terça-feira, 19 de julho de 2016

NÃO ME PERGUNTES








Não me perguntes sobre as cores daquela tarde chuvosa
em que segurei tuas mãos desfalecidas.
Não me perguntes onde estão as flores oprimidas por teus olhos áridos.
Vi teus lábios se contorcerem naquela manhã apática, mas meus olhos,
envoltos por nuvens escuras enxergavam luminosidade leniente,
enquanto tu eras presságio, peça sem costura.

E quando diante do espelho vi uma imagem distorcida,
olhar oblíquo, não te reconheci.
Fescenina e réproba, tua melopéia feriram meus tímpanos,
ímpetos de evadir se apossaram dos meus sentidos,
todavia, os membros arrefecidos, não obedeceram ao comando
desse coração singular.

Então não me perguntes mais sobre meu silêncio apartado,
sei que tuas lágrimas não movem nada móvel
e não comovem as fímbrias das tenras flores do jardim prometido.
Os grilhões desse ajoujo não são de hoje, vem de épocas remotas,
apanágio atávico em estágio de mutação.
Portanto não me perguntes mais em que paisagem meu coração se desviou,
a incerteza é minha companheira nessas horas desmedidas.



Este é o primeiro poema do livro Estrelas.

Que tem ainda A Moça do Violoncelo (contos de mistérios), formando dois livros em um, com duas capas em papel laminado, 176 páginas R$25,00 sem mais despesas.

sábado, 9 de julho de 2016

Cão sem Dono











Ninguém sabia quem era o dono daquele cachorro branco de pintas pretas, uma mistura de dálmata com vira-latas, que vivia perambulando pelas estradas empoeiradas de Tropeiros. As pessoas ficavam incomodadas, curiosas e algumas até mesmo irritadas com a liberdade daquele cão, que entrava e saia das chácaras, ora em busca de uma sobra de alimento, ora para satisfazer o seu apetite sexual em uma cadela no cio. Sumia por algum tempo, sem deixar pistas do seu paradeiro.
     Ele era meigo e manso, contudo não exagerava nas brincadeiras. Gostava de manter uma certa distância, não querendo se envolver em muitas intimidades, quem sabe, com receios de se apegar a alguém e de criar raízes em terreiros, tornando-se prisioneiro de sobras de alimento e afeto. Preferia ir para onde o nariz apontasse, pois, confiava mesmo em seu instinto, em seu faro. Cadelas no cio não lhe faltava. Cadelas de diferentes raças, pelos e cores.Todas que cruzaram seu caminho, ele cruzou, espalhando o seu DNA.
        Cão sem dono. Dono de ninguém. Livre.
       Algumas pessoas manifestavam seus pontos de vistas sobre este cão andarilho, nômade, que não respeitava cercas. Conseguira pular sobre a tela de uma chácara e engravidar duas dálmatas legítimas, que deram crias a doze filhotes, para desespero dos donos das cadelas, que juraram dar um fim naquele cão sem dono.Mas, com o passar do tempo, esqueceram a vingança, mas antes, exterminaram os filhotes.
    Quando ele era visto cruzando com uma cadela bem no meio da rua havia quem o apedrejasse, horrorizado com tamanha falta de pudor e de respeito, como se fazer sexo fosse algo abominável. No fundo era a inveja se manifestando.A cultura de que o sexo é pecado ainda está enraizada nos corações e mentes de muitos adultos. Os adolescentes, ao contrário, assistiam a tudo excitados.
     Contudo, havia quem o defendesse e mesmo tentasse, sem sucesso, mantê-lo no espaço limitado da chácara.
      Um dia, algumas pessoas infelizes, prisioneiras da impotência, planejaram exterminá-lo. Não tanto por ódio a ele, muito mais para levar sofrimento e irritação a uma senhora idosa e solitária, que muitas vezes fazia do cão a sua companhia. Todavia, eles não conseguiam se entender sobre os métodos a serem utilizados. Sovinas, nenhum deles desejava gastar dinheiro com veneno e um pedaço de carne.A pauladas era a melhor alternativa, contudo, esbarravam na consciência hipócrita e na dificuldade de apanhá-lo, pois, percebendo o perigo, ele fugia. Precisava de algo que não sujasse as mãos. Uma coisa era certa: depois de morto o cão, seria jogado no quintal da velhinha, para vê-la blasfemar contra a maldade humana. Esta era a parte divertida do plano.
     Enquanto isso o cão continuava percorrendo livremente as ruas empoeiradas das chácaras do cerrado, despreocupado e feliz.
     Os assassinos finalmente chegaram a um consenso: o cão sem dono seria estraçalhado por um pittbull. Descobriram como prendê-lo: quando estivesse montado em alguma cadela. Em seguida seria levado até a chácara de um conhecido, dono da fera, que também detestava a liberdade alheia e o pittbull faria o resto. Depois, era só levar o cão morto e sorrateiramente atirá-lo no do quintal da velhinha e assistir ao espetáculo á distância, satisfazendo seus instintos maldosos.
      Tudo isso deveria ser feito sem despertar a atenção dos vizinhos, pois ali bem próximo havia uma senhora que recolhia cães abandonados e os mantinha sob seus cuidados com a ajuda da sociedade protetora dos animais, que poderia denunciá-los às autoridades.Ela tentara levar o cão sem dono para o seu canil, mas ele sempre dava um jeito de escapar.
      Aliás, esta senhora era alvo de deboche, pois, segundo comentários de alguns, como poderia alguém dar proteção a animais com tantas crianças passando fome. Caminhão lotado com sacos de ração seguia todo mês ao local. Ela era uma senhora herdeira de uma fortuna e segundo diziam, não tinha filho, por isso, destinava suas economias cuidando dos animais abandonados. Quando era questionada, respondia: “cachorro também é gente e o dinheiro é meu, ninguém tem nada com isso e são os meus empregados que cuidam dos meus amores, são bem remunerados e vão cuidar das suas vidas, que da minha e dos meus cães, cuido eu”.
    Eles prenderam o cão e o levaram ao pittbull. E não acreditaram no que viram: os dois se deram muito bem. Protegido pela fera, ninguém ousou aproximar-se, para retirar o cão sem dono da companhia do seu novo amigo. Pelo que se conta na região, os dois vivem em perfeita harmonia, trocando carícias.




