domingo, 27 de setembro de 2020

A OUTRA HISTÓRIA DA TV BRASILEIRA

 



Por Ângela Carrato*


Uma história pode ser contada de diversas maneiras.



Até o momento, os 70 anos da televisão no Brasil, completados neste mês de setembro, têm sido relembrados pelas emissoras exclusivamente pela ótica dos interesses de seus proprietários e anunciantes.


Ao longo de décadas, esses senhores foram criando uma história cor de rosa, em que pioneirismo e improvisação dão o tom inicial e criatividade e competência complementam a saga.
A TV brasileira, essa “jovem senhora” estaria assim mais do que nunca preparada para enfrentar, se adaptar e seguir em frente, apesar dos desafios colocados pela era digital.
Nada mais distante da realidade.


Tão ou mais importante quanto o desafio tecnológico é a mudança de hábito das pessoas para se informar e ter lazer e a crescente perda de credibilidade dessas emissoras.
A guerra travada entre a Globo e a Record, em que uma acusa a outra de corrupção, é o maior exemplo disso.


A TV brasileira tem também uma longa história de defesa dos interesses das elites nacionais e internacionais, de combate aos avanços sociais e de compactuar com governos ditatoriais e autoritários.


Isso sem falar na criação de “factóides”, os precursores nativos das fake news.
Ao surgir pelas mãos do empresário e “entreguista” de primeira hora, Assis Chateaubriand, a TV Tupi se tornou a primeira, mas não a única, adversária da criação de emissoras não comerciais no Brasil.


Se você não sabe o que é uma TV não comercial (conhecida como TV Pública), a responsabilidade também é do tipo de emissora que tomou conta do Brasil.
A influência da TV comercial foi e continua sendo tão avassaladora que seus proprietários, de Chateaubriand à família Marinho, nunca tiveram dúvidas sobre quem manda no país.


ENTRAVES DEMOCRÁTICOS


Apesar de a TV no Brasil ter surgido praticamente na mesma época que em outros países, o processo de sua implantação foi radicalmente diferente.
Mesmo sendo, como em toda parte, uma concessão do Estado, aqui um empresário tomou a frente do processo, implantou, ao arrepio da lei, uma emissora, a TV Tupi de São Paulo, e, com raríssimas exceções, os demais seguiram na mesma toada.
O resultado é que a televisão no Brasil alcançou um poder tal que nenhum governante ousou enfrentá-lo diretamente.


No chamado mundo civilizado, o Brasil é caso único em que sete famílias controlam a TV e toda a mídia corporativa.
Daí a importância de se conhecer alguns (dos muitos) episódios que envolvem a origem e a trajetória nada edificante da TV comercial brasileira, que tanto pioneiros quanto seus atuais dirigentes preferem que continuem desconhecidos.
Esses fatos explicam as razões pelas quais o país tem, na forma como esses proprietários sempre atuaram, um dos graves entraves à democracia.


Ao contrário das “lendas urbanas” envolvendo o pioneirismo de Chateaubriand, sua paixão pela televisão se deve aos interesses de empresários e do governo dos Estados Unidos em vender aparelhos e divulgar o “way of life” para os países latino-americanos.
Chateaubriand só trouxe a ideia para cá depois da viagem que fez aos Estados Unidos a convite de Washington, em 1943, quando, entre outras atividades visitou os estúdios da NBC, onde lhe foi apresentada a “oitava maravilha do mundo”.


Como em política e nos negócios não há coincidência, ele foi o empresário escolhido pelos estadunidenses para introduzir a novidade no Brasil.
Mesmo o entusiasmo de Chateaubriand sendo imediato, ele foi convencido por empresários e autoridades estadunidenses que deveria aguardar o término da guerra.
Era o que pretendia fazer, mas ao retornar ao Brasil se deparou com uma situação pela qual não esperava.


O HERÓI DESCONHECIDO


Chateaubriand tomou conhecimento de que desde o fim dos anos 1930, Edgard Roquette-Pinto, um renomado médico, antropólogo, cientista, professor e humanista, já perseguia o mesmo objetivo, porém por razões totalmente diferentes.


Definido pelo jornalista e professor emérito da UnB, Murilo César Ramos como “o maior, ainda que o mais desconhecido herói da comunicação brasileira”, Roquette-Pinto, que tinha em seu currículo, desde 1923, a criação da primeira emissora de rádio no país, voltada para a educação e a cultura, planejava colocar no ar uma emissora de TV com igual finalidade.


Já Chateaubriand pensava apenas em ganhar dinheiro e se fortalecer politicamente com o novo meio de comunicação.
A longa biografia que o jornalista Fernando Moraes escreveu sobre Chateaubriand (Chatô, o rei do Brasil, 1994) registra a reunião mantida por ele com empresários paulistas tão logo retornou dos Estados Unidos.


Nela apresenta aos seus futuros parceiros o novo projeto, ao mesmo tempo em que lhes pede apoio (leia-se dinheiro) para viabilizá-lo.
Sua justificativa não poderia ser mais direta: “os nossos inimigos que se preparem. Se só com o rádio e jornais os Diários Associados já tiram o sono deles, imaginem quando tivermos na mão um instrumento mágico como a televisão!”


Na época, Chateaubriand já havia se tornado o principal empresário do setor, proprietário de dezenas de jornais e várias emissoras de rádio. Os “inimigos” em questão eram o presidente Getúlio Vargas e seus apoiadores.


Chateaubriand sempre foi contra o nacionalismo de Vargas e as medidas adotadas por ele em defesa dos interesses populares.
Vargas foi derrubado por um golpe militar em 1945, mas como havia muita chance de voltar ao poder em 1950, como acabou acontecendo, Chateaubriand tinha pressa.
Sua preocupação era a de que, outra vez no poder, Vargas pudesse tomar medidas contra a implantação do que considerava a “sua” emissora.


DESPACHANTE DE LUXO


É dentro desse contexto que Chateaubriand atropela os mais elementares processos legais, desde a compra de equipamentos nos Estados Unidos para montar a emissora, até a chegada contrabandeada dos primeiros 200 receptores de televisão.


