrato grotescamente distorcido do Brasil e dos brasileiros feito por jornais, revistas, telejornais etc?

É o pavor de que, mostrando o brasileiro médio como um sujeito feliz, você esteja promovendo, indiretamente, o PT.

É um pensamento de brutal obtusidade.

O BV, o Brasileiro de Verdade, tem um caso de amor não com este partido ou aquele – mas com o Brasil.

Pode mudar o partido no Planalto que a alegria que está na alma do brasileiro permanecerá.

Compare o BM com as palavras ditas e escritas por Jabor. Num artigo recente publicado no Globo, ele escreveu: “Hoje, sabemos que somos parte da secular estupidez do país. Assumir nossa doença talvez seja o início da sabedoria.”

“Nossa doença”?

Jabor deveria olhar para o espelho ao formular este tipo de pensamento. Ele é um infeliz, um amargurado, um derrotado.

Um BM, em suma.

O BV, como mostra a pesquisa do Gallup, e como todos nós sabemos por experiência própria, é o oposto de Jabor.

Paulo Nogueira.


http://www.diariodocentrodomundo.com.br/por-que-ninguem-da-a-pesquisa-que-diz-que-o-brasileiro-e-um-dos-sujeitos-mais-felizes-do-mundo/

terça-feira, 23 de setembro de 2014

O Presente dos Magos




Um dólar e oitenta e sete centavos. Era tudo. E sessenta centavos eram em moedas. Moedas economizadas uma a uma, pechinchando com o dono do armazém, o dono da quitanda, o açougueiro, até o rosto arder à muda acusação de parcimínia que tais pechinchas implicavam. Três vezes Della contou o dinheiro. Um dólar e oitenta e sete centavos. E no dia seguinte seria Natal.
Não havia evidentemente mais nada a fazer senão atirar-se ao pequeno sofá puí­do e chorar. Foi o que Della fez. O que leva à reflexão moral de que a vida é feita de soluços, fungadelas e sorrisos, com predomí­nio das fungadelas.
Della terminou de chorar e cuidou do rosto com a esponja de pó. Postou-se junto à janela e ficou a contemplar melancolicamente um gato cinzento caminhando sobre uma cerca cinzenta num quintal cinzento. Amanhã seria Dia de Natal e ela tinha apenas um dólar e oitenta e sete centavos para comprar o presente de Jim. Estivera a economizar tostão por tostão havia meses, e esse era o resultado. As despesas tinham sido maiores do que calculara. Sempre são. Apenas um dólar e oitenta e sete centavos para comprar o presente de Jim. O seu Jim. Muitas horas felizes passara ela planejando comprar-lhe alguma coisa bonita. Alguma coisa fina, rara, legí­tima ” algo que estivesse bem perto de merecer a honra de ser possuí­da por Jim.
Subitamente, afastou-se da janela e postou-se diante de um espelho. Seus olhos estavam brilhantes mas sua face perdeu a cor ao cabo de vinte segundos. Num gesto rápido, soltou o cabelo e deixou desdobrar-se em toda a sua extensão.
Ora, os James Dillingham Youngs tinham dois haveres de que muito se orgulhavam. Um era o relógio de ouro de Jim, que pertencera a seu pai e a seu aví. O outro era o cabelo de Della.
O cabelo de Della, pois, caiu-lhe pelas costas, ondulando e brilhando como uma cascata de águas castanhas. Chegava-lhe abaixo do joelho e quase lhe servia de manto. Ela então o prendeu de novo, célere e nervosamente. A certo momento, deteve-se e permaneceu imóvel, enquanto uma ou duas lágrimas caí­am sobre o puí­do tapete vermelho.
Vestiu o velho casaco marron; pís o velho chapéu marron. Desceu rapidamente a escada que levava à rua. Parou onde havia um letreiro anunciando: “Mme Sofronie, Artigos de Toda Espécie para Cabelos”. Della subiu a correr um lance de escada e se deteve no alto, arquejante para recompor-se. Madame, corpulenta, alva demais, fria.
- Quer comprar meu cabelo? ” perguntou Della.
- Eu compro cabelo ” disse Madame. ” Tire o chapéu e vamos dar uma olhada no seu.
Despenhou-se, ondulante, a cascata de águas castanhas.
- Vinte dólares ” ofereceu Madame, erguendo a massa com mão prática.
- Dê-me o dinheiro depressa ” pediu Della.
Oh, as duas horas seguintes voaram com asas róseas. Della se pís a vasculhar as lojas à procura de um presente para Jim.
Encontrou-o por fim. Fora feito para ele e para ninguém mais. Nada havia que se lhe parecesse nas outras lojas, e ela as revirara de alto a baixo. Era uma corrente de platina, curta, simples e de modelo discreto, proclamando adequadamente seu valor por sua mesma substância e não por qualquer ornamentação espúria. Era digna até do relógio. Tão logo a viu, soube que tinha de ser de Jim. Era como ele. Serenidade e valor ” a descrição se aplicava a ambos. Vinte e um dólares cobraram-lhe por ela, e Della correu para casa com os oitenta e sete centavos. Com aquela corrente no relógio, Jim poderia preocupar-se decentemente com o tempo na frente de qualquer pessoa. Grande como era o relógio, ele í s vezes o consultava meio envergonhado devido à velha tira de couro que usava em lugar de corrente.
