segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Retrospectiva 2018 e um poema de fim de ano

Três imagens que marcaram 2018




Lula cercado pela multidão Francisco Proner Ramos
Leonardo Boff na sede da PF em Curitiba

Jair Bolsonaro - imagem reproduzida pela tv


Outra imagem que marca 2018:
Povo abraça a guantânamo de Moro em que Lula se mantém como preso político. 



Tráfico


Um dos heróis da Polícia Militar do Acre foi preso sob acusação de trabalhar para o Comando Vermelho, na proteção à distribuição de droga.
É o tenente Josemar Barbosa de Farias, o segundo na hierarquia do Batalhão de Operações Especiais, o Bope. É uma versão acreana do “Capitão Nascimento”, o da fictícia Tropa de Elite


MEIO AMBIENTE*


Imagem: Trabalhadores do carvão (agência Ecclesia)

Desde a Conferência Climática de Copenhague, a COP 15 em 2009, muito se discutiu e passo a passo foi se chegando ao consenso do perigo representado pelas mudanças climáticas até se chegar ao Acordo de Paris estabelecido em 2015. O documento contou com a chancela de 195 países e tudo fazia crer que entraríamos num processo sério e efetivo no combate ao aquecimento global.
"(...) Eis que Estados Unidos e a Arábia Saudita usaram Conferência Climática na Polônia para elogiar e reforçar o uso do carvão como, vejam bem, “fonte limpa de energia”, um verdadeiro escárnio às informações que cada vez mais colocam os combustíveis fósseis como os grandes vilões do aquecimento global (...)
(...) Eis que nacionalismos limítrofes comandados pelo governo norte-americano de Trump passaram a questionar o acordo e até mesmo a existência irrefutável do aquecimento do planeta (...)". 

* Fonte: Carta Capital

CULTURA

Cinema

Os cortes de verbas na cultura repercutiram no cinema. Entre os filmes lançados, destaco:

* Aos Teus Olhos (Carolina Jabor)
* Quase Memória (Ruy Guerra)
* Construindo Pontes ( Heloísa Passos)
* Em 97 era assim (Zeca Brito)
* João de Deus - O Silêncio é Uma Prece (Candé Salles).
Depois dos supostos escândalos de assédio sexual, a produtora Paris Filmes suspendeu a distribuição, informa o Estadão. 


Música:

O cenário musical brasileiro continua dominado pelos sertanejos, universitários ou não. A grande mídia e gravadoras continuaram suas apostas neste gênero, além do funk, pagode. Pouco espaço para a MPB de qualidade. A passagem do roqueiro Roger Watters repercutiu na política, com o #elenão. 



Literatura:

O destaque, no meu ponto de vista, vai para  A Classe Média no Espelho, do escritor Jessé Souza. Uma análise profunda do comportamento da classe média no contexto político, que remete à escravidão. A classe média como capataz da elite.



Blogs:

Para fazer o contraponto das notícias falsas espalhadas, tanto nas redes sociais, quanto na mídia empresarial, e não contribuir em sua  disseminação, foram de extrema valia os seguintes blogs e sites:

Tijolaço, com artigos lúcidos de Fernando Brito; Diário do Centro do Mundo, Nocaute, Conversa Afiada, Viomundo, 247, Blog da Cidadania, Kennedy Alencar,  além da youtuber Ana Roxo e Reinaldo Azevedo, Forum e Carta Capital.





ESPORTES:

Judô: A gaúcha Maria Portela conquistou a medalha de ouro na Rússia




Futebol:

A seleção brasileira foi derrotada e eliminada pela Bélgica. 
O Palmeiras conquista seu décimo campeonato brasileiro. O Cruzeiro é campeão da Copa do Brasil e o Atlético Paranaense, da Sul-Americana. 






                                              Política






2018 foi o ano em que o roteiro do golpe, iniciado nas jornadas de 2013, implementada pelo conluio da grande mídia,  com o parlamento e judiciário, em 2016, fecha o ciclo com a prisão sem provas do ex-presidente Lula e a eleição de Jair Bolsonaro. Foi o ano em que as notícias falsas (fake news), como kit gay, mamadeira erótica, entre outras, foram impulsionadas ao ponto de decidir as eleições. Os mesmos métodos utilizados no Estados Unidos, que elegeram Donald Trump. A facada de Adélio em Bolsonaro continua uma incógnita. Ano em que a lava jato, como em anos anteriores, continuou a tarefa de destruir o Brasil, sob a cortina de fumaça do combate à corrupção, com seu agente maior, Sérgio Moro, sendo indicado como super ministro da Justiça, por Bolsonaro. Também o ano em que o sistema judiciário brasileiro, com a anuência de sua instância máxima, o SUPREMO, rasgou a Constituição. Sempre combinado com a grande mídia, sob a liderança da TV Globo, em defesa dos interesses da elite. Em 2018, assim como em 2017, as panelas continuaram em silêncio nos armários.

