sábado, 25 de fevereiro de 2023

Meu pé de ingá

 

Imagem: Google

O garoto encontrava-se na fase de descobertas.  Adquirira o hábito de contar estrelas,  principalmente em noites de lua cheia. 

     - Menino, está na hora de ir pra cama - a mãe chamou, lá da cozinha, enquanto apagava as brasas  do fogão. 

     - Esse menino é meio esquisito,  com a mania de contar estrelas, você não disse a ele que nasce verruga? - indagou o pai. 

     - Ah, Zé, o menino é sabido, não acredita nessas coisas!

     - Tá com a cabeça rachada - interviu o irmão, com uma risada. 

     O menino entrou e antes de ir pra cama, ouviu as instruções do pai.

     - Amanhã, depois de voltar da rua, precisa voltar de novo pra entregar as laranjas. 

     Toda manhã, depois de ajudar o pai na ordenha das vacas, o menino levava o leite pra cooperativa. Nos tempos da colheita de laranjas, ele era o responsável pelas vendas à partir das encomendas. Um cento para Fulano, meio cento pra Beltrano e por aí vai. 

     O que ele não gostava era de levantar de madrugada. Mas entregar o leite e vender as laranjas,  ele gostava.  Tudo por causa do pé de ingá, onde fazia uma parada, ao retornar da rua.  Estacionava a charrete, mas antes colocava o animal à beira do córrego, para beber água e comer capim.  Atravessava a cerca de arame farpado e deitava-se num tapete feito de folhas secas, sob a sombra do pé de ingá, onde passava um bom tempo contemplando o tronco e a copa da árvore. O vento agitava as folhas, produzindo uma brisa, que abrandava o calor e o suor do corpo  do menino. 

     Sob a sombra do pé de ingá seus pensamentos corriam solto até chegar ao ápice do prazer. 


J Estanislau Filho

Imagem: Google-domínio público

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Das Minhas Lembranças 60

eu e Raul

 Outubro de 1951, dia 20. Não há registro das horas.

     Consta na certidão o nascimento de uma criança, vinda ao mundo pelas mãos de uma parteira, nos grotões  de Minas Gerais, no distrito de São João do Oriente. Testemunhas relataram gritos de choro, assim que o cordão umbilical fora rompido.  Aos quatro ou cinco anos  a família da criança mudou-se para outro roçado, no córrego Boleirinha, zona rural de Jampruca, localizado  no Vale do Rio Doce, na divisa com o Vale  Mucuri.  A mudança ocorrera, por conta de desavenças políticas.  Em Jampruca crescera  entre o roçado e a rua.  E o amor ao pé de ingá, onde sempre parava, ora de bicicleta, ora de charrete, para saborear os frutos e descansar sob suas sombras;  entre o trabalho no campo e o lazer com os filhos de companheiros camponeses,  ou no pequeno distrito, jogando sinuca e futebol;  indo ao cinema do Heleno. Os estudos primários eram, também, uma válvula de escape. De criança a adolescência, tudo passou muito rápido. Aos dezesseis, novamente por conta de desavença política, a família mudou-se para Engenheiro Caldas, mas lá permanecera por curto período: entre 1967 a 1970, quando, novamente mudam de cidade, desta vez, não por desavença política, pois o pai abandonara a contenda, mas por outros motivos, que não vem ao caso,  e para não alongar a narrativa. Para onde ia, levava consigo o segredo do evento ocorrido à sombra do pé de ingá. Mudaram-se, então, para Itabirinha, em 1970, ano do tri.  Um anos antes, em 1969, matricula-se no Ginásio Agrícola de Colatina-ES, em regime de internato. Tempos do auge da ditadura militar; do milagre econômico; do "ame-o ou deixei-o"; de "este é um país que vai pra frente".   Sem esquecer a lembrança do pé de ingá e do evento que ali ocorrera.

Meus pais

     Para que a crônica de uma vida não seja prolixa, o autor e personagem  muda o rumo da prosa, e passa a falar de como a literatura entrou em sua vida. Tudo começou em Jampruca, lendo foto-novelas, quadrinhos e livros de bolso, que os irmãos e uma irmã, traziam das cidades grandes. Depois seguiram-se os clássicos nacionais e estrangeiros. José Alencar, Machado de Assis, Tolstoi, tudo que caía em suas mãos, até conhecer as primeiras bibliotecas e "comer" muitos livros.  Das leituras a escrita, foi um pulo. Primeiro com diários, seguidos dos primeiros versos. A literatura descortina o mundo, abre horizontes. Assim, o jovem desbravou florestas; singrou mares; apaixonou-se por capitus e julietas; viu soldados e civis mortos nos front's; revoltou-se com as injustiças, que os livros de história e os romances narravam;  buscou entender o sentido da vida com os livros de filosofia e a universidade da vida. Fez greve. Continuava sonhando revelar o que ocorrera sob a sombra do pé de ingá.  

