quarta-feira, 22 de outubro de 2014

JOVEM AÉCIO: “EU NUNCA FIZ MINHA PRÓPRIA CAMA”







Em fevereiro de 1977 o jovem Aécio da Cunha Neves talvez nem pensasse que um dia estaria na reta final para disputar a presidência da República mas viveu uma aventura curiosa fora do país.

Como tantos jovens brasileiros de sua condição social, naquele ano Aécio foi cumprir um programa de intercambio escolar nos Estados Unidos.

Certa vez, durante um momento de descanso,  Aécio visitava uma estação de esquí quando conheceu um rapaz de sua idade, Glenn, que o convidou a passar um fim de semana hospedado na casa de seus pais, o casal Pat e Roger Davis, em Middlebush, em Nova Jersey.

Ali, numa pequena comunidade que hoje possui 2000 habitantes, distribuidos em pouco mais de 800 casas, a presença de um jovem brasileiro logo se tornou motivo de atração. Com direito a foto e tudo, Aécio foi parar nas páginas do FranklinNews-Record, pequeno jornal da região, que na edição de 24 de feveiro de 1977 publicou uma pequena reportagem a seu respeito.

Descrevendo Aécio como um adolescente “igual a todos os outros”, o reporter Bob Bradis registrou seus conjuntos de rock prediletos: Led Zeppelin, The Who, Crosby, Stills, Nasch and Young e sublinhou que ele “realmente gosta de Bob Dylan.” O jornal fala dos programas de TV favoritos do rapaz: Kojak, série policial que fazia muito sucesso na época em torno de um detetive careca, e Waltons, sobre a vida de uma família da zona rural dos Estados Unidos, às voltas com os rigores da Grande Depressão da década de 30. Esportes favoritos? Futebol e volei. Demonstrando um interesse por automóveis bastante comum entre garotos de sua idade, ele contou ao Franklin News que a idade mínima para tirar carta de motorista no Brasil é 18 anos mas que não é incomum ver jovens dirigindo carros antes de chegar a essa idade.

Falou de automóveis americanos, como Ford e Chevrolet, mas também elogiou o Puma, um carro nacional, “muito confortável.”

Mas nem tudo era igual entre jovens norte-americanos e brasileiros — e isso não escapou a observação de Bob Bradis. No frescor dos 17 anos, Aécio expressou várias observações sobre a vida social brasileira.

Falando sobre a condição feminina no Brasil, Aécio disse, conforme o Franklin-News, que a vida das mulheres é fácil no Brasil. Segundo as palavras de Bob Bradis,  Aécio lhe disse que as mulheres brasileiras  não tem necessidade financeira de trabalhar, e podem passar a maior parte de seu tempo na praia ou fazendo compras. Era uma diferença importante em relação à sociedade norte-americana, onde, desde a Segunda Guerra Mundial, muitas mulheres saiam de casa para trabalhar e dividir despesas com o marido.

Falando da vida doméstica, Aécio disse: “todo mundo tem uma empregada ou duas; uma para cozinhar, outra para limpar.” Falando de sua rotina dentro de casa, no Brasil, assinalou outra novidade: “Eu nunca fiz minha própria cama.” Outra diferença, como se sabe.

Bob Bradis conta que Aécio lamentava, naquele fevereiro de 1977, que estivesse fora do Brasil por causa do carnaval. Há uma grande festa antes do início da Quaresma, disse Aécio. O jovem brasileiro contou como todos dançam nas ruas, comem, bebem até altas horas e então vão para casa dar um mergulho, para aí retornar para mais festas. “É a melhor época do ano.” Segundo o Franklin-News, Aécio disse ainda: “Essa é a única época em que a classe baixa e a classe alta se reunem.”

Perguntado sobre seu próprio futuro, Aécio disse que pretendia estudar engenharia mas falou que provavelmente acabaria entrando na vida política, como seu pai, que era deputado pela Arena, o partido de sustentação do regime militar, e seu avô, que era um dos principais líderes do MDB, partido da oposição civil.