O então presidente, Eurico Gaspar Dutra, além de conivente com o processo, funcionou como uma espécie de despachante de luxo para os interesses do empresário.
Dutra e sua secretária estavam entre os primeiros da lista a receberem de presente os receptores contrabandeados.


O presidente, inclusive, não se fez de rogado. Instalou o seu no gabinete do Palácio do Catete, mesmo que o sinal ainda demorasse quase um ano para chegar à capital da República.
Em 14 de maio de 1952, com as TVs Tupi, de São Paulo e do Rio, já em funcionamento, Getúlio Vargas concedeu um canal de televisão a Roquette-Pinto. O objetivo era pluralizar o número de emissoras na capital federal.


O que seria um fato normal acabou se transformando em pesadelo para Roquette-Pinto, seus principais auxiliares e para o próprio Getúlio.


Não só os Diários Associados de Chateaubriand redobraram a campanha contra o governo de Getúlio – em vias de criar o monopólio estatal do petróleo e a Petrobras – que acabou levando-o ao suicídio, como a TV Educativa de Roquette-Pinto nunca conseguiu sair do papel.


Apesar de planejada nos mínimos detalhes, de possuir financiamento devidamente aprovado pela Câmara Municipal do Distrito Federal e dos seus equipamentos terem sido comprados e embarcados no porto de Nova York, de onde deveriam seguir para o Brasil, eles nunca saíram de lá.

Num dos episódios mais obscuros envolvendo os primeiros tempos da TV em nosso país, entraves burocráticos retiveram esses equipamentos em Nova York.


O financiamento foi cancelado tão logo os adversários de Vargas chegaram ao poder e Roquette-Pinto morreria amargurado, dois meses após o suicídio de Vargas.


Na raiz dos entraves que impediram os equipamentos de deixar o porto de Nova York se encontravam os muitos amigos que Chateaubriand possuía nos Estados Unidos.


“MINHA REDE CONTRA SEU GOVERNO”


Não foi essa a única vez que Chateaubriand se interpôs no caminho da TV não comercial.
Desde os anos 1940 que a Rádio Nacional, emissora do governo federal, era líder de audiência no país.


Além de noticiários transmitidos para o Brasil e o mundo (em português, espanhol e inglês), a emissora contava com uma vasta programação musical, de entretenimento – foi pioneira nas radionovelas – e também levava ao ar uma programação educativa diária.


A população brasileira adorava a Rádio Nacional e ela tinha ainda outra vantagem: era lucrativa.
Seus balanços mostravam que as finanças iam de vento em popa, a ponto de seus dirigentes, com a chegada da televisão, passarem a reivindicar do governo a concessão de um canal.


Juscelino Kubitschek, eleito presidente da República em 1955, comprometeu-se com a reivindicação. Era mais do que natural que a emissora, líder de audiência e estatal, tivesse um canal de televisão.


O compromisso de JK parecia tão firme, que a direção da Rádio Nacional anunciou, no natal de 1956, que dentro de poucos meses entraria no ar a TV Nacional. Mas quem entrou em ação nesse meio tempo foi Chateaubriand.


Aproveitando uma das viagens que fez com JK, o dono dos Diários Associados tentou convencer o presidente de que não fazia sentido dar um canal de TV para a Rádio Nacional.


Como Juscelino insistisse que havia empenhado a palavra, Chateaubriand não se fez de rogado.
O ator e escritor Mário Lago que, por vários anos, atuou na Rádio Nacional, registra em seu livro de memórias (“Na Rolança do tempo”, 1977) a ameaça direta feita por Chateaubriand a JK:
“Se vossa Exma der o canal de televisão à Nacional, jogo toda a minha rede de rádio, imprensa e televisão contra o seu governo”.


Em julho de 1957, numa atitude que surpreendeu a direção da Rádio Nacional, Juscelino anuncia a concessão de um canal de TV para a Rádio Globo.


Para não desagradar Chateaubriand, o presidente optou por contemplar um tercius, no caso um empresário que não demoraria a despontar como o novo magnata da mídia brasileira: Roberto Marinho.


A PRIMEIRA VÍTIMA


Por ironia do destino, o canal que poderia ter sido a primeira emissora de interesse público no Brasil veio se tornar, em 1965, a TV Globo.


E foi a TV Globo que, em parceria ilegal com o gigante da mídia estadunidense de então Time-Life, burlou a legislação nacional e deu início à escalada para suplantar a concorrência.
A primeira vítima foi exatamente os Diários Associados, de Chateaubriand.


Num episódio que está descrito e documentado em detalhes por Daniel Herz, no livro “A História Secreta da Rede Globo” (2009), Roberto Marinho recebeu financiamento e assessoria técnica para implantar e turbinar a sua emissora.


Tem início aí o propalado “Padrão Globo de Qualidade”, que nada mais foi do que uma parceria vedada pela legislação brasileira. Em outras palavras, um crime.


Chateaubriand e seus principais auxiliares botaram a boca no trombone.
Denunciaram a falcatrua aos quatro ventos, a ponto de o Congresso Nacional criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar o caso.


Presidida por Saturnino Braga, a CPI concluiu que houve realmente violação da lei.
Apesar dos consistentes resultados, o segundo ocupante do ciclo ditatorial, general Costa e Silva, pouco antes do AVC que o levaria à morte, em 1969, decidiu arquivar o processo.
Em outras palavras, a TV Globo passava a ter essa dívida com os militares.


Dívida que foi paga através de uma espécie de parceria em que a emissora de Roberto Marinho divulgava as informações de interesse dos militares e eles apoiaram o seu crescimento.
Como se sabe, a TV Globo só pôde lançar o primeiro telejornal nacional em rede, porque os militares dotaram o país de micro-ondas e passaram a investir pesadamente na emissora.


A PERSEGUIÇÃO À TV EXCELSIOR


A parceria entre Globo e militares também está na raiz dos problemas que a TV Excelsior passou a enfrentar.