Jair Bolsonaro: 55,13% dos votos válidos

Fernando Haddad: 44,87% dos votos válidos

Brancos: 2,14%

Nulos: 7,43%


Abstenções: 21,30%

Governadores eleitos por partidos e estados: 

PSL: RO, RR e SC
PSDB: RS, MS e SP
PP: AC
PSD: PR e SE
DEM: GO e MT
PSC: AM e  RJ
NOVO: MG
MDB: AL, PA e DF
PHS: TO
PSB: ES, PB e  PE
PCdoB: MA
PDT: AP
PT: BA, CE, PI e RN 



Quem nos deixou em 2018


Tônia Carrero: atriz, 96 anos

Marielle Franco: vereadora, 39 anos



Dona Ivone Lara: cantora e compositora, 96 anos

Nelson Pereira dos Santos: cineasta, 90 anos

Waldir Pires: político, 92 anos


Joaquim Roriz: político, 82 anos

Daniel Alves: jogador de futebol


Carta aberta ao presidente Lula



Lula, meu caro, faz tempo que estou querendo te escrever. Esse pessoal do meio carcerário tem uma espécie de tara por proibir as coisas, então não sabia se minha carta ia chegar a ti, já que muita gente importante sequer conseguiu entrar para trocar umas palavras 

Cara, eu sei que tu não és santo, nem eu sou, nem ninguém é, então todos nós temos um monte de culpa por aí, mas o crime que tu cometeste realmente ninguém sabe até agora qual foi. Bem, você sabe disso, você já disse que aceitaria a pena tranquilamente se te mostrassem provas de um crime, só estou repetindo porque a carta será publicada e porque quero ressaltar uma coisa.

Hoje em dia com tanta culpa por aí, já nem precisa de crime para se condenar uma pessoa, basta querer condenar alguém que todo mundo já acha esse alguém culpado. É como um juiz me falou certa vez, que ele não sabia porque estava condenando o cidadão, mas o cidadão sabia porque estava sendo condenado. É mais ou menos assim que estamos vivendo, e é cada um por si.

No teu caso, um recibo de pedágio, a tua visita a um apartamento, mais dois ou três presos dedos-duros loucos para ganhar a liberdade, e pronto, está formada a prova necessária para a tua condenação, mesmo que ninguém diga onde está o teu dinheiro, onde está o benefício que tu tiveste nisso tudo, ninguém diz. E ninguém quer saber.

"Pode ser que digam que há mais coisas no teu processo, pode ser que haja, mas tenho certeza que se houvesse algo tão sério já teria sido divulgado aos quatro ventos, porque uma das coisas que mais se discute aqui fora é justamente a tua culpa, ou não culpa, e até agora só essa tua visita no apartamento que, obviamente, não é teu".

Xará (acabei de me tocar para o fato que temos o mesmo nome…rs…), a coisa tá difícil. Não quero entrar aqui na questão política, se fizeram tudo para te tirar da eleição, se têm ódio de ti porque és nordestino, um nordestino que teria chegado onde incomoda muita gente, e feito outros tantos nordestinos incomodarem mais gente por chegarem onde chegaram, não quero falar dessas questões políticas, quero conversar contigo sobre a tua situação atual.

Tenho trabalhado com presos a vida inteira e sei o quanto é difícil, principalmente em situação de isolamento, o encarceramento. Eu queria inclusive, com esta carta, te mandar uns livros, mas também não sei se chegariam até ti, são meios subversivos, acho que tu tens que ler algumas coisas subversivas, sabe? Tu tens que conhecer o sistema a fundo para entender a tua própria situação de encarcerado.

Um dia Nilo Batista disse que todo preso é um preso político. Pena que a maioria dos presos não sabe disso. O sistema, nele incluído o sistema penal, tem uma função primordial em fazer todos acreditarem, inclusive os próprios presos, que tudo funciona na mais perfeita ordem e, se tu estás preso, é porque devias estar preso.

Aliás, falando em Nilo Batista, e desviando do assunto novamente para a política, esse sim era um nome que tu devias ter nomeado para o Supremo. Poxa, tu não nomeaste nenhum penalista, e agora o que acontece, acontece que a maior parte dos integrantes do Supremo não sabe o que é uma prisão, dá para manter todo mundo preso sem um pingo de peso na consciência, convalidam mandado de busca e apreensão como se fosse um mandado de penhora, permitem condução coercitiva como se fosse uma intimação para depor em juizado, autorizam execução antecipada da pena como se ninguém corresse um grande risco de morrer, assassinado ou por doenças, atrás das grades.

Eu sei, eu sei, tu vais dizer que já percebeste isso, afinal estás preso e muitos dos que te mantiveram preso foram nomeados por ti. Eu também sofri na pele uma medida policial, uma busca e apreensão na minha casa autorizada à Polícia Federal por um magistrado nomeado por ti, mas até agora, pelo menos após a violência da busca, não tenho nada para dizer do juiz, apenas que ele não é da área penal, e ser da área penal é muito importante, porque o direito penal é como uma metralhadora, só serve para provocar dor e mortes. Não basta boa vontade para manusear uma metralhadora.

Qual a justificativa dessa medida contra mim? Alguns presos me elogiavam em interceptações telefônicas. O juiz não pode ser respeitado por preso, juiz deve ser odiado, essa é a imagem com a qual o poder judiciário tem buscado legitimidade frente a uma população sofrida por causa da criminalidade crescente, demonstrando-se rigoroso, mais um temido órgão de repressão. Mas depois eu volto a falar dos presos, dos outros presos.

