sábado, 27 de junho de 2020

órbita osculatriz

Imagem: Google

o aperto e o desconforto do quarto
e esse corpo cansado
nesses dias em que estou farto

não sei se parto agora
com o coração partido
como pássaro ferido
sem vento lá fora

moscas rondam o nariz
desse infeliz inadequado
bate o sino da matriz
meretriz beijando desdentado

vejo a cara de desgosto
falsidade em cada rosto
sorrisos venais
sordidez em mesas luxuosas
e um buquê de rosas
em ambientes banais
hipocondríacos hipócritas
em seus comensais

durmo com preguiça
da horta uma horda
de larvas não me largam
entro em êxtase às avessas

abutres engravatados
engavetados em seus ternos
com ternuras e galanteios mornos
súcia de sócios por todos os lados
o meu sono um inferno



J Estanislau Filho

Poema do meu livro Estrelas - 2015



sexta-feira, 26 de junho de 2020

Um Jardim



Imagem: jef


Sobre o tapete de grama a rosa do deserto se abre
diante do olhar de um casal de garças de asas sempre abertas.
Um pássaro miúdo constrói o ninho num pé de limão,
sob a proteção de três palmeiras em fileira,
que ofertam seus troncos para a morada de uma penca de bromélias,
samambaias.
Um jardim de vasos decorados por pitangas
amoras
figos
sapotis
cajaranas
jabuticabas
Um jardim de lagartixas e joaninhas
formigas e passarinhos
e insetos piscando luzes à noite.


J Estanislau Filho

 Imagem: jef

Imagem: jef

terça-feira, 23 de junho de 2020

Sobre Jair Bolsonaro

Crédito da foto (Aroeira)






Diário, o negócio é disfarçar. Tenho que dar desculpa para todas as acusações que aparecerem. Mesmo que sejam meio esfarrapadas, porque os meus fiéis acreditam em tudo.

Por exemplo, ontem apareceu uma foto do Queiroz pagando boleto do Flávio em dinheiro. E parece que ele fez esse negócio mais de cem vezes. Claro que é porque o Queiroz estava usando o dinheiro da rachadinha. Mas vamos dizer que os fregueses do Flavinho na loja de chocolate só usavam dinheiro vivo.

O celular do Bebbiano voltou pro Brasil. E as coisas que tão lá, Diário, fazem a reunião ministerial parecer conversa de freira. Nesse caso, meu plano é dar uma de Moro e dizer que mensagem de celular não vale.

A japonesa da Folha, aquela Thaís Yokohama, disse que o Wassef é perigoso e tentou sequestrar o Lauro Jardim dO Globo. Vou dizer que nunca soube disso e já dispensei o Wassef.

Descobriram que o Weintraub fez um contrato de 12,6 milhões com a empresa da ex-mulher do Wassef, que já foi condenada por improbidade e teve umas acusações de corrupção ativa (umas 168!). Vou dizer que já demiti o Weintraub e que o problema é dele.

O pior é que descobriram que nestes 18 meses meu governo pagou R$ 41,6 milhões para a empresa da ex-mulher do Wassef. Isso é quase o mesmo que nos quatro anos anteriores. Além disso, fechamos novos contratos de R$ 53 milhões, num total de R$ 218 milhões a serem pagos nos próximos anos. Vou dizer que ela é ex-mulher do Wassef, que por sua vez é meu ex-advogado, e ex de ex não tem problema.

Aliás, Diário, o que importa é a gente dizer que já se afastou do Wassef, que por sua vez vai dizer que fez tudo sozinho porque estava com peninha do Queiroz, um pobre homem, doente e abandonado.

Mesmo com todas essas desculpas ótimas, vão tentar ligar meu nome ao Queiroz, só porque ele é meu amigo há mais de trinta anos, ao Wassef, só porque ele é meu advogado e ia direto no Palácio da Alvorada, e ao meu filho, só porque é meu filho.

O jeito vai ser disfarçar. Mas não vai ser fácil. Tô me sentindo que nem camaleão em desfile de escola de samba.

#diariodobolso






Fonte: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Humor/Diario-do-Bolso-23-de-junho-de-2020/9/47925



segunda-feira, 22 de junho de 2020

O Próprio Poema....

imagem: medium.com



Vazio que limita
É o meu limbo emocional
Difícil explicar
Sei lá eu como verbalizar
Porque caçar-te
Nas entrelinhas de cada poema...


