segunda-feira, 27 de março de 2023

Anjo das Trevas

Imagem: Google




Eu sou aquele
que em noite de lua cheia
vira mula-sem-cabeça...
Que em noite escura vagueia
como um cão danado.
Anjo das trevas
sugando suas reservas.
Nos escombros te assombro
com minha língua de fogo.
Chupo artérias
Quebro dentes
Sou o monstro
Que não tira férias.

J Estanislau Filho

sábado, 25 de março de 2023

“Episódio Moro” revela: Direita já busca repertório para um novo Golpe de Estado

Por Eduardo Morelli


As peças do tabuleiro já começaram a se mexer na guerra que se trava no Brasil, conflito iniciado há praticamente dez anos. Partindo das Jornadas de Junho de 2013 como parâmetro do início deste acirramento das tensões históricas, sociais e econômicas do Brasil, já podemos estabelecer alguns critérios analíticos fundamentais para tornar a complexa realidade brasileira em algo inteligível. E este conflito se dá naquele que é um dos países mais importantes do Mundo atual, membro dos BRICS e completamente imbricado numa disputa internacional de poder. Isso significa que os acontecimentos políticos domésticos não são fenômenos isolados, também estão subordinados ao aumento das tensões geopolíticas internacionais. Este dado é importante de ser colocado em relevo porque muitos brasileiros não possuem uma visão ampla do quadro político brasileiro.

É claro que, assim como em qualquer sociedade contemporânea Mundo afora, as lutas dos variados interesses materiais da população brasileira se manifestam no emaranhado de situações-problema nas altas esferas do poder institucional. Entretanto, o que foge ao olhar de muitos é que os conflitos locais estão interconectados com um quadro geral, de natureza geopolítica.

A percepção de que a Direita reagiria cedo ou tarde de maneira articulada para derrubar todo e qualquer governo de inclinações populares ou nacional-desenvolvimentistas já é de conhecimento da Esquerda muito antes do desfecho das Eleições de 2022. Se preferir, para a maioria dos historiadores, essa noção já é compreendida “desde sempre”. No que se refere ao entendimento político mais recente da parte mais consciente da população brasileira, o esclarecimento de que impera uma luta de classes regional e global vem desde a experiência histórica vivida com o Golpe de Estado de 2016 (hoje reconhecidamente um dos maiores casos internacionais de Guerra Híbrida aplicada num país do porte e magnitude do Brasil). E como toda e qualquer Guerra Híbrida (conceito importantíssimo na política contemporânea) as manobras políticas mobilizam não somente um número gigantesco de articulações e vetores de ação como também apresentam um custo total ao Capital financeiro considerável. Ainda assim, um Golpe de Estado via Guerra Híbrida costuma ser muito mais barato e prático que um Golpe Militar clássico que é uma modalidade de ruptura vista como defasada (pelo menos este é o entendimento que o Pentágono tem da guerra global desde ao menos a década de 1990). No período pós-Guerra Fria, um Golpe Militar clássico é jogada arriscada e perigosa pela instabilidade que esta pode desencadear e os custos físicos e materiais dela decorrentes.