     Inevitavelmente a leitura despertaria a sua consciência política. Em busca de emprego, independência e sobrevivência, foi morar na capital. E do chão da fábrica ao sindicato, foi rápido. Quando a consciência de classe e política de que a vida plena é um direito de todos se instala, não larga mais. Paralelamente a ação política, escrevia poesias, crônicas e contos. Sedimentava o escritor autodidata. 

     Hoje, com vários livros publicados em edições marginais, assiste ao que pensou ser uma página virada na história: a nossa frágil democracia novamente golpeada, desta vez, não pelos militares, mas por uma quadrilha de parlamentares em conluio com a turbamulta. E como a consciência política e social instalou-se definitivamente, continua em ação, para mudar esta realidade.

     E reflete se deve mesmo revelar  o que aconteceu à sombra do pé de ingá.


SOBRE PROVA DE VIDA


Em 2020 a pandemia da COVID-19 chegou com força, dizimando vidas mundo afora.  Eu me encontrava em Cruz das Almas, no Recôncavo baiano, onde tive de permanecer até 2022,  por conta das barreiras sanitária e de apego.  Nesse período escrevi algumas crônicas, que resultaram no livro Prova de Vida, lançado em 2021 pelo Clube de Autores.  A crônica abaixo, dedicada ao meu neto ficou assim:


Tamanho não é documento

Para o meu neto Raul Rodrigues Estanislau

Raul

Quando o Raul nasceu ele era pequeno.
Imaginem um grão de mostarda. Raul era maior, bem maior.
Comparado ao grão de mostarda Raul era grande, enorme. Um gigante!
Agora imaginem a mãe de Raul, o pai, os avós, tios e tias...
Comparando assim Raul era pequeno. Nesse tempo Raul não falava.
Sempre que queria comunicar alguma coisa, como está com fome ou sede, ele gritava, esperneava e até chorava.
Até que um dia Raul cresceu e foi pra escola.
Aprendeu a ler e escrever.
Ah, e desenhar. E principalmente brincar!
Até que um dia chegou o coronavírus.  Menor, mas muito menor que um grão de mostarda. O coronavírus é tão pequeno, mas tão pequeno que a gente nem consegue enxergar a olho nu. Só com microscópio!
Como pode um bichinho assim, pequenino assim, trazer tanto medo às pessoas a ponto de obrigá-las a ficarem em casa! Das escolas fecharem!

J Estanislau Filho




Eu e Raul

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Das Minhas Lembranças 59

Imagem: Google

No começo a narrativa parecia sem norte.  O sul, capengava. Fragmentos de uma percepção particular do cotidiano, sob a influência das leituras de Franz Kafka.  Para tumultuar ainda mais a mente do recém chegado à capital mineira, vindo do interior,  a ditadura impedia a real compreensão dos fatos, por conta de perseguições e  censura.  Havia uma cortina de fumaça. Havia o movimento estudantil e operário, sob vigilância e repressão. 

       Em 1977, provavelmente, comecei a escrever A Construção da Estrada de Ferro, que não sabia exatamente onde chegaria. Não tinha um plano da obra.  O plano era a vida, como a percebia. Antes escrevera um pequeno conto, Ninguém Atravessa a Ponte, que seria aproveitado, em parte, na Construção. Estava, também, sob o impacto das leituras de Sartre e Camus. Garcia Marques e os  Cem Anos de Solidão, além José J. Veiga, Murilo Rubião, que trouxeram mais luzes. Marx misturou tudo e me fez  "compreender"  o tema da alienação. Burocracia e alienação, é disso que fala o livro. 

     Em 2014, depois de mais de trinta anos, entre a gaveta e a escrivaninha,  dei a narrativa por "encerrada". Uma novela? Um romance? Não me apego a gênero e regras  literárias.  Escrevi como se delirasse. É um livro, que talvez nunca saia da gaveta, construído e reconstruído ao longo de mais de trinta anos e que contém  umas trezentas páginas.  Em 2019 fiz a "última" revisão. 

