terça-feira, 5 de março de 2024

O Vizinho Assassino



Imagem: Brasil de Fato


Jibril Rajoub se esforça pra ser um bom vizinho, apesar do outro lado não fazer o mesmo. Coloca o som num volume ensurdecedor;  soca a parede-meia e muitas vezes deixa o lixo no passeio da casa de Jibril, que pacientemente o recolhe e deposita na lixeira. Como o vizinho não respondia ao seu cumprimento,  Rajoub silenciou. Melhor deixar pra lá, até mesmo porque, o vizinho já demonstrou não querer a sua amizade. 

     Abner, esse é o nome do vizinho de Jibril, satisfeito ou não, com a calma de Rajoub, resolveu ir além, ao demolir o muro, sem ao menos consultá-lo. Poeira e entulho tomaram conta do lote de Jibril, que não disse nada. Mas observava atento.  Sua paciência dava sinais de esgotamento. O conflito não tardaria chegar. Aconteceu quando Abner começou a reconstruir o muro. Avançou vinte centímetros no lote do vizinho. Jibril não se conteve: pegou uma picareta e colocou abaixo, a construção que se iniciava. A reação de Abner foi violenta. Quebrou as janelas da casa de Jibril, que respondeu com a picareta em punho, em direção de Abner, que sacou um revólver e deu tiro no peito de Rajoub,  que caiu morto na hora.

     É mais ou menos isso o que acontece na guerra entre  Israel e Palestina, principalmente na faixa de Gaza.

 

J Estanislau Filho

Imagem: Brasil de Fato

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

luta de classes




Tela-mural “Manifestación” (1934), do pintor argentino Antonio Berni.



nas ruas a realidade
nua e crua
sem meia verdade
adoece e adormece corações
acorda emoções
conforme a concepção
de cada um
de cada uma
em suma
assume posições
ao ver cidadãos
sem cidadanias
sob marquises e viadutos
tendo como companhia
animais de estimação
um cão
uma cadela
cenário que a novela
não exibirá jamais
e que se revela
como se organiza 
as classes sociais


J Estanislau Filho

Imagem: Revista Fórum

domingo, 18 de fevereiro de 2024

João Batista, o taxista



Imagem cedida por João Batista


João Batista, o taxista, vive num compasso de espera.
Espera a hora do abraço do amor
e não se desespera com a dor,
seja lá de quem for, porque a dele não é menor,
nem maior que a que se vê ao redor.
Ele espera pelo passageiro, 
que optou pelo uber,
que não fornece água de beber
ao usuário.
João espera uma nova era,
um novo tempo, agora,
sem percalços no itinerário.
Nesse compasso que demora,
estaciona o taxi sob a sombra 
de um pé de amora.
O taxista não se assombra,
espera a hora da corrida
pedindo a Deus que lhe proteja a vida,
enquanto ouve um som de outrora,
que o remete ao interior, de onde veio,
e traz uma saudade que o devora.


J Estanislau Filho

João Batista num dia de folga

Contato taxista Belo Horizonte e região:

(31) 9876-38221

Corridas para as cidades históricas de Ouro Preto, Mariana, Congonhas, Tiradentes, São João del Rei, Bichinho e outras, valor a combinar.

domingo, 11 de fevereiro de 2024

O fruto do vosso ventre




Imagem: Google


A intuição  materna raramente falha. 

    Antes mesmo de nascer, pelos movimentos que fazia no útero, a mãe percebera  algo, no mínimo estranho, estava por acontecer. Rezou para que a  intuição a enganasse. Que o filho nascesse saudável, era o seu desejo.

   A hora do parto chegou e o rebento nasceu, sem choro, algo incomum. Tão logo veio ao mundo, lançou um olhar de desprezo à mãe. Agarrou os seios com violenta voracidade, fincando as unhas,  provocando sangramento. Na primeira semana gritava alucinadamente no berço, exigindo seios, cujo leite secara. O banco de leite do único hospital da cidade diminuíra de tal forma, que obrigou a direção a buscar alternativas, inclusive, com campanha dirigida às mães que amamentavam,  a doarem. A fama da criança faminta se espalhara, ultrapassando as fronteiras do município. O bebê crescia desmesuradamente.  Ao completar um ano, parecia ter três.  Comia e bebia demais. E não engordava. Aos dois anos parecia um vara pau, comprido e magro. Aos cinco corria pelas ruas da cidade, como um atleta olímpico. Enquanto corria, chutava o que aparecia pela frente. As garotas fugiam, pois ele as ameaçava, chegando mesmo a desferir golpes em várias, o que levou o delegado a intimar os pais a prestarem depoimentos. Os percalços estavam no início. O que aconteceu nas creches se repetiu ao matricular no ensino básico: nenhuma instituição queria matriculá-lo. A mãe, com marcas na pele e na alma por conta das agressões do filho,  não sabia o que fazer para educá-lo.  As agressões às meninas, nas escolas de ensino médio só diminuíram depois de a direção providenciar boletim de ocorrência. O pai declarou na delegacia, que o filho tinha vocação militar, pois fora flagrado várias vezes, fazendo continência diante do espelho.  

    Um inferno, que parecia não ter fim, teve uma pausa, ao chegar  a idade do alistamento militar.  Os pais, aliviados, prepararam uma festa, para comemorar o evento. A primeira exigência do filho era de não convidar mulheres. Disse com firmeza:  - Não quero a presença de mulheres.  Pare de implicar, filho, lembre-se de quem o trouxe ao mundo, disse a mãe.  Ele respondeu apenas com um  olhar duro, que a silenciou. 

   Seu ódio pelas mulheres era transparente, jamais o escondeu, como também não escondia  a narrativa  sobre a superioridade masculina. 

  Depois de cumprir o tempo como reservista, entrou para o Exército. Não era um cadete brilhante, mas tinha talento, especialmente em exercícios físicos. Seu "batismo"  na corporação foi de acordo com a tradição: testes físicos pesados. Fora colocado, puxando uma carroça de tração animal, com um oficial o chicoteando, para o delírio dos cadetes. E ele resistiu bravamente. Ao término dos testes, suado e cansado, irritou-se com a presença da esposa do Comandante, exigindo-lhe continência, que só foi aceita, a contragosto, depois da fala do comandante: - Soldado, é uma ordem! O nosso bravo soldado seguiu para  o alojamento, cabisbaixo, jurando vingança.  Um ódio ao Comandante tomou conta de seu ser. "Comandante que se submete a uma mulher, não merece respeito" sentenciou durante o trajeto.

     De onde vinha esse ódio, era o que os psicólogos tentariam descobrir, depois de uma série de eventos futuro. O cadete fez carreira no Exército, chegando a Oficial. O ódio às mulheres aumentava, com acréscimo aos vulneráveis: negros, índios, ciganos e pobres. Sua concepção sobre a supremacia branca ganhava contornos assustadores. Fazia planos de apurar a raça  humana. O mundo não se desenvolvia, segundo a sua teoria, por causa de uma raça inferior, preguiçosa e ardilosa. Eliminar, exterminar, fuzilar,  depurar eram suas palavras de ordem.  Mulheres não deviam ter os mesmos salários que os homens, porque ficam grávidas; que ao ir a um quilombo, constatou que um afrodescendente mais leve, pesava sete arrobas; que deveria ter fuzilado uns trinta mil corruptos; o grande erro foi torturar e não matar.  Esse homem tinha um projeto de poder, por isso entrara para o Exército. A farda impõe medo, confere poder.