Dois anos depois do fim de semana em Middlebush, Aécio Neves obteve um emprego na Câmara de Deputados. Foi contratado como assessor do próprio pai. A Câmara funcionava em Brasília, mas Aécio continuou morando no Rio de Janeiro. Cuidava da agenda do pai à distância, embora não houvesse internet naquele tempo. Mas não era um trabalho ilegal. A Câmara só passou a obrigar assessores parlamentares a atuar em Brasília a partir de 2010.

Mas, se pudesse refletir ao longo dos anos, o repórter Bob Bradis poderia avaliar o duradouro significado de uma frase em seu caderno de notas: “Eu nunca fiz minha própria cama.”


Paulo Moreira Leite

domingo, 19 de outubro de 2014

Dormir contigo...






A noite a caminho da madrugada
Corre feito menina travessa..

Observando atenta, o que dizem as estrelas
em seu intenso, dinâmico, trabalho alquímico
de nos trazer paz , harmonia, quietude aos corações,
em generosa comunhão com o Cosmos..
Sinto a mim, a ti, a todos,
envolvidos nesta rede de amorosa Criação..

Pensamentos voam num instante de um raio de luz
Por entre as brumas e as constelações muitas 

Vou ao teu encontro veloz por esse espaço sideral
Para amar o teu corpo que tem sede e busca
pela dádiva do Amor mais amigo, desprendido, sem adornos 
e assim, libertarmos nossas almas prisioneiras 
do cárcere da saudade, da solidão..
e voarmos pelo infinito dos nossos céus,
sem mistérios..

Alice Pinto
***

A felicidade é igual a uma borboleta, quanto mais você corre
atrás mais ela se afasta. Daí um dia você se distraí e ela pousa
no seu ombro.


sábado, 18 de outubro de 2014

Teoria de uma conspiração




Teoria de uma conspiração

Acertei e errei em algumas de minhas análises a respeito das eleições presidenciais de 2014.Acertei quando disse que a questão era saber quem disputaria o segundo turno com Dilma. Errei ao interpretar que Aécio não passaria dos 25% dos votos no primeiro turno. Acertei ao afirmar que o principal adversário de Dilma era a Globo & Cia e errei ao acreditar que as redes sociais seriam um contraponto à mídia golpista, suficiente para desmascará-la. Esta mídia, tendo à frente a TV Globo, dispõe de inúmeras concessões, além de TV's e Rádios, além de inúmeras publicações impressas.  É uma disputa desigual.
Quando Marina Silva viajou aos Estados Unidos, em plena campanha, desconfiei que o golpe envolvia personagens além da Globo & Cia. Despois desta viagem, sem explicação (não li nem vi em lugar nenhum), Marina voltou fragilizada. Mudou o tom de sua campanha, como se pedisse para não ser votada. Rapidamente Aécio a ultrapassou. Creio que nesta viagem dela aos EEUU se construiu um acordo, ou uma pressão, para que ela saísse do páreo. Aécio sempre foi o preferido dos barões da mídia e do sistema financeiro. E das forças privatistas.Raras foram as notícias negativas em relação a ele, que tem telhado de vidro.
O golpe em andamento tem por trás forças poderosas, nem tão ocultas a ponto de não me arriscar em dizer quem será eleito dia 26 de outubro. O processo de derrubar um governo trabalhista (que vem desde a era Vargas) teve início logo após a posse de Lula em 2003. De lá para cá o lulo-petismo esteve sob fogo cerrado da grande mídia, que recrudesceu em 2005 com a denúncia do chamado "mensalão". Se os dirigentes petistas e da base aliada não produziam fatos, a Veja inventava e a Globo repercutia "segundo a revista Veja...". E tem sido assim ao longo destes últimos doze anos. Como alguém já disse "notícia ruim do Governo Federal é notícia boa para a grande mídia; notícia boa do Governo Federal é notícia ruim para a Globo & Cia. Nada de bom feito por Lula e Dilma mereceram notícias da mídia empresarial. Primeiro tentaram desconstruir Lula. Não deu certo. Perceberam que o melhor alvo seria o PT (e obviamente que alguns dirigentes petista forneceram munições, qualquer deslize estava sob a mira o Big Brother), criar nos corações e mentes das pessoas rejeição ao partido. Os factoides nascendo que nem capim tiririca. E um ódio irracional, vindo de bocas antiéticas dos Jabors, Mervais, Casoys, Mainaridis, Augustos Nunes, Míriams, Noblats entre outros e outras foi sedimentando, introjetando sem questionamentos, pela opinião publicada. A ditadura petista precisa ser derrubada. Ditadura, alternância de poder, corrupção, tudo junto e misturado a calúnias, ao assassinato de reputações, em aliança com setores do judiciário, Ministério Público e Polícia Federal. Muitos tiveram seus quinze minutos de fama na Globo. Bastava alguém dizer que tinha uma denúncia contra o Lula, Dilma,  e o PT, para virar manchete. Que jornalismo investigativo se produziu sobre Aécio e o PSDB?
A História se encarregará de confirmar a dimensão do golpe. Tem interesses poderosos agindo nos bastidores, com sede de petróleo e mais, muito mais.
Mas tudo isso poderá vir abaixo no dia 26... Se Dilma sair vitoriosa. Em termos, pois serão mais quatro de bombardeio, especialmente se a vitória for apertada. Penso nas primeiras manchetes: O PAÍS SAIU DAS URNAS DIVIDIDO; A OPOSIÇÃO SE FORTALECEU; MAIS QUATRO ANOS DE BANDALHEIRA. Se for Aécio: É HORA DE UNIR O PAÍS; O POVO CANSOU DO PT; LULA, O GRANDE DERROTADO, VITÓRIA DA DEMOCRACIA,  ETC. ETC.

