sábado, 23 de outubro de 2021

Das Minhas Lembranças 20

Imagem: Comício na Praça da Estação em BH - 1989


Era como se fôssemos outdoor, rostos e vestes cobertos por adesivos e bottons criativos, anunciando os candidatos de nossas preferências. O material, incluindo camisetas, bolsas, boinas, bonés, bandeiras, em sua maioria de cor vermelha eram adquiridos nas sedes do partido ou nas barraquinha instaladas nas praças e nos locais dos comícios. Circulávamos pelas ruas sem medo de sermos felizes, com essas vestes e com o sonho de democracia com participação popular e inclusão social, ao som de Lula lá, de Hilton Acioli:


Passa o tempo e tanta gente a trabalhar
De repente essa clareza pra votar
Sempre foi sincero de se confiar
Sem medo de ser feliz
Quero ver você chegar
Lula lá, brilha uma estrela
Lula lá, cresce a esperança
Lula lá, o Brasil criança
Na alegria de se abraçar
Lula lá, com sinceridade
Lula lá, com toda a certeza pra você
Seu primeiro voto
Pra fazer brilhar nossa estrela
Lula lá, é a gente junto
Lula lá, valeu a espera
Lula lá, meu primeiro voto
Pra fazer brilhar nossa estrela


A praça da estação ferroviária de BH estava lotada, cem mil pessoas, para ouvir Lula, Brizola e outras lideranças. Lula passara para o segundo turno, na primeira eleição presidencial, depois de mais vinte anos de ditadura militar. Finalmente tínhamos o direito de escolher quem iria nos governar. 1989 consolidava o retorno da democracia no Brasil. Com Brizola não tinha treta, não era de fugir por não ter ido para o segundo turno. Seu discurso foi emocionante. Ao erguer o braço de Lula, indicava que tinha lado.


Imagem: Comício em Salvador - 1989


Ao escrever estas lembranças, não é apenas Lula, Brizola, Bisol, e outras tantas celebridades da política e da cultura que surgem na memória desse carregador de piano. É dos trabalhadores da Belgo que me vem à mente. Surgem, com imagem esmaecida, Seu Raimundo, Faísca, Rui Barbosa, Gonçalves, Berzé, que fizeram acontecer a greve de 1979, acuando os militares. Os trabalhadores da Mannesmann, Eluma, Delpi, enfim toda a categoria metalúrgica e tantas outras, bancários, construção civil, educação, saúde. Ao lado desses aguerridos companheiros e companheiras, fizemos história. Seu Joaquim Oliveira, Sálvio Penna, Efigênia, Antonieta, Suzana, Mauro, Mariza, Márcio Nicolau, Letícia da Penha, Euler Vidigal, José Lopes (Guinho), Geraldo Bernardes, Zé do Carmo (Carneiro), Zailton, Prado, Basílio, Eliana, Ignácio, Ademir, Marcelo Brito, Eliane, Albênzio, Paulo Moura, Paulo Funhgi, Zé Maria...

Collor, o candidato dos endinheirados foi eleito, com o apoio da elite do atraso e da mídia empresarial. A campanha de Lula terminou numa sexta-feira, mas a do Collor se manteve no sábado, com a reapresentação do debate, manipulado pelo Jornal Nacional.


Imagem: Google


No próximo capítulo falo de como se deu a minha candidatura a vereador.  


J Estanislau Filho


domingo, 17 de outubro de 2021

Das Minhas Lembranças 19

Imagem: Google

Imagem gentilmente cedida por Nayara Bernardes


Busco na memória os acontecimentos de 1988. Uma busca no Google certamente me situaria nesse tempo, mas prefiro navegar pelo meu cérebro. É um exercício saudável. Então recordo, que deputados e deputadas constituintes estão elaborando a nova Constituição. Lembro de ter assinado alguns projetos de iniciativa popular. E desse amarrotado de lembranças, as eleições municipais brotam com mais nitidez. Em Contagem o nosso candidato a prefeito é Nilmário Miranda, tendo como vice, o José Antônio. O meu compromisso na construção da Casa do Movimento Popular me levou a apoiar Hamiltom Reis para vereador. Dei a minha contribuição, também, à campanha do companheiro Geraldo Bernardes, pela qual me penitencio por não ter me dedicado mais. Mais que companheiro, Geraldo era um amigo, hoje uma estrela. Lembro de Geraldo vendendo churrasquinho nos comícios, para arrecadar uma grana pra sua campanha. Ademir Lucas (PSDB), não precisava disso. Com a promessa de IPTU e FUNEC de graça, foi eleito. O PT fez a maior bancada de vereadores, cinco: Durval Ângelo, Eustáquio Roberto, Lúcia Helena, Paulo Moura e Rubens Campos, esse último, não me lembro se já era filiado ao PT. 