Não deverias, tu, o próprio poema
Sentir fome? De nós?
Noites vazias dormindo de menos
A sensação de estar presa a uma esperança...
Nem quando imploro a solidão
Pra ela morrer e me deixar...
Ela não morre nunca...


Antes, fazer dos meus dias um tormento
Com hora para voltar
A esse sentimento de impotência
Que desespera
Escorrendo dos nós da garganta
Silêncio é forma dolorosa de dizer:
“eu desisti de nós”...


Marisa Costa Nascimento

sábado, 20 de junho de 2020

Flávio Bolsonaro liderava ‘núcleo executivo da organização criminosa’, diz MP



Flavio Bolsonaro (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)





Pela primeira vez desde o início das investigações sobre o gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio, o Ministério Público Estadual encontrou provas de que pessoas ligadas ao senador mantinham contato com o miliciano Adriano Magalhães da Costa Nóbrega, chefe da milícia Escritório do Crime, no período em que este era procurado pela Justiça.
O chefe do grupo criminoso teria participado da elaboração de um plano de fuga da família do ex-assessor Fabrício Queiroz e integrava, segundo o MP, “o núcleo executivo da organização criminosa” liderada pelo atual senador.

Até então, as relações de Adriano com o gabinete de Flávio haviam acontecido no período em que, de acordo com as investigações, ainda não era pública a associação do ex-capitão com o crime organizado. Flávio, por exemplo, havia homenageado o então policial na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

Também o visitara na cadeia, quando ele respondia a um processo por homicídio. Por fim, empregou a mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães, e a ex-mulher dele, Danielle Mendonça da Costa, como funcionárias fantasmas em seu gabinete na Alerj, segundo a investigação.





Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/flavio-bolsonaro-liderava-nucleo-executivo-da-organizacao-criminosa-diz-mp/





E mais:

Integrantes do Palácio do Planalto culpam, desde quinta-feira (18), o advogado Frederick Wassef pelo novo desgaste do presidente Jair Bolsonaro: a prisão de Fabrício Queiroz em um imóvel do advogado. Wassef defende o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), no caso das rachadinhas, e também é advogado de Jair Bolsonaro.

Nos bastidores, assessores do presidente, quando questionados sobre a prisão de Queiroz, afirmam que quem tem de explicar o ocorrido é Fred Wassef. E admitem que a situação de Flávio Bolsonaro se agravou. A estratégia é tentar blindar Bolsonaro. Por isso, nos bastidores do Planalto, defende-se a solução mais rápida: tirar Wassef o quanto antes da defesa do núcleo familiar, para afastar a ideia de que Queiroz foi escondido em Atibaia com a anuência da família.

Porém, em um primeiro momento, menos de 24 horas após a prisão de Queiroz, Fred Wassef repetia a quem perguntasse que era “óbvio” que ele era o advogado do presidente Bolsonaro, em uma sinalização clara de que não aceitará sair pela porta dos fundos da casa da família presidencial.

Para governistas, Wassef dá sinais de que resistirá a essa estrategia de ser isolado. E a preocupação, hoje, no Planalto, é com o conteúdo do que Fred Wassef possa revelar se for abandonado pela família – ou preso, por obstrução de Justiça. Por isso, assessores monitoram o advogado desde quinta e não descartam sua prisão.

Fonte: G!

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Poema ao meio-dia


Imagem: Google

Ao meio-dia, nos trópicos, se sol houver,
transeuntes pedem nuvens e guarda-sóis.
Os animais se protegem sob as sombras de árvores.
Ao meio-dia em ponto o sino da matriz não dobra.
O alto-falante chia.
Os moradores silenciam.
O locutor vai comunicar um fato novo.
Pelas primeiras palavras, todos sabem
tratar-se de um anúncio fúnebre.
O vendedor de algodão doce não buzina.
Os talheres se agitam na cozinha ao lado.
O homem do meio-dia, dionisíaco,
além do bem e do mal, perdeu o senso cognitivo
após embriagar-se de vinho.
A razão obrigou-o ao término numa dose de cianureto