Criada em 1960, ela tinha na valorização do Brasil e dos temas brasileiros a sua marca registrada.
Nada mais longe dos interesses dos militares e de Roberto Marinho. Ambos queriam distância de tudo que lembrasse os governos desenvolvimentistas de Vargas a João Goulart.


De propriedade do empresário Mário Wallace Simonsen, dono da Panair, empresa de aviação, e também da Comal, exportadora de café, entre outros empreendimentos, a TV Excelsior tinha como objetivo colocar o Brasil na telinha.


E isso foi feito através de shows musicais, entrevistas e da primeira telenovela diária brasileira, 2-5499.


O nome fazia referência ao telefone, uma novidade que começava a se popularizar no país.
A TV Excelsior pôs no ar tudo o que vemos ainda hoje, especialmente na TV Globo.


O respeito aos horários e à duração prevista para os programas começaram com ela. Em razão disso, em menos de um ano já era líder de audiência na capital paulista.


Depois de servir como exemplo à concorrência com sua programação arrojada e de qualidade artística e técnica, a TV Excelsior começou a passar por problemas administrativos e financeiros, motivados pela pressão dos militares sobre Simonsen.


As dificuldades se avolumaram de tal forma que a emissora teve a concessão cassada em 1970, pelo general Emílio Garrastazu Médici, o terceiro ocupante da presidência da República, após o golpe de 1964.


Não há dúvidas de que Simonsen, um empresário nacionalista e amigo de Goulart, foi alvo de perseguição política, que atingiu não só a ele, mas também às suas empresas.


Novamente a principal beneficiada foi a Globo, que “herdou” parte da equipe técnica, dos artistas e atores da Excelsior, a exemplo de Francisco Cuoco e Tônia Carrero.


Herdou, principalmente, o espaço vazio deixado pelas concorrentes, primeiro pela própria Excelsior, e depois pela TV Tupi, cuja concessão foi também cassada pela ditadura em 1980.


Antes disso, a TV Tupi amargou uma década de problemas. À notória má gestão, uma das marcas registradas de Chateaubriand e continuada por seus auxiliares, se somou o desinteresses dos novos donos do poder.


E o motivo era um só: após a morte de Chateaubriand, os militares não queriam na mídia ninguém que pudesse lhes criar problemas.


Nos círculos de poder da época, eram conhecidas as pressões e chantagens com que Chateaubriand sempre agiu em relação aos governos civis.


FILÃO PRECIOSO


Um pouco antes disso, em 1965, a ala militar nacionalista (na época ela ainda existia), conseguiu destinar 48 canais de VHF e 50 de UHF para a educação.


Em parte, o sonho de Roquette-Pinto poderia ter sido resgatado, se os empresários da mídia comercial não tivessem agido rápido para neutralizar a medida.


É assim que surge o decreto 236, de 1967, que determina que as TVs Educativas exibissem apenas aulas e a proibia que contassem com inserções publicitárias. Medidas que prevalecem até hoje e estão na raiz da fragilidade dessas emissoras.


Como a educação era e continua sendo um filão precioso aos olhos dos empresários da mídia, no início da década de 1980, quando os militares ainda davam as cartas, Roberto Marinho tentou se apoderar dele.


Através de um convênio de cooperação técnica entre a Secretaria de Planejamento da Presidência da República, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Universidade de Brasília (UnB), a Fundação Roberto Marinho fez de tudo para se tornar a dona da educação à distância no Brasil.


Aparentemente, o Projeto Global de Teleducação, como ficou conhecido, possuía objetivos nobres, ao propor ensinar à distância diversos níveis e setores da sociedade.


Na prática, o projeto visava apenas se valer de dinheiro público e das facilidades de uma fundação pública, para importar equipamentos, construir e manter a custo zero estúdios de TV e se tornar a principal produtora de séries e programas educativos a serem exibidos pela própria Globo.


Depois de muita polêmica e uma troca pública de acusações entre as Organizações Globo e o jornal Folha de S. Paulo, o convênio foi encerrado em 1984.


“O POVO NÃO É BOBO”


O Brasil passava a viver os ventos da redemocratização.
A Globo começava a ser criticada nas ruas e nas praças públicas.
É dessa época o famoso slogan “O povo não é bobo, abaixo a rede Globo”, em alusão ao apoio que deu aos militares e à tentativa de encobrir os comícios em defesa das eleições diretas, que reuniam milhares de pessoas nas mais diversas capitais brasileiras.


Apesar da Constituição de 1988 prever, no capitulo V, artigos 220 a 223, que é vedado o monopólio da mídia e que a comunicação deve se pautar por três tipos de emissoras – públicas, comerciais e estatais – isso só começou a sair do papel em 2007. Mesmo assim de forma muito tímida.


A criação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), com seus dois braços, estatal e público, é uma das razões do ódio que os donos da mídia comercial, Marinhos à frente, passaram a nutrir contra o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o seu partido, o PT.
Os governos petistas, no entanto, nunca colocaram em prática, por exemplo, a proibição à propriedade cruzada na mídia, um dispositivo em vigor nos países europeus e nos Estados Unidos desde os anos 1950.


Por ele, uma empresa de mídia não pode ter mais de um veículo na mesma cidade.
É por isso que em Nova York não existe a TV New York Times.


E é por isso que no Rio de Janeiro todos os veículos de comunicação pertencem ao Grupo Globo.
Não é por acaso que uma das primeiras medidas de Michel Temer, ao chegar ao Palácio do Planalto, foi dar início ao desmonte da TV Brasil. Processo que Bolsonaro pretende concluir ao privatizá-la.


BANDEIRA BRANCA


Se a década de 1990 já havia propiciado muitas mudanças no cenário televisivo brasileiro, a seguinte começa com a farra na distribuição por Fernando Henrique Cardoso e de seu ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, de mais 200 canais educativos.


Através do decreto 3.541/2000, ex-políticos, “laranjas” de políticos e religiosos, sobretudo neopentecostais, se tornam concessionários de TVs.


É assim que os primeiros anos do novo século se tornam palco, no Brasil, de mais uma batalha entre os interesses populares e o dos donos da mídia.