Na era da Guerra Híbrida, mais do que a ameaça física para impor os interesses da classe dominante sobre a classe dominada (a classe trabalhadora no seu geral), o grande ativo não é apenas o monopólio da ameaça física propriamente dita e sim o controle da opinião pública. Ganhe a opinião pública e jogue com ela, atire-a contra seus adversários e manobre a situação por meio dos vetores já existentes e vistos como soft power como imprensa, algoritmos de redes sociais, Congresso e Sistema Judiciário. Controlar e manobrar todo este corpo de informação e ação (um controle que somente as elites econômicas dispõem) é a grande sacada para atingir os objetivos almejados. O Golpe de Estado de 2016 que teve por objetivo interromper a revolução silenciosa que se delineava no Brasil rumo a um caminho de soberania nacional, maior distribuição de renda, direitos sociais em ascenso, desenvolvimento de infraestrutura e até mesmo autoestima da população foi uma Guerra Híbrida que não se estabilizou por completo. Tanto não se estabilizou que parte da Burguesia se viu obrigada a recuar para impedir que a crise do Golpe levasse o país a desmoronar numa convulsão social generalizada. E quando falamos em “desmoronar” não há melhor exemplo a ser citado que o próprio ex-Juiz responsável pela Operação Lava-Jato, Sérgio Moro que desmoronou perante a opinião pública e até mesmo dentro da esfera do Direito quando o escândalo da “Vaza-Jato” foi revelado, ou seja, a Operação Lava Jato como já se suspeitava era um jogo de cartas marcadas idealizada pelo Departamento de Justiça dos EUA em parceria com setores brasileiros dispostos a derrubar o governo do PT e prender o principal líder de esquerda do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva. Ocorre que o escândalo embora abafado em partes contribuiu também para o desgaste e derretimento da situação do Brasil após o Golpe de 16. Diante disso era melhor esfriar o ambiente antes que a coisa saísse do controle. Provavelmente é exatamente isso que setores da Burguesia golpista calcularam quando decidiram apoiar Lula e não Bolsonaro nas Eleições de 2022.

Ocorre que as Eleições passaram e a descompressão do ambiente se fez presente. Em que pese os ocorridos de 8 de janeiro (tentativa constrangedora de Golpe de setores alucinados) a Grande Burguesia calcula que a melhor alternativa para o momento é aguardar a conjuntura para uma nova ofensiva. Entretanto, para preparar e pavimentar a estrada para esta nova ofensiva é necessário colocar em marcha os ingredientes para escrever um novo roteiro. Tão logo o segundo turno do pleito eleitoral de 2022 passou e grandes veículos monopolistas de comunicação como CNN Brasil e num grau mais tímido o Império Globo já começaram, da noite para o dia, a mobilizar uma narrativa de desestabilização do governo Lula. O movimento repentino de mudança na tônica editorial destes jornais foi tão chamativa que o governo Lula não tardou a perceber que está novamente no centro do olho do furacão e tenta responder as provocações da mídia hora de maneira cautelosa e estratégica ou hora de maneira direta e assertiva. Não houve até o momento uma única semana sem que estes grandes veículos de comunicação não pautassem riscos de “rombo fiscal” do governo Lula com o objetivo de jogar o telespectador desinformado médio (o famoso palpiteiro de condomínio paulistano) contra o Partido dos Trabalhadores.

Junto com esta série de ataques semanais, o Banco Central sob o controle de um dos remanescentes do Bolsonarismo no poder – Roberto Campos Neto – utiliza o órgão público para corroer o governo Lula por dentro a partir da injustificada Taxa de Juros a 13%, uma das maiores do Mundo sem que haja a real necessidade disso. Mas o sinal de que a ofensiva deve ser agora intensificada partiu após a recente entrevista de Lula ao portal de esquerda TV 247. A entrevista acompanhada de perto pelo poder econômico brasileiro que pressiona dia e noite por uma “âncora fiscal” do governo, Lula demonstrou publicamente todo o seu descontentamento com os setores que o golpearam e o encarceraram. Falando com a audiência do 247, uma audiência grande e crítica que cresceu muito no período do Golpe de 16, Lula indicou que tomará medidas assertivas contra a privatização da Eletrobrás e, para desespero dos setores que apoiam os EUA, indicou que irá novamente estreitar os laços do Brasil com a Rússia e a China (relação que estava em baixa desde o Golpe de 16 coordenado pelos EUA). Estas falas não só enfureceram a Burguesia como já provocou a primeira grande ofensiva desta, a acusação via insinuações da imprensa de que o Partido dos Trabalhadores teria “relação” com o crime organizado. O episódio de Moro supostamente ameaçado pelo crime organizado é a primeira grande plataforma de sensibilização da opinião pública para agredir Lula e o PT. Esta é uma tática velha mas que a Burguesia ainda vê como promissora haja visto que muitos brasileiros médios incapazes de entender a luta que se trava no país ainda são altamente vulneráveis a cair nesta armadilha moral que é acreditar nesta “trama policialesca” de que o PT teria conluio com PCC e etc. Reparem que se trata mais uma vez da velha tática que já foi vista nos episódios do sequestro de Abílio Diniz em 1989 (em plena corrida Eleitoral de 1989) e do episódio do assassinato de Celso Daniel pelo crime organizado, ou seja, martelar dia e noite uma suposta vinculação de Lula com a bandidagem. Estas palavras fortes e de efeito soam como feitiço aos ouvidos da classe média idiotizada do país.