     Mas, não era simples chegar a General, seu sonho. Vendo a realização desse sonho inviável, promoveu uma rebelião no quartel, com ameaça de tocar fogo. Foi expulso, embora premiado e aposentado como Capitão.

     A Europa foi devastada na segunda guerra mundial, provocada por um homem obcecado pelo poder e o ódio era o combustível,   principalmente aos judeus, tido por ele como inferiores, responsáveis pelo suposto atraso da humanidade. Suas frases de efeito reverberaram: 

"As grandes massas cairão mais facilmente numa grande mentira, do que numa mentirinha",  

"Que sorte para os ditadores que os homens não pensem". 

"Torne a mentira grande, simplifique-a, continue afirmando-a, e eventualmente todos acreditarão nela".

Encurralado pelo sistema de justiça, prestes a ser preso, esse homem se matou, levando consigo, sua esposa. 


    Obs.: Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, é mera coincidência. 


J Estanislau Filho

Imagem: o autor em Mariana-MG


J Estanislau Filho é mineiro de São João do Oriente, mas viveu a infância e parte da adolescência em Jampruca, no Vale do Rio Doce, divisa com o Vale Mucuri. Escreve em seu blog, no Recanto das Letras, no Facebook e em outras mídias socias. Editou e publicou os seguintes livros:

Nas Águas do Arrudas - poesias (1984)
Três Estações - poesias (1987)
O Comedor de Livros - poesias (1991)
Crônicas do Cotidiano Popular - crônicas (2006)
Filhos da Terra - crônicas com fechos poéticos (2009)
Todos os dias são úteis - poesias (2009)
Palavras de Amor - poesias (2011)
Crônicas do Amor Virtual - crônicas (2012)
A Moça do Violoncelo - contos (2015)
Estrelas - poesias (2015)
Prova de Vida - crônicas (2021)




quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

A faceta anti-imperialista de Graciliano Ramos



Por que Memórias do Cárcere extrapola a experiência pessoal – e mostra o aprisionamento dos povos. As quatro “grades” que o livro revela. Sua relação com o estatuto colonizado: em nome da espoliação, serás desumanizado e dissecável



EUROCENTRISMO EM XEQUE

por Luis Eustáquio Soares






Título original: Memórias do Cárcere de Graciliano Ramos e o estatuto colonizado da humanidade


Para Domenico Losurdo


Estatuto colonizado da humanidade e acumulação primitiva permanente

Karl Marx analisou detidamente o que, em interlocução com Adam Smith, chamou de acumulação primitiva do capital, assim a descrevendo no capítulo 24 de sua obra de referência, intitulado “A assim chamada acumulação primitiva”: Vimos como o dinheiro é transformado em capital, como por meio do capital é produzido mais-valor e do mais-valor se obtém mais capital. Todo esse movimento parece, portanto, girar num círculo vicioso, do qual só podemos escapar supondo uma “acumulação primitiva prévia à acumulação capitalista, uma acumulação que não é o resultado do modo de produção capitalista, mas seu ponto de partida” (MARX, 2017,785).



O capital não surgiu do nada, necessitando apropriar-se da acumulação primitiva produzida anteriormente ao modo de produção capitalista, resultado no Ocidente de relações escravistas de produção, como o caso das civilizações greco-romanas; e das relações feudais de produção. Entretanto, o círculo vicioso do capital, com o dinheiro transformado em capital e este produzindo mais-valor, para gerar mais-capital, de que tratou Marx no trecho citado, segundo Rosa Luxemburgo de A acumulação do capital(1913), não se constituiu apenas por meio da acumulação primitiva precedente, pois é também inseparável de uma acumulação primitiva transversal e transtemporal, abarcando o passado, o presente e o futuro.


O estatuto colonizado dos povos, assim, diz respeito às maiorias desumanizadas, violentadas e sangradas pela voracidade sem fim da acumulação primitiva permanente do capital. Está diretamente vinculado ao processo da expansão colonial – acumulação primitiva, stricto sensu –, assim como pela mundialização capitalista (das grandes indústrias e das relações mercantis) e pela expansão do capital monopólico, tendo em vista a fase propriamente imperialista do capitalismo, iniciada no final do século XIX, responsável, no XX, pelas duas grandes guerras mundiais.


Nesses três períodos, o colonial, o capitalista e o imperialista, os continentes mais afetados pela acumulação primitiva permanente do capital são a América Latina, a África, a Ásia e a Oceania, regiões onde habitam os “Condenados da Terra” (1961), para fazer referência a uma fundamental obra homônima de Franz Fanon.


Esses, “os condenados da Terra”, são aqueles milhões (centenas, podendo, ao longo do tempo ser mais ainda) de seres humanos que se encontraram no meio do redemoinho das guerras de saqueio, intervenções e golpes das grandes potências ocidentais como, por exemplo, a primeira Guerra do Ópio, de 1839 a 1842, a partir da qual a Inglaterra transformou a China em uma semicolônia, ao impor o Tratado de Nankim, de 29 de agosto de 1842; e ao tomar para si o controle de portos fundamentais como o de Cantão, Ning-po e Shanghai, dentre outros, com repercussões sociais e político-econômicas que podem ser objetivadas ainda hoje, com seus incontáveis e anônimos mortos.


Houve, ainda, uma segunda Guerra do Ópio, entre 1856 e 1860, dessa vez com a participação de um consórcio de países imperialistas como a França, os EUA e a Inglaterra, com a liderança deste último. Resultado: milhões de mortos, feridos, órfãos; um país humilhado e submetido. Entre as duas Guerras do Ópio há que mencionar a Revolta do Estado Celeste da Grande Prosperidade, conhecida como Taiping, de 1851-1864, uma guerra messiânica camponesa, estimulada por Inglaterra, que começou ao sul da província Huang-si e depois se estendeu pelo centro da China, ao longo do rio Yangtsé.


A esse respeito, quando a Inglaterra viu que estava perdendo o controle, interveio com a Segunda Guerra do Ópio, com o mencionado consórcio de países, esmagando e triturando camponeses. Não será demais explicitar que o uso de drogas e da religião para submeter povos alcançou uma dimensão multitudinária com a Inglaterra e não é por acaso que seja a principal forma de dominação estadunidense. Opiáceos, inclusive dos artefatos de sua indústria cultural; e fanatismo religioso não estão por aí, aonde se vá? Não serão um pretexto imperialista para estimular a violência e assassinar a juventude periférica, inclusive e sobretudo a negra?


