segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Amigas e amigos, companheiras e companheiros

Imagem: Google

Com o fim das eleições de 2022, obviamente não é o fim da participação política. Com a eleição de Lula, inicia-se um novo ciclo em que a participação de todas e todos é fundamental na implantação de políticas públicas, que beneficiem especialmente os mais pobres.  Elegeu-se um presidente comprometido com as causas populares e sociais. Por outro lado, temos um  Congresso  de maioria conservadora,  para não dizer outra coisa. Não será uma tarefa simples dialogar com o novo parlamento. O chamado centrão está mais forte, venderá caro o apoio.  E sabemos que sem a anuência do legislativo, as dificuldades aumentam. Portanto,  a participação popular, por meio das conferências temáticas, que virão, é que vai sensibilizar os parlamentares.  Que cada uma e cada um, em sua trincheira,  do seu jeito, na luta em defesa da Democracia e dos direitos sociais. Vamos precisar de todo mundo, como diz a canção O Sal da Terra, de Beto Guedes: 


Anda!
Quero te dizer nenhum segredo
Falo nesse chão, da nossa casa
Vem que tá na hora de arrumar
Tempo!
Quero viver mais duzentos anos
Quero não ferir meu semelhante
Nem por isso quero me ferir
Vamos precisar de todo mundo
Pra banir do mundo a opressão
Para construir a vida nova
Vamos precisar de muito amor
A felicidade mora ao lado
E quem não é tolo pode ver
A paz na Terra, amor
O pé na terra
A paz na Terra, amor
O sal da—
Terra!
És o mais bonito dos planetas
Tão te maltratando por dinheiro
Tu que és a nave, nossa irmã
Canta!
Leva tua vida em harmonia
E nos alimenta com seus frutos
Tu que és do homem, a maçã
Vamos precisar de todo mundo
Um mais um é sempre mais que dois
Pra melhor juntar as nossas forças
É só repartir melhor o pão
Recriar o paraíso agora
Para merecer quem vem depois
Deixa nascer, o amor
Deixa fluir, o amor
Deixa crescer, o amor
Deixa viver, o amor
O sal da terra


J Estanislau Filho

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Bolsonero e dez frases terríveis


Minha especialidade  é matar
Comer gente também quero
Falo tudo isso sem vacilar
Pois meu nome é Bolsonero!

Quero ver fogo nas matas
Da Amazônia ao Pantanal
Para poder ganhar umas notas
Do agronegócio ilegal!

Meus filhos não namoram negras
Também não vão virar veados
É a minha lei,  são minhas regras
Pois foram todos bem educados!

Sou Bolsonero, o sacana
Odiar petralha é minha sina
Gosto de uma moto bacana
E de vender a cloroquina

Quer que eu faça o que?
É só uma gripezinha, é!
É como uma chuva, vai atingir você
Se tomar vacina vai virar jacaré!

Repito, não sou coveiro
Pra enterrar quem morreu
Morre gente no mundo inteiro
Antes eles do que eu

Sou amigo de Bob Jefferson
Atirador de granada na polícia
Quem nos abençoa é Padre Kelmon
O padre fake  da milícia!


J Estanislau Filho


As 10 frases mais terríveis de Bolsonaro:





1) "Deveriam ter sido fuzilados uns 30 mil corruptos, a começar pelo presidente Fernando Henrique Cardoso."

2) "O filho começa a ficar assim meio gayzinho, leva um coro, ele muda o comportamento dele. Olha, eu vejo muita gente por aí dizendo: ainda bem que eu levei umas palmadas, meu pai me ensinou a ser homem.“

3) "Não empregaria mulheres com o mesmo salário (...) tem muita mulher que é competente"

4) "Trabalhadores tem que escolher entre ter direitos ou emprego"

5) O grande erro foi torturar e não matar

6) Os gays não são semideuses. A maioria é fruto do consumo de drogas”

7)“Fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Nem para procriador ele serve mais”.

8) “Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff”



9) “Vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre”

10) "Bolsonaro diz na TV que seus filhos não ’correm risco’ de namorar negras ou virar gays porque foram ’muito bem educados’’"



Todas as imagens: Google


Fonte das dez frases: https://www.esquerdadiario.com.br/As-10-frases-mais-terriveis-de-Bolsonaro-27039

terça-feira, 18 de outubro de 2022

Os novos capatazes

Imagem: Google
 
A escravidão ainda mora nos corações e mentes de muitos de nós, tenhamos consciência disso, ou não. 