J Estanislau Filho

terça-feira, 16 de junho de 2020

Janelas Abertas


As flores anteciparam a primavera e querem ocupar a cozinha da casa em que moro. A mesa de ardósia fica em frente à janela. É neste lugar que gosto de iniciar meus textos em meu caderno de exercícios. Continuo usando a velha e boa caneta, para registrar o que dita o coração. Depois, sim, faço uma revisão, uns adornos aqui, outros acolá, na tentativa de seduzir os leitores e as leitoras. O micro aperfeiçoa os detalhes
    Passo boa parte do meu tempo neste lugar. Digo boa parte, porque são momentos realmente bons. Geralmente ao anoitecer. Coloco um disco: mpb, rock progressivo, clássico pop e escrevo o que me vem à mente. Sem planejamentos. Planos são úteis para a vida cotidiana. A arte não carece disso, ao contrário, ela se manifesta por meio do dom. No instante em que escrevo esta crônica, ouço feng shui – música para harmonizar o ambiente da sua casa, como está escrito na capa do CD. São oito faixas de músicas suaves, ao som de água de cachoeira, canto de pássaros, piano, sinos, flautas, cordas... Luara e Lola – duas cadelas de pequeno porte – se irritam com as pulgas, logo em seguida se aquietam. Elas, também, entram em transe ao som da música.
Não costumo datar meus textos, talvez por desejá-los atemporais. Aliás, o tempo só existe externamente. Não há tempo interior e caso exista, manifesta-se de outra forma. Penso que o tempo é uma ilusão dos sentidos. Lógico que existe ontem, hoje e amanhã. Na vida prática precisamos de calendário, de horários. O tempo interior não tem conexão com o exterior. Não sei se estou conseguindo me fazer entender. Se não estou, paciência.
     Tente esquecer esse tempo externo e se deixe levar ao interior. Sinta a fluidez. Não há tempo. Loucura? Não, ao contrário. Loucura é a pressa. Loucura ficar escravo desse tempo externo, sem tempo para o interior. Mas não é sobre isso que quero escrever.
     Quero falar de janelas abertas. Em sentido metafórico, janelas são os corações das pessoas. Repararam como as janelas abertas nos convidam a entrar? Janelas fechadas afastam os passantes. Menos os arrombadores. Na casa em que moro as janelas estão sempre abertas. Inclusive à noite. Não as fecho por nada. Nem quando saio de casa. Os arrombadores se assustam, não se aproximam. Os antropólogos e os psicólogos devem explicar isso melhor.
     Assim como as janelas da casa em que moro, meu coração está aberto, como escrevi no poema Bakunin, para o amor entrar, mesmo que entrem alguns ovni’s, para eu identificá-los.


J Estanislau Filho




Imagem: JEF - janela da casa, que não existe mais, onde morei-Esmeraldas-mg

sábado, 13 de junho de 2020

A mais bonita

Imagem: Google


Ela é tão bonita
que o sol do meio-dia para as horas.
Seu sorriso branco espalha aroma de flor do campo.
A mais bonita se desarruma no espelho e se torna mais bonita.
Colhe esperanças e delas faz broches de enfeitar as vestes.
Ela é tão bonita e morre de medo de ser descoberta.



J Estanislau Filho

quinta-feira, 11 de junho de 2020

uma rede de luz

Imagem: Google



acordas num tapete de sonhos

o sol nascente banha teu corpo
e reverbera luz ao redor

flores desabrocham

formigas voadoras se atropelam no ar
aleluias aleluias aleluias

a lua cheia surge altaneira

brilho em teu olhar
a noite é de céu estrelado

para que durmas feliz

rede de estrelas se estende
num balanço iluminado


J Estanislau Filho


Imagem: Google

quarta-feira, 10 de junho de 2020

reconhecimento


Imagem: Google




reconheço a sua luz
brilho de ouro puro
sorriso conciso
segurar o choro
cabelos jogados
sobre os olhos acesos
um diálogo análogo
estabelecido em conluio
reconheço o kimono
convite a um passeio
em um jardim de fato
fotos expostas
demorada resposta
posto que a pressa inimiga da perfeição
reconheço seu esforço
sua força de vontade
reconheço sua fina educação
a distância que nos separa
construída a ponte
no tanger das horas
reconheço que o amor
é que nos une