Olha, esse fato acima parece irrelevante, mas é a prova de que eu podia muito bem achar bem feito o que aconteceu contigo, querer te ver preso, mas não, não quero. Seja pela tua idade, seja pelo que você representou para o Brasil, seja porque prisão não resolve nada, seja porque ainda não vi efetivamente o que tu usufruíste do crime, que também não sei qual é, que te imputam.

O mais interessante é que, e isso deve te deixar louco, tem um monte de gente pega com malas de dinheiro, helicóptero com cocaína, motorista milionário, ou seja, gente com dinheiro de verdade na conta, coisa mais fácil de provar, dinheiro na conta, mas estão todos soltos.
E, pior, nessas horas eles alegam o princípio da presunção de inocência, o devido processo legal, a ampla defesa, essas garantias jurídicas facilmente manuseáveis, principalmente em uma sociedade de memória fraca.

Sabe o que é, Lula, o sistema capitalista é feito de dinheiro, status, aparência e malícia, muita malícia, mas acima de tudo o sistema é feito de instituições, todas funcionando sob a mesma base, a que privilegia o acúmulo de capital, a que privilegia o mercado financeiro, em detrimento dos pobres.

Lá estou eu falando de política novamente. Nesse assunto, do mercado financeiro, nem quero tocar mesmo, porque seria a única coisa que estragaria esta carta, pois poderia falar coisas mais pesadas, a ponto de te deixar chateado comigo. Fostes muito bom para os bancos, para o mercado financeiro. Bem, deixa pra lá, pode ser que tu não tenhas tido outra saída, pois, afinal, ninguém ajudou mais os pobres do que você.

O fato é que tu és, além de tudo, um cara simpático. Não sei se vou te conhecer pessoalmente um dia, mas se isso acontecer, tenho muito mais coisa para te falar do que permite uma carta, “privada” (na condição em que tu estás nada é privado, e esse é um agravamento da pena, os presos perdem além da liberdade, a privacidade) ou principalmente pública, como essa que escrevo gora.

O que é importante é ter força, cara, as coisas mudam muito rapidamente nesse mundo. Nunca abaixe a cabeça, porque a esperança combina com cabeças erguidas, e há milhares de pessoas que ainda acreditam em ti, estão te esperando aqui fora, e isso deve ser capaz de te dar uma força tremenda.

Já recebi, na vida, milhares de cartas de presos, e em resposta a quase todas eu vou até o presídio e falo pessoalmente com o preso, mas essa é a primeira vez que escrevo a um preso. E não podia encerrar sem te dizer isso, Lula, mesmo que você tivesse cometido o crime mais bárbaro do mundo, todos os presos são seres humanos, todos os presos têm, acima de tudo, direito, se não porque são seres humanos, porque esse direito está na lei e na Constituição, de serem tratados com dignidade.

Espero que saias daí logo, possas voltar a conviver com os teus familiares, teus netos, mas não esqueças nunca essa situação de encarceramento, percebas o que muitas pessoas passam e passam em condições muito mais severas, em celas imundas, lotadas, com ratos e baratas, do que essas que tu estás vivendo.
Falo isso porque tu és, ainda és, um porta-voz do povo, de boa parte do povo, brasileiro, e grande parte desse povo está atrás das grades.

No mais, quero te desejar sorte, muita sorte. Que as pessoas que te odeiam, que também não são poucas, percebam a covardia que é espezinhar de uma pessoa presa, porque, acredite, Lula, não há limites para o ódio à pessoa encarcerada. Sorte, meu caro, não só tu como todos os brasileiros vão precisar neste novo ano de sorte. Não sou um cara religioso, posso até me considerar um ateu, embora essa conceituação não seja lá de muita importância para mim, mas te desejo muita sorte e, ainda com pouca fé, que tu fiques com Deus.

Grande abraço,

Luís Carlos Valois é Juiz de direito no Amazonas, mestre e doutor em direito penal e criminologia pela USP, pós-doutorando em criminologia em Hamburgo – Alemanha, membro da Associação de Juízes para Democracia e do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais.


Imagem: Google



Poema de fim de ano

O ano termina nos olhos da menina
dos olhos que se revelam luminosos.
Garotos dançam ao som de smartpones
com os fones nos ouvidos...
Na praça passeiam idosas e idosos
sob o sol da manhã
e há quem procure romã
para que ano novo seja de amor e sorte...
Ou a melhor cor de roupa para se vestir
e investir seu capital.
Um ano termina e outro se inicia...

Mas o que muda, afinal?