Mas ao contrário do Golpe de 2016, a Burguesia terá que remar muito para conseguir um novo Golpe via Guerra Híbrida. A experiência que os brasileiros conscientes e politizados já tiveram de 2016 foi didática e valiosa, a experiência serviu para desnudar a fábrica de mentiras e manipulação de vários setores do país que tentam levar o Brasil para o abismo em meio a tensões geopolíticas internacionais cada vez mais críticas. Não passarão!


Fonte: https://www.apostagem.com.br/2023/03/25/episodio-moro-revela-direita-ja-busca-repertorio-para-um-novo-golpe-de-estado/ 

 

quarta-feira, 22 de março de 2023

Pensamentos Mortais - terceira temporada


 Soterrados 27


Uma montanha de terra silenciou pessoas que tinham  vidas pela frente. Acontece sempre em períodos de chuva. A natureza é imprevisível.


Imagem: Google


1 – S onhavam seus sonhos e não
2 – O uviram quando a
3 – T erra tremeu
4 – E não acordaram a tempo de
5 – R ealizarem seus projetos de vida
6 – R achaduras no solo
7 – A nunciavam um possível
8 – D eslizamento como de fato
9 – O correu
10  S oterrando muitos e vitimando 10 vidas em 16 de janeiro de 2003. 


28 Tubarões


Imagem: Google

Tubarões seguem seus instintos, muitas vezes famintos. Não podemos invadir seus habitats 


Corrupção 29


Imagem: charge do Berzé

A corrupção é responsável por muitas mortes.  A maioria das pessoas só a percebe na política, quando ela está em vários setores da sociedade: no sistema de justiça; nas forças armadas; nas empresas e seus grandes negócios; no sistema financeiro; no comércio;  no agro negócio, nas famílias, etc. 


Desarmamento 30


Imagem: Google


Menos armas de fogo nas mãos das pessoas pode diminuir os assassinatos, mas para reduzir de forma sólida, apenas com a redução da desigualdade social. 


Trânsito 31


Imagem: Google

O que fazer diante dos acidentes, mortais, inclusive, nas estradas e ruas da cidade?


Tráfico 32


Imagem: Google

Fala-se muito em tráfico de drogas e pouco de outros tráficos, como o de órgãos humanos, exploração sexual, trabalho escravo e o tráfico de joias e de armas. 


Morte com arte 33


Imagem: Google

Morte com arte, 
assim, sem dor?
Que ninguém mate
nem com uma flor!


Morrer de amor 34

Imagem: Acervo do autor

Morrer de amor,
alguém merece?
Viver, melhor sem dor
Morte, vê se me esquece!


Desabafo 35


Imagem: acervo do autor

Não aguento mais tantas mortes, desabafo com os meus botões. 
Falando de mortes de política, futebol e religião,
meus botões fazem ouvidos moucos. 


Unhas mortas 36




Imagem: Google


João Batista consultou uma pedóloga para curar algumas unhas combalidas. O diagnóstico foi desanimador:

- Nada pode ser feito, João. Estão mortas!
- Não imaginei que elas morreriam antes de mim, respondeu Batista com um leve sorriso irônico. 


Vírus 37


Imagem: Google

A ciência conseguirá deter o vírus?  Empiricamente falando, tenho cá minhas dúvidas. Por ser mutante, ele parece ser imortal. 


Terrorismo 38



Imagem: Google

O terror pode acontecer sem explodir uma bomba. Basta fundar um banco. 