Esta crônica integra o livro Crônicas do Cotidiano Popular - Edição do autor - 2006 - Esgotada. Editoração eletrônica: Fernando Estanislau - Capa/Ilustrações: Maizena.



Está no ar o meu último livro: A Moça do Violoncelo (contos de suspense e mistério) - Estrelas (poesias). Dois livros com capa dupla, orelhas em papel laminado, 176 páginas, 4x4 cores, por R$25,00 sem mais despesas. Peça o seu diretamente com o autor. Seja um mecenas da cultura popular.





   LIVRO, UM PRESENTE INTELIGENTE!!!

sexta-feira, 8 de julho de 2016

nudez




Vê-la nua corpo em chamas
Lábios e boca abertos ao beijo
Contorcendo desejos sobre a cama...

Doce menina sedenta de prazer
Mulher plena em plenilúnio
Etílico corrompendo meu ser...

Navegarei em teu dorso como quiseres
Eu marinheiro de versos e mares
Serei teu guia se tu me guiares
Por esses labirintos quereres
[seios pênis clitóris orgasmos]
Subir contigo aos ares
Depois quedarmo-nos
Em diversos marasmos.




O poema acima está em meu último livro Estrelas (poesias), que junto com a Moça do Violoncelo (contos de mistério e suspense) formam dois livros em um, com duas capas, orelhas e papel laminado, 4x4 cores, 176 páginas, que pode ser adquirido, fazendo contato com o autor. Custa R$25,00. Sem mais despesas.