J Estanislau Filho


Minha homenagem a Rafaela Silva

terça-feira, 9 de junho de 2020

O Vizinho é o Parente mais Próximo


Imagem: jef



Bom é viver em harmonia com o vizinho. Afinal, estamos ali juntinhos, parede-meia, um socorrendo o outro na hora das necessidades.
  - Laura, me empresta dois reais para comprar pão e leite, que acerto depois.
  - Simone, a alfavaca é um santo remédio para os rins.
  - Eliana, você protege a minha casa durante a minha viagem de férias?
  - Claro! E águo as plantas com o maior prazer, Sandra.
 Bom vizinho é assim: sempre pronto para praticar a solidariedade, fazendo nascer e fortalecer as amizades.
  Um remédio caseiro, uma receita de bolo, uma ferramenta emprestada e devolvida, uma muda de planta, um jogo de truco... Seis! Ladrão!... Uma palavra amiga, de consolo. E por aí vai.
  Todavia nem sempre é assim. Às vezes um quer levar vantagem, dar uma rasteira, tipos espertos, “coelhos”. Som alto até tarde. Lixo no passeio do outro. Fofocas, calúnias. Zoeira no boteco da esquina, ou membros de uma nova seita gritando sons estranhos.
  Nenhuma relação, para ser boa, pode ser unilateral e praticar a política de boa vizinhança é, no mínimo, usar a inteligência.
Inveja, que bobagem! Se o vizinho comprou um carro novo ou reformou a casa, que bom!
  Casa bonita enfeita a rua, e o carro, bem, o carro...
  - Ei vizinho! Minha mulher está sentindo dores.
 Pronto, chegou a hora do parto. Lá vai o vizinho com seu carro, socorrer.
  Como já diziam os nossos avós: o vizinho é o parente mais próximo.


J Estanislau Filho




Do livro: Crônicas do Cotidiano Popular – ed. do autor - 2006 - esgotado

Esta crônica foi escrita e publicada no boletim Intercâmbio (Grupo Oficina de Sonhos), em 1994, que distribuíamos nas escolas e no comércio do bairro Industrial - Contagem - MG  

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Por que recusei um pedido de entrevista do jornal O Globo




08 de junho de 2020

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou carta em resposta a um pedido de entrevista do jornal O Globo. O ex-presidente fala de como as Organizações Globo lideraram o lawfare para impedi-lo de ser candidato em 2018, mesmo com a lei brasileira e decisão das ONU garantindo esse direito ao ex-presidente. E esconderam as suas absolvições na justiça que desmontam a tese do “power point”, e as muitas provas de sua inocência e de que foi vítima de um processo político e parcial, diversas vezes demostradas pela sua defesa desde 2015 e também pelas série de reportagens da Vaza Jato feitas pelo site The Intercept Brasil em parceria com veículos como a Folha de S. Paulo, Agência Pública entre outros órgãos de imprensa. A última entrevista de Lula para um veículos das Organizações Globo foi para o jornalista Roberto D’Ávila, para a Globonews, em 2015.


A íntegra da carta abaixo:

“Prezado Bernardo,

Agradeço o convite para uma entrevista para o jornal O Globo em uma série sobre ex-presidentes da República. Seu convite destoa da censura imposta pelas Organizações Globo. Não confundo as organizações com as diferentes condutas profissionais de cada um dos seus jornalistas.

O que me impede de atendê-lo é o notório tratamento editorial que as Organizações Globo adotam em relação a mim, meu governo e aos processos judiciais ilegais e arbitrários de que fui alvo, que têm raízes em inverdades divulgadas pelos veículos da Globo e jamais corrigidas, apesar dos fatos e das evidências nítidas, reconhecidas por juristas no Brasil e no exterior.

As próprias sentenças tão celebradas pela Globo são incapazes de apontar que ato errado eu teria cometido no exercício da presidência da República. Fui condenado por ‘atos indeterminados’.

Ao invés de ser analisada com isenção jornalística, a perseguição judicial contra mim foi premiada pelo O Globo. As revelações do site The Intercept foram censuradas, escondendo as provas de que fui julgado por um juiz parcial, em conluio com os promotores, que sabiam da fragilidade e falta de provas da sua acusação.

Enquanto não for reconhecido e corrigido o tratamento editorial difamatório das Organizações Globo não será possível acolher um pedido de entrevista como parte de uma normalidade que não existe, pelos parâmetros do jornalismo e da democracia.