Em linhas gerais, nesse contexto, o estatuto colonizado da humanidade pode ser definido como o efeito trágico da acumulação primitiva permanente contra os povos, entendendo por primitivo não o que vem antes apenas, mas também o seu sentido econômico, o de estar condenado a não entrar na história, a ser pré-histórico, desumanizado, infantilizado, povo sem soberania, limitado ao setor primário da produção – um objeto sem vontade própria, manipulável, dissecável, escravizado, matável, como a natureza.



A trans-história milenar do racismo do Estado colonial

O racismo de Estado é uma categoria teórico-filosófica desenvolvida por Michel Foucault no livro Em defesa da sociedade (1976), assim a definindo: “um racismo de Estado: um racismo que uma sociedade vai exercer sobre ela mesma, sobre os seus próprios elementos, sobre os seus próprios produtos; um racismo interno, o da purificação permanente, que será uma das dimensões fundamentais da normalização social” (FOUCAULT, 2005, p. 73).


O filósofo francês, no livro citado, partiu do pressuposto de que o racismo de Estado fora desenvolvido no interior de Estados separados, não tendo relação com conflito entre povos. Cada sociedade, nesse contexto, definiria o segmento da população que seria considerado como super-raça, os biopoliticamente imunizados; distinguindo-o da sub-raça, então considerada impura e por isso sem garantia de imunidade, seja no sentido de proteção militar, seja sanitário, seja econômico.


Seguindo à risca os estereótipos da Primeira Guerra Fria ianque contra o socialismo real, com o ranço de uma análise que desconsiderou a luta de classes como a categoria fundamental das sociedades polarizadas, Foucault, como não poderia deixar de ser, apresentou como exemplos de racismo de Estado a Alemanha de Hitler e a União Soviética.


Absurdo total, porque eslavos, judeus, ciganos e comunistas eram considerados a sub-raça, sem contar o fato de que os soviéticos foram o alvo principal do nazismo. Afinal, de onde veio a Operação Barbarossa? Qual país foi invadido? Qual cidade de que país mereceu esses insubstituíveis versos de Drummond, do poema “Cartas a Stalingrado”: “As cidades podem vencer, Stalingrado!/ Penso na vitória das cidades, que por enquanto é apenas uma fumaça subindo do Volga./ Penso no colar de cidades, que se amarão e se defenderão contra tudo (DRUMMOND,1991, p. 165)”?


Se o racismo de Estado é “um racismo que uma sociedade vai exercer sobre ela mesma”, não seria o caso de analisá-lo como tipicamente ocidental? Com Foucault e ao mesmo tempo contra Foucault, a história do Ocidente pode ser separada, desde Grécia e Roma, de uma permanente autopurificação racial, sempre ávida em distinguir a super-raça (os guerreiros, os escravocratas, os heróis, os oligarcas) das sub-raças (os povos submetidos e escravizados, os camponeses, os operários)?


O argumento do filósofo francês só tem validade, pois, se deslocado para a história do Ocidente, que não cessa de dividir a si mesmo em Ocidente da super-raça e em Ocidente da sub-raça, ao mesmo tempo em que identifica esta última aos povos espoliados, golpeados, superexplorados, matáveis; não-ocidentais.


A Revolução Haitiana de 1791 a 1804, a primeira ao mesmo tempo anticolonial e antiescravista, é, a propósito, um exemplo insuperável para definir o racismo de Estado colonial do Ocidente. Liderada pelo ex-escravo Toussaint Louverture e Jacques Dessalines, a vitória épica dos “jacobinos negros” contra o domínio colonial francês jamais foi esquecida.


Como se sabe, Louverture e Dessalines foram apoiados, no período, por espanhóis e ingleses, com os estadunidenses nos bastidores; apoio que refletia os conflitos e interesses entre as potências coloniais do Ocidente. Entretanto, por mais que disputassem e disputem entre si o saqueio dos povos, as oligarquias do estatuto colonizado da humanidade sempre se rearticulam e se realinham em nome do eterno retorno do racismo de Estado colonial do Ocidente, razão por que Haiti pague um preço descomunal até hoje por sua ousadia, sendo um dos países mais miseráveis da Terra.


Ainda que a marca de Caim do estatuto colonizado da humanidade seja a pele negra, novamente com Foucault e na contramão dele, se for verdade que a história do oligárquico ocidente seja a da formação ideológica do racismo de Estado da super-raça ocidental, esconjurando a sub-raça tanto entre segmentos de sua população quanto entre os povos não-ocidentais, não será inverossímil supor que a pele branca também seja alvo


O caso irlandês é exemplar. Durante séculos, foi “o quintal” da acumulação primitiva da fase colonial, capitalista e imperialista do domínio inglês, hegemônico até a primeira metade do século XX, tendo sido objeto de agressões permanentes, inclusive usando, para tal, o pretexto religioso, como ocorrera durante a Primeira Guerra Civil Inglesa, de 1642-1651, com a ascensão do “Moisés puritano”, Cromwell, cujo breve período no poder foi marcado por uma perseguição implacável aos “impuros” católicos irlandeses; perseguição que serviu de pretexto para a expansão latifundiária dos lordes ingleses na Irlanda. ´


E, por falar em lordes ingleses, é importante não esquecer que os estadunidenses, com seus lordes escravocratas, dominaram o tráfego negreiro na América Latina e especialmente no Brasil, no exato momento em que a Inglaterra o obstaculizava em nome da emergência da escravidão assalariada do capital, como assinalou Luiz Alberto Moniz Bandeira no seguinte fragmento do capítulo XII de Presença de Estados Unidos no Brasil: “De 1831 a 1856, cerca de 500 mil escravos entraram no Brasil, a maioria em navios dos Estados Unidos (BANDEIRA,2007, p. 123)”.


Sempre com bandeira falsa e com golpes e guerras por procuração, como a recente Operação Lava Jato no Brasil, a Doutrina Monroe, que este ano completará 200 anos, ocupou o lugar da Europa no estatuto colonizado latino-americano para se tornar mundial a partir, com Truman, de 1947, data que ratifica o início da hegemonia planetária ianque, com a criação ao mesmo tempo do Departamento de Defesa, do Estado-Maior Unificado, do Conselho de Segurança Nacional e finalmente da Agência Central de Inteligência, a CIA.


O objetivo dessa superestrutura estatal do ultraimperialismo estadunidense não é outro senão este: dominar, em escala planetária, a acumulação primitiva permanente e, com esta, o estatuto colonizado da humanidade, ao sabotar e fazer de tudo para impedir a soberania nacional de todos os povos do mundo, inclusive europeus, com o destaque, essa marca de Caim, para os países da América Latina, da África, da Ásia e da Oceania.


O racismo de Estado colonial estadunidense, assim, para além da cor da pele, tem um alvo insubstituível: a soberania nacional, condenada à condição de “sub-raça”.