Coloco em dúvida os Institutos de Pesquisa Ibope e DataFolha, especialmente.


J Estanislau Filho

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

CUMPLICIDADE




Quando a folha caiu, o pássaro convidou a companheira e, juntos beijaram o solo úmido na manhã tépida...
Recolheram folhas mortas e construíram o ninho onde passariam o inverno.
Foi assim...
Lá, onde seus descendentes continuam a espécie.

Não quero tornar o meu amor público. Reservo as carícias à penumbra do quarto, à cumplicidade das paredes. 
Como os pássaros que constroem seus ninhos construo meu afeto, minha ternura. Na cumplicidade do amor.

J Estanislau Filho

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

PRIMAVERA PARA SOBREVIVENTES







Um ano depois daquela primavera
primavera silenciosa, amara
e ainda assim houve um poema
E hoje?
Qual poema ainda seria possível?
A primavera só existe para quem está realmente vivo
não para sobreviventes
Ainda assim
braçadas no desespero
de não ser engolida pelas águas
ah, eu que não sei nadar
escreverei talvez o poema
da primavera mais triste
que a das aves mortas
sobre os telhados envelhecidos
mais solitária porque as dores
estão tão velhas...
e nem mais lagos, mesmo rígidos
somente o silêncio e a não vida

Ainda assim escreverei um poema
da minha primavera
que resiste à morte
cavarei com as mãos até sangrarem
uma brecha no tempo
este meu tempo exílio
no alto desta torre
que me separa de tudo que fui

Primavera silenciosa que te foste
e ainda havia um grito cortado ao meio
uma dor de vida em andamento
uma raiva, um desencanto
uma nota repetida, som nos ouvidos
nem isto tenho agora!

Escreverei sim, outro poema
mais duro, mais toruturado
que se rasguem enfim todas as ilusões
e reste apenas o chão devastado
nele deitarei meus cansaços
e sonharei, ah, os sonhos
que sempre nos surpreendem
ainda que somente um tênue sopro
um sussurro de vento falando em vida
escreverei este poema para ti
que me lês além da palavra
que me desencavas
e exibes intacta, nítida
 quando em ti me leio
e vejo confirmada

Um novo poema de uma nova primavera
descolorida, mais do que a outra
banal, sem surpresas, nem sustos
cartão postal amarelado
cenário esquizofrênico
reprise de filme barato
E ainda assim, escreverei
este poema da primavera em ruínas
que dentro de mim desmontei
e resisto ao medo, ao tédio, ao desamor

Escreverei este poema para ti
sem reservas, sem pudor
alma arreganhada, boca hirta
risada atrevida
recebe esta minha loucura
e vê que o poema saiu, ah
como um parto
assim me parto em duas , três
em várias, em almas párias
vem e me abraça sob o sol de setembro
e me conta as tuas histórias de
me fazer feliz, amigo
Vou te escrever este poema
para toda a tua vida
Duvida?