Luiz Inácio Lula da Silva”









domingo, 7 de junho de 2020

brasil do pau-brasil

Imagem: Google



maxakali
krenak aranã macuxi
xavante caiagangue guaraná
nossa língua era tupi-guarani
lendas negrinho do pastoreio saci
mula sem cabeça lobisomem boi tatá
atabaque bumba-meu-boi munguzá
pau-brasil arreio a mula e pico fumo no terreiro
macumba quizumba
carnaval cachaça homem cordial
sincretismo na ponta da língua
tapioca umbu umbanda
na ponta da lâmina
oxum abaluaê oxóssi xamã
"batuque na cozinha sinhá não quer"
áfrica nos pés águas nos pés do navio negreiro
cunhabebe aimberê
canibal estrategista unem povos originários:
confederação dos tamoios!
ouro diamante pau-brasil nos porões das embarcações
assim começou o saque
escravocratas de norte a sul
resistência do arroio ao chui
balaiada e chibata
maria felipa itaparica
maria quitéria joana angélica
antonio conselheiro lampião
ZUMBI!
o país inteiro sob a santa inquisição
padim ciço romão batista
nossa senhora aparecida procissão
romaria todos os dias
quarto de despejo e balaiada
estouro de boiada
minha flor meu cafezal
quim negro clementina
gente que não desafina
patativa carolina
inconformados inconfidentes
sabinada nas ladeiras
castro alves ave de arribação euclides nos sertões
saravá menina de gantois
dos púlpitos os sermões
oswald de andrade
antropofagia
incompleta democracia
"a leopoldina virou trem
são pedro é uma estação também" 1
samba do crioulo doido
doído moído no tronco
o saque continua
não
isto não é poesia...



é um grito de liberdade...



J Estanislau Filho

1 fragmento da letra de Stanislaw Ponte Pretoa


Imagem: Google



sábado, 6 de junho de 2020

A guerra mortal das facções de Bolsonaro, Moro e Witzel. Por Moisés Mendes





As ameaças entre Bolsonaro, Sergio Moro e Wilson Witzel já definiram o cenário e as armas para uma guerra de facções em que os três poderão tombar quase ao mesmo tempo.

No meio dessa guerra, o Estadão, que agora é um jornal ‘progressista’, decidiu classificar Bolsonaro como um sujeito que se dedica a “práticas fascistas”. O Estadão, coitado, está cinco voltas atrás e chega acenando.

Mas é interessante que um jornal hoje sem qualquer expressão compartilhe da luta que os veículos ditos alternativos tentam levar adiante desde muitos antes do golpe de agosto de 2016.

O Estadão e a grande imprensa serão valentes mesmo quando classificarem todos eles, seus ex-aliados da direita que foram para a extrema direita, como gângsteres, como um dia Gilmar Mendes definiu os procuradores da Lava-Jato que trabalhavam para Moro.

Mais do que uma guerra das esquerdas contra a ameaça de golpe, poderemos ter, antes mesmo do fim da pandemia, uma matança sangrenta entre facções. O latifúndio do fascismo é vasto, mas está em disputa, e os fascistas são parte do crime organizado.

Os personagens estão bem posicionados. O Brasil esteve entretido duramente cinco anos com a Lava-Jato de Sergio Moro, que criou o ambiente para a ascensão do bolsonarismo.

Moro montou uma estrutura arbitrária de caçada às esquerdas e a Lula em Curitiba e achou que, no próximo salto, subiria os degraus da política no mundo bacana dos tucanos ou iria virar ministro do Supremo.

O tucanismo acabou e Moro jogou-se aos braços da facção bolsonarista, para o que desse e viesse. Não teve pernas para aguentar o tranco. Bolsonaro expulsou todos os que não leram direito o tutorial do fascismo miliciano.

Moro, incompetente para ser um bolsonarista autêntico, foi expelido. Mas caiu atirando, inclusive pelas costas do ex-chefe. E descobriu-se que o ex-juiz também usa armas com cano serrado.

Bolsonaro é o profissional, o tenente ligado aos milicianos que virou presidente. Moro é o amador que tenta agora formar a facção capaz de ameaçar o ponto de Bolsonaro na esquina.

Sai da extrema direita, tenta correr para o centro, mas não deixará de ser uma facção. Moro somente irá sobreviver se continuar sendo facção, agora da classe média de direita, mas antibolsonarista.

Witzel é o fuzileiro naval que virou juiz e nunca deixou de ser fuzileiro. A guerra com a facção de Bolsonaro, da qual era aliado, expôs a tesouraria dos negócios que envolvem até a mulher em transações fechadas em bancos de praça.