J Estanislau Filho
Escritor e poeta





terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Afrodite

                                                               Imagem: google



Meu nome é Hefesto. Passava horas em sítios de namoro até a noite em que encontrei Afrodite e inciamos uma amizade virtual, que mudaria o rumo de minha vida. Trocávamos ideias sobre vários assuntos. Afrodite falava sobre tudo com sabedoria. Seu poder de convencimento era desmesurado. Deixava pouco espaço para eu falar, mas não me importava. Gostava mesmo era de ouvi-la narrar suas aventuras amorosas. Não me esqueço de sua primeira confissão sexual com um oficial da marinha mercante. Fizeram sexo em meio a ondas, longe da costa. Ela narrava os mínimos detalhes: de como ele a penetrara, rodeada por tubarões. Esqueci algumas aventuras, por considerá-las banais. Às vezes eu conseguia interrompê-la e trazê-la ao meu mundo. Mas Afrodite fazia ouvidos moucos, para antecipar outras aventuras com homens do sítio de namoro. Perguntei-lhe várias vezes se fizera amor com mulheres ou em grupo. Sempre respondia que não gostava. Mas não se satisfazia com apenas um homem. "De cada vez, amigo", fazia questão de esclarecer. Assim acontecia. E em cada semana ela saía com um, às vezes em um único dia, com dois.
     N'outra ocasião, depois de muitas trocas de mensagens, ela se encantara com um nissei, por conta das músicas que ele lhe enviava. Afrodite, contou-me, agitada, que o nissei a deixava bolada. Imaginava a estrepolias sexuais que fariam. "Meu amigo, o nissei está consumindo os meus dias. Ele me conquistou pelo ouvido. A cada música que me envia, eu me masturbo. Meus pelos arrepiam. Preciso vê-lo com urgência, mas o maluco adia. Fico molhadinha, não sei mais o que fazer", arrematava desligando o telefone, para em seguida retornar a ligação e revelar um novo encontro, agora com um médico sarado, cheio da grana. E se despedia com um sorriso maroto.
    As aventuras de Afrodite mexiam com os meus sentimentos. Algo estranho se movimentava em meu ser e eu não sabia identificar.  Esperava, ansioso, o telefone tocar. Raramente falávamos pelo whatsapp ou messenger. Não sei porque motivo, ela preferia o telefone. Pedi-lhe várias vezes para falarmos pela câmera, mas ela nunca aceitou. Sua negativa levou-me a desconfiar quem de fato era Afrodite. Comecei a pôr em dúvida a sua identidade e ela me enviou uma foto da bunda, com uma calcinha apertada. Linda, redonda. E apagou em seguida. Respondi, que queria de corpo inteiro, nua ou seminua. "Sou exatamente como te disse: seios duros, medianos, coxas grossas e bem torneadas, deixo os homens enlouquecidos. Este rosto que você vê é meu. Quanto as outras partes, não insista. Envio fotos no sítio e apago imediatamente, meu amigo". Eu não gostava que ela me chamasse de amigo. "Amigo porra nenhuma, sou seu Hefesto", retrucava em tom de brincadeira, mas no fundo... Explicarei à frente, porque o telefone está tocando. É ela!
     Para me contar, atropelando as palavras, que passara a tarde em um motel vagabundo, uma espelunca, com um cowboy tosco, que falava tudo errado, "mas, meu amigo, faz sexo como poucos. O cara me virou pelo avesso. É a primeira vez que peço a um homem um descanso. Foram quase três horas de sexo ininterrupto. O cara é um monstro", arrematava com satisfação. E completava, "mas não quero sair com ele mais não, quero alguém mais refinado".
     Assim que desligava, meu corpo fremia. Sonhava acordado com Afrodite em minha cama, na hidro coberta de pétalas aromáticas e a gente se divertindo da forma em que vinhemos ao mundo. Eu a conduzia nua à cobertura, para um banho na piscina térmica. Lá eu tiraria centenas de fotos dela em posições sensuais. Só de imaginar a cena, eu ficava excitadíssimo. Ela desfilando ao redor da piscina, entre gerânios e jasmins. De repente o telefone toca e me tira do devaneio. Para me contar, que transara dentro do automóvel, com um empresário do petróleo, que prometera mundos e fundos em troca da sua fidelidade, mas ela recusa, alega não ser mulher de apenas um. Eu sugiro que ela aceite, sem precisar cumprir a promessa. Ela responde não, pois se diz incapaz de trair um pacto de fidelidade. E conta, com o tradicional sorriso maroto, que as águas a excitam. Gosta de fazer amor no mar, sob ondas e tempestades. Também sob cachoeiras, rios e lagos. Eu sou o contraponto dessa mulher nascida nas águas. Sou fogo. Nosso encontro é inevitável se se confirmar que os opostos se atraem. Mas voltando a Afrodite, ela acaba de me ligar, pra dizer que retornou aos braços e afagos de um ex de mais de dois metros de altura. Ele a procurou e ela não resistiu. O peso do seu corpo sobre o dela, o pênis enorme em sua fenda, marcou-a. O nome dele é Ares, amante das armas e da guerra. "Ele - conta - me espreme contra o colchão com força descomunal..." E segue a narrativa de um sexo selvagem. "Ele faz sexo com um revólver apontado em minhas têmporas", diz amedrontada. Depois do orgasmo, Ares a empurra e a agride com duras palavras. Foge em seguida. "Talvez, amigo, para não me matar, não quero vê-lo mais", desabafa, num choro. E me manda a foto de Ares, "caso aconteça algo comigo, você poderá ajudar nas investigações". Fico em silêncio. Ela insiste e eu respondo, "ah minha doce Afrodite, não vá mais ao encontro de Ares, é loucura!". Ela concorda.
     Mas, dentro de mim um sentimento indecifrável vai ganhando forma.  É como uma chama que me consome por dentro.
     Afrodite ficou sem me ligar por três dias. Enviava-lhe mensagens. Nada de respostas. No segundo dia notei que ela acessara o zap. Nada de respostas. Cogitei de que ela estava em perigo. Teria saído com Ares novamente? Algo me comia as entranhas. Eu estava com raiva, medo, ciúmes. Não quero falar com ela. Não, quero sim. Sentimentos opostos invadiam meu âmago. No terceiro dia, à tarde, como de costume, ela me ligou. Ah, tive vontade de matá-la. Desgraçada. Contou-me que fora amarrada e amordaçada por Hermes. Que a experiência a levara a orgasmos múltiplos. Um misto de sentimentos contraditórios deixou-me arrasado. Como na maioria de nossas conversas, eu apenas ouvia. Até o momento em que explodi:
- Caralho, me deixa falar! Porra. Eu estava com os nervos à flor da pele, ardendo em brasa. - Desgraçada, pensa que meus ouvidos são depositários de sua promiscuidade? Falei tudo que estava engasgado. Só parei quando ouvi seu choro. "Por favor, meu amor, não chore, me perdoe". Entre soluços disse que não me contaria mais suas peripécias libidinosas. "Não meu amor, conte-me tudo, fico feliz de saber".  Porém eu não estava certo disso. Como poderia ser felicidade se suas aventuras sexuais me maltratavam e davam-me prazer?  Essa ambivalência estava me consumindo. Tomei uma decisão. Afrodite seria somente minha. Elaborei um plano. Convidei-a a vir em minha casa. Quase chorei de alegria com o seu aceite. Enquanto não vem, ela continua me ligando, contando suas experiências libidinosas, mas agora, em busca de uma relação monogâmica, duradoura.
     Estou certo de ser o escolhido.