Estatuto colonizado da humanidade e a “memória do cárcere dos povos”

O livro Memórias do cárcere (1953), de Graciliano Ramos, se ampliado o zoom, pode bem representar o estatuto colonizado da humanidade, esse cárcere trans-histórico dos povos. No capítulo 20 da quarta parte dessa indispensável obra ensaística da literatura mundial, ao narrar o envio – realizado pela ditadura Vargas de 1937 a 1945 – de Olga Prestes e Eliza Berger para o III Reich de Hitler, a seguinte passagem tornou-se exemplar para objetivar o racismo de Estado colonial do Ocidente: “O nazismo não exigia restos humanos, deixava que eles se acabassem no cárcere úmido e estreito (RAMOS, 1998, p. 276)”.


O nazismo, nesse caso, seria a expressão objetivada do estatuto colonizado da humanidade, jamais podendo ser analisado como exceção. É a regra, tendo como objetivo impor aos povos o cárcere úmido e estreito da superexploração transversal, primitiva, o que significa, em outras palavras, a saber: os povos não podem ser autossuficientes, soberanos, sujeitos de seus destinos, devendo estar literalmente encarcerados em um modo de produção que lhes sanguessugue sem cessar.


Nesse contexto, tanto os modos de produção escravistas greco-romanos, quanto o feudal e o capitalista, ao se estruturarem sob o signo da superexploração do homem sobre o homem e sobre a natureza, podem ser interpretados como civilizações ao estilo dos campos de concentração; cárceres úmidos e estreitos em que os povos têm sido confinados pelas oligarquias do passado e do presente.


Estas, no entanto, as oligarquias, não são uma abstração homogênea, pois sempre existiram as colonizadoras e as que desempenharam o papel subordinado, hierarquicamente inferior, resultando desse princípio a razão de ser das guerras. Por exemplo, os 100 anos da Guerra de Troia foram guerras entre duas oligarquias, a grega e a troiana. Com a vitória da primeira, a segunda passou a estar a seu serviço, impondo o estatuto colonizado a seu próprio povo, tendo em vista a seguinte estrutura: oligarquia colonizadora, oligarquia colonizada, povo duplamente colonizados.


Essa aliança entre oligarquias colonizadoras e colonizadas é o amálgama mundial da acumulação primitiva do capital. Constitui-se por um sistema militarmente integrado de cadeias de comando, razão de ser da seguinte passagem de Memória do Cárcere, a que selou o destino de Olga Prestes, então grávida de Luis Carlos Prestes: “A subserviência das autoridades reles a um despotismo longínquo enchia-me de tristeza e vergonha. Nasceria longe uma criança, envolta às brumas do norte; ventos gelados lhe magoariam a carne trêmula e roxa. Miséria – e essa miséria é abatimento profundo (RAMOS, 1998, p. 276)”.


O estatuto colonizado da humanidade, como úmido e estreito cárcere dos povos, seria inviável sem a constituição de uma legião de autoridades reles, aptas a cumprir ordens longínquas (quaisquer que sejam), garantindo desse modo o sistema militar integrado sem o qual a transversalidade da acumulação primitiva se desmancharia no ar.


Além de sua intricada e kafkiana cadeia de comando, com seus reles de reles, sendo um sistema de cárcere, o estatuto colonizado da humanidade possui a sua própria estrutura carcerária, experimentada na carne viva pelo escritor Graciliano Ramos, preso político que foi objeto de todas as formas de cárcere da acumulação primitiva transversal do capital, o cárcere-viagem, título da Primeira Parte de Memórias do Cárcere, o cárcere do Pavilhão dos Primários, nome da Segunda Parte da obra; o cárcere Colônia Correcional, Terceira Parte; e finalmente o da Casa de Correção, Quarta Parte.


Como escritor representativo do autêntico realismo, o autor de Vidas Secas não inventou nada, posto que cada cárcere designado foi o efetivamente vivido. O primeiro, “Viagem”, é o que marcou o translado dos presos políticos nordestinos para Rio de Janeiro, no fétido e insalubre porão de um navio. Nada em Memorias do cárcere se limita a uma experiência puramente particular, porque toda a obra, a começar por sua estrutura, pressupõe às diversas condições de cárcere dos povos marcados como sub-raças.


O cárcere-viagem representa, também, os navios movidos a remo, as galeras, do Império Romano, impulsionadas por escravizados permanentemente chicoteados porque o descanso estava proibido e era preciso remar até a morte. Corresponde igualmente os navios negreiros do período do tráfico negreiro mercantilista-colonial, dominando pelos britânicos, assim como os diversos navios estadunidenses que funcionam como verdadeiros campos de concentração em alto-mar, na atualidade.


Por sua vez, o “Pavilhão dos Primários” se constitui como o espaço de separação do joio do trigo, isto é, do colonizado perigoso para o colonizado domesticado, cabendo ao primeiro a punição maior, a da “colônia correcional”, campo de concentração em que as hierarquias entre os presos comuns e presos políticos, os letrados e não letrados, são eliminadas, prevalecendo os maltratos, a ausência de higiene, a alimentação podre, o inferno.


A “Casa de Correção”, na obra e no estatuto colonizado da humanidade, corresponde ao momento de trégua, também chamado de “novo normal”, em que se pode viver melhor sem deixar de estar preso, vigiado e vulnerável ao eterno retorno à viagem à “Colônia Correcional”, que, em linhas gerais, objetiva o estatuto colonizado da humanidade, esse cárcere úmido e estreito em que se acaba com a vida na Terra, essa sub-raça.


De qualquer forma, não importa onde se esteja, se em “Viagem” rumo ao inferno do estatuto colonizado da humanidade, se no “Pavilhão dos Primários”, se na “Colônia Correcional” ou se na “Casa de Correção”, porque, a depender de quem seja e dos melindres do oligarca-mor do momento, a condenação à morte é a sentença transversal, como ocorreu com Olga Prestes e Elisa Berger: “Olga Prestes e Elisa Berger nunca mais foram vistas. Soubemos depois que tinham sido assassinadas num campo de concentração dos nazistas (RAMOS, 1998, p. 278).”


Post-Scriptum

A invasão do fascismo bolsonarista ao Palácio do Planalto, ao STF e ao Congresso, saqueando, roubando, destruindo, lembra os filmes de zumbis da indústria cultural estadunidense.


O inconsciente político dessas narrativas tétricas não é outro senão este: povo “livre”, que ocupa as ruas, deve ser povo morto-vivo – espalha morte, ignomínia e destruição em tudo que toca, deseja, faz.


Curiosamente, a propósito, nos filmes de zumbi, a multidão de mortos-vivos se encontra fundamentalmente nos espaços de fora; está solta no mundo. Os vivos, por outro lado, encarceram-se com o objetivo de se proteger.


A liberdade, assim, evidencia-se como liberdade de estar morto e de matar; a prisão, por sua vez, torna-se o espaço disponível para os vivos – estar vivo é encarcerar-se.


Se o que define o racismo de Estado colonial estadunidense é a condenação da soberania nacional plena à condição de sub-raça, o bolsonarismo constitui, com seu nacionalismo fake, a sua versão zumbítica.


No entanto, o verdadeiro cárcere do estatuto colonizado da humanidade é a sua deriva histórica: a humanidade como costela de Adão do Ocidente.