Batalha que culminou em 2016 com a participação direta deles, irmãos Marinho à frente, na derrubada da presidente Dilma Rousseff.


São muitos os estudos que deixam nítido como a mídia comercial brasileira é responsável pela criminalização (sem provas) e ódio ao PT.


São igualmente vários os estudos que apontam como a TV Globo, ao longo de sua existência, tem agido como um verdadeiro partido politico na defesa dos interesses das elites conservadoras brasileiras.


A novidade, agora, é a família Marinho, que foi fundamental para Bolsonaro chegar ao poder – mesmo que ele não fosse o candidato dos seus sonhos – passar a ser combatida abertamente por ele.


Depois de alguns meses em que, apenas pontualmente, fizeram críticas a Bolsonaro e filhos, sempre com o cuidado de preservar e apoiar a agenda ultraliberal do ministro Paulo Guedes, os irmãos Marinho dão mostras de que querem estender a bandeira branca.


FORA DA TV


Resta saber se isso será possível. Na trilha dos militares mais duros de 1964, Bolsonaro não quer compartilhar o poder. Nesse quesito, a TV Record, do empresário e bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo, lhe é mais conveniente.


Quanto ao SBT, de Sílvio Santos, Bolsonaro acredita que com a nomeação de seu genro, o deputado Fábio Faria, para o recriado ministério das Comunicações, possíveis problemas estejam solucionados.


As mortes de mais de 140 mil pessoas por covid-19, o retorno da fome e da miséria, o desmonte do serviço público, a venda a preço de banana do patrimônio nacional e metade da população sem trabalho são fatos que confrontam e desmentem a história cor de rosa que os donos da mídia tentam contar sobre o país, suas empresas e eles próprios.


Por tudo isso, a principal certeza nesses 70 anos de televisão no Brasil é que democratizar a mídia se torna, mais do que nunca, uma pauta essencial.
Sem mídia pública e com a mídia comercial desregulada, o país permanecerá sujeito às turbulências políticas e golpes que marcam a nossa história.
E o Brasil real continuará não passando na TV.


*Ângela Carrato é jornalista e professora do Departamento de Comunicação da UFMG. É  autora da tese “Uma história da TV Pública brasileira”, defendida na UnB, em 2013. Muito do que ela cita no texto acima está descrito em detalhes na tese.



Fonte>  https://www.viomundo.com.br/voce-escreve/angela-carrato-a-outra-historia-nada-cor-de-rosa-dos-70-anos-da-tv-brasileira.html

sábado, 26 de setembro de 2020

MESTRE LITERATO

 

Imagem: Google

 


                             



No magneto estelar fantástico
Do mundo virtual
Fulgura, com fecundo esplendor,
A arte das letras pensantes do
Exímio escritor e poeta
J Estanislau Filho.

Em seu pensar, caráter e ações
Dissemina exemplos dignos.
Trilogia sob a qual se ergue
No seu mavioso blog
Todo o glamour dos belos escritos
A da sua invulgar personalidade.

Sua pena corrente e mágica
Tece maravilhas que transcendem
Tanto em versos como em prosa,
E como um dossel flutuante
Chega ao céu num encanto.

Autor da fraternidade,
Vê a literatura como o caminho
Indispensável para a reconstrução
De um mundo melhor sem temores,
E emoções brotam nos corações
De sua privilegiada legião de leitores.

               
                 Antenor Rosalino



Imagem: jef


Gentileza gera gentileza


Obrigado, meu amigo e parceiro de letras, por esta homenagem emocionante.

Antenor é uma pessoa simples sem ser simplista e que admira a espontaneidade das pessoas. Nasceu em Araçatuba-SP, onde mora. É um escritor talentoso, que acompanho no Recanto das Letras. Escritor premiado, ocupa a cadeira de número 1 da Academia Araçatubense de Letras. Tem vários livros publicados e participações em antologias.


J Estanislau Filho


quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Educação e a sociedade que queremos

Imagem: Google

 

Quero primeiramente agradecer o convite para participar deste encontro e saudar os participantes desta mesa de diálogo.


Sra. ALICE ALBRIGHT, da Parceria Global pela Educação;


O Prêmio Nobel KAILASH SATYARTHI, promotor da Marcha Global contra o Trabalho Infantil;


Sr. SALIM AL MAILIK, diretor geral da Organização do Mundo Islâmico para Educação Ciência e Cultura.


Saúdo a Dra. KOUMBOU BOLY BARRY, relatora especial da ONU para o Direito à Educação,


Saúdo as organizações que dirigem e que promovem este encontro, do qual o nosso Instituto Lula tem o privilégio de participar


Quero iniciar expressando o sentimento de solidariedade à dor das famílias das vítimas da pandemia pela qual o nosso mundo está passando.


Quero falar sobre esses tempos terríveis, depois de tratar do nosso tema central, que é a Educação e seu papel na construção de uma nova sociedade, melhor e muito mais justa do que esta em que vivemos.


Neste mês de setembro, iniciamos as comemorações do centenário de nascimento do educador Paulo Freire. Foi meu amigo, nasceu na mesma região que eu, no estado de Pernambuco, e foi companheiro na criação do Partido dos Trabalhadores.


Será sempre lembrado pela contribuição que deu à libertação dos oprimidos, no Brasil e ao redor do mundo, por meio da educação.


Das muitas lições que Paulo Freire nos deixou, duas são frequentemente destacadas. A primeira é a noção de que aquele que educa também está sendo educado. É um conceito que só poderia ser formulado por quem tinha a grandeza de respeitar a sabedoria dos humildes e reconhecer a existência do outro, acima das barreiras sociais e preconceitos.


A segunda lição é a de que a Educação é libertadora no mais amplo sentido que pode ter a palavra liberdade. Na sociedade e na região em que nascemos, marcada pelo latifúndio, a herança da escravidão, a brutalidade dos ricos contra os pobres, a fome e a desigualdade, o simples ato de aprender a ler e escrever era uma rara conquista para alguém do povo.