                                                                Imagem: Google



J Estanislau Filho



sábado, 22 de dezembro de 2018

Jessé: a Lava Jato foi para encobrir o saque da elite


Herança da escravidão

Já andei por muitos lugares do mundo e nunca vi sociedade tão desigual e perversa como a nossa. É herança da escravidão, que nunca foi percebida e criticada [como deveria].

Eu estava em um restaurante em São Paulo dias atrás e vi um casal achincalhar o garçom, que era excelente. Diziam coisas como: "Se você fosse menos preguiçoso"¦". Isso é sadismo, vem da escravidão. A dominação não é só econômica, é moral. Invoca essa necessidade de humilhar para criar uma sensação de distinção.

Elite

O que a elite brasileira fez? Primeiro, humilhou o povo para que ele continue sendo assaltado. Como? Dizendo que a corrupção vem de Portugal, desde 1381, como escreveu o [Raymundo] Faoro, o mais influente historiador do Brasil, repetido pela esquerda e pela direita o tempo todo.

Dizer que a corrupção [atual] vem dessa época é idiotice porque o conceito moderno de corrupção pressupõe a invenção de soberania popular, que vem, na prática, da Revolução Americana, em 1776, e da Revolução Francesa, em 1789. E não se pode tratar isso como transmissão de sangue, "biologizando" esse aspecto. Assim, a elite rouba a capacidade de resistência e de reflexão da população.

Esquerda e direita

Nessas eleições de 2018, não se falou sobre quem leva o povo ao empobrecimento, que é essa pequena elite. As isenções fiscais, por exemplo, são absurdas. Nem o candidato de esquerda nas últimas eleições [Fernando Haddad, do PT] articulou nada acerca disso. A esquerda é burra, colonizada pela direita, pelo pensamento conservador, e não consegue criar um discurso de resistência, como ficou comprovado nessas últimas eleições.

USP

O candidato da esquerda [Haddad] teve a pachorra de elogiar a Lava Jato. Ele acredita que o principal problema do país é o patrimonialismo, que a Lava Jato estava efetivamente ajudando e só tinha errado aqui e acolá. Não percebe a Lava Jato como um engodo.

Não estou dizendo que ele não seja decente, claro que é. Quero dizer que [essa esquerda] é colonizada por uma ideologia que serve aos interesses de uma elite. Não existe nenhuma teoria com esse grau de abrangência. A USP foi muito responsável por dar prestígio a essa teoria.

Santíssima trindade

Há uma santíssima trindade do liberalismo chique brasileiro. É, na verdade, um liberalismo tosco, formado por Sérgio Buarque de Holanda, Raymundo Faoro e Fernando Henrique Cardoso.

FHC foi o professor mais importante da USP. Não à toa, como presidente, ele foi um representante da elite paulistana, de sua fração financeira.

Classe média

O ódio ao pobre [caracteriza parte expressiva da classe média]. Esse ódio é resultado do acordo entre a elite e a classe média. Quando aconteceram golpes de Estado entre nós, com o apoio da classe média, houve o pretexto da corrupção. Basta perguntar se alguém da classe média saiu às ruas quando partidos de elite roubam. Eu nunca vi.