Quando Della chegou em casa, seu embevecimento cedeu lugar a um pouco de prudência e razão. Pegou os ferros de frisar, acendeu o gás e pís-se a reparar os estragos causados pela generosidade acrescida ao amor. O que sempre é uma tarefa muito árdua, queridos amigos ” uma tarefa gigantesca.
Ao cabo de quarenta minutos, sua cabeça estava coberta de pequenos caracóis cerrados, que a faziam parecer, admiravelmente, um menino vadio.
Às sete horas, o café estava preparado e uma frigideira quente no fogão esperava o momento de fritar as costeletas. Jim nunca se atrasava. Della dobrou a corrente no cíncavo da mão e sentou-se a um canto da mesa, perto da porta pela qual ele sempre entrava. Ouviu então seus passos no primeiro lance da escada e empalideceu por um instante.
- Oh, Deus, fazei-o por favor achar-me ainda bonita!
A porta se abriu, Jim entrou e a fechou. Parecia magro e muito sério. Pobre sujeito, apenas vinte e dois anos e já responsável por uma famí­lia! Precisava de um sobretudo novo e não tinha luvas.
Jim Avançou alguns passos. Seus olhos estavam fitos em Della e havia neles uma expressão que ela não conseguia ler e que a aterrorizava. Não era raiva, nem surpresa, nem desaprovação, nem horror; não era nenhum dos sentimentos para os quais ela estava preparada.
Della esgueirou-se para fora da mesa e se encaminhou para ele.
- Jim, querido ” gritou ” não me olhe desse jeito! Mandei cortar o cabelo e o vendi porque não poderia passar o natal sem dar um presente a você. Ele crescerá de novo… não se aborreça, por favor. Meu cabelo cresce terrivelmente depressa. Diga “Feliz Natal!”, Jim, e fiquemos felizes. Você não sabe que coisa bonita, que belo presente tenho para você.
- Mandou cortar o cabelo? ” perguntou Jim a custo, como se não tivesse ainda compenetrado desse fato patente após o mais árduo esforço mental.
- Cortei-o e vendi-o ” disse Della. ” Você não continua a gostar de mim do mesmo jeito, então? Não precisa procurar por meu cabelo, foi vendido, como lhe disse… vendido, não está mais aqui. À véspera de Natal, querido. Seja bonzinho comigo, fiz isso por sua causa. Ninguém poderá jamais avaliar o meu amor por você. Posso fritar as costeletas, Jim?
Emergindo do seu transe, Jim pareceu despertar rapidamente. Abraçou a sua Della. Os magos trouxeram presentes valiosos, mas isso não estava entre eles. Esta asserção obscura será esclarecida mais tarde.
Jim tirou um pacote do bolso e atirou-o sobre a mesa.
- Não me interprete mal, Della ” disse. ” Não acho que haja alguma coisa, corte de cabelo, raspagem ou xampu, capaz de fazer-me gostar menos da minha mulherzinha. Mas se você abrir este pacote, poderá ver por que fiquei abalado no princí­pio.
Alvos dedos ligeiros desfizeram o atilho e o embrulho. Ouviu-se então um grito extático de alegria, e depois, ai!, uma súbita mudança feminina para as lágrimas e os gemidos, que exigiram o imediato emprego de todos os poderes de consolação do senhor do apartamento.
Pois sobre a mesa jaziam Os Pentes ” o jogo de pentes para cabelos que Della adorara havia muito numa vitrine. Belos pentes, de tartaruga legí­tima, orlados de pedraria ” da cor exata para combinar com seu lindo cabelo. Eram pentes caros, ela o sabia, e seu coração se limitara a desejá-los e a suspirar por eles sem a menor esperança de vir um dia a possuí­-los. E agora pertenciam-lhe, mas as tranças que os anelados enfeites deveriam adornar não mais existiam.
Ela, porém, os apertou contra o peito e, por fim, pode erguer os olhos nublados, sorrir e dizer:
- Meu cabelo cresce tão depressa, Jim!
Jim ainda não vira o seu belo presente. Ela lho estendeu ansiosamente na palma da mão aberta. O fosco metal precioso parecia brilhar com o reflexo do seu jubilante e ardente espí­rito.
– Não é uma beleza, Jim? Vasculhei a cidade toda para achá-lo. Doravante, você terá de ver as horas uma centena de vezes por dia. Dê-me o seu relógio. Quero ver como fica nele.
Em lugar de obedecer, Jim deixou-se cair no sofá, pís as mãos atrás da cabeça e sorriu:
– Della ” disse -, vamos por os nossos presentes de Natal de lado e deixá-los por algum tempo. São lindos demais para poderem ser usados agora. Vendi o relógio para comprar os seus pentes. Que tal se você fritasse as costeletas agora?