O Brasil, a esse respeito, nunca foi um país livre, soberano. Fomos a costela de Adão de Portugal, da Inglaterra e somos dos EUA. Só conhecemos de fato uma única memória; a do cárcere.


É por isso que a solução para o bolsonarismo jamais pode ser a cultura woke globalista estadunidense, porque, nesse caso, trocaremos uma costela de Adão por outra, com a ilusão de que a “Casa de Correção” seja melhor que a “Colônia Correcional”, ignorando que o que está em jogo é um sistema carcerário em que, na “Viagem” carcerária sem fim, a sub-raça colonizada não passe de um joguete, de cárcere a cárcere, encarcerada.


Para parodiar o poema “Quadrilha” de Carlos Drummond de Andrade, afinal foi o woke globalista Obama que derrubou Dilma, prendeu Lula, preparou o caminho para Bolsonaro, que nos joga no colo de Biden.


Essa não é, no entanto, uma história de amor, como no conhecido poema de Drummond, mas de cárcere.


Referências:

ANDRADE, Carlos Drummond de. A rosa do povo. 8º ed. Rio Janeiro: Record, 1991.

_____. “Quadrilha”. In.: Alguma poesia. 5º ed. Rio de Janeiro: Record: 2003, p. 79.

ANDRADE, Oswald de. “Manifesto antropófago”. DoPau-BrasilÀantropofagiaeàsutopias. 2. Ed. ObrasCompletas. V. 6. São Paulo: Civilização Brasileira, 1978, p. 19,

FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. Trad. Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

LENIN, Vladimir Ilytch. Imperialismo, etapa superior do capitalismo. São Paulo: Glo­bal, 1979.

LUXEMBURO, Rosa. La acumulación del capital. Ciudad del Mexico: Editorial Grijalbo, 1967.

MARX, Karl. O capital. Livro I. Trad. Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2017, p.91.

RAMOS, Graciliano. Memórias doCárcere.V.II. 34. Ed. Rio de Janeiro: Record, 1998


Fonte: https://outraspalavras.net/eurocentrismoemxeque/a-faceta-anti-imperialista-de-graciliano-ramos/


TAGS

COLONIZAÇÃO, ESPOLIAÇÃO, EUA, FRANZ FANON, GRACILIANO RAMOS, IMPERIALISMO, MEMÓRIAS DO CÁRCERE, MICHAEL FOUCAULT, RACISMO DE ESTADO, SUPEREXPLORAÇÃO


sábado, 6 de janeiro de 2024

Velho, eu?

Imagem: Google

A gente nasce, cresce, fica velho e morre. Bom quando esse ciclo se completa. Alguns e algumas se vão antes, prematuramente, por vários motivos; doenças; balas perdidas; uso de drogas lícitas e ilícitas; guerras; acidentes; desnutrição e fome; suicídio. 

     Bem, como prefiro que a morte me leve naturalmente, vou vivendo o melhor que posso, com a velhice chegando, trazendo rugas e limitações da idade. 

     Há quem tenha dificuldade de aceitar que está ficando velho. Tentam encontrar a fonte da eterna juventude. Busca fadada ao fracasso. Não há cremes,  harmonizações faciais e cirurgias, que dê jeito. A velhice chega, com  flacidez, diminuição da libido, pernas bambas, dores,  coisa e tal.

     A ficha da velhice só caiu em Osvaldo, aos setenta. Graças ao espelho e ao cansaço. Não desistiu de ir ao clube, nadar, levantar peso, caminhar. No que ele estava certo. É preciso cuidar da saúde, sempre. O problema era o desespero, o medo de que seus dias de vida minguavam.

     Osvaldo morre de medo só de pensar na morte. O que não evita de morrer um pouco a cada dia. 


J Estanislau Filho



Sapato Velho

Imagem: Google


Você lembra, lembra
Daquele tempo, eu tinha
Estrelas nos olhos, e um jeito de herói
Era mais forte e veloz
Que qualquer mocinho de cowboy
Você lembra, lembra
Eu costumava andar bem
Mais de mil léguas pra poder buscar
Flores de maio azuis
E os seus cabelos enfeitar
Água da fonte cansei de beber
Pra não envelhecer
Como quisesse roubar da manhã
Um lindo pôr de sol
Hoje não colho mais
As flores de maio
Nem sou mais veloz
Como os heróis
É, talvez eu seja simplesmente
Como um sapato velho
Mas ainda sirvo se você quiser
Basta você me calçar
Que eu aqueço o frio dos seus pés
Água da fonte cansei de beber
Pra não envelhecer
Como quisesse roubar da manhã
Um lindo pôr de sol
Hoje não colho mais
As flores de maio
Nem sou mais veloz
Como os heróis
É, talvez eu seja simplesmente
Como um sapato velho
Mas ainda sirvo se você quiser
Basta você me calçar
Que eu aqueço o frio sos seus pés
É, talvez eu seja simplesmente
Como um sapato velho
Mas ainda sirvo se você quiser
Basta você me calçar
Que eu aqueço o frio dos seus pés

Autores: Paulinho Tapajós, Claudio Nucci e Mú Carvalho

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Um diálogo impossível


Imagem: ESPN

José Eustáquio dava suas "cabeçadas" antes mesmo do nascimento.  Sua mãe é quem conta o que ele fazia, no útero.  Depois do nascimento, então, imaginem.  É um tal de cair e levantar.  José, Zé para os amigos, sempre se ergue,  segue em frente, com a paciência que  Deus lhe deu.  Apesar de evitar o debate político, principalmente com extremistas de direita, não resistiu às provocações   do  amigo, Ivon  Guidon, que antes da chegada de Bolsonaro ao poder, era um cidadão reativamente pacato,  uma pessoa do bem. Para  surpresa, o amigo se revelou de uma violência verbal, não imaginada por Zé.  

        - E aí, Zé Ruela - provocou Ivon - você não tem vergonha de ter votado no nove dedos?
        - Nove dedos, como assim? - devolveu José, se fazendo  desentendido.
        - O carniça comunista,  presidiário, que está destruindo o Brasil. 
    - Não sei como você chegou a esta conclusão. O que vejo é o contrário, o país sendo reconstruído, desemprego em queda, assim como a inflação. A vida das pessoas está bem melhor....
     - Você é um idiota, Zé, defendendo esse vagabundo, que constrói  banheiro unissex,  que defende o aborto e casamento de homem com homem, mulher com mulher.
     - Rapaz, você acredita nestas bobagens? Nada a ver. O Brasil recuperou a credibilidade internacional; atrai investimentos estrangeiros; o desmatamento diminuiu e .... 
        - E o quê? - interrompeu Ivon - Quinhentos e oitenta dias preso, vai ficar na história. 
       - Você se refere ao Moro, que o sentenciou sem provas e está em vias de ser cassado. Muda o disco, Ivon. 
        - A verdade dói.  Luladrão! 
       - Verdade, pra você, que acredita que a Terra é plana, nega a ciência. Vamos parar com esta conversa maluca. O inelegível está atolado em escândalos:   joias, cartão corporativa, fraude no cartão de vacina, golpe contra a democracia e prestes de ir para prisão...
       - E o Lula?  Me prove qual foi o crime, que  o  Mito cometeu?  Sempre faço esta pergunta e nenhum esquerdopata  sabe responder. 
       - Meu amigo, vamos deixar que o sistema de justiça responda! Lula é dono triplex, três vezes eleito pelo voto , respondeu Zé, com um leve sorriso. 
        - Eleição roubada pelo TSE, pelo STF e Alexandre Moraes. Sou antissistema.
        - O que é ser antissistema?  Sem tornozeleira eletrônica? Ironizou Eustáquio.   
        - Contra, entendeu, seu trouxa? Baba-ovo do Lula!
      José se levantou, calmamente, dizendo ser um diálogo impossível com...  Por pouco chamava Guidon de nazista. Já na rua, ouviu:
      - Foge, comunista, vai pra Cuba, porque eu estou indo pra Argentina. Isso aqui está virando uma Venezuela!
       Foi mais uma cabeçada de José Eustáquio. 