Tania Orsi

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Moço, cuidado para não deixar o passado virar futuro




Tirei as duas fotos aí de cima hoje, em dois pequenos supermercados próximos de onde moro – o Real e o Supermarket, em Niterói.
Parece bobo, não é? Mas para quem passou dos 50 anos não é não, porque somos de uma geração onde a placa que se via em mercados e obras de construção era, ao contrário, a de  ”não há vagas”.
Às vezes, até, com um peremptório e duro “não insista” para rematar.
Ok, não são ótimos empregos e certamente não são o sonho profissional de quase ninguém.
Mas certamente é melhor que não ter emprego nenhum.
E não é só para os mais pobres e com menos formação escolar, não.
Há vagas, embora com salários baixos, para todos os níveis.
Aliás, há tanta vaga aberta justamente porque paga-se pouco e muitos param por ali apenas o tempo necessário para sair do sufoco absoluto e buscar algo melhor.
Estas fotos daí de cima são do Brasil que não sai nos jornais.
O Brasil que sai no jornal está desmoronando, com os mercadinhos às moscas e o desemprego, não importa o que diga o IBGE, em alta.
Tudo está um desastre, tal índice é “o pior desde 2 mil e tanto”, tal taxa “é a mais grave desde tantos anos”.
Mas quer dizer que está tudo muito bem, tudo muito bom?
De jeito nenhum.
Que bom que a gente esteja insatisfeito com o Brasil, porque é mesmo para estar.
Este país ainda dá muito pouco a seus filhos, em matéria de educação, de saúde, de habitação, de oportunidades.
Mas cuidado, seu moço, porque moço eu também já fui.
E porque já fui e não sou mais, que este pais, sei que não faz uma geração, era muito, muito, muito mais avaro com seus cidadãos.
Avaro?
Não, a palavra exata  é cruel.
Porque só pode ser cruel que quer abaixar a inflação a base de  arrocho,  de corte nos gastos sociais, com a precarização do trabalho, com políticas recessivas.
Vão dizer que querem isso é apelar para o medo?
Pois eu não tenho problemas em dizer que se deve, sim, ter medo disso, porque sei muito bem como isso é terrível.
Eu sei e tenho obrigação de contar que existia um Brasil sem vagas para seu povo.
Mesmo as mais modestas, os “empreguinhos de dois salários” dos quais  a “turma da bufunfa” debocha, mas nem assim quer pagar e diz que os salários “altos demais” são responsáveis pelo desequilíbrio do tal “tripé macro-econômico”.
Talvez você, moço, não acredite em mim.
Ficamos assim: eu também prefiro que você duvide do que eu digo e até faça pouco caso.
É muito melhor  você me olhar desconfiado do que acontecer aquilo que faça você me dar razão.
Cuidado, porém, que o pior inimigo do bom é o que aquela turma diz que vai ser ótimo.
Acho que você tem toda a razão em querer mais, muito mais.
Só não esqueça que tivemos, não faz muito tempo, muito menos.
Onze anos atrás, a imagem do Brasil era aquela que divide a ilustração com as de hoje.
Eu não a quero de volta, você quer?