     O final do livro ficou assim:


Fabrício Valdéz esfregou os olhos com os punhos cerrados, naquela manhã em que o cheiro de rosas brancas invadira seu valhacouto, serpenteou sob a manta de estampas coloridas, presente dos ciganos, que a cada quatro anos, no verão torrencial, armavam barracas de lonas puídas em suas terras, para vender tachos de cobre aos moradores do vilarejo, cavalos e burros decrépitos como se fossem jovens, graças a artimanha de colori-los com tintas extraídas de plantas. O cheiro das rosas penetrou em suas narinas, expulsando de vez o sono de uma noite premonitória.

   Sentou-se com dificuldades, tateou o chão com os pés à procura das pantufas de cetim rotas, única lembrança de Catarina Flor, que o abandonara naquela noite de tempestade desmesurada, com as andorinhas em algaravias, e que decidira, para colocar-se a salvo dos tormentos dos remorsos, revelar com quantas mulheres havia se deitado no transcorrer de vida a dois. Pela primeira vez ao longo dos trinta e três anos de solidão, praguejou que merda ao refletir sobre o sentido das palavras de Flor, seu desgraçado, réprobo, porque não carregou esta ignomínia para o túmulo!

   Às vésperas de completar noventa e oito anos, trinta e três de solidão em companhia de bêbados, drogados e prostitutas, não estava certo de alcançar a cocaína que o reanimava desde que Catarina Flor desaparecera naquela noite, sob a chuva de granizo, que provocara uma desordem descomunal no vilarejo, matando porcos, cavalos, galinhas, cães e outros seres indefesos, destelhando casas, deixando por vários dias um odor putrefato.

   O cheiro de rosas brancas intensificou-se ao tentar tocar a aldrava e desta vez lamentou que merda, como pude magoar minha prófuga andorinha! Neste instante uma rajada de vento descerrou as janelas e pétalas de rosas, como aves migratórias invadiram o quarto, pousando suavemente sobre sua cama, no chão, nos móveis. Milhões de pétalas foram cobrindo o corpo caquético de Fabrício Valdéz e entre elas identificou Catarina Flor, vestida de branco, dançando com leveza, tendo nos lábios e nos gestos a pureza dos justos. As pétalas foram se amontoando placidamente no valhacouto até alcançar o teto. As que não conseguiram espaço interno foram amontoar-se ao redor da casa sob os olhares diáfanos de lírios, de rosas.


                                                                  Imagem: Google

J Estanislau Filho

domingo, 12 de fevereiro de 2023

VOCÊ É UM IDIOTA


Você não vai aceitar que é um idiota.  Mas vou te provar que  é.  Vamos aos fatos:  Lembra da copa do mundo de 2014? Ouvi você berrar que "não vai ter copa".  E espalhou isso na internet. Teve copa e o Brasil tomou 7 x 1 da Alemanha.  Pausa pra respirar.

     Avancemos dois anos no tempo. Estamos em 2016. O que você, idiota, dizia?  Que era só tirar a Dilma,  que o Brasil se tornaria um paraíso.  Não entendia que se tratava de um golpe. Contra quem?  Contra mim, contra você, contra a Democracia e o Estado de Direito e de bem estar social. Mas você, idiota acreditou que era contra a corrupção a ponto de compartilhar mentiras produzidas por golpistas. Você aplaudiu o Eduardo Cunha, velho! Vibrou quando o então Deputado Bolsonaro, durante o processo de  impeachment de Dilma,  homenageou o torturador Brilhante Ustra. 

     O que já era feio, ficou mais quando você, idiota, elevou o Juiz Sérgio Moro a herói nacional. Você até comprou a máscara dele numa banca de revista e colocou no rosto.  Tirou uma foto, colocando no seu perfil do facebook, instagram.  E o Dallagnol, que fofo, né? E não é que você acreditou no pawerpoint, mas não só acreditou, sentou o dedo e espalhou nos grupos de whatsapp.  Pausa para pular pra outro parágrafo. 

     Rapaz, como você é idiota! Lá atrás, quando a internet era uma novidade para muita gente, você divulgou uma coisa surreal: que o filho do Lula tinha uma ferrari de ouro.  E que o Lula era dono de um castelo. Você não percebeu que havia alguma coisa esquisita! Nem vou te lembrar das jornadas de julho... Porque notícias falsas espalham que nem capim tiririca!