J Estanislau Filho

Imagem: Carta Capital


domingo, 31 de dezembro de 2023

passarada

Imagem: Brasil Escola


arara
no pé de araçá
coisa rara
de se vê


bico-de-lacre
no pé de capim
um sorriso
para mim


urubu
fazendo graça
sobre uma
carcaça


bem-te-vi
pena amarela
está sempre
de sentinela



canário
de galho em galho
que maravilha
de cenário

Imagem: Google



beija-flor
batendo asas
à procura
de sua casa


papagaio
no arame do varal
um trapezista
sem igual


andorinhas
fazendo verão
na soleira
do casarão


Imagem: Google


tuiuiú
do Pantanal
num voo
sensacional


aves
procuram árvores
suas casas
seus lares

Imagem: Jornal Opção


J Estanislau Filho

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Resumo de alguns acontecimentos de 2023



 Início de 2023



O ano começa com a posse de Luíz Inácio Lula da Silva


Imagem: Agência Brasil - EBC

8 DE JANEIRO

No dia 8 de janeiro, quando milhares de apoiadores de Bolsonaro ( bolsonaristas radicais, golpistas e criminosos) invadiram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e a sede do Supremo Tribunal Federal, destruindo móveis e obras de arte e clamando, em vão, por uma intervenção militar para destituir Lula do cargo.

O Supremo respondeu com firmeza ao motim


Imagem: Google


Por maioria de votos, o Plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) declarou a inelegibilidade do ex-presidente da República Jair Bolsonaro por oito anos, contados a partir das Eleições 2022.


Imagem: Google

No ano em que se multiplicaram os casos de ataques armados à escolas, um caso em São Paulo marcou o país. Quatro professoras e um aluno foram esfaqueados, em março, dentro da Escola Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia. 


Clima tenso

Imagem: agência Brasil

O clima extremo foi um dos temas de 2023, com ondas de calor, ciclones e tempestades atingindo o Brasil ao longo deste ano, que foi considerado o mais quente já registrado na história. Em março, temporais provocaram deslizamentos de terra que mataram 65 pessoas em São Sebastião e Ubatuba, no litoral de SP. O tempo extremo também provocou mortes em outras regiões, com o Sul enfrentando uma sucessão de ciclones extratropicais em meados do ano. Em setembro, tempestades e ciclones atingiram o Rio Grande do Sul, e dezenas de pessoas morreram.


Imagem: O Globo


Argentina

Imagem: Brasil de Fato

Em 2023, os argentinos escolheram seu novo presidente. Javier Milei venceu o peronista Sergio Massa e assumiu o cargo ainda em dezembro.


Fonte: O Globo


O retorno de Lula


Imagem: Google


Luiz Inácio Lula da Silva voltou ao poder em 1º de janeiro de 2023, prometendo trazer o "Brasil de volta" ao cenário internacional e unir os mais de 200 milhões de brasileiros em seu terceiro mandato como presidente, depois de derrotar Jair Bolsonaro (2019-2022) nas urnas. 


Terremotos mortais


Imagem: R7


Na madrugada de 6 de fevereiro, o sudeste da Turquia e parte da Síria foram devastados por um dos terremotos mais mortais dos últimos 100 anos. 
O tremor, de magnitude 7,8, seguido por outro nove horas depois, deixou pelo menos 56 mil mortos, quase 6 mil deles no lado sírio. 
As imagens da catástrofe correram o mundo: um pai segurando a mão da filha de 15 anos, soterrada nos escombros na Turquia, ou um recém-nascido salvo milagrosamente na Síria, com o cordão umbilical ainda ligado à falecida mãe. 


O planeta em ebulição


Reunidos em Dubai entre 30 de novembro e 12 de dezembro na 28ª conferência climática da ONU, países de todo o mundo aprovaram pela primeira vez um compromisso histórico, abrindo a via para abandonar progressivamente os combustíveis fósseis, cuja queima provoca o aquecimento global. 


O aquecimento global causado pelas atividades humanas foi o principal motor da recente onda de calor que atingiu a América do Sul, segundo um relatório publicado em outubro pela rede científica World Weather Attribution (WWA).


Grandes partes da América do Sul registraram altas temperaturas em meados de setembro, antes do início da primavera, com temperaturas de 40°C nas regiões central e norte do Brasil e em partes da Bolívia, Argentina e Paraguai.

Campeãs do mundo e beijo forçado

A Espanha conquista a Copa do Mundo Feminina em Sydney, mas a comemoração é prejudicada pelo presidente da federação do país, Luis Rubiales, que durante as celebrações beija a atacante Jenni Hermoso na boca, causando indignação internacional. 


Fonte: O Tempo


Prisão de miliciano Zinho pode levar à descoberta do mandante da morte de Marielle Franco


Imagem: Metrópoles

A prisão de Luís Antônio da Silva Braga, conhecido como Zinho, durante a noite de Natal, não se limita ao embate pelo controle das milícias no Rio. Seus desdobramentos têm potencial para impactar a investigação dos possíveis mandantes por trás do trágico assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes.


Fonte: Diário de Centro do Mundo


Márcio Resende, RFI - A principal central sindical da Argentina, a Confederação Geral do Trabalho (CGT), ligada ao Peronismo, lidera nesta quarta-feira (27/12) o terceiro protesto organizado em apenas 16 dias de governo do presidente Javier Milei, sem contar dois panelaços espontâneos.


A manifestação é contra o mega decreto que flexibiliza o vínculo empregatício e enfraquece o poder dos sindicatos. O objetivo é pressionar a Justiça a declarar o mega decreto inconstitucional. Participam ainda do protesto organizações sociais, partidos de esquerda e grupos de direitos humanos. Todos contra o decreto que também desregula o Estado e promove a abertura da economia.


Imagem: GGN

Fonte: Brasil 247


“Iniciamos 2023 com uma expectativa grande no fortalecimento da luta pela terra e da democracia”, aponta Ceres Hadich, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Ela avalia, no entanto, que há um “descompasso entre política, orçamento e efetivação” das pautas da reforma agrária no país.