Bolsonaro na classe média"

Não foi a classe média inteira que o apoiou. Como se pode ver no meu livro, faço uma divisão. Há nessa classe 70% de conservadores e cerca de 30% que formam parcela mais crítica, que respeita as minorias e tem uma pauta progressista dentro do neoliberalismo.

Corrupção

O que é abordado no Brasil é a corrupção política, de Estado. É claro que ela é recriminável, mas quero chamar atenção para o fato de que o estado do Rio não está na miséria porque o [ex-governador] Sérgio Cabral roubou R$ 280 milhões. Não quero dizer que ele não deveria estar preso e que o que fez não é recriminável.

Acho que a Lava Jato e a TV Globo, ao criminalizarem e estigmatizarem a Petrobras, de quem o estado do Rio inteiro e parte do Brasil dependiam, são as causadoras da debacle.

A corrupção política é usada para tornar invisível esse saque feito pelas elites. A corrupção da política é uma gota no oceano quando comparado ao real saque, por meio da sonegação, por exemplo. É isso que deixa o Brasil pobre.

Lava Jato

Se quer acabar com a corrupção, como é que blinda o sistema financeiro? [O ex-ministro Antonio] Palocci propôs denunciar o sistema financeiro para conseguir delação, e a Lava Jato não aceitou.

Brasil sob Bolsonaro

Se houver alguma recuperação econômica, será por parte do capital mais sujo, que irá comprar aqui as coisas a preço de nada. Vem aí um saque neoliberal muito forte. O novo governo significa a subordinação do Brasil a interesses do capitalismo americano. Como os pobres não vão ficar menos pobres, haverá endurecimento ou repressão.





https://www.conversaafiada.com.br/brasil/jesse-a-lava-jato-foi-para-encobrir-o-saque-da-elite

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

“Estou me retirando deste mundo falso e hipócrita”: o desabafo do jurista Afrânio Silva Jardim depois da decisão de Toffoli


Publicado originalmente no Facebook do autor


A MINHA DECEPÇÃO E DESGOSTO É MUITO GRANDE. COMO LECIONAR DIREITO COM UM SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL COMO ESTE ? ESTOU ME RETIRANDO DESTE “MUNDO” FALSO E HIPÓCRITA.

APÓS QUASE 39 ANOS LECIONANDO DIREITO PROCESSUAL PENAL E 31 ANOS ATUANDO NO MINISTÉRIO PÚBLICO DO E.R.J., DIANTE DA NOTÓRIA PERSEGUIÇÃO DO NOSSO SISTEMA DE JUSTIÇA CONTRA O EX-PRESIDENTE LULA, CONFESSO E DECIDO:

1) Não mais acredito no Direito como forma de regulação justa das relações sociais.

2) Não mais acredito em nosso Poder Judiciário e em nosso Ministério Público, instituições corporativas e dominadas por membros conservadores e reacionários.

3) Não vejo mais sentido em continuar ensinando Direito, quando os nossos tribunais fazem o que querem, decidem como gostariam que a regra jurídica dissesse e não como ela efetivamente diz.

4) Não consigo conviver em um ambiente tão falso e hipócrita. Odeio o ambiente que reina no fórum e nos tribunais. Muitos são homens excessivamente vaidosos e que não se interessam pelo sofrimento alheio. O “carreirismo” talvez seja a regra. Não é difícil encontrar, neste meio judicial, muito individualismo e mediocridades.

5) Desta forma, devo me retirar do “mundo jurídico”, motivo pelo qual tomei a decisão de requerer a minha aposentadoria como professor associado da Uerj. Tal aposentadoria deve se consumar em meados do ano que se avizinha, pois temos de ultrapassar a necessária burocracia.

6) Vou procurar outra “trincheira” para uma luta mais eficaz em prol de um outro modelo de sociedade. A luta por vida digna para todos é perene, pelo menos para mim.

7) Confesso que esta minha decisão decorre muito do que se tornou o Supremo Tribunal Federal e o “meu” Ministério Público, todos contaminados pelo equivocado e ingênuo punitivismo, incentivado por uma mídia empresarial, despreparada e vingativa.
Com tristeza, tenho de reconhecer que nada mais me encanta nesta área.

8) Acho que está faltando honradez, altivez, cultura, coragem e honestidade intelectual em nosso sistema de justiça criminal.

9) Cada vez menos acredito no ser humano e não desejo conviver com certas “molecagens” que estão ocorrendo em nosso cenário político e jurídico.

10) Pretendo passar o resto de meus dias, curtir a minha velhice em um local mais sadio…




Afranio Silva Jardim, professor associado de Direito Processual Penal da Uerj. Mestre e Livre-Docente em Direito Processual Penal pela Uerj. 



Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/estou-me-retirando-deste-mundo-falso-e-hipocrita-o-desabafo-do-jurista-afranio-silva-jardim-depois-da-decisao-de-toffoli/

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Aos que virão depois de nós


Tradução de Manuel Bandeira
         



Realmente, vivemos tempos muito sombrios!
A inocência é loucura. Uma fronte sem rugas
denota insensibilidade. Aquele que ri
ainda não recebeu a terrível notícia
que está para chegar.

Que tempos são estes, em que
é quase um delito
falar de coisas inocentes.
Pois implica silenciar tantos horrores!
Esse que cruza tranquilamente a rua
não poderá jamais ser encontrado
pelos amigos que precisam de ajuda?