     À época em que negros e negras eram tratados como animais, pelos donos de terras e de gente, havia a figura do agregado, o negro a quem era permitido sentar-se à mesa como se fosse membro da família. Esse privilégio consentido dava uma ar de superioridade perante seus irmãos de cor.  Esse agregado fazia o papel de vigilante atento aos interesses do senhorio e  para manter  o privilégio. 


Imagem: Google

     O tempo passou. A escravidão foi "abolida".  Vieram os imigrantes, maioria de italianos, para o trabalho na indústria nascente, enquanto negros e negras eram jogados à própria sorte. Sem um mínimo de estudo e qualificação profissional, não teriam chances de trabalho na indústria que se instalava, consequentemente â qualidade de vida. Essa classe Geni, como diz a música de Chico,  que todos podem cuspir, que é feita pra apanhar, tinha o seu oposto, a  emergente classe média, branca, ocupando os melhores postos de trabalho.  É essa classe branca, racista,  que passa a exercer o papel de agregado, atenta aos interesses da elite e para  manter privilégios.  A classe média tem abaixo de si, na escala social, a sua Geni, para atirar pedras e se sentir superior, para compensar a inveja que tem da elite. 

     O tempo passa e chegamos aos dias atuais. A luta de classes passou por transformações. Temos agora a classe média alta, a média média,  a baixa e os excluídos,  esses últimos sendo a maioria de  negros e negras.  A classe média pode se dar ao luxo de ter a empregada doméstica, ou outros serviçais, para a tarefa do serviço pesado e ter tempo livre para o lazer e se qualificar para alçar novos postos mais bem remunerados. Tempo e recursos, também, para manter os filhos nas melhores escolas, sem a necessidade de trabalhar, para ajudar nas despesas da casa. 


Imagem: Google

     Na busca de bens escassos, os pobres também querem ascender socialmente. Nada mais justo. Mas falta-lhes condições. Sem acesso a boas escolas e tempo aos estudos, a disputa é desigual.  Até que surja alguém que resolva defendê-los.  Entra em cena um governante popular, com políticas de inclusão social. A classe média se vê ameaçada, com a possibilidade de ascensão dos pobres.   A elite sabe que pode usar a classe média como massa de manobra, na defesa de seus interesses. E tem a grande mídia e seus prepostos sob controle. Se o governante popular ultrapassar a linha da qual ela não quer que ultrapasse, esta elite vai promover um golpe. Sabe que pode contar com seus capatazes, sempre de prontidão para irem às ruas, a classe média branca, racista,  de verde amarelo, fingindo-se indignada com a corrupção,  que para ela, só acontece na política nas  empresas estatais.   A corrupção da elite fica invisível, quando o golpe é financiado exatamente  pelos endinheirados, para saquear o orçamento público e "comprar" estatais, como a Petrobras e outras a preço de banana. Ou às vezes, de graça. 

     Esta é a herança do sistema escravista, que continua internalizado em muitos de nós. Sem rompermos com o racismo racial e toda forma de racismo, seremos refém da elite do atraso. 

Imagem: Google

     


 J Estanislau Filho

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Jardim das Rosas Veremelhas

 

 

Imagem: Jefil Serra do Caraça


O bairro se chamava Jardim das Rosas Vermelhas, mas não havia rosas de espécie alguma. Segundo os moradores mais antigos, antes de se tornar uma área residencial ali existia uma plantação de rosas vermelhas. Antes de o empreendimento ser instalado, ainda segundo alguns antigos moradores e de acordo com pesquisa realizada pelo ambientalista Jacinto Flores, o arrendatário da área travara uma batalha judicial na tentativa de transformá-la em uma unidade de conservação. Todavia, a especulação imobiliária foi mais convincente e obteve o licenciamento ambiental. As ruas foram abertas, o roseiral destruído e no local foram construídas casas e galpões. Em homenagem ao antigo roseiral, os empreendedores deram o nome ao bairro de Jardim das Rosas Vermelhas.

     Jacinto Flores decidiu aprofundar sua pesquisa acerca da origem do bairro. Após uma série de entrevistas com os moradores decidiu por fazer uma leitura nos anais da Câmara Municipal. Foi recebido com um sorriso largo pelo Presidente da Casa, que, após ser convencido das boas intenções do ambientalista, colocou o arquivo à sua disposição, nomeando um funcionário para auxiliá-lo.

     - É com satisfação e orgulho que liberamos os documentos para a sua apreciação, mesmo porque aqui é a casa do povo e os documentos são públicos - completou o Vereador se despedindo.