A educação permite ao ser humano tomar consciência de si mesmo, de que é um cidadão com capacidade de lutar por seus direitos. Como disse Paulo Freire em um de seus muitos livros: “Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda.”


Não é por outro motivo que o acesso à educação tem sido negado a tantas crianças e jovens no mundo. É para perpetuar os mecanismos da desigualdade e manter o domínio de uma nação sobre outra, de uma camada de privilegiados sobre a imensa maioria.


Posso falar do que vivemos em meu país e sobre o que fizemos para que a educação começasse a se tornar um direito de todos.


Eu mesmo sou um sobrevivente do destino reservado à maioria do nosso povo. Alguém como eu, expulso da terra natal pela pobreza, tendo de trabalhar desde a infância na cidade para ajudar minha mãe a sustentar a família, não deveria ter chegado onde cheguei. Talvez não tivesse nem mesmo chegado à idade adulta. Não deveria ter aprendido um ofício de metalúrgico, ter feito greves com os companheiros de sindicato e muito menos ter construído, junto com milhares de trabalhadores, o maior partido de esquerda do Brasil.


O fato é que, 18 anos atrás, o povo brasileiro confiou a mim e ao Partido dos Trabalhadores, junto com nossos aliados no governo, a missão que podia ser resumida em uma palavra: mudança.


Não vou me alongar sobre o esforço que fizemos para cumprir aquela missão, mas posso resumi-lo em duas frases. Pela primeira vez, em 500 anos de história, a maioria pobre, negra e trabalhadora do povo brasileiro foi colocada no centro e na direção das políticas públicas.


E pela primeira vez os pobres entraram no orçamento do Estado, não como um dado estatístico, muito menos como um problema, mas como a solução dos problemas do desenvolvimento do país.


Nenhum resultado desse esforço coletivo é mais eloquente do que o fato de que 36 milhões de brasileiros saíram da pobreza extrema, o Brasil saiu do Mapa da Fome da ONU e 21 milhões de empregos formais foram criados em pouco mais de 12 anos, incluindo o governo da presidenta Dilma Rousseff.


MEUS AMIGOS, MINHAS AMIGAS,


No conjunto de políticas públicas que adotamos para mudar a realidade brasileira, a educação teve papel central e organizador. O programa Bolsa Família, por exemplo, promoveu a transferência de renda para 14 milhões de famílias, condicionando os pagamentos à frequência das crianças na escola, entre outros requisitos. Creio que esta relação direta entre transferência de renda e acesso ao ensino é uma das chaves do sucesso do Bolsa Família, uma das razões pelas quais foi adotado em tantos outros países.


Recordo-me de ter proibido os ministros de nosso governo de usar as palavras gasto e despesa para se referir ao Orçamento da Educação, que foi triplicado em nosso período. Aqueles recursos eram de fato investimentos.


Investimos na criação de um piso nacional para os salários dos professores das escolas públicas de ensino fundamental e médio, que no Brasil são administradas pelos governos estaduais e locais.


Investimos na formação desses professores e na garantia de alimentação saudável para as crianças, que passou a ser adquirida diretamente dos produtores da agricultura familiar. Investimos no transporte escolar seguro, num país em que em muitas regiões a distância entre a casa e a escola tem de ser coberta por meio de ônibus, bicicletas e até pequenas embarcações.


Investimos na aquisição de bibliotecas, de computadores para as escolas e tablets para os alunos. Sobre tudo isso o companheiro Fernando Haddad, que foi nosso ministro da Educação na maior parte daquele período, falará numa outra mesa deste seminário. Infelizmente, o Brasil não tem hoje um ministro da Educação à altura de participar de um debate deste nível, posto que o atual governo de meu país é inimigo declarado da ciência, da cultura, da própria educação.


Mas não posso deixar de falar sobre duas marcas que deixamos. A primeira delas foi a abertura de 430 escolas de ensino técnico e profissionalizante. Isto é quatro vezes mais do que tudo que havia sido feito nos cem anos anteriores ao nosso governo. Estas novas escolas deram uma profissão digna a centenas de milhares de jovens filhos da classe trabalhadora.


Ao mesmo tempo, ampliamos o número de matrículas nas universidades públicas e privadas, de menos de 4 milhões para mais de 8 milhões. Abrimos 19 novas universidades e 173 CAMPI, o estado passou a financiar o crédito educativo e aprovamos uma lei de cotas para assegurar aos alunos de escolas públicas, negros e indígenas o ingresso nas universidades federais.


Tenho orgulho de dizer que hoje, no Brasil, os filhos de trabalhadores, os jovens negros e negras são a maioria dos alunos em nossas universidades federais.


MEUS AMIGOS, MINHAS AMIGAS


Qualquer discussão sobre o futuro da humanidade, sobre a sociedade que queremos construir, tem de levar em conta os impactos da pandemia atual, que veio agravar a situação de extrema desigualdade social e econômica no mundo.


Recentemente, fui convidado pela Universidade de Buenos Aires a falar sobre o mundo depois da pandemia. Confesso que não sabia — e continuo não sabendo – como será nossa vida. Creio que ninguém sabe, mas quero trazer aqui algumas reflexões.


As estatísticas mostram que as maiores vítimas da pandemia no Brasil são pessoas negras, trabalhadores, moradores das favelas e periferias das grandes cidades. Não é muito diferente ao redor do mundo. São pessoas que vivem em casas precárias, com muitos moradores, que precisam ganhar o sustento nas ruas todos os dias, que têm de usar transporte público e são mais vulneráveis porque já não tinham acesso a alimentação saudável e cuidados básicos de saúde.


A primeira conclusão a que podemos chegar é que esta pandemia nada tem de democrática.

Porque a sociedade em que vivemos não é democrática, não para a maioria. Todos estão sujeitos a contrair o vírus, mas é entre os mais pobres que ele produz sua mortal devastação.


Esta emergência humanitária levou os governos mais responsáveis a adotar medidas no sentido de manter as pessoas e a economia vivas durante a crise, com linhas de crédito especiais, programas de renda e até o pagamento dos salários para preservar empregos.