Notícias falsas 39


Imagem: Google


Notícias falsas matam reputações.  Fala-se em punir quem as espalham nas redes sociais. Vale também pra Globo, Record, Folha, Veja, Jovem Pan,  entre outros veículos de comunicação? 


domingo, 19 de março de 2023

Pensamentos Mortais - Segunda Temporada

Plano funerário 14


Imagem: Google

Divino é um cidadão precavido.  Adquiriu um plano funerário assim que se aposentou.

     - Não quero dar trabalho aos meus filhos e não gosto de depender de ninguém - dizia, coçando a testa. 

     - A gente sempre depende de alguém - retrucou João -, do gari, da enfermeira, do motorista...

     Ao falecer, Divino não se usufruiu do plano. A funerária falira, sem que ele soubesse. 


Cuidando da herança 15


Imagem: Google-Zé do Caixão

Não querendo desarmonia entre os herdeiros, Divino providenciou a regularização da papelada, repartindo a herança, em vida.

     João Batista pensa de outra forma. Prefere que os filhos cheguem a um acordo. Não quer se aborrecer com os trâmites jurídicos. 


Fardos 16


Imagem: charge do Berzé

Há quem goste de carregar fardos desnecessários a ponto de andar com os ombros caídos.  João diz que prefere caminhar com leveza. 

Por isso deixa pelo caminho muitos fardos. 


A morte pede carona 17


Imagem: Google

O título acima é de um filme que vi faz tempo. Não me recordo o conteúdo, mas o título não me sai da cabeça. Trata-se de um assassino que ficava nas estradas, pedindo carona, para satisfazer seu instinto assassino. 

     Tem carona comigo não, Dona Morte. Ou será Senhor Morte?


Asilo 18


Asilo São Vicente/Imagem: Google

João Batista  pensa  em quem cuide dele na velhice. A ideia é morar num asilo. Pensa até numa vila, ou condomínio construído para idosos. Mas não sabe se terá condições de arcar com as despesas, num condomínio. 


Vulneráveis 19


Imagem: Google

Moradores de ruas convivem com o perigo dia e noite.  Além das intempéries, com pessoas que os odeiam e os matam.  Quando é que os moradores em situação de ruas serão respeitados?


A morte da floresta 20


Imagem: Google

É de partir o coração ver uma floresta morta pela sede de lucro. Acontece com muitas pelo mundo, como a floresta amazônica, que vem sendo assassinada. 


Algas 21


Aguapé-imagem: Google

Elas podem matar a vida aquática. Por outro lado, podem servir de alimentos e uso medicinal. Seus talos são ricos em minerais. 

     Um paradoxo: o que mata, também pode salvar. 


Patriarcado 22


Imagem: Google

O patriarcado encontra-se em seus últimos estertores. Como a barata, que continua batendo as patas, mesmo depois de morta. 


Mulheres 23


Marcha das Margaridas/CUT

Com a morte do patriarca, novos paradigmas estão em construção,  com a força mulheres. 


Liberdade de expressão 24



Imagem: Google


Não confunda liberdade com libertinagem. A liberdade de expressão não pode interditar a liberdade do outro se expressar. 


Uma boa causa 25


Meu neto Raul

Sem dúvida, que defender os animais é uma boa causa. É a defesa de quem pouco pode se defender de maltrato.  


Moral da história 26



Imagem: Google

Mais vale um pássaro voando, que duas mãos que engaiolam.




Serra dos Órgãos - Teresópolis/RJ

quinta-feira, 16 de março de 2023

Pensamentos Mortais

 


Somos tão jovens


Entre as certezas que temos, uma é de que vamos morrer.  Há quem não acredite em morte. Que a vida aqui é uma passagem para outro plano.  Será?

     João Batista não pensa assim. Afirma, convicto,  de que a morte é o fim. Que mais cedo ou mais tarde ela virá para todo mundo. Para o mundo, inclusive.  E enquanto ela não vem, vamos vivendo o melhor que pudermos.  Não apressemos a chegada da morte.  Ainda somos tão jovens. 


Árvores




Árvores também morrem. E há os assassinos de árvores. Elas deveriam  morrer apenas de velhice,  ou no máximo de causas naturais, assim como todos os seres. 

