sábado, 29 de maio de 2021

Quem levou a política aos quartéis foram os generais


 

Por Fernando Brito



Embora tenham o direito de estarem indignados com o fato de Jair Bolsonaro fazer gato e sapato da disciplina militar, nossos generais não podem reclamar: foram eles que deram asas à cobra que agora os constringe com o poder que tem.

Faz anos – desde o governo Dilma – que Bolsonaro passou a ser “arroz de festa” em todas as solenidades militares que reunissem tropa, especialmente as solenidades de formaturas. De tudo: cadetes, sargentos, aspirantes…

Todas elas foram transformadas em eventos sindicais compulsórios: ali estava o “herói” que defendia melhores soldos, mais franquias e benefícios e, sobretudo, o “mito” que sustentava a ideia de que uma força armada tenha o direito originário de definir os rumos do Brasil.

Ao mesmo tempo, isso se reproduzia nas polícias militares, com a anuência evidente dos comandos, reforçando as sua aproximação com as milícias, que são um ente paralelo, aceito e consentido, em muitas formações policiais.

Muitos oficiais superiores, comandantes – majores, coronéis e generais – assistiram e patrocinaram comícios dentro de seus quartéis, tendo Bolsonaro como candidato, o que ele é, sem intervalos, desde 1988, quando se elegeu pelos votos amealhados com a ameaça de explodir bombas por melhores soldos para os militares.

Não o teriam feito sem a anuência, ainda que por omissão, do comando do Exército.

O Exército Brasileiro está colhendo, nesta crise, os frutos da transgressão que praticou por anos a fio, com objetivos políticos.

Tem a chance de tomar uma posição que possa começar a corrigi-lo, mas não a terá se fizer uma punição à flagrante transgressão de Eduardo Pazuello, mesmo que tenha de aguentar, com cara feia, uma intromissão presidencial para anulá-la.

Comando não pode ser exercido sem cara feia.


Fonte: https://tijolaco.net/quem-levou-a-politica-aos-quarteis-foram-os-generais/


segunda-feira, 24 de maio de 2021

Prece do Perdão

Imagem: Google


Oh Deus, suplico seu perdão
pelo suplício que causei
às pessoas, aos animais,
ao meu país e aos demais


Peço perdão pelas feridas
que provoquei em meus filhos,
as mágoas que causei às mães
e aos pais


Peço perdão por ter sido omisso
no momento em que as chamas
consumiam a biodiversidade
da Amazônia, do Pantanal


Por minha culpa
minha máxima culpa
peço desculpas
aos povos originários
pelo meu silêncio genocida


Imagem: Google


Peço perdão pela falta de empatia
com os que têm fome e sede
sem uma cama ou uma rede de descanso


Peço perdão aos negros e negras,
por mim e por todos os brancos
e brancas fartos de preconceito


Peço perdão pelo meu egoísmo
ao não doar o carinho do abraço
ao irmão e irmã carentes


Peço perdão aos milhares
de mortos pela Covid
e aos seus parentes e amigos,
por ter sido covarde
no momento em que mais precisavam


Peço perdão pelos que se aliaram
ao vírus mortal em aglomerações,
pela indiferença com os infectados
e com os profissionais de saúde


Oh Deus, conceda-me o perdão
pela falta de consideração aos garis,
que correm riscos às suas saúde,
mantendo as ruas limpas;
pelos trabalhadores de aplicativos,
que nos fornecem o alimento e outros serviços





Imagem: Google


Peço alívio e conforto aos que sofrem
a perda de entes e amigos queridos,
pela crueldade da autoridade máxima,
que não fez sequer o mínimo
para salvar vidas


J Estanislau Filho

sábado, 15 de maio de 2021

amante

Imagem: Google


 amante das árvores
    das flores
das cores do mundo
  amante das aves
do céu e dos galhos
  de folhas verdes
    secas e caídas
    naturalmente
  amante da vida

J Estanislau Filho


Imagem: Google


sexta-feira, 14 de maio de 2021

Das Minhas Lembranças 8


Estamos em 1972, em pleno período do chamado "milagre econômico brasileiro". Enquanto isso, nos porões da ditadura, pessoas são torturadas, mas a imprensa, sob censura ou em conluio, silencia.