Mesmo aqueles governantes e os chamados “especialistas” que até ontem defendiam rigidamente a austeridade fiscal, entenderam que o momento é de gastar porque a vida não tem preço e que a economia deve existir, afinal, em função das pessoas, não apenas dos números. E é o estado, em última análise, que pode proporcionar recursos e organizar a sociedade para atravessar este momento tão difícil.


Esta é, a meu ver, uma grande lição que a pandemia está nos ensinando. O dogma do estado mínimo é apenas isso, um dogma, algo que não encontra explicação nem se justifica na vida real. O mito do deus mercado é apenas um mito, pois uma vez mais ele se revela incapaz de oferecer respostas para os problemas do mundo em que vivemos.


Tive o privilégio de conversar com o Papa Francisco, que se dedica a esse tema com toda sua alma. Sabemos que não é tarefa apenas para os economistas e as pessoas de boa vontade. Tem de envolver a academia, os intelectuais, os artistas, partidos políticos, sindicatos, movimentos sociais, igrejas, todos e todas. Mas não chegaremos a lugar algum se os governos do mundo, aqueles que têm o poder de estado, não se engajarem objetivamente em uma profunda mudança nas relações entre as pessoas e o dinheiro.


Durante séculos nos disseram que a fome e a miséria eram tão naturais quanto a chuva ou o nascer do sol. Durante séculos nos disseram que os pobres, a maioria negra, os filhos dos trabalhadores estavam condenados a repetir a triste história de seus pais, avós, bisavós, tataravós. Mas pelo menos durante uma década, no Brasil, conseguimos provar que um país pode ser governado para todos – e com atenção especial para a maioria sempre excluída.


A imensa desigualdade entre seres humanos é simplesmente intolerável, mas enquanto ela perdurar haverá também o sonho de mudança que nos move para o futuro.


Esta é, a meu ver, outra lição que podemos aprender com a pandemia. Por mais profundas que sejam as crises, por mais escuro que faça, depende de nós acender a luz nas trevas. E creio que nunca foi tão necessário sonhar e seguir lutando para construir um mundo melhor do que este em que vivemos.


Muito obrigado.”


Luiz Inácio Lula da Silva



Imagem: Instituto Lula
 

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Diário do Bolso


 

José Roberto Torero


Diário, acho que vou escrever um livro chamado “Dez dicas para ser um político de sucesso”. A primeira vai ser: “o importante é o que você diz, não o que você faz”.


Vou te dar dez exemplos rapidinhos:


1-) Eu digo que tanto faz prestar depoimento por escrito ou em pessoa no caso da indicação do chefe da PF, mas faço o Aras pedir que seja por escrito.


2-) O Pantanal está sofrendo a maior queimada de todos os tempos, mas eu digo que “O Brasil está de parabéns pela forma como preserva o meio ambiente”.


3-) A Flordelis homenageia o Anderson.


4-) O Carluxo fala que não usa robô nas redes sociais.


5-) Eu digo que as escolhas no meu governo são técnicas e o secretário de cultura Mário Frias escolhe uma dentista amiga dele para dirigir o Centro Técnico de Audiovisual.


6-) Eu digo que as escolhas no meu governo são técnicas e efetivo o general Pazuello no Ministério da Saúde.


7-) Falo mal do Maduro, mas encho o governo de militares e manipulo a justiça.


8-) Os números da covid continuam altos e eu digo que já estamos saindo da crise.


9-) Falo que a educação está dominada pela ideologia e escolho para reitor da UFRGS o candidato que ficou em terceiro lugar na lista porque ele é o mais de direita que tinha.


10-) Mando demitir o José Vicente Santini, aquele cara que pegou um avião da FAB para ir para Davos, e depois coloco o garoto como assessor especial do Ricardo Salles.


Entendeu, Diário? É que nem aquele negócio que o Pelé fazia: tem que olhar prum lado e ir pro outro.


A esquerdalha chama de mentira. Eu chamo de dibre.


#diariodobolso


Fonte:  https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Humor/Diario-do-Bolso-20-de-setembro-de-2020/9/48767


Diálogo com um pássaro


Sinto que a falta de assunto
me assusta tanto,
a falta de criatividade me deixa tonto.
Então eu me sento no banco do jardim
e ouço o pássaro que fala comigo assim:
não seja pessimista, sua criação está estancada
por conta dos crimes ambientais,
com as terríveis queimadas
e a morte dos animais.
Eu respondo:
Por tudo isso meu bom pássaro,
mas também pela morte de índios e seringais,
pelos recursos hídricos e populações ribeirinhas!
Como ser otimista,
quando quem nos governa é gente mesquinha?
No que o pássaro admite:
Verdade, também estou triste,
vendo tanta vilania,
mas minha natureza é cantar
e a sua é fazer poesia...

J Estanislau Filho
 

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Liberdade







Liberdade é uma conquista
de  quem luta por uma causa justa.
Pássaro que nasceu pro voo rompe a grade.
Espécie que não se deixa aprisionar busca o paraíso
Traz em seu dna o aviso:
Liberdade de ir e vir em todas as direções
De livres manifestações
Com democracia e farta distribuição de alegria
Recheada de pão e poesia.


J Estanislau Filho





terça-feira, 15 de setembro de 2020

A Casa que Habito


Imagem: Google


Depois de nove meses protegido pelo útero materno – nossa primeira morada –, entramos em contato com o mundo e nos descobrimos habitantes do Planeta Terra, imenso útero que nos acolhe sem pré-conceito. Família enorme na imensidão cósmica.

 Cuidar da casa que habitamos – ar, terra e água – é como forrar a mesa, para uma refeição saudável, estender lençol sobre a cama, para um sono tranquilo. Zelar pela natureza – a água, as plantas, os animais – é garantir qualidade de vida.

 Somos grão de areia no espaço cósmico e tão importante quanto o vasto mar. A natureza trata a todos e a todas igualmente. Não diferencia grande e pequeno. Macho e fêmea. O negro ou o branco. Tudo está interligado.