     Podem virar lenhas depois de mortes naturais, ou virar alimento para cupins. Em seus troncos mortos brotam fungos. 


A sabedoria




A sabedoria é relativa na velhice, diz João Batista. E rara, completa com ar de mestre. Por causa da memória, que na maioria dos velhos, falha!

João  é taxativo. 


A morte das flores





As flores quando envelhecem, perdem o viço e caem, formando um tapete sob os pés das plantas.  As pessoas varrem, como se fossem sujeira.

     Esse fenômeno acontece também com a folhas. 


Fome




Há mortes por fome. Como isso pode acontecer? Toneladas de alimento são descartadas todos os dias, para o controle de preços.  Nos aterros sanitários, gente entre bichos tentam sobreviver.  


Oceanos




Uma reportagem revelou o que deveríamos saber e evitar:  que os oceanos estão cheios de plásticos, ocasionando a morte das espécies marítimas. 

     Vão morrer um dia, de qualquer forma, afirma João Batista.   Calma, João, mortes podem ser adiadas. 


Os rios também morrem




Os rios deveriam ter vida eterna, mas morrem. Inclusive de sede. A punição para os assassinos de rios deveria ser de prisão perpétua.

     Ah, não seja tão radical, antes devem passar por um processo de educação ambiental. Prisão no caso de reincidência. 


A vida é um sopro




Quando se é jovem, muitas e muitos não se preocupam com a velhice.  A vida parece não ter fim. 

     Entretanto, a vida é um sopro!


A morte do eletrodoméstico




Quando menos se espera, ela chega. Sorrateira, sem avisar.

     Já havia acontecido uma vez, com o gás. Acabara repentinamente antes de eu terminar de cozinhar as batatas.  O mesmo aconteceu com o liquidificador. Parou de funcionar antes de terminar de bater a vitamina. 

     Foi morte súbita. 


Um velho atravessava a rua




Com seus passos lentos e visão turva, um velho atravessava a rua. Um jovem motorista colocou o rosto pra fora e gritou:

     - Velho desgraçado, porque não morre logo? E para de atrasar a vida da gente!

     Uma mulher - sempre elas - deu-lhe as mãos e o conduziu para o outro lado da rua. 


Guerras




Numa guerra morre muita gente, mas quem a provocou, geralmente se safa.  Ao menos por um tempo. Pode até não morrer pela guerra em si, mas morrerá de qualquer jeito. 

     Os senhores da guerra também não escapam. A morte é, provavelmente, o acontecimento mais justo. 


A morte das abelhas




 A morte das abelhas  provoca danos  à produção de árvores frutíferas. Isso porque um número reduzido de abelhas resulta em uma menor polinização, o que prejudica o desenvolvimento das plantas.  O risco de extinção, devido ao uso de agrotóxicos, leva ao desequilíbrio dos ecossistemas e perda da biodiversidade. 


Suicídio




"Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio. Julgar se a vida merece ou não ser vivida" (Albert Camus).


João Batista sentenciou: - Quem tira a própria vida é um covarde.

Joana contrapôs: - Ao contrário, é um ato de coragem!


Polêmica à parte, há quem espera pela morte com naturalidade.  E até  quem queira viver mais de duzentos anos. Nas agruras  ou no conforto. E você, o que acha? 


J Estanislau Filho




quarta-feira, 15 de março de 2023

Abin terá que abrir os porões usados por Bolsonaro


Por Moisés Mendes


A denúncia genérica de que a Abin seguia e monitorava inimigos de Bolsonaro tem o valor das coisas óbvias: arapongas estavam fazendo arapongagem.


E a arapongagem, aqui ou na Argentina do tempo de Mauricio Macri, que perseguia Cristina Kirchner, padres, jornalistas, professores, sindicalistas, é tudo a mesma coisa. Arapongas existem para arapongar ilegalmente.


Por isso o valor da revelação será próximo de zero, em meio às denúncias da manhã, da tarde e da noite, se ficar no que denuncia.