O. Henrry

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

ToDoS os DiAs São ÚteiS




Todos os dias são úteis
                              úteros
                              uterótomos

Todos os dias são gráfios
                              gráficos
                       foto-gráficos

Todos os dias são cânhamos
                              cânticos
                              catedráticos

Todos os dias são planos
                              plenos
                              palatáveis

Todos os dias são químicos
                              quilos
                              quilométricos

Todos os dias são pétalas             
                              pêndulos
                              picuinhas

Todos os dias são frágeis
                              férteis
                              fortalezas

Todos os dias são sóbrios
                              símbolos
                              suportáveis

Todos os dias são prantos
                              pântanos
                              pornográficos

Todos os dias são pés e plantas no chão
Todos os dias são.
 

J Estanislau Filho - Do livro Todos os Dias são Úteis - Edição do Autor - 2009
                 
 

Continuidade dos parques



Tradução ao português de Idelber Avelar


Havia começado a ler o romance uns dias antes. Abandonou-o por negócios urgentes, voltou a abri-lo quando regressava de trem à chácara; deixava interessar-se lentamente pela trama, pelo desenho dos personagens. Essa tarde, depois de escrever uma carta ao caseiro e discutir com o mordomo uma questão de uns aluguéis, voltou ao livro com a tranqüilidade do gabinete que dava para o parque dos carvalhos. Esticado na poltrona favorita, de costas para a porta que o teria incomodado como uma irritante possibilidade de intrusões, deixou que sua mão esquerda acariciasse uma e outra vez o veludo verde e começou a ler os últimos capítulos. Sua memória retinha sem esforço os nomes e as imagens dos protagonistas; a ilusão romanesca ganhou-o quase imediatamente. Gozava do prazer quase perverso de ir descolando-se linha a linha daquilo que o rodeava e de sentir ao mesmo tempo que sua cabeça descansava comodamente no veludo do alto encosto, que os cigarros continuavam ao alcance da mão, que mais além das janelas dançava o ar do entardecer sob os carvalhos. Palavra a palavra, absorvido pela sórdida disjuntiva dos heróis, deixando-se ir até as imagens que se combinavam e adquiriam cor e movimento, foi testemunha do último encontro na cabana do monte.