   Contagem faz divisa com Belo Horizonte, o que resultava numa dupla atuação. Em BH fiz campanha pela eleição do  vereador Rogério Correia e de Virgílio Guimarães, prefeito derrotado.

   A campanha que mexeria profundamente com a militância aconteceria em 1989 e o carregador de piano se engajaria de corpo e alma.  Assunto para o próximo capitulo.  


J Estanislau Filho

Imagem: Google

domingo, 10 de outubro de 2021

Das Minhas Lembranças 18


 Imagem: O Tempo

Assumi a coordenação da Casa do Movimento Popular quando o Seu Joaquim Jerônimo, então coordenador geral, rompeu com o projeto, que fora aprovado pela entidade financiadora, tão logo a construção do prédio iniciara. A parte administrativa se instalara, provisoriamente numa sala do COPRE, uma escola de ensino profissionalizante. Silvia, era a secretária.

   Assim que a captação de recursos foi aprovada, novos personagens incorporavam ao projeto, técnicos e gestores. Quando deixei a direção, Pacheco, funcionário da Magnesita e pastor evangélico, assumiu.
   Durval Ângelo, da diretoria da APC (Associação dos Professores de Contagem), convidou alguns membros da Casa, para fazer a denúncia de uma suposta irregularidade. A reunião aconteceu na sede da APC. A tal irregularidade me pareceu mais uma queda de braço entre Durval e Nilmário. Nessa conversa registrei a minha posição: se há alguma irregularidade, que se instale uma auditoria e os responsáveis punidos, mas se a tal irregularidade não se confirmar, que o denunciante arque com as consequências.
     Dias depois a direção da Casa me convidou para uma reunião nas dependências do COPRE. Presentes, entre outros e outras: Pacheco, Hamilton Reis, Sebastião Milanez, Stael, Antonia Puertes.  Deixaram o último ponto da pauta, para me inquirir. Fui surpreendido pelo dedo em riste de Pacheco, me acusando de difamar a Casa, violando um artigo do estatuto. Expliquei o que ocorrera. Hamilton ainda argumentou se eu estava pedido desculpas. Retruquei, que se alguém tinha que se desculpar, era a diretoria, pela acusação infundada. E demos o assunto por encerrado. Dias depois fiquei sabendo que Donizete fora quem reclamou de minha ida à reunião convocada por Durval.

   
J Estanislau Filho

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Das Minhas Lembranças 17


Em 1987 o recém eleito Deputado Estadual por Minas Gerais, Nilmário Miranda convida a militância para a plenária do mandato.

   À época, afastado da luta política, considerei que o deputado era um polo de atração, assim decidi voltar à participação política. À partir dessa plenária dois grupos de trabalho foram organizados: o que se engajaria na organização dos movimentos populares e o da criação de um jornal. Do movimento popular nasceu o projeto da Casa do Movimento Popular e da comunicação a criação de um jornal impresso, nos moldes do Jornal dos Bairros, com outro nome, o Folha Popular, não me recordo bem se era esse o nome.  Eu me engajei no projeto da casa. Na medida em que o projeto avançava e a disputa política se acirrava, uns desistiam, outros e outras se incorporavam. Do projeto inicial eu me lembro do Peixe, Jorge (Segrac), Durval Ângelo, Antonia Puertes, Çãozinha, Lúcia Helena Hilário,  Joaquim Jerônimo, Hamilton Reis...

   A disputa política mais acirrada foi entre o futuro vereador por Contagem, Durval Ângelo e o deputado Nilmário Miranda. Mantive distante desse embate, sem deixar de ser um observador atento. O fato é que a Casa foi erguida e está lá, na Av. David Sarnoff, próxima do início da Av. João César de Oliveira. O jornal não vingou.

   Sobre as divergências ocorridas nesse processo, falarei no capítulo 18.

 




J Estanislau Filho