A informação, saída de dentro do esquema, é apenas a pista para que se chegue ao que importa para o desvendamento do que eles faziam e para que se saiba quem eram suas vítimas.


O Congresso, com poder de fiscalização sobre atividades do que chamam de inteligência, terá de chegar à identificação dos quem eram vigiados e do que o governo guardava dessa espionagem.


Se a atividade era ilegal, caracterizada como perseguição política para controlar inimigos do fascismo. E se pessoas podem ter sido prejudicadas, precisamos saber quem são essas pessoas.


O senador Randolfe Rodrigues anunciou que vai assumir a tarefa de tentar chegar aos nomes. Quem a Abin vinha seguindo e com que objetivo.


O sistema sabe. Gente de dentro da estrutura, que acompanhava tudo sem poder dizer nada, agora pode.


Há indícios de que a Abin não monitorava apenas as esquerdas. Poderosos do entorno orgânico de Bolsonaro, e não necessariamente de dentro do governo, gente com dinheiro, também estaria sendo vigiada.


Para quê? Para ser chantageada? Para que soubessem que o governo sabia o que eles fizeram no inverno de 2018, quando foi montada a estrutura do gabinete do ódio?


Para que fossem alertados de que seus podres estavam bem detalhados nos cadastros da casa?


Arapongagem também existe para isso, para controlar os movimentos de amigos e para cobrar pedágio, na base do você sabe que eu sei tudo.


É preciso ouvir a opinião de Sergio Moro, agora senador. O ex-juiz criou, como ministro da Justiça de Bolsonaro, a Secretaria de Operações Integradas (Seopi), que combateria o crime organizado. Seria um órgão do sistema de inteligência.


Suspeitou-se depois que a Seopi seria um birô à disposição de Bolsonaro, funcionando como uma espécie de polícia política.


Mas Moro fracassou na missão de proteger a família, tanto que foi demitido e saiu atirando. O ex-juiz deve saber de coisas escabrosas.


Foi a Seopi que criou, em 2020, um dossiê com os nomes de 579 servidores federais e estaduais identificados como militantes antifascistas.


Ninguém nunca mais falou do dossiê, revelado pelo jornalista Rubens Valente na Folha de S. Paulo, em julho de 2020.


As ações da Seopi seriam a contribuição de Moro para que Bolsonaro tivesse um esquema só dele, como acréscimo e sombra ao Gabinete de Segurança Institucional.


Moro deixou a Justiça dois meses antes da revelação da existência do dossiê. Sabia do trabalho criminoso dos arapongas da Seopi?


Também nunca foi investigada a relação de Gustavo Arribas, diretor geral da Agência Federal de Inteligência (AFI), a Abin da Argentina, com o bolsonarismo.


Arribas comandou, de 2015 e 2019, os arapongas que perseguiram os kirchneristas e as esquerdas. Está sendo processado.


O argentino frequentava as altas rodas do gangsterismo e do fascismo brasileiros, com o pretexto de que negociava jogadores de futebol.


A Polícia Federal descobriu que ele recebeu US$ 850 mil de propina de mafiosos brasileiros. Fazia lavagem de dinheiro para quadrilhas de empresas de recolhimento de lixo e recebia propina da Odebrecht por obras na Argentina.


investigações do Congresso e do Ministério Público argentinos descobriram que os arapongas da AFI tinham contato direto com assessores do gabinete de Macri.


Quem era o Arribas brasileiro, no esquema de arapongagem que usava o robô israelense e foi denunciado agora pelo Globo?


Arribas foi denunciado pelos próprios colegas da AFI, em delações que mostraram a estrutura e o funcionamento da agência a mando da direita macrista.


Não só em nome da transparência, mas também em defesa da preservação do que faz e da própria imagem, a Abin terá que provar que agora é outra.


A Abin terá que abrir os porões que eram usados por Bolsonaro, seus arapongas e seus generais para perseguir inimigos e extorquir amigos.


Fonte > https://www.blogdomoisesmendes.com.br/abin-tera-que-abrir-os-poroes-usados-por-bolsonaro/