Antes entrava a mulher, receosa; agora chegava o amante, com a cara machucada pela chicotada de um galho. Admiravelmente ela fazia estalar o sangue com seus beijos, mas ele recusava as carícias, não tinha vindo para repetir as cerimônias de uma paixão secreta, protegida por um mundo de folhas secas e caminhos furtivos. O punhal se amornava contra seu peito e por baixo gritava a liberdade refugiada. Um diálogo desejante corria pelas páginas como riacho de serpentes e sentia-se que tudo estava decidido desde sempre. Até essas carícias que enredavam o corpo do amante como que querendo retê-lo e dissuadi-lo desenhavam aboninavelmente a figura de outro corpo que era necessário destruir. Nada havia sido esquecido: álibis, acasos, possíveis erros. A partir dessa hora cada instante tinha seu emprego minuciosamente atribuído. O duplo repasso sem dó nem piedade interrompia-se apenas para que uma mão acariciasse uma bochecha. Começava a anoitecer.

Já sem se olharem, atados rigidamente à tarefa que os esperava, separaram-se na porta da cabana. Ela devia continuar pelo caminho que ia ao norte. Da direção oposta ele virou um instante para vê-la correr com o cabelo solto. Correu, por sua vez, apoiando-se nas árvores e nas cercas, até distinguir na bruma do crepúsculo a alameda que levava à casa. Os cachorros não deviam latir e não latiram. O mordomo não estaria a essa hora, e não estava. Subiu os três degraus da varanda e entrou. Do sangue galopando nos seus ouvidos chegavam-lhe as palavras da mulher: primeiro uma sala azul, depois uma galeria, uma escada carpetada. No alto, duas portas. Ninguém no primeiro quarto, ninguém no segundo. A porta do salão, e depois o punhal na mão, a luz das janelas, o alto encosto de uma poltrona de veludo verde, a cabeça do homem na poltrona lendo um romance. 



Julio Cortázar


"Qualquer um que não leia Cortázar está condenado; não lê-lo é uma doença grave e invisível que, com o tempo, pode ter horríveis consequências" Pablo Neruda

terça-feira, 16 de setembro de 2014

KAIRA





O ventre germinou o fruto
           fruta macia
não se preocupa com a algaravia
              ao redor
        alheia não se alia
à desordem de emoções pré-fixadas

                         houve choro e risada
e silêncio...

Não veio do bico da cegonha
          veio das entranhas
     da mais pura inocência
    para perpetuar a espécie
espalhar e gene de seus ancestrais...

            Chegou para ficar
            amar e ser amada.
É assim que a vida segue
               na chegada
          do fruto do ventre
          na ágora de agora
         
         Que mistérios tem Kaira...


J Estanislau Filho 



Kaira, descendente de Junya Paula, poeta e amiga.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

A Biodiversidade é divertida












(Para Isabela, Lorena, Fernanda, Raul e a todos e todas que amam e preservam a natureza).








Na lagoa dos marrecos ouvi um reco-reco no meio dos trecos!

Na lagoa dos ingleses vi gatos siameses amando há meses!...

Na lagoa dos nordestinos brincavam dois meninos de tocar um, dois, três sinos?

Na lagoa dos pardais voavam seis animais parecidos demais!?

Na lagoa dos patinhos construíram muitos ninhos de canarinhos...

Na lagoa dos patos quinze ratos correram para o mato!!!

Na lagoa dos mosquitos ecoou um grito meio aflitoooooo.....!


Na lagoa das borboletas tinha muitas violetas sorrindo para uma ave preta.


Na lagoa das formigas aconteceu uma briga nas folhas das urtigas...!!!


Na lagoa dos cupins uma lagarta ficou afim das folhas do jasmim!!!...


Na lagoa das rãs Isabela foi de manhã colher lindas maçãs...???


Na lagoa dos sapos corre um boato: uma cadela amamenta um gato.


Na lagoa dos peixes não há quem não deixei muitos enfeites...


Agora andam dizendo que a lagoa vai secar!

Que calamidade...
Destruir a biodiversidade!?




sexta-feira, 12 de setembro de 2014

MÃOS QUE AFAGUEI




A primeira mão que afaguei foi a de minha mãe.
Esta primeira carícia foi uma delícia, um êxtase.
Mamãe sorriu, enquanto acariciava-lhe a mão e sugava o leite.

As mãos de meu pai, ríspidas e insípidas, causaram-me estranheza.
A afagá-las tive a primeira experiência de rudeza.
Aprendi que nas mãos de calos podem ter enfeites.

Afaguei mãos amigas, que me conduziram nos caminhos da vida.
Minha professora e primeira mão que afaguei com paixão,
Que de tão macias pareciam polidas.