O ano de 2023 para o MST, segundo Hadich, foi marcado pela necessidade de consolidar a retomada de um governo democrático no país e combater o avanço da extrema direita no cenário global. O ano mal tinha começado quando o escândalo do trabalho escravo nas colheitas de uva do Rio Grande do Sul potencializou o debate público sobre a reforma agrária e pautou, em março, o eixo da jornada de mulheres do MST.  

Imagem: Brasil de Fato

O movimento chega ao final de 2023 como um dos articuladores da Jornada Nacional de Solidariedade Contra a Pobreza e a Fome  e se prepara para suas celebrações de 40 anos em 2024. Com o aniversário em janeiro, a organização vai se tornar o mais longevo movimento de luta por terra da história do país. É nesse contexto em que será realizado o sétimo Congresso Nacional do MST que, segundo Hadich, deve projetar “um novo ciclo de lutas”.  


Fonte: Brasil de Fato


Entenda como os preços dos combustíveis se comportaram em 2023


Cenários internos e externos contribuíram para a trajetória dos preços dos combustíveis no país ao longo de 2023. No cenário interno, as maiores influências vieram de mudanças na cobrança de tributos e da nova política de preços da Petrobras. Fora do Brasil, dúvidas sobre o comportamento das principais economias e consequências da guerra na Ucrânia são os fatores apontados. 


Custo na bomba 

Imagem: Google

Até novembro, último mês com resultado fechado, a inflação acumulava alta de 4,04%, sendo que o subitem combustíveis era mais que o dobro, 8,92%. O IBGE apurou que a gasolina puxou a subida, contribuindo com 12,47% no período. Por outro lado, o etanol caiu 7,11, o diesel 6%, o gás natural veicular (GNV), 7,76% e o botijão de gás, menos 6,56%.


Fonte:  agência Brasil


Ministros repudiam fake news e cobram regulação das Big Techs após suicídio de Jessica (Imagem Fake News)


O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, e a ministra da Mulher, Cida Gonçalves, se solidarizaram com a família da jovem Jéssica Vitória, vítima de fake news nas redes sociais, e defenderam a regulamentação das plataformas.


Na avaliação de Silvio Almeida, “a irresponsabilidade das empresas que regem as redes sociais diante de conteúdos que outros irresponsáveis e mesmo criminosos (alguns envolvidos na política institucional) nela propagam tem destruído famílias e impossibilitado uma vida social minimamente saudável”.


“Por isso, volto ao ponto: a regulação das redes sociais torna-se um imperativo civilizatório, sem o qual não há que falar-se em democracia ou mesmo em dignidade. O resto é aposta no caos, na morte e na monetização do sofrimento”, completou.


Grandes páginas nas redes sociais divulgaram conversas falsas entre Jéssica Vitória e o youtuber Whindersson Nunes, dando início a uma série de ataques a ameaças contra a jovem que acarretaram em sua morte. 




Fonte: Hora do Povo


Alguns famosos que se partiram em 2023

Imagem: Google

Rita Lee, Glória Maria, Aracy Balabanian. Palmirinha Onofre, Zé Celso, Tina Turner, MC Marcinho, Elizangela, Milan Kundera,  Michael Gambon, Andre Braugherr


10 ações que estão reconstruindo o Brasil


Bolsa Família

Com exceção talvez das mais de 700 mil mortes na pandemia, nada foi mais irresponsável e criminoso na destruição do país que a volta da fome. Por isso, o governo Lula recriou o Bolsa Família, com mínimo de R$ 600 e adicional de R$ 150 por criança menor de 7 anos. O extra de R$ 50 para gestantes e pessoas de 7 a 18 anos chega em junho.


Agricultura familiar

Não se combate à fome sem apoiar os pequenos agricultores. São eles, afinal, que colocam cerca de 70% do que vai para a mesa do brasileiro. Por isso, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) voltou. Agora, o agricultor familiar volta a ter segurança de que pode produzir, pois receberá um preço justo pelo que colher.


Merenda escolar

É difícil acreditar, mas a merenda escolar ficou seis anos sem reajuste no Brasil. Como resultado, muitas crianças chegaram a ficar sem lanche ou passaram a ser alimentadas nas escolas com suco em pó e bolachas ultraprocessadas. Lula já começou a corrigir isso, com um aumento do valor repassado pelo governo federal a estados e municípios que vai de 28% a 39%.  


Socorro aos indígenas

É preciso reconstruir também os direitos humanos no Brasil. A eleição de Lula serviu para colocar fim a uma política assassina de perseguição às minorias sociais. E a ação mais urgente foi socorrer os indígenas, especialmente os Yanomami, que foram covardemente entregues à cobiça e desumanidade de desmatadores e garimpeiros.


Mais Médicos

Por causa de um discurso ideológico e propagandista, o Mais Médicos, que pela primeira vez levou atendimento de qualidade a áreas distantes do país e periferias das grandes cidades, foi desmontado. O povo ficou desassistido, crianças morreram. De volta, Lula reergueu o programa, que voltou melhorado e ampliado.


Vacinação

A vacinação é uma das áreas em que a triste destruição do país fica mais evidente. O Brasil viu, por exemplo, a taxa de imunização infantil cair de 93% para 71%, segundo o Unicef. O governo Lula lançou uma ampla campanha de vacinação contra a Covid-19 e outras doenças, e vem combatendo as fake news e o negacionismo


Minha Casa Minha Vida


Imagem: agência Brasil

Nenhum programa expressa tão bem o lema da reconstrução quanto o Minha Casa Minha Vida. Jair Bolsonaro praticamente o abandonou e ainda acabou com a Faixa 1, voltada para as famílias mais pobres. Lula relançou o programa, já concluiu e entregou mais de 5 mil casas cuja construção estava paralisada e vai contratar 2 milhões de moradias até 2026.


Segurança e proteção às mulheres

Quatro anos de um presidente machista fizeram muito mal às mulheres. A proteção a elas volta a ser uma preocupação. Lula relançou o Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania), com foco no combate ao feminicídio, liberou recursos para a construção de 40 Casas da Mulher Brasileira para abrigar vítimas de violência doméstica; determinou o funcionamento por 24 horas das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher e estendeu o Ligue 180 para o WhatsApp, entre outras medidas.


Igualdade racial

Lula sabe que o Brasil só será justo e desenvolvido quando tratar com igualdade a todos os seus cidadãos. Por isso, tem preocupação especial com a questão racial. Além da criação de um ministério para esse fim, determinou reserva de vagas para pessoas negras na administração pública; criou o programa Aquilomba Brasil, para promover os direitos da população quilombola; criou um grupo de trabalho interministerial para elaborar o novo Programa Nacional de Ações Afirmativas; e determinou a conclusão do Plano Juventude Negra, entre outras medidas.