Todos eles expuseram as mulheres. Bolsonaro com a mulher que recebe cheques de milicianos. Sergio Moro com a mulher que era sócia de Carlos Zucolotto, que agora poderá finalmente ser denunciado por Tacla Duran, o delator amordaçado pela Lava-Jato. E Witzel com a mulher que prestava serviços às máfias da saúde.

Assim é a perigosa vida das facções, com mulheres, filhos, parentes, milicianos e, se possível, o apoio de estruturas ditas institucionais, inclusive fardadas.

Bolsonaro tem o poder civil e os militares, os grileiros, os latifundiários, os destruidores da Amazônia, os adoradores de Brilhante Ustra, o centrão, a Fiesp, os tios com a camiseta da Seleção e a véia do taco de beisebol. Tem os milicianos, mas não tem nem partido.

Moro tem a fama, o acervo de justiceiro. Não tem lastro orgânico, não tem poder nem base física e também não tem partido. E Witzel (alguém sabe dizer sem pensar muito qual é o seu partido?) é uma incógnita, com sua base estadual estreita e sua polícia. É o alvo preferencial de Bolsonaro, por estar no seu reduto geográfico, empresarial e afetivo.

Desses três sujeitos dependem os movimentos da democracia brasileira hoje. Estamos entregues a uma guerra de facções violentas, como nunca estivemos, e em meio a uma pandemia.

Chamar esses personagens de fascistas não é nada entre as dezenas de adjetivos que podem defini-los. E até chamá-los de gângsteres talvez não seja o suficiente.







A espera do barco








"O céu desmoronou-se em tempestade de estrupício e o Norte mandava furacões que destelhavam casas, derrubando as paredes e arrancavam pela raiz os últimos talos das plantações". 
Gabriel Garcia Márquez - Cem anos de solidão.



Você disse que seria meu porto seguro e me esperaria a vida inteira, quando eu quisesse ancorar meu barco. Resistiria aos estrupícios dos furacões e dos naufrágios. Ancorei meu barco em inúmeros portos desnorteados, onde a bruma embaçava a visão. Portos abandonados, carcomidos pela maresia. Tristes portos. Ancorei e neles deixei um pouco de vida. Contudo me impregnei um pouco de suas agonias.
      Este é o preço a pagar por navegar em águas obscuras. Por isso meu barco navega com a carga da solidão dos portos abandonados, mas feliz por ter proporcionado alegrias. Portanto, ainda que venha ancorar meu barco em seu porto seguro, haverá dentro de mim as brumas de outros portos e as luzes tênues dos círios que romperam as brumas dos amores desnorteados.


J Estanislau Filho




sexta-feira, 5 de junho de 2020

pele negra

Grupo COSNEC - Consciência Negra de Cel Xavier Xaves




quem tem a pele negra
verdade seja dita:
sofre preconceito de nascença
esta é a regra
no emprego o branco tem preferência

quem tem a pele negra
sejamos francos:
o negro se desespera
na disputa com o branco

a mulher sendo negra
sejamos sinceros:
sofre mais discriminação
inclusive dos parceiros
lógico, com exceção

sendo negra a criança
há quem duvide disso?
sofre bulyng sem perdão
perde a esperança
de tornar-se pleno cidadão

quem tem a pele negra
sabe bem da sua dor
e onde mais sangra:
a maldade do opressor
a porta que se fecha
o machuca como flecha

quem nasce com a pele preta
com um sorriso branco na boca
não se curva nem se aboleta
nem se esconde dentro da toca
levanta a cabeça e vai à luta

quem tem a pele negra
tem a ginga e a manha
aprendida à duras penas
nas tardes noites e manhãs
segue lutando pelo seu ideal
pelos direitos humanos
e pela igualdade racial


J Estanislau Filho


Marielle Franco

quinta-feira, 4 de junho de 2020

Sou contra




Imagem: queimada na amazônia 


Sou contra...
Pássaros em gaiolas
Crianças sem escolas
Caninos em correntes


Amor que não decola
Cárie nos dentes
Cheirar tiner e colas


Sou contra...
Maltratar animais
Demolir montanhas gerais
E o uso de agrotóxicos


Produzir e consumir transgênicos
Exaurir os recursos naturais
Violência entre filhos e pais


Sou contra...
Idosos desamparados
Lixos espalhados
Corrupção em todos os sentidos