O nome dela era Iracema, para mim a virgem dos lábios de mel,
Não tinha os cabelos negros como as asas da graúna, nem ídia era.
Foi meu amor juvenil, um sonho, uma quimera.

Amei Terezinha, colega de escola, cujas mãos sequer peguei,
Por ela andei perdido em doces devaneios...
Tinha as coxas mais lindas e pequeninos seios. 

Paguei para afagar as mãos de muitas putas,
Que me lançavam olhares de comércio ligeiro,
Que não me satisfaziam, não me deixavam inteiro.

Mãos clandestinas estenderam-me livros proibidos,
Escritos por mãos libertárias e que li com voracidade
E me ensinaram o amor pela humanidade.


Depois afaguei com o amor mais puro e sincero
As mãos  da mulher, companheira, amor sereno,
Que fizeram os meus dias plenos.

Assim aprendi, que o amor dos pais
São feitos de palavras e de sinais,
Que entendemos quando temos filhos.

Quando afagamos suas mãozinhas
Vemos em suas palmas tênues linhas,
Que são seus caminhos, seus trilhos.

J Estanislau Filho


Do livro Todos os Dias são Úteis- Edição do Autor - 2009

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

SETEMBRO





Quero mar amar e sorrir
Não quero a vida por um triz
Quero ver a luz refletir
Em setembro serei feliz

A primavera esplendorosa
Me conduzirá pelas mãos
E uma força misteriosa
Que faz nascer da terra o grão

Com um sorriso d' outro mundo
Espalhará cores diversas
Nas dores humanas dispersas

E no intervalo d' um segundo
Os belos sonhos que ora lembro
Realizaram-se em setembro.

J Estanislau Filho

Soneto do livro Todos os Dias são Úteis - Edição do Autor - Esgotado.

Quem tem medo de mulher segura?





Nathali Macedo










Reza a lenda que homem tem medo de mulher segura. Que corre dez léguas quando vê uma moça que racha a conta do restaurante, sai sozinha sem precisar de guarda-costas, dorme o sono dos justos mesmo que não haja uma conchinha aconchegante e se equilibra no salto agulha sem precisar de uma mão firme que a auxilie.

Desconfio – apenas desconfio, por que estou longe de sabê-lo de fato – que os únicos homens que perpetuam este discurso são aqueles que não compreendem o próprio potencial (ou, eventualmente, não o possuem, mesmo).

Um grande homem não se sente atraído pela mulher que se contenta em estar “por trás” dele. Ele compreende que grandes mulheres caminham ao lado. Um homem de verdade não se importa com o fato de sua mulher ganhar mais – porque ele compreende uma verdade tão simples quanto ininteligível para alguns: relacionamentos não são olimpíadas.

Ninguém se relaciona pra provar quem tem mais beleza, mais dinheiro ou mais autoconfiança. Não se trata de uma corrida pra saber quem se importa mais, quem precisa mais, quem valoriza mais. Um companheirismo genuíno não deixa espaço para tais mediocridades – mas só um homem de verdade compreende isto.

Não me cabe rotulá-los, meus caros, mas uma mulher conhece, de longe, aqueles que são homens de verdade e os que só carregam um pau no meio das pernas (assim como, que fique claro, nem todas que carregam um par de peitos são mulheres de verdade, no sentido meritório da expressão).

É que um homem de verdade compreende a liberdade de sua companheira para ser quem ela é. Veja bem, ele não concede esta liberdade – porque esta já pertence a todos nós, homens e mulheres, por direito – ele apenas a compreende, coisa que muitos simplesmente não conseguem. Um homem verdadeiramente admirável não se importa em marcar território. Ele não liga se sua companheira sai sozinha, bebe e mostra o corpo. Ele compreende, sobretudo, que se importar não vai adiantar, porque nós pertencemos a nós mesmos. Todos nós.

Grandes homens não se importam se suas companheiras são belas, ou admiradas, ou desejadas demais. Ao contrário, sentem-se felizes por terem sido escolhidos – desde que respeitados, evidentemente. Eles não fazem questão de esconder suas companheiras dos olhos gaviões, e nem de exibi-las como troféus – eles apenas desfrutam da sorte de um amor tranquilo, em que cada um se deixa a vontade, em que cada um compreende ao outro como a si mesmo.