Fernando Brito


http://tijolaco.com.br/blog/?p=21583.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Comida



                                                                                                                   
comida precisa de alho
           precisa de óleo
                   dos olhos
                 e do molho
                      ...dessa mulher               

J Estanislau Filho

domingo, 5 de outubro de 2014

OS VERSOS QUE TE DEI







Os versos que te dei, eram como fachos d´alma
Entoando melodia vienense que acalma
Os versos que te dei, brotavam do coração
Da cor do rubro sangue que bombeia de paixão

Os versos que te dei tinham aroma de alecrim
Suas formas e matizes florescendo no jardim
Os versos que te dei exalavam sentimento
Nas rimas e palavras um sagrado juramento

Mas teu duro coração não foi feito pra poesia
Recolhi todos os versos e compus esta elegia
Pois aquele teu amor não passava de um falsete
Os meus versos de amor hoje sei, não mereceste


Beth Lucchesi


sábado, 4 de outubro de 2014

O caso da menina feiticeira





          Dizem que lá pras bandas do corgo fundo,numa noite dum céu cheim de istrela nasceu uma minina muito,muito,mais muiiiiito bunita mesmo,e bem na horinha dela chorá,um raio rasgô o céu de cabu a rabu,e a escuridão tomô conta di tudu.O zóio dela era azulin ,que arripiava a gente quando oiava,paricia qui ela consiguia vê dentro da gente,ieu nem mirava nela di medu d'ela vê o que nem ieu sabia que tinha...A minina cresceu,Zefina ainda inté benzeu ela uma vez,pegô guiné i arruda,feiz uma troxinha,meteu na água benta do São Geraldo,uma que ela pegoô lá na igreja no dia da festa do santo,e rispingo na menina,Zefina feiz o sinal da cruz treis veis e do zóio saiu lágrima,num sei se di medu ou se ela viu o feitiço da menina,mais disse bem alto_Simbora coisa ruim!!!!Também num sei se ela mando imbora a minina ou o trem que tava com ela...Só sei que ela  saiu correnu em disparada e só ficava trancada no quarto,indeus deste dia ninguém mais miro aqueles zói da cor do céu.Os anos passaram e a "coisinha"virô moça e enfeitiçava todus home bunito da região.Era mutivo de discórdia em todas casas,a danada era "o bicho".Mas eu cá que sô macaco veio,nem oio pra ela,causdequê ela pode inté me prendê dentro dos oio dela.


Regina Sorriso

Regina escreve no Recanto das Letras, entre outros gêneros, o caipira.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Sensações de um perfume...






     

      Lucia deliciava-se  com as sensações que sentia ao se perfumar com o seu “Pablo Picasso”, em uma fase de vida na qual se via emoldurada pelas cores do arco-íris, trazendo em seus arcos, um amor  correspondido, bonanças  depois de tempestades, família feliz, superação do choro, de luta ferrenha pela sobrevivência. Olhava para si mesma, no seu frescor, perfumada e se achava bonita, poderosa, vitoriosa. Mas como tudo acaba, olhava para seu perfume diminuindo...diminuindo, sentia uma pena e ao mesmo tempo, queria se perfumar, e preservar aquele restinho...Ele simbolizava a sua vida.. Sonhava passar por um free shop para comprá-lo e sentir tudo de novo. E não é que surgiu a primeira viagem internacional, depois de alguns anos? Com o dólar a US 1,66, uma quimera, hoje, toda empolgada, prestes a realizar um desejo  foi  direto para a estante, onde a aguardava  o seu querido “Paloma”. Extasiada sentiu aquele cheiro que marcou uma época de sua existência. Mas, ele não lhe falou mais nada...a sensação do reviver, não aconteceu O Paloma não mais a representava, não era a “cara dela”. Ficou tão decepcionada, desalentada; tudo foi tão bom...mas era  passado.  Ficaria nas lembranças.  Alimentou um sonho, que nem mesmo sabia, que ele já não fazia parte de si mesma. Outros  sonhos tinha vivido... Andou alguns metros e comprou um Mademoiselle Chanel.



