sexta-feira, 17 de junho de 2016

de quem é a culpa?

Poema-reflexão

foi cruelmente surrado na infância
por motivos fúteis
bloqueou a consciência.

ao ser estuprado chorou
e levou cuspe no rosto
ergueu as calças e se calou

alguém ateou fogo no pasto
e para se ter uma ideia
levou surra por ação alheia

viver não lhe dava sorte
o que mais doía não era o açoite
era sentir-se boi de corte

sofreu nas mãos da polícia
levou chutes de botas
por pouco o crime o alicia

a adolescência foi perda total
dessa forma adulto se mostra
para o convívio social

pensa pensa como pode
viver uma vida sem ódio
é na velhice que ele explode

vai apodrecer nas grades
foi pego à luz do dia
praticando pedofilia.

J Estanislau Filho




LIVRO, UM PRESENTE INTELIGENTE!!!









J Estanislau Filho






Poema que integra o livro Palavras de Amor - 2010 - Esgotado. É possível encontrá-lo em www.biblioteca24horas.com ou no site da Estante Virtual e ainda na Livraria Cultura. Também em Amazon






sábado, 11 de junho de 2016

José




E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?



domingo, 5 de junho de 2016

amor e ódio



Ao dar mutuamente a palavra de honra, que não tornariam público suas relações amorosas, decidiram, em conluio plantar um jardim, para selar o pacto. Sonhavam ver seus caminhos juncados de flores e em volta o chilreio dos pássaros.
Caminhavam de mãos dadas pelos parques, sorrindo e se beijando. Sentavam-se nos bancos das praças arborizadas, observando atentamente a fonte luminosa e os passantes.
Cego de amor, ele prometeu ir até o sol e trazer acesa a tocha, para aquecer seus dias. Ela prometeu acender círios coloridos pela casa, todas as noites, para que o breu não os impedisse de ver o brilho de seus olhos. Ele garantiu que iria ao fundo mar capturar um cavalo-marinho e o colocaria em um aquário, para o sortilégio de uma felicidade a dois.
Todavia a névoa chegaria impedindo-os de vislumbrar olhares oblíquos, dissimulados, gestos de fastio.
Dos sussurros nos ouvidos percebiam-se orgasmos fingidos...
No jardim as flores murchavam.
Os círios foram se apagando um a um.
O brilho dos olhos foi substituído pela palidez.
O sorriso, outrora, espontâneo transformou-se em arremedo.
As palavras tornaram-se ásperas, insípidas.
Agora o mundo inteiro ouvia as pragas mútuas.
A honra fora substituída pela desonra.
O amor em ódio.


Esta crônica está no livro Crônica do Amor Virtual e Outros Encontros, à venda no site da editora Protexto: www.protexto.com.br

No ar o meu último lançamento. Dois livros em um: A Moça do Violoncelo (contos de mistério) - Estrelas (poesias). Aos interessados, façam contato.


LIVRO, UM PRESENTE INTELIGENTE!!!