segunda-feira, 28 de agosto de 2023

divertimento


Imagem: Jefil/Tiradentes-MG


contemplo o tempo lá fora
da vidraça do meu templo
vejo gente de toda raça
como não via lá na roça
vejo motos e motociclistas
de capacetes nas cabeças
vejo pedestres e motoristas
uns lentos outros às pressas
vagando pelas ruas e praças


do meu templo contemplo
bons e maus exemplos
meu templo é minha choça
onde moro com uma moça
senhora de bons sentimentos
que me sugere lavar a louça
como se fosse divertimento
lavar enxaguar depois guardar
nos compartimentos

Imagem: Jefil/Coroas-MG


J Estanislau Filho

domingo, 27 de agosto de 2023

Explicações Necessárias




Imagem: O autor, por Berzé


Em 2021 publiquei o meu décimo primeiro livro, Prova de Vida, pela editora Clube de Autores, numa edição de bolso.  O livro ficou bonito, leve, com setenta páginas. Escolhi o que considerei as minhas melhores crônicas,  escritas entre 2016 e 2021, publicadas em meu blog e no Recanto das Letras.  Algumas foram escritas no período da pandemia. 
     Apesar de o livro ficar do meu agrado, teve um porém: o preço de capa ficou muito caro. O que me levou a suspender as vendas e a divulgação. Obviamente, não posso  impedir a editora de mantê-lo no catálogo. 
  As crônicas do livro encontram-se disponíveis em meu blog  https://jestanislaufilho.blogspot.com/ e no Recanto das Letras 
https://www.recantodasletras.com.br/autores/jestanislaufilho
 
     Para facilitar a busca, eis as lista das crônicas:


> Eu Não Queria Falar de Coronavírus
> Tamanho Não é Documento
> Prova de Vida
> O Catador de Grãos de Areia
> O Eletricista
> Despedida
> Construção
> Maldita Chuva!
> Catarse Com Cumpadi Bastião
> A Morte de Clara
> Matar a Cobra e Mostrar o Pau
> Cíntia
> Quando Edna Veio a Minas
> O Cabeleireiro e o Filósofo
> Os Cegos
> Marcela e Crisóstomo
> São José do Nariz Quebrado
> O Pau do Lalado
> Os Machões Não Lixam as Unhas
> Palavras de Apoio a um Jovem Pai Assustado
> O Sábio da Montanha
> Tia Rosa
> O Coronel e o Cientista
> O Olfato de Rosicler
> Quando Eu Fiz 40 Anos Meu Filho Tinha 11
> Será Loucura Perder-se em Barbacena?
> Crônica de Uma Vida
> Cruz das Almas




     Por último, agradeço às leitoras e leitores que adquiriam o livro, apesar do preço "salgado". 


     


J Estanislau Filho

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

O Som das Árvores



Imagem: Jefil


Ouço o choro das árvores nos cortes
Ouço seus risos nas carícias do vento
Ouço a canção de ninar no pouso das aves  em suas copas e galhos
Quando os frutos são colhidos
Em suas dádivas de semear sombras
Seus galhos são braços abertos aos abraços
Choram e gritam como crianças ao ruído das motosserras
Florestas em chamas ecoam tristes melodias
E quando a chuva cai ouço canções de alerta
Elas renascerão das cinzas
Para nos dar uma nova chance de vida

Imagem: Jefil


J Estanislau Filho

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Opção





Imagem: acervo do autor


opção


não busco metáforas
ou rimas esplêndidas.
quero manifestação espontânea de piratas
pirados bêbados de sonhos
em uma fragata rasgando oceanos.
não busco um dicionário
com milhões de verbetes
quando o coração sangra
nem versos medidos
rimados ritmados
(sete sílabas decassílabos )
prefiro o encontro dos lábios
e derramar meu pranto
diante da cara de espanto
dos mutilados.


Opção 2



Imagem: acervo do autor


Não caço metáforas
como quem caça feras.
Rimas esplêndidas
nascem espontâneas.
A escuna desfraldando velas
e uma tripulação bêbada e bela.
Dicionários de rimas
a que será que se destina?
Coisa ridícula!
Isso é problema:
rúcula esdrúxula.
Não vivo esse dilema.
Mas o coração sangra sangra...
Ainda assim gosto da sombra
de uma palmeira a beira-mar.
Entre versos rimados
ritmados e medidos
opto pelo encontro de lábios.
E se tiver de derramar o pranto...
Que seja por amor!
Assim é o meu canto.


J Estanislau Filho


Poemas que integram a coletânea do livro Estrelas


terça-feira, 8 de agosto de 2023

O escritor indeciso

Imagem: Google


O cérebro não impulsiona a mão e a caneta sobre a folha em branco. Em tempos de tecnologias, ele ainda escreve com caneta, mas as palavras não brotam. O suposto dono da mão e da caneta está indeciso sobre a narrativa. Qual o melhor conteúdo e a melhor forma a ser desenvolvida, para agradar seus parcos leitores? Pensa. E enquanto pensa, bebe um cafezinho.

     Não seria melhor escrever sobre o que agrada a si? Hum, talvez, pensa enquanto belisca um pedaço de torta. Poesia, não! Chega, por hora. Uma crônica em defesa das causas ambientais, geralmente agrada. Animais amados ou abandonados. Não, hoje não! Sobre a vida, alegria, esperança. Afinal, políticas de inclusão social voltaram, com o novo governo.  O escritor não decide. Com tantas vidas de jovens pobres, maioria preta, sendo ceifadas, ele pensa ser hipocrisia escrever sobre felicidades.  Ah, o futebol, principalmente agora, com as mulheres! Também não. Então, que tal sobre política? Para o bem ou para o mal, sempre mexe com as pessoas.

imagem: Google

     Mas, o escritor não quer escrever sobre o que disse o governador de Minas, admirador de Mussolini, sobre separar o Sul e o Sudeste do Nordeste.  Também não quer narrar sobre a recente chacina da polícia paulista, que o governador aplaudiu. Zema e Tarcísio duelam, para saber quem herdará o espólio político de Bolsonaro.  A disputa ficou mais acirrada com a entrada do fofíssimo Eduardo Leite.  O inelegível ainda não se manifestou.

     Assim, indeciso e sem inspiração, o escritor desistiu de escrever.  


J Estanislau Filho



imagem: acervo do autor


 

sábado, 5 de agosto de 2023

casablanca

 







Te acalma, minha loucura!
Veste galochas nos teus cílios tontos e habitados!
Este som de serra de afiar as facas
não chegará nem perto do teu canteiro de taquicardias…
Estas molas a gemer no quarto ao lado
Roberto Carlos a gemer nas curvas da Bahia
O cheiro inebriante dos cabelos na fila em frente no cinema…
As chaminés espumam pros meus olhos
As hélices do adeus despertam pros meus olhos
Os tamancos e os sinos me acordam depressa na madrugada
[feita de binóculos de gávea

e chuveirinhos de bidê que escuto rígida nos lençóis de pano

– Ana Cristina Cesar, em “Poética”. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.