É certo: ganho o meu pão ainda,
Mas acreditai-me: é pura casualidade.
Nada do que faço justifica
que eu possa comer até fartar-me.
Por enquanto as coisas me correm bem
(se a sorte me abandonar estou perdido).
E dizem-me: “Bebe, come! Alegra-te, pois tens o quê!”

Mas como posso comer e beber,
se ao faminto arrebato o que como,
se o copo de água falta ao sedento?
E todavia continuo comendo e bebendo.

Também gostaria de ser um sábio.
Os livros antigos nos falam da sabedoria:
é quedar-se afastado das lutas do mundo
e, sem temores,
deixar correr o breve tempo. Mas
evitar a violência,
retribuir o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, antes esquecê-los
é o que chamam sabedoria.
E eu não posso fazê-lo. Realmente,
vivemos tempos sombrios.

Para as cidades vim em tempos de desordem,
quando reinava a fome.
Misturei-me aos homens em tempos turbulentos
e indignei-me com eles.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Comi o meu pão em meio às batalhas.
Deitei-me para dormir entre os assassinos.
Do amor me ocupei descuidadamente
e não tive paciência com a Natureza.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

No meu tempo as ruas conduziam aos atoleiros.
A palavra traiu-me ante o verdugo.
Era muito pouco o que eu podia. Mas os governantes
Se sentiam, sem mim, mais seguros, — espero.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

As forças eram escassas. E a meta
achava-se muito distante.
Pude divisá-la claramente,
ainda quando parecia, para mim, inatingível.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Vós, que surgireis da maré
em que perecemos,
lembrai-vos também,
quando falardes das nossas fraquezas,
lembrai-vos dos tempos sombrios
de que pudestes escapar.

Íamos, com efeito,
mudando mais frequentemente de país
do que de sapatos,
através das lutas de classes,
desesperados,
quando havia só injustiça e nenhuma indignação.

E, contudo, sabemos
que também o ódio contra a baixeza
endurece a voz. Ah, os que quisemos
preparar terreno para a bondade
não pudemos ser bons.
Vós, porém, quando chegar o momento
em que o homem seja bom para o homem,
lembrai-vos de nós
com indulgência.



Bertolt Brecht (1898-1956)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Bolsonaros nomearam todos os Queiroz; filha acumulou empregos






Marcelo Auler: Assessora de Jair Bolsonaro na Câmara, filha de motorista trabalhava ao mesmo tempo em academia no Rio


Por Marcelo Auler em seu blog


Pode ser mera coincidência. Ou mesmo um grande esforço, por parte de uma jovem determinada a vencer na vida.

Mas, diante da revelação da Folha de S. Paulo, em 11 de janeiro passado – Bolsonaro emprega servidora fantasma que vende açaí em Angra – não chega a ser exagero imaginar que o hoje presidente eleito Jair Bolsonaro, bem como seu filho, o deputado estadual Flávio Bolsonaro, podem ter abrigado outros servidores fantasmas em seus gabinetes.

Agora depende apenas de uma boa apuração dos fatos.

Coincidência ou não, segundo informações recebidas pelo deputado Paulo Pimenta (PT-RS), Nathalia Melo de Queiroz, filha mais velha do subtenente da PM Fabrício José Carlos de Queiroz, enquanto servidora da Assembleia Legislativa (março de 2011 e julho de 2012) e da Câmara dos Deputados (abril de 2016 a abril 2017), também esteve contratada em academias de ginásticas do Rio de Janeiro.

Queiroz, como noticiado aqui em O$ mistério$ que rondam Queiróz, o “amigo” dos Bolsonaros, na condição de assessor do deputado Flavio Bolsonaro movimentou mais de R$ 1,2 milhão em conta bancária de forma, ao menos, pouco usual, por isso, colocada sob suspeita.

Não há nada que impeça servidores da ALERJ ou da Câmara Federal de acumularem serviço com outras atividades.

Desde que consigam dar conta da carga horária exigida pelo serviço público. Mas nas duas casas legislativas não existe ponto.

A frequência é atestada pelo parlamentar ao qual o servidor está relacionado.

Na Câmara dos Deputados também há a possibilidade de o servidor trabalhar na chamada “base” do deputado.

O que justificaria Nathalia ser servidora de Jair Bolsonaro em Brasília e continuar morando no Rio.

Estranho, porém é que Nathalia, nascida em abril de 1989, pouco depois de completar 18 anos, em setembro de 2007, tenha ingressado no quadro funcional da ALERJ e, quatro anos depois, em março de 2011, sem deixar o emprego público, passou a trabalhar como “recepcionista” da Norte Fitness Center, Academia de Ginastica Ltda..

Ficou empregada ali até, provavelmente, julho de 2012.

Segundo registros da Receita Federal, o CNPJ desta academia – 08.179.113/0001-08 – teve baixa em abril de 2013, ao ser incorporado ao de outra empresa.

Durante 17 meses ela acumulou os dois serviços. Sendo que na ALERJ, em 2011, tanto ocupou o cargo de “Dirigente do Serviço Público Federal” como o de “Assistente Administrativo”, conforme informações recebidas pelo líder do PT, Paulo Pimenta. No fundo, exercia a função de assessora parlamentar.