A primeira função que exerci na Belgo foi a de estoquista, embora na carteira constasse balanceiro de expedição. Chegara recentemente a Contagem, vindo do interior, e só pensava numa colocação. Trabalhar na Belgo era como ganhar na loteria, me diziam. O emprego me permitiu deixar a casa do meu irmão, Altair, que viera para Belo Horizonte próximo ao início dos anos sessenta. Ele e sua companheira Said me acolheram em sua casa própria, no bairro JK, em Contagem.


Fui apresentado ao meu chefe imediato, Garrido e em seguida tive contatos com os colegas Gerson, Zezinho, Garapa, Expedito, João Reis, Edi, entre outros. Alguns meses depois chegariam o Rui Barbosa e o Nélio. Trabalhávamos no Ponto 1, sendo o chefe do setor, Claudio Penna. O encarregado do outro turno era o Magela, com quem tive um desentendimento tempos depois. Muitas vezes o balanceiro de um turno precisava fazer hora extra, aí ficava sob as ordens de outro encarregado. Meu expediente começara às sete da manhã e já era cerca de 21h quando o Magela se dirigiu a mim aos gritos. As plataformas de carregamento estavam lotadas de carretas, com dois motoristas de empilhadeiras chegando para a pesagem. Abandonei o posto, dizendo a ele que se virasse. Bati meu cartão de ponto e fui embora, deixando-o na "rolha", como dizíamos, ou seja, cheio de trabalho. Cheguei ao trabalho no dia seguinte, com receios de ser demitido, ou de receber alguma advertência.  Mas nada disso aconteceu. O Magela, um encarregado casca grossa, não me dedurou. Enquanto o Garrido, todo sorriso, tapinha nas costas, por qualquer vacilo, levava o caso para instâncias superiores.



J Estanislau Filho


terça-feira, 4 de maio de 2021

Das Minhas Lembranças 7


O que facilitava a minha atuação era o fato de ter exercido por cerca de três anos, duas funções que me permitiam circular pela fábrica e construir uma relação positiva com muitos companheiros. Depois que fui trabalhar no escritório, precisava arranjar um "motivo", pra retornar ao interior da fábrica. Motivos não faltavam.


O fato de trabalhar no escritório me levou uma questão: teria a confiança dos companheiros?


Para conquistar esta confiança, eu não podia vacilar. O mesmo, imagino, acontecia com Berzé. A convicção ideológica foi decisiva para superar minhas dúvidas, inclusive a de perder o emprego. A Belgo tinha cerca de quatro mil empregados e a confiança que estes trabalhadores depositavam em nós, exigia responsabilidades. Seu Joaquim costumava dizer: "a gente entra numa greve, mas muitas vezes não sabemos a hora de parar" e em outro momento, num discurso inflamado, Sálvio Penna encerrou: "Demos a primeira porretada na víbora e ela está zonza, vamos dar a segunda, rumo a vitória".


Imagem: Sávio Penna



Tempos depois, fora da categoria, recebi a boa notícia: a oposição vencera a eleição, e o Sindicato dos Metalúrgicos de BH,  Contagem e Região retornou às mãos de seus verdadeiros representantes. Uma vitória, que remete à luta iniciada pelos trabalhadores da Belgo e da oposição sindical na segunda metade da década de 1970, com a participação de vários companheiros das greves de 1968. 


Por um erro de avaliação, companheiras e companheiros combativos, como Zé Vieira e Mariza Lopes ficaram de fora da nova diretoria. Acreditavam que compondo com João Silveira e Ildeu, ganhariam o sindicato "por dentro".



J Estanislau Filho


Imagem: Berzé