Poluição fere olhos e ouvidos
Adoece nosso planeta
Desestabiliza os cometas


Sou contra...
O amor fenecer
Na alegria e na dor
A lágrima se perder


A pena de morte
De qualquer ser
Pois viver é uma arte




J Estanislau Filho

quarta-feira, 3 de junho de 2020

Um segundo


Imagem: Google




Durante um segundo
O Universo ficou em silêncio

Talheres suspensos
Fábricas paradas
Passos interrompidos

Gritos contidos
Pássaros em plenos voos
E folhas em queda
Paralisadas no ar

Durante um segundo com a faca na mão
Ouvindo as batidas do coração


J Estanislau Filho

terça-feira, 2 de junho de 2020

maria


Imagem: jef


quantos planos
quantos anos
se passaram

quantas vezes
quantos meses
tu sonhaste

quantas flores
quantas dores
carregaste

quantas luas
quantas ruas
tu andaste

quantas cruzes
quantas luzes
apagaste

quantos traços
quantos braços
tu riscaste

quantos cortes
quantas sortes
atiraste

quantas santas
quantas plantas
tu regaste

quantos mitos
quantos gritos
desarmaste

quantos lutos
quantas lutas
tu travaste

quantos passos
quantos laços
amarraste

maria insiste
não desiste
de sonhar


J Estanislau Filho



Imagem: minha mãe

segunda-feira, 1 de junho de 2020

A direita brasileira fracassou de novo









Por Emir Sader


A historia da direita brasileira é uma historia sucessiva de fracassos. O Brasil foi dirigido, ininterruptamente, pela direita, até a crise de 1929.

A responsabilidade da crise recaiu, unanimemente, na direita, porque ela era liberal e o liberalismo deixou a crise se alastrar, com sua visão de que o mercado produz periodicamente crise, mas ele mesmo recompõe a economia, algumas empresas mais frágeis quebram, as mais sólidas saem mais fortes e a economia segue em frente. Mas aquela vez a recessão foi mais profunda que nunca, o desemprego nos Estados Unidos e na Inglaterra chegava a 30%, e o mercado se mostrava incapaz de recompor a economia e os empregos.

Todas as reações foram antineoliberais, seja o fascismo, a URSS ou o Estado de bem-estar social. Este, com Roosevelt retomando a Keynes, se tornou o modelo de governo hegemônico durante décadas. A Europa chegou a ter três décadas de pleno emprego. Um presidente de direita nos EUA, como Richard Nixon, chegou a afirmar, no começo da década de 1970: “Somos todos keynesianos”.

Quem implementou o Estado de bem-estar social na Europa não foi predominantemente a social-democracia, mas a direita, na Alemanha, na Itália, na Franca, na Inglaterra, de tal forma esse tipo de Estado era consensual. Durante décadas não se falava de educação privada, mas de educação pública. O liberalismo desapareceu da cena politica, considerado ideologia exótica, que defendia posições anti-estatais, completamente contrária ao consenso majoritário.

No Brasil, a direita foi sucessivamente derrotada, desde que foi derrubada pela revolução de 1930. Seu último presidente, Washington Luis, se notabilizou pela afirmação de que “a questão social é questão de polícia”. A partir do governo de Getulio, a direita foi sucessivamente derrotada. A queda do Getulio, em 1945, não representou o fim do getulismo, que teve continuidade com o próprio Getúlio em 1950.

A direita se concentrou em ofensivas golpistas, coordenadas pela Escola Superior de Guerra, fundada por Golbery do Couto e Silva e Castelo Branco – os mesmos que finalmente comandaram o golpe de 1964. Enquanto perdia as eleições com a UDN, o partido civil sucessivamente derrotado. O suicídio do Getúlio adiou a ditadura por dez anos mas, antes disso o governo de JK representou uma mudança estrutural importante, com a chegada de maciços investimentos norte-americanos, tendo a indústria automobilística como carro chefe, o que mudou a direção do desenvolvimentismo brasileiro, agora sob hegemonia dos capitais externos. Jango era vice de JK, evidenciando como os setores populares se encontravam subordinados no novo bloco de forças no governo.

A maior vitória da direita na história do Brasil não se deu de forma democrática, mas pelo golpe de 1964, que terminou com um período de instabilidade politica e afirmou um modelo econômico que, para o capitalismo brasileiro, foi eficiente. Ele afirmou a via brasileira como uma alternativa na América Latina, abrindo caminho para outras ditaduras – na Uruguai, Chile e Argentina -, que, no entanto, não tiveram sucesso, por perderam o fim do ciclo expansivo do capitalismo, aproveitado pelo Brasil.