 Ao cuidarmos da casa que habitamos, estamos cuidando da Terra. No campo, ou na cidade com seus bairros, ruas e avenidas; praças e viadutos e um tantão de gente assim, ó, querendo qualidade de vida.

 Bendito fruto, que do útero da mãe saiu para habitar todas as moradas: Terra, Pátria, campo, cidade, bairros, vilas, aglomerados...

J Estanislau Filho

Imagem: Google

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Preço do arroz é motivado pelo desmonte promovido por Bolsonaro, diz economista

Reprodução/Twitter

O preço do arroz disparou nas últimas semanas e um pacote de cinco quilos chega a custar R$ 40 nos supermercados. Um dos principais alimentos do Brasil enfrenta um desmonte de políticas públicas por parte do governo Bolsonaro, que permite ao produtor priorizar o mercado internacional.

Com 12 mil focos de incêndio, desmatamento avança no Cerrado durante a pandemia

Brigadas ambientais denunciam que maioria das queimadas no Cerrado são criminosas - Foto: Vinícius Mendonça/Ibama
Brasil de Fato | Brasília (DF) |
 


O Cerrado é um dos maiores e mais importantes biomas brasileiros, com uma biodiversidade que ocupa 12% do território nacional e sustenta diversas comunidades indígenas e quilombolas. Esse bioma, no entanto, sofre com o avanço do desmatamento provocado, principalmente, pelo setor agropecuário, que já ocupa 40% das terras, segundo estudo da organização não governamental internacional WWF-Brasil.


:: Desmatamento do cerrado é proporcionalmente maior que o da Amazônia, diz pesquisador ::


Os meses de julho e agosto são marcados por constantes queimadas e hoje já somam 12 mil focos de fogo. De acordo com o brigadista ambiental Matheus Rocha, que atua no combate aos incêndios, na maioria das vezes, o fogo é potencializado por ações criminosas para criar pasto para o agronegócio.


“São pessoas que têm interesse em desmatar uma área para agricultura em larga escala, para grilagem de terra ou para fazer pasto. Essas pessoas acabam ateando fogo no cerrado e causando incêndios florestais", afirma Rocha.


:: Após novo recorde de desmatamento, governo exonera responsável por monitoramento ::


Conhecido como o berço das águas, o Cerrado possui nascentes importantes que abastecem todo o território brasileiro, como o Rio São Francisco e o Rio Tocantins.



O governo de Mato Grosso informou que cinco perícias realizadas no Pantanal apontam ação humana como causa das queimadas na região. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicam que os incêndios aumentam mais de 220% este ano. O total de focos registrados este ano é superior a 7 mil, resultado recorde para a área.

Agora, a Delegacia de Meio Ambiente (Dema) trabalha para chegar aos responsáveis pelos incêndios. A previsão inicial é de que o inquérito seja concluído em 30 dias, mas pode haver pedido de mais tempo. Segundo a delegada Alessandra Saturnino de Souza Cozzolino, ainda não é possível concluir se as queimadas foram propositais.



“Podemos ter outro crime conectado, como é o caso do possível desmatamento que antecedeu o incêndio, eventualmente provocado pelo homem. Pode ter sido intencional, ou pode ter sido causado por uma situação involuntária”, afirma Cozzolino. Ela ressalta que o trabalho de é altamente capacitado para atuar na emergência ambiental e na identificação das causas e origens do fogo.





Fonte: https://www.brasildefato.com.br/2020/08/02/com-12-mil-focos-de-incendio-desmatamento-avanca-no-cerrado-durante-a-pandemia


O governo de Mato Grosso informou que cinco perícias realizadas no Pantanal apontam ação humana como causa das queimadas na região. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicam que os incêndios aumentam mais de 220% este ano. O total de focos registrados este ano é superior a 7 mil, resultado recorde para a área.

Agora, a Delegacia de Meio Ambiente (Dema) trabalha para chegar aos responsáveis pelos incêndios. A previsão inicial é de que o inquérito seja concluído em 30 dias, mas pode haver pedido de mais tempo. Segundo a delegada Alessandra Saturnino de Souza Cozzolino, ainda não é possível concluir se as queimadas foram propositais.


“Podemos ter outro crime conectado, como é o caso do possível desmatamento que antecedeu o incêndio, eventualmente provocado pelo homem. Pode ter sido intencional, ou pode ter sido causado por uma situação involuntária”, afirma Cozzolino. Ela ressalta que o trabalho de é altamente capacitado para atuar na emergência ambiental e na identificação das causas e origens do fogo.





sábado, 12 de setembro de 2020

O Prazer de Matar



Benival mata pelo prazer de matar. "Estes sanguessugas me dão orgasmo quando os vejo esmigalhados, vísceras pra fora", conta depois de dar uma risada satânica. Antes do assassinato em si, seu prazer maior é a tortura. Fura os olhos da vítima, decepa-lhe os membros num ritual de prazer sádico.
     É ao anoitecer que ele arma a tocaia, para pegar suas vítimas. Hoje ele marcou um encontro com o que ele nomeia inseto, verme. É ao anoitecer que a besta-fera que dorme em sua alma desperta com um ódio descomunal e Benival ronda o ambiente de arma na mão.
     Não se engane com a maneira educada dele no dia a dia. O assassino é sedutor, sabe agradar aos que ele chama de "verdadeiros amigos".  Coloca a mão sobre  meu ombro e me convida para um churrasco em sua casa.  Aceito, contrariado, irritado com a minha covardia. Lá eu vou conhecer os amigos de Benival: devoradores de carne e bebidas, revólveres sobre as mesas. O assunto preferido é o de como matam vagabundos. Reflito um álibi para fugir dali.
     Hoje é apenas mais uma noite em que ele se prepara para a seu prazer predileto. Esmagará sem piedade, num prazer orgástico uns parasitas da sociedade. Mas hoje a vítima, ou vítimas que ele tocaia sabem se camuflar, desaparecem da visão num piscar de olhos. Esta noite Benival permanecerá acordado o tempo que for necessário para esmagar com chineladas os pernilongos que infestam seu doce lar.