Ela deixou o emprego da ALERJ em dezembro de 2016, no mesmo mês em que sua irmã menor, Evelyn, nascida em julho de 1994, portanto com 22 anos, assumiu uma função como “assessora parlamentar”.

Cargo no qual se encontra até hoje recebendo R$ 7.550,00 líquidos, como registra a folha de pagamento de outubro.

No mesmo mês de dezembro de 2016, porém, Nathalia ingressou na Câmara dos Deputados, em Brasília, como secretária parlamentar do pai de Flávio, o deputado federal Jair Bolsonaro.

Em janeiro de 2017, seu salário líquido foi de R$ 8.752,58. Menos, portanto, que os R$ 9.207, líquidos que teria recebido como última remuneração na ALERJ, conforme informou Lauro Jardim, em sua coluna de O Globo – Flávio Bolsonaro empregou em seu gabinete família de PM monitorado pelo Coaf. (Na página de transparência da ALERJ aparecem os salários de 2017 e 2018).

Ao mesmo tempo em que se dedicava como secretaria parlamentar do hoje presidente eleito, Nathalia conseguiu tempo para trabalhar, já não mais como recepcionista, mas como professora – provavelmente personal trainer – em outra academia de ginástica.

Durante o ano de 2016 e alguns meses de 2017 ela prestou serviços também à Sports Solution Academia Ltda. (CNPJ 09.450.173/0001-86), que tem o nome fantasia de Iron Boxe.

Segundo dados da Receita Federal, localiza-se na Avenida do Pepe, na Barra da Tijuca.

Como já se afirmou acima, não há ilegalidade no acúmulo de funções, desde que a carga horária no emprego público seja preenchida.

Mas a frequência não é atestada por ponto e sim pelo parlamentar que requisita o servidor, ainda mais no caso daqueles que trabalham no estado de origem do político, distante de Brasília.

Isso permite levantar suspeita de servidores fantasmas ou, simplesmente, desviados de suas funções.

Em Angra dos Reis, a Folha confirmou a servidora fantasma de Bolsonaro. No Rio terá ocorrido o mesmo?

Como ocorria com Walderice Santos da Conceição, 49 anos, servidora do gabinete de Jair Bolsonaro desde 2003, mas que a reportagem da Folha flagrou vendendo Açaí na na pequena Vila Histórica de Mambucaba, em Angra dos Reis, onde o deputado tem casa de veraneio.

Ela também, segundo a reportagem de Camila Mattoso e Ítalo Nogueira, prestava serviços como doméstica, cuidando da casa do parlamentar.

Função não prevista no quadro da Câmara dos Deputados.

Nathalia e Evelyn são filhas de Debora Melo de Queiroz, hoje com 57 anos, provavelmente a primeira esposa de Fabrício José.

Debora, que oficialmente reside no apartamento onde Fabrício morou na Praça Seca, em Jacarepaguá, como as filhas e como a atual companheira do ex-marido, Márcia Oliveira Aguiar, também já foi servidora da ALERJ.

Esteve empregada no Palácio Tiradentes a partir de dezembro de 2003, justamente o primeiro ano do mandato de Flávio Bolsonaro como deputado estadual.

Permaneceu na função até maio de 2006.

Coincidência ou não, em março de 2007, conforme noticiou Lauro Jardim na mesma nota citada acima, quem passou a ser empregada da ALERJ, como consultora parlamentar, percebendo salário de R$ 9.835,63, foi a atual esposa de Fabrício, Márcia.

Ficou no cargo até setembro de 2017.

Márcia atualmente, como registrou a reportagem de Juliana Castro e Igor Mello, em O Globo desta terça-feira (11/12/2018) – Ex-assessor de Flávio Bolsonaro, que movimentou R$ 1,2 milhão, vive em local simples na Taquara (RJ) – divide uma mais do que modesta casa – “em um beco de um local simples na Taquara, na Zona Oeste do Rio” – com o subtenente que até bem recentemente recebia líquido algo em torno de R$ 17.538,00, como mostramos na reportagem anterior, citada acima.

Um apartamento melhor, na Praça Seca, em Jacarepaguá, também Zona Oeste do Rio, em condomínio que conta, inclusive, com piscina, foi destinado a Debora, a primeira mulher. Com ela, não reside nenhuma das duas filhas.

Nathalia mora no bairro de Oswaldo Cruz, zona Norte do Rio. Evelyn, a menor, mora com o pai.







fonte: https://www.viomundo.com.br/politica/marcelo-auler-assessora-de-jair-bolsonaro-na-camara-filha-de-motorista-trabalhava-ao-mesmo-tempo-em-academia-no-rio.html

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

poema à meia-noite


Imagens: Google





meia-noite
ouço vozes
do além

vêm me tirar o sono
atormentar minh'alma
que há tempos não dorme

vem alguém de uniforme breu
rosa vermelha na boca
numa mão uma faca
n'outra uma corrente
no pescoço uma serpente

vem do além
e me conduz
por uma estrada sem fim...


J Estanislau Filho