A cultura de volta

A máquina de ódio e preconceito que tentou dominar o Brasil teve como um de seus maiores alvos. O apoio à cultura voltou. Em 23 de março, Lula assinou o decreto que regulamenta o financiamento cultural no país e estabelece novas regras de acesso à Lei Paulo Gustavo, Lei Aldir Blanc, Cultura Viva e Lei Rouanet, além de outras políticas públicas para o setor. 


Fonte: Partido dos Trabalhadores 


Guerras 


Pelo menos 20 mil pessoas foram mortas em Gaza desde que Israel começou a retaliação aos ataques do Hamas de 7 de outubro, sendo mais 7 mil crianças. 


Imagem: Google


Futebol 

Corinthians feminino bate recorde de títulos em 2023
Fluminense campeão da Libertadores 
São Paulo conquista pela primeira vez a taça da Copa Brasil 
Palmeiras conquista o décimo segundo brasileiro. 

Imagem: Rede Brasil Atual

Garimpo ilegal 


A retirada de garimpeiros de Terras Indígenas (TI), como vem acontecendo no território Yanomami, é apenas o primeiro passo para combater o garimpo ilegal em áreas de preservação. Para o governo Lula cumprir a promessa de acabar com a ilegalidade no setor, será preciso envolver dezenas de órgãos públicos para implantar medidas como mudanças na legislação, melhorias na fiscalização, adoção de nota fiscal eletrônica e até novas regras para o comércio de máquinas e combustível de aviação.

Imagem: Brasil Escola

1  Mudar a lei para acabar com a ‘boa fé’ do comprador, por meio de medida provisória
2  Implementar nota fiscal eletrônica e rastreabilidade do ouro
3  Cobrar Banco Central e CVM para fiscalizar primeiras compradoras de ouro
4  Envolver as compradoras finais no controle da cadeia produtiva
5  Fortalecer a Agência Nacional de Mineração
6  Proibir por lei uso de maquinário pesado em garimpos e controlar sua venda
7 Tornar o crime hediondo e aumentar a pena
8  Criar políticas sociais para ex-garimpeiros
9  Controlar o transporte aéreo na Amazônia (Anac e FAB)


Notícias falsas

A cada cinco propagadores de notícias falsas no Brasil, um pertence à classe política. O PL, partido ao qual o ex-presidente Jair Bolsonaro é filiado, abriga quase metade dos políticos identificados.

Imagem: ComCiência

A lista tem 70 políticos, 37 empresas privadas, 32 empresários, 21 integrantes ou que fizeram parte da administração pública, oito empresas públicas ou órgãos do governo, dois partidos e dois movimentos políticos. Há ainda 142 pessoas, que vão desde juízes a influenciadores digitais e jornalistas como Alexandre Garcia, Alessandro Loiola, Rodrigo Constantino e Guilherme Fiúza.


Imagem: Sul 21

Fonte: UOL


A taxa de desemprego no país caiu para 7,5% no trimestre móvel encerrado em novembro segundo dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 


Imagem: Google

Depois de duas derrotas, o macho bolsonarista violento é um ser desorientado

Imagem: 247


Por Moisés Mendes  27 dez, 2023*

O Brasil leva de 2023 para 2024 muitos dos seus paradoxos à espera de decifradores. Esse é um deles: por que a violência cotidiana, principalmente contra as mulheres, não para de crescer, mesmo com os abalos sofridos pela base política e amoral da qual faz parte a maioria dos agressores?

Por que os agressores invariavelmente identificados com o bolsonarismo e o fascismo estão tão ativos quanto estiveram nos quatro anos de extrema direita no poder?

Uma tentativa de resposta: eles sobrevivem como agressores porque o macho bolsonarista ficou desorientado pela perda do poder político que avalizava suas falas e suas atitudes e não consegue puxar o freio, porque nem freio tem.

O macho bolsonarista dava como certa a vitória na eleição. Depois, já inseguro, apostou no golpe. Deu tudo errado e ele foi abandonado até por seus líderes.

Alguns teimam em se agarrar ao autoengano de que continuam protegidos por um Bolsonaro inelegível, mas ainda protagonista, agressivo e falante. Sabem que essa proteção é precária, mas é preciso enganar-se.

Esse macho se sentia autorizado a fazer o que Bolsonaro inspirava. A desproteção o desorientou. Todas as estatísticas sobre violência contra a mulher, que são agressões típicas de bolsonaristas, e todas as atitudes extremadas de violência física mostram aumento de casos este ano.

Homens violentos das polícias militares continuam batendo, atirando e matando negros e pobres. Homens fragilizados pelas circunstâncias políticas ficaram mais violentos em 2023.

Um exemplo é o dos casos de perseguição, que chamam de stalking, em que quase sempre um homem que se considera rejeitado está perseguindo uma mulher com ameaças psicológicas e/ou físicas.

A polícia do Rio Grande do Sul, segundo Zero Hora, registrou em 2002, de janeiro a outubro, 3.343 casos de perseguição no Estado. No mesmo período de 2023, foram 3.963.

Não param de crescer agressões e assassinatos de mulheres, gays, trans. O macho bolsonarista agressor não se contém e segue em frente, porque está programado para agredir.

Era violento sob a proteção do sentimento de impunidade. Sentia-se à vontade porque a violência era da natureza do grupo que estava no poder.

Esse macho era violento sob o comando de Bolsonaro e, quando esperavam que o resgate da democracia iria conter seus impulsos, tornou-se mais violento.

Todas as estatísticas mostram que, ano a ano, a violência vinha crescendo no Brasil. E, mesmo sem a inspiração do poder de Bolsonaro, não para de crescer.

Para seguir no exemplo gaúcho, são 13 casos de perseguição por dia, fora os não registrados. A violência não foi contida pela perspectiva de reversão da sensação de que nada iria acontecer.
O bolsonarista não tem mais Bolsonaro com o palanque do governo, mas tem Nikolas Ferreira e outros com o palanque da Câmara. É a exacerbação do ativismo misógino, transfóbico e racista com mandato.

O bullying virtual que matou a jovem mineira Jéssica Vitória Canedo deve ser examinado nesse contexto. O extremista incorporou às suas ações, também na internet, a índole necrófila de Bolsonaro.

O processo de resgate da democracia não é capaz de detê-lo. Para o bolsonarista violento, é preciso mais do que perseguir e humilhar, é preciso matar. E, se o perseguido morrer, dizer que ninguém é coveiro.

Esse macho bolsonarista continua sugerindo que matem Lula, porque o sentimento de parte deles, em meio à desorientação, é mais do que o de impunidade. Eles acham que estão apenas temporariamente fora do poder.

O macho bolsonarista precisa ser reprogramado, para que se submeta à nova realidade. Essa é a missão das instituições que se encolheram nos quatro anos de bolsonarismo.
O fascista inseguro, em crise de autoestima, se esforça para provar a si mesmo e ao seu entorno que, mesmo com seu líder fora do poder, ainda consegue ser fascista e violento e ficar impune.


* Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas 'Todos querem ser Mujica' (Editora Diadorim)



Fonte: https://www.blogdomoisesmendes.com.br/depois-de-duas-derrotas-o-macho-bolsonarista-violento-e-um-ser-desorientado/