J Estanislau Filho

Imagem: Google

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Nas águas do arrudas *





nas águas do ribeirão arrudas
muda
a ideologia
muda
o canto torto
o rato morto
o sonho do poeta
sem rima
sem métrica
a paz eterna
o esperma
o amor
o odor
o grito
sufocado
engasgado
do esmagado
explorado
nas águas do ribeirão arrudas
d
e
s
c
e
m
os bolos

cais
do executivo
executivo
do patrão
da madame
(a madame caga no arrudas)
o corpo
morto
de um morador das adjacências
que sem paciência
c
ai
u
nu
n
o
arru
d
a
s
sem esperar
a época das chuvas
pois no arrudas
pode morrer
em tempos de
encheeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeennnnnnnnnnnttteeeeesssssssssss
oh poeta incompetente
onde está o ritmo
a rima
a cadência
a tônica tônica
atônica
atônito
atômico
autônimo
autômato
antônimo
autonomia
onde está?
?
já não se fazem poetas como antigamente...
o estilo
ah o estilo
(há o estilo)
afinal que paí...
digo, estilo é este?
é um estilo
à imagem e semelhança
dos dias em que viVemos
julgados
condenadoSOS
culpados
(até que nunca provem que é inocente)
exilado
cagado
mijado
ado ado ado do do
dor dor dor dor dor dor dor
(não me condenem: eis aí a rima (apreciadores) estética)
ia me esquecendo
nas águas do arrudas
d
e
s
c
e
m
os bolos fecais
do operário
do mendigo
do homem
do menino
que canta com outros meninos de mãos dadas em frente
a televisão
“liberdade é uma calça azul e desbotada”
(este é um poema que vai pra frente
nas
águas
do arrudas)
livremente
calmamente
(rima pobre)
transportando os anseios
os não-anseios
de um povo
(“povo é abstração”)
nas águas do arrudas
(“lugar de estudante é na escola”)
(“pra pensar pensamos nós”)
(“o Brasil é feito por nós”)
(“é hora de confiar”)
(“é hora de mudar”)
nas águas do arrudas
nas águas do arrudas
por
onde
descem
os bolos
fecais
(“ame-o ou deixe-o”)
da meretrizes
da grã-fina
dos zeferinos
dos infelizes
dos psicólogos
dos filósofos
dos sociólogos
dos ideólogos
ogos
ogos
ogos
do masoquistas
dos fascistas
do padre
do camelô
do gigolô
do doto
do inquisidor
(“revogo as disposições em contrário”)
nas águas do arrudas
n á u s do das
as g a arru onde d
e
s
c
e
m os bo
los
fe
cais
(dos colunáveis,
dos presidenciáveis)
do marginal
do desempregado
(“o futuro a Deus pertence”)
adeus futuro
nas águas do Ribeirão Arrudas
onde há igualdade social
(ou a deles é melhor?)

J Estanislau Filho


Poema escrito em 1975

Charge: Berzé



Do livro Nas Águas do Arrudas (edição do autor: 1984) - Esgotado.

* Ribeirão Arrudas é o ribeirão que atravessa Belo Horizonte. Hoje ele recebe tratamento de esgoto. Em 1984 era o esgoto da população.

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Tecelões do Sonho



Imagem: Tela de Salvador Dali - Google


O artista é um tecelão.
Fia seu sonhar com a linha feita do mais puro ouro cósmico.
Não importa o tipo de arte, nem matéria que a compõe.
Conta sim, a imaginação.
Um tear da mais fina quintessência traz o pensamento livre que vai bem alto...
Assim poetas, pintores, atores e uma infinidade de Tecelões do Sonho inventam
mundos paralelos e deleites que preenchem o vazio da realidade humana.
São eles que trazem cores e viço à vida, sem eles tudo seria árido, amargo, o
número de ocorrências tristes aumentaria caótica e absurdamente.
Eles nos envolvem em bálsamos preciosos que aliviam todas as dores, não
importa quais sejam.
Deus sim, os fez com este fim! Ele teve pena daqueles que apenas pisavam a terra,
colocou então divinos tecelões que pudessem fazer asas com o sonhar, para não machucar tanto nossos pés contra as duras pedras que formam o caminho.


Sonho


                Para realizar um sonho é preciso
         esquecê-lo, distrair dele a atenção. Por
         isso realizar é não realizar.
                                      Fernando Pessoa


Um dia tive um sonho...
Eu o trajei lindamente
(Roupagem de doce ilusão)
Mergulhei inteira em águas
De carinho,dedicação.

O tempo ia passando
Naquela quimera divina,
Até nas nuvens eu via
Toda ventura da vida,
No ar, no céu e no mar...

Tudo era colorido.
Para terra eu não olhava,
Nada era definido.

Eu evitava o concreto
Preferia o abstrato.
Conceitos eu repelia

Não queria o imediato.
Porém tanto sonhando
Cansei o vivo sonho,
Ele foi se enjoando.

Não queria ficar mais,
Estava entediado,
Preferia sonhos reais.

Assim foi fugindo aos poucos,
Assim foi se afastando.
E eu sempre esperando...

Desesperança veio me ver,
(Ela era bem divertida)
Troçava de minha amargura
Dizia que aquilo era a vida.

Depois chegou a descrença,
O medo, a solidão,
Todos irmãos da dor,
Que vivia em meu coração.

Súbito o sonho voltou.
Não era mais o mesmo.
Parecia querer explicar.

Mas eu o olhei a esmo,
Precisava desabafar:
"-Por que foi embora?

Eu gostava tanto de ti.
Agora estou desgostosa
De tudo me ressenti."
"- Sim,eu fui. Procurei os outros,
sonhos como eu, mesma família .

Não entendes? Te darei as sobras
E terás minha acolhida."
Muda, pendi a cabeça
Compreendi tudo ser vão,
Eu havia criado esse mundo
Mas o real era a razão.


Maria Ventania


Maria Ventania escreve no Recanto das Letras