     Flores descobriu que o zoneamento do bairro, antes classificado como Zona de Ocupação Restrita, fora transformado em Zona Adensada pelos vereadores. Saiu da egrégia casa com uma pulga atrás da orelha.

     Enquanto isto, o funcionário que o auxiliara na pesquisa repassava ao Presidente da Câmara as informações que arrancara do ambientalista. "Ele parece disposto a ir em frente com a pesquisa; demonstrou insatisfação com a mudança de zoneamento, alegando que nascentes e córregos foram drenados e me fez várias perguntas: se a mudança de zoneamento tivera a anuência do conselho de meio ambiente, se houve audiência pública. Eu não soube responder, apenas disse que o Secretário alega que o meio ambiente prejudica o desenvolvimento da cidade". Dito isto, saiu da sala.

     No dia seguinte Jacinto Flores fez uma visita ao Secretário de Meio Ambiente, que o recebeu com um sorriso leve, ofereceu-lhe uma cadeira e cafezinho.

     - Em que posso ajudá-lo? - perguntou o Secretário.

     - Estou realizando uma pesquisa sobre o processo de formação de novos bairros, como surgem os loteamentos atuais, enfim, o que leva uma população a ocupar uma determinada área - respondeu Jacinto tentando demonstrar ingenuidade, para não assustar o Secretário.

     - Nós cumprimos rigorosamente a lei. Trata-se de um empreendimento imobiliário que vem trazendo inúmeros benefícios. Primeiro o de recuperar uma área degradada; em seguida, diminuindo o déficit habitacional, muito grave no município; reservamos uma área para instalação de industrias não poluentes, a fim de resolver outra questão grave, a geração de emprego. Basicamente é isto.

     - Quem era o dono daquelas terras, antes de ser loteada?

     - Não sei, o senhor teria que ir ao cartório de registro de imóveis, por quê?

     - Dizem que ali existia um roseiral belíssimo, córregos e nascentes, gostaria de ter acesso a fotos, para ter uma ideia de como era.

     - Uns pezinhos de rosas murchas, mal cuidadas, aliás, o antigo proprietário degradou a área toda, provocando erosões. Uma tragédia ambiental! - completou o Secretário com expressão de asco.

     - Mas o senhor disse que não conheceu o antigo proprietário - Jacinto Flores rebateu de pronto, para em seguida se arrepender.

     - O fato de não ter conhecido e ainda não conhecê-lo não me impede de conhecer as terras, caso contrário, nem poderia ser Secretário - respondeu com rispidez, avisando que a audiência terminara, pois estava na hora de receber uma comissão de moradores de outro bairro.

     Ao sair da secretaria, o ambientalista avaliou que a sua "pesquisa" começava a esbarrar em obstáculos complicados. Começou a traçar uma nova estratégia. Decidiu procurar as instâncias superiores do Estado e da União. Estava convencido da existência de crimes ambientais e de corrupção no licenciamento do Jardim das Rosas Vermelhas.

     Identificou-se na recepção da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e após receber um crachá foi autorizado a assistir à reunião do CPA.

     Tentou se manifestar na reunião, porém nenhum conselheiro se dispôs a conceder-lhe a palavra. Retirou-se frustrado com a impressão de estar sendo vigiado.

     Após idas e vindas em diversos órgãos, conseguiu a cópia de um documento que apontava irregularidades na gestão do Secretário.

     Tentou falar novamente com as autoridades municipais, contudo, todos o tratavam com frieza e até mesmo com agressividade.

     Escurecia e fazia muito calor. Jacinto Flores saiu de casa para tomar um suco na lanchonete da esquina. Mal dera alguns passos na rua e se chocou com um homem mal encarado: - Ei, olha por onde anda, idiota! - Desculpa - respondeu Jacinto. - Desculpa porra nenhuma - gritou o estranho, desferindo-lhe um soco. Pego de surpresa, Jacinto não esboçou nenhuma reação, enquanto o desconhecido sumia na penumbra.

     Disposto a desvendar o caso do Jardim das Rosas Vermelhas, Jacinto decidiu se aproximar ainda mais dos moradores. Ganhou a confiança do presidente da associação e, juntos, levaram o caso a imprensa.

     Passados exatos quinze dias da exibição da reportagem o corpo do ambientalista foi encontrado nos escombros próximo da via férrea com duas rosas vermelhas na boca.



J Estanislau Filho