São lamentáveis estes homens que vivem tentando conter suas companheiras, vivem tentando evitar que elas conheçam a vida porque, conhecendo-a, descobrirão o quanto há coisas infinitamente melhores do que a relação enfadonha que vivem. Um homem que confia no próprio taco – literalmente, em alguns casos – certamente será sempre a prioridade. E se não o for, saberá prosseguir, com a certeza de que um dia o será para alguém.

Os homens que admiramos querem para nós a mesma liberdade que querem para si. A mesma evolução, o mesmo sucesso, os mesmos direitos. Os homens que admiramos lutam conosco. Não nos travam o riso, não nos ajeitam o vestido, não nos controlam o porre ou o vocabulário, não nos exigem comportamento padrão. Eles apenas nos deixam estar.

Chegará o dia – para algumas, já chegou – em que medir forças com a nossa liberdade será um fiasco na vida amorosa de qualquer homem. Por que nós, cada vez mais, optamos por nós mesmas. Portanto, se queres ser este homem, que nos acelera o coração e nos instiga os sentidos, ouça o bom conselho do Chico: deixe a menina sambar em paz.


Sobre o Autor
Atriz por vocação, escritora por amor e feminista em tempo integral. Adora rir de si mesma e costuma se dar ao luxo de passar os domingos de pijama vendo desenho animado. Apesar de tirar fotos olhando por cima do ombro, garante que é a simplicidade em pessoa. No mais, nunca foi santa. Escreve sobre tudo em: facebook.com/escritosnathalimacedo

Extraído do Diário do Centro do Mundo.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

seios




lua cheia
de desejo
pousei meus lábios
em teu seios
[sei-os ardentes]
rocei-os
docemente
sem receios
[cheio
de desejos]
no roçar da língua
não titubeei
beijei-os
lambi-os

o céu de minha boca se encheu de estrelas...

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Alguns haikais

                                     


                     
                acenda a luz de leve
      eu lhe mostro uma beleza
               a bola de neve

                                 Bashô

        stop.
        A vida parou, 
        Ou foi o automóvel?

                        Carlos Drummond de Andrade


                                               de mim
                                          inscrevam aqui
                                                adorava
                                          haikai e caqui

                                                  Shiki 

                                   - garçom, mais uma dose!,
                     coração doendo
                     de amor e arteriosclerose

                                           Paulo Leminski


                      

do orvalho
nunca esqueça
o branco gosto solitário

           Bashô


                          esta noite
                          eu corro

                          nenhuma pedra
                          pra jogar no cachorro

Ryota - século XVIII - discípulo de Bashô.




a lua se foi
tristeza

os quatro cantos
da mesa
   
Bashô

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

7 motivos pelos quais Marina Silva não representa a “nova política”




É comum eleitores justificarem o voto em Marina Silva para presidente nas Eleições 2014 afirmando que ela representaria uma “nova forma de fazer política”. Abaixo, sete razões pelas quais essa afirmação não faz sentido:

1. Marina Silva virou candidata fazendo uma aliança de ocasião. Marina abandonou o PT para ser candidata a presidente pelo PV. Desentendeu-se também com o novo partido e saiu para fundar a Rede -- e ser novamente candidata a presidente. Não conseguiu apoio suficiente e, no último dia do prazo legal, com a ameaça de ficar de fora da eleição, filiou-se ao PSB. Os dois lados assumem que a aliança é puramente eleitoral e será desfeita assim que a Rede for criada. Ou seja: sua candidatura nasce de uma necessidade clara (ser candidata), sem base alguma em propostas ou ideologia. Velha política em estado puro.

2. A chapa de Marina Silva está coligada com o que de mais atrasado existe na política. Em São Paulo, o PSB apoia a reeleição de Geraldo Alckmin, e é inclusive o partido de seu candidato a vice, Márcio França. No Paraná, apoia o também tucano Beto Richa, famoso por censurar blogs e pesquisas. A estratégia de “preservá-la” de tais palanques nada mais é do que isso, uma estratégia. Seu vice, seu partido, seus apoiadores próximos, seus financiadores e sua equipe estão a serviço de tais candidatos. Seu vice, Beto Albuquerque, aliás, é historicamente ligado ao agronegócio. Tudo normal, necessário até. Mas não é “nova política”.