Olynda Bassan



quinta-feira, 2 de outubro de 2014

LIBERTAÇÃO



 
 
 
            As últimas pessoas despediram-se. Ela ficou apenas com os filhos, à beira do túmulo do esposo recém-sepultado. Um dos filhos perguntou se ela estava bem. Respondeu que sim, que estava muito bem. Pediu para ficar só, que mais tarde estaria em casa esperando-os para jantarem juntos, coisa que não faziam há tempos. Os filhos insistiram para lhe fazer companhia..Ela foi taxativa: não! Por fim, ficou só. Pediu perdão por não tê-lo feito feliz e perdoou pelos anos em que vivera oprimida sufocando seus sonhos, Disse adeus e saiu caminhando com passos decididos, sorvendo cada sopro de vento, abençoando cada raio de sol daquela morna manhã de outono. Estava livre para cortar o cabelo como bem entendesse, para dormir até tarde, receber suas amigas, jogar conversa fora, para ir aos lugares que quisesse. Estava livre até para ser plenamente dona de si e de sua felicidade.
            Entrou no primeiro boteco que viu. Sentou, pediu pastel e uma cerveja preta. Saboreou cada minuto daquela quietude sem nenhuma pressa e compromisso... Foi até o salão de beleza, pediu um corte de seus vinte e poucos anos. Saiu de lá remoçada. Foi a vídeo locadora, a loja de discos e a livraria. Saiu carregada de pacotes, com tudo que lhe agradava. Chegou em casa, telefonou para os filhos, noras e genros, convidando-os para o jantar daquela noite...Comida chinesa que ela adorava e o falecido detestava. Ligou também para um agência de viagens, marcou passagens e hospedagem para algum lugar de seus sonhos. Por fim, tomou um demorado e generoso banho, lavando-se das culpas e medos, das dúvidas e ressentimentos... Embelezou-se! Olhou-se no espelho e gostou do que viu. É vida nova, pensou com os olhos brilhando de esperança.
 
 
Conceição Gomes


quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Crônica do Amor Virtual





Conheceram-se pela internet em uma noite de lua cheia, mas não viram a lua, nem as estrelas cintilantes, viram flores luminosas artificiais piscando na tela do micro e foi amor à primeira visão virtual. Trocaram sucessivas mensagens de amor. Ambos deslumbrados, varavam a noite em conversas emblemáticas. Em uma certa noite, depois de se despedirem ao raiar o dia, firmaram o compromisso de modernizar a comunicação, para, além dos diálogos se verem em gestos e em corpos ardentes.
     Godofredo Alfredo trabalhava na seção de frios de um hipermercado. Passava o dia cheirando a mussarelas e presuntos, sonhando com os olhos aveludados de Maria Madalena. Distraído, enfiava a mão pelos pés, óbvio, no sentido figurado, pois na realidade armazenava margarinas e iogurtes entre mortadelas fatiadas ou com os pobres frangos despedaçados. Algumas vezes fora flagrado pelo chefe da seção, em total enlevo, beijando pizzas, fazendo furinhos em queijos suíços, enfim, viajando na maionese. 
     -  Godofredo, o queijo já tem furos suficiente. O que está havendo? Está maluco?
     Godofredo Alfredo parecia um zumbi zanzando nas dependências do hipermercado, com três noites de sono atrasado.Burlava a vigilância do chefe e corria até a lan house do shopping anexo, para ver a bela e fogosa Madalena, sempre on-line, luz verde, para alegria do indócil apaixonado.
     Madalena fazia parte de um grupo de pessoas irremediavelmente envolvida com o mundo virtual, razão pela qual sua net encontrava-se sempre em on, embora ela pudesse estar no mundo dos sonhos abissais. Viúva, recebia uma polpuda pensão do ex-marido, que se foi desta pra outra, após um ataque fulminante em seu frágil pulmão, por abrigar a nicotina de três maços de cigarro diário. Madá, como Godofredo passou a nomeá-la, enviava à sua paixão virtual, fotos sensuais. Ele literalmente babava.
     Ao voltar para casa, antes mesmo de um banho reparador, ligava a net, para ver a amada. Os encontros reais eram sempre prorrogados. Motivos justos não faltavam.
     Aqui, o autor dá um salto na história, pois o que aconteceu no entremeio todos conhecem. Durante três anos, cinco meses e sete dias os amantes interagiram até ao orgasmo virtual. Enfastiados, puseram um fim à relação e cada um foi, do mesmo modo, em busca de novas aventuras...


J Estanislau Filho -

 Esta crônica, dá nome ao meu livro Crônica do Amor Virtual e Outros Encontros.
O livro pode ser adquirido na Editora Protexto: www.protexto.com.br