A ditadura militar foi o período de maior sucesso da direita brasileira. Na democratização, ela conseguiu derrotar uma saída que não apenas redemocratizasse o país, mas também pusesse em prática um modelo econômico distinto. O governo Sarney foi uma vitória da direita, por impedir uma saída à esquerda da ditadura, mas foi um fracasso político como governo.

A outra grande vitória da direita se deu já no período neoliberal, com os governos do Collor e do FHC. Conseguiram impor o ideário neoliberal. Politicamente, derrotaram Lula e o PT três vezes sucessivas, duas delas no primeiro turno. Parecia que enterravam a esquerda e consagravam o neoliberalismo, com a condenação do Estado, dos gastos públicos, dos direitos dos trabalhadores, com o ajuste fiscal como valor absoluto. A virada da pagina do getulismo, anunciada por FHC, pretendia virar a página da divisão direita-esquerda, das alternativas de esquerda ao neoliberalismo, da liderança do Lula, do PT, dos sindicatos e de todos os movimentos sociais.

Foi uma vitória da direita deslocar a centralidade das questões sociais – no país mais desigual do continente mais desigual – para a temática neoliberal: inflação, gastos excessivos e ineficiência do Estado, o mercado como melhor alocador de recursos – que permaneceram na opinião publica até hoje, com exceção dos anos dos governos do PT. A inflação foi contida mas, sem políticas sociais, a desigualdade social aumentou, a recessão se instaurou, junto com o desemprego. A vitória se tornou uma derrota.

Os anos dos governos do PT foram a maior derrota da direita até aqui, na história brasileira. O Brasil viveu seus anos mais virtuosos, com desenvolvimento econômico, distribuição de renda, diminuição das desigualdades, aumento da inclusão social. A economia cresceu sem inflação descontrolada, nem desequilíbrio desordenado das contas publicas. O próprio déficit da Previdência diminuiu, com a criação de mais de 20 milhões de empregos com carteira assinada. O salário mínimo subiu 70% acima da inflação. A democracia política regeu plenamente, assim como a liberdade de imprensa. A imagem do Brasil no mundo nunca foi tão boa, o país projetou o Lula como o líder político mais importante.

Derrotada, a direita, derrotada em quatro eleições democráticas, tratou de sabotar os governos do PT, desde o seu começo. Acusações de corrupção, apoiadas em ações ilegais de setores do Judiciário, silêncio cúmplice de outros, campanhas de mídia para desestabilizar os governos, finalmente mobilizações para gerar o clima que gerou o golpe de 2016.

Nova e contundente vitória da direita. No que deu? Há quatro anos, podemos nos dar conta no desastre em que deu a ação concertada da direita – meios de comunicação, empresariado, Judiciário: no maior desastre da historia brasileira, com recessão e desemprego recordes, com desprestígio mundial nunca visto do país, com mais de mil brasileiros mortos diariamente, sem qualquer ação eficaz do governo, que ficou ao deus dará, sem governo, sem presidente, gerando a pior crise da nossa historia.

Uma vez mais, a direita fracassou, mostrando o que ela tem a propor ao pais. Bolsonaro é resultado da ação da direita. O Brasil atual é produto do que a direita tem a dar ao país. A esquerda mostrou, com os governos do PT, sua proposta para o Brasil, e a vigência da polarização entre direita e esquerda, com projetos radicalmente contraditórios para o nosso pais.














Sou poeta




Imagem: jef




Sou poeta
e porque sou poeta
posso caminhar sobre as águas
voar até as nuvens ao lado da mulher que amarei

Sou poeta
e porque sou poeta faço um pedaço de pão
alimentar multidão
posso construir tetos aos sem tetos
dar fim à especulação imobiliária


Sou poeta
e porque sou poeta
posso unir palestinos e israelenses
despoluir o meio ambiente
posso escrever versos contra o preconceito
sem medo dos descontentes

Sou poeta
e porque sou poeta posso silenciar os canhões da OTAN
desativar ogivas nucleares
construir a felicidade em todos os lugares

Sou poeta
e porque sou poeta
posso viajar num rabo de cometa
fazer do sonho realidade

Sou poeta
e porque sou poeta saberei ouvir
os que têm sede de amor e desejam como eu
paz e harmonia
um mundo de poesia



J Estanislau Filho