3. As escolhas econômicas de Marina Silva são ainda mais conservadoras que as de Aécio Neves. A campanha de Marina é a que defende de forma mais contundente a independência do Banco Central. Na prática, isso significa deixar na mão do mercado a função de regular a si próprio. Nesse modelo, a política econômica fica nas mãos dos banqueiros, e não com o governo eleito pela população. Nem Aécio Neves é tão contundente em seu neoliberalismo. Os mentores de sua política econômica (futuros ministros?) são dois nomes ligados a Fernando Henrique: Eduardo Giannetti da Fonseca e André Lara Rezende, ex-presidente do BNDES e um dos líderes da política de privatizações de FHC. Algum problema? Para quem gosta, nenhum. Não é, contudo, “uma nova forma de se fazer política”.

4. O plano de governo de Marina Silva é feito por megaempresários bilionários. Sua coordenadora de programa de governo e principal arrecadadora de fundos é Maria Alice Setúbal, filha de Olavo Setúbal e acionista do Itaú. Outro parceiro antigo é Guilherme Leal. O sócio da Natura foi seu candidato a vice e um grande doador financeiro individual em 2010. A proximidade ainda mais explícita no debate da Band desta terça-feira. Para defendê-los, Marina chegou a comparar Neca, herdeira do maior banco do Brasil, com um lucro líquido de mais de R$ 9,3 bilhões no primeiro semestre, ao líder seringueiro Chico Mendes, que morreu pobre, assassinado com tiros de escopeta nos fundos de sua casa em Xapuri (AC) em dezembro de 1988. Devemos ter ojeriza dos muito ricos? Claro que não. Deixar o programa de governo a cargo de bilionários, contudo, não é exatamente algo inovador.

5. Marina Silva tem posições conservadoras em relação a gays, drogas e aborto. O discurso ensaiado vem se sofisticando, mas é grande a coleção de vídeos e entrevistas da ex-senadora nas quais ela se alinha aos mais fundamentalistas dogmas evangélicos. Devota da Assembleia de Deus, Marina já colocou-se diversas vezes contra o casamento gay, contra o aborto mesmo nos casos definidos por lei, contra a pesquisa com células-tronco e contra qualquer flexibilização na legislação das drogas. Nesses temas, a sua posição é a mais conservadora dentre os três principais postulantes à Presidência.

6. Marina Silva usa o marketing político convencional. Como qualquer candidato convencional, Marina tem uma estrutura robusta e profissionalizada de marketing. É defendida por uma assessoria de imprensa forte, age guiada por pesquisas qualitativas, ouve marqueteiros, publicitários e consultores de imagem. A grande diferença é que Marina usa sua equipe de marketing justamente para passar a imagem de não ter uma equipe de marketing.

7. Marina Silva mente ao negar a política. A cada vez que nega qualquer um dos pontos descritos acima, a candidata falta com a verdade. Ou, de forma mais clara: ela mente. E faz isso diariamente, como boa parte dos políticos dos quais diz ser diferente.

Há algum mal no uso de elementos da política tradicional? Nenhum. Dentro do atual sistema político, é assim que as coisas funcionam. E é bom para a democracia que pessoas com ideias diferentes conversem e cheguem a acordos sobre determinados pontos. Isso só vai mudar com uma reforma política para valer, algo que ainda não se sabe quando, como e se de fato será feita no Brasil.

Aécio tem objetivos claros. Quer resgatar as bandeiras históricas do PSDB, fala em enxugamento do Estado, moralização da máquina pública, melhora da economia e o fim do que considera um assistencialismo com a população mais pobre. Dilma também faz política calcada em propósitos claros: manter e aprofundar o conjunto de medidas do governo petista que estão reduzindo a desigualdade social no País.

Se você, entretanto, não gosta da plataforma de Dilma ou da de Aécio e quer fortalecer “uma nova forma de fazer política”, esqueça Marina e ouça Luciana Genro (PSOL) e Eduardo Jorge (PV) com mais atenção.

De Marina Silva, espere tudo menos a tal “nova forma de fazer política”. Até agora a sua principal e quase que única proposta é negar o que faz diariamente: política.


Lino Bocchini  em Carta Capital