quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Das Minhas Lembranças 22

Imagem: acervo do autor

A  disputa por uma vaga na Câmara de Vereadores de Contagem, em 1992,  foi  acirrada. Foram mais de mil candidatos.

            A falta de grana, tempo e pernas me levaram a concentrar a campanha no Bairro Industrial, onde morava desde 1980. Enquanto eu fazia a minha campanha à pé, ou de ônibus, outros e outras candidaturas dispunham de carros, inclusive de som, alguns com frotas e comitês com telefones, espalhados pela cidade, distribuindo brindes, como camisetas, bonés, chaveiros, fora os que doavam tijolos, cimento, colchões, dentaduras, entre outras coisas.  Gueber Ferreira mantinha um palco, onde, além de levar a sua mensagem, levava também músicos. Era uma disputa desigual.  O Professor Carlinhos, pela mesma forma,  assim como, principalmente, os que disputavam a reeleição. 

               Meus três únicos boletins, fora os "santinhos" doados pelo partido, somavam pouco mais de 10 mil.  Ainda assim, fazê-los chegar aos eleitores e eleitoras não era fácil.

             Num certo domingo fui à feira do Bairro Amazonas, para uma panfletagem. Não me lembro quem me acompanhou, provavelmente a Raquel Monteiro.  Como  tinha de material de candidatos atirados ao chão! Muito, mas muito mesmo.  Com pouco material, modéstia à parte, de qualidade,  eu não podia distribuir de qualquer maneira. Entregava nas mãos das pessoas, mas antes inquiria se aceitavam ou se já tinham decididos em quem votariam. 

         Além de priorizar o bairro em que morava, a ordem de visitas começava,  primeiro, pelas casas das pessoas conhecidas.  Quanto aos parentes, tinha um problema: Carlos, meu irmão, também era candidato. 

              Uma vez, percorrendo uma rua do bairro, próximo a Vila da Paz, abordei um cidadão. Ao entregar-lhe meu panfleto, ele sorriu educadamente e se apresentou. Era o Toninho de Ibirité, também candidato em Contagem, pelo PDT.  Brincando, eu disse: - vamos fazer o seguinte, você vota em mim, eu voto em você.  Nasceu ali uma amizade que renderia, tempos depois, um convite para eu lançar Crônicas do Cotidiano Popular, em Ibirité, onde ele tinha relações políticas na prefeitura. 

              Em outra ocasião, em visita à casa de uns amigos e amigas desde os tempos da  adolescência e  que eu tinha certeza que votariam em mim, fui informado da candidatura de um parente deles.  Mas dividiriam os votos da família comigo.  Por falar em dividir votos, só saberia algum tempo depois das eleições, que meus passos eram mapeados por um apoiador do Carlim (PCdoB).  As casas que eu visitava, ele visitava em seguida.  Não me difamava, ao contrário.  E pedia pra família dividir o voto com o candidato dele. Carlim se elegeria vereador e anos depois, prefeito de Contagem. 

            Fui ao turno da noite, acompanhado por Divino  e Derly, à portaria da Belgo Mineira, distribuir um boletim especialmente dirigido aos metalúrgicos, afinal eu participara ativamente das lutas sindicais vitoriosas da segunda metade da década de setenta. Lá chegando, encontrei outro candidato metalúrgico, que também aguardava a saída e entrada dos peões. Ele também era candidato, pelo PT, creio.  Ele tentou me convencer a voltar outro dia.  Eu também tentei.  Acabamos fazendo a panfletagem, conjuntamente, democraticamente. 

     No conjunto, a campanha foi, apesar das dificuldades, agradável e de aprendizagem. Houve momentos de muita confraternização e solidariedade, como a ocorrida na casa do amigo Donato Milanez,  que além de me autorizar a colocar uma faixa, acolheu um grupo de apoiadores,  para debater os rumos de minha candidatura e de Nilmário Miranda.


Imagem: acervo do autor
 


J Estanislau Filho