     Voltemos ao pós impeachment.  A bola da vez é o Lula, Moro e a Lava Jato. Sua cara não queima, idiota? Você afirmava, com convicção, de que Lula era dono do triplex; que os pedalinhos de Dona Marisa, lá no sítio de Atibaia, era a prova de que o sítio pertencia  ao Lulaladrão. Você enchia a boca para falar tamanha asneira. Mas como sua idiotice não tem limites, vibrou, com um misto de ódio e alegria pela prisão de Lula, que daí por diante você passou a chamá-lo de presidiário.  Enquanto a Lava Jato quebrava empresas, como as da indústria naval,  você afirmava que a corrupção acabou. Espere um pouco, vou beber uma água. Ma rapaz, era o golpe em andamento. Precisavam tirar o Lula da disputa.

     Chegamos em 2018. Você,  vestindo a camisa da CBF entrou firme na campanha eleitoral, para eleger o Bolsonaro, que anos atrás tentara explodir um quartel do Exército.  Como idiota completo, você não sabia disso, nem de que o capitão era deputado por mais de vinte oito anos! E que não aprovara nenhum projeto de sua autoria. Enfim, você continuou espalhando notícias falsas, as famosas fake news, produzidas pelo gabinete do ódio.

     O caminho para a eleição do Bozo estava pavimentado. E foi eleito pelas urnas eletrônicas. De cara, quem vai ser o Ministro da Justiça? Ele, o Juiz que sempre negara não ser político: Sérgio Moro. Em 2019 começou o desastre. O Presidente falando pro cercadinho, fazendo vídeos até que em 2020 veio a pandemia da COVID-19. O que o seu presidente fez? Continuou dizendo que a Terra é plana, que só era uma gripezinha, fazendo vídeos, falando pro cercadinho e vendendo cloroquina. E você, um perfeito idiota, aplaudindo, enquanto as políticas sociais eram desconstruídas,  o banqueiro  e ministro Paulo Guedes estendendo as mãos e os cofres aos banqueiros. Pra encerrar este parágrafo, me responda, idiota, nos quatro anos de governo, Bolsonaro construiu uma creche? Um hospital? Uma ponte? Quantos quilômetros de asfalto?

     Preste atenção, idiota: O Bolsonaro nunca gostou de pobre, de negro, de índio, de gay,  de florestas e de rios.  Tenho cá minhas dúvidas se ele preza  a família dele! Trata-se de um falso messias, em nome de Deus, Pátria e Família, bordão dos fascistas. 

     Estamos em 2023, com esperança na reconstrução do Brasil e  que Bolsonaro responda nas barras dos tribunais pelos crimes cometidos! E que explique como acumulou fortuna e comprou mais de cem de imóveis, com dinheiro vivo. Nunca foi contra a corrupção, mané!

J Estanislau Filho

     Pra não dizer que não falei de poesia, leia o poema abaixo:




     

Você é um idiota


"Sente-se.
Está sentado?
Encoste-se tranquilamente na cadeira.
Deve sentir-se bem instalado e descontraído.
Pode fumar.
É importante que me escute com muita atenção.
Ouve-me bem?
Tenho algo a dizer-lhe que vai interessá-lo.

Você é um idiota.

Está realmente a escutar-me?
Não há pois dúvida alguma de que me ouve com clareza e distinção?
Então Repito: você é um idiota. Um idiota.
I como Isabel;
D como Dinis;
outro I como Irene;
O como Orlando;
T como Teodoro;
A como Ana.

Idiota.

Por favor não me interrompa.
Não deve interromper-me.
Você é um idiota.
Não diga nada.
Não venha com evasivas.
Você é um idiota.
Ponto final.

Aliás não sou o único a dizê-lo.
A senhora sua mãe já o diz há muito tempo.
Você é um idiota.
Pergunte pois aos seus parentes.
Se você não é um idiota...
claro, a você não lho dirão, porque você se tornaria vingativo como todos os idiotas.
Mas os que o rodeiam já há muitos dias e anos sabem que você é um idiota.
É típico que você o negue.
Isso mesmo: é típico que o Idiota negue que o é.
Oh, como se torna difícil convencer um idiota de que é um Idiota.
É francamente fatigante.
Como vê, preciso de dizer mais uma vez que você é um Idiota e no entanto não é desinteressante para você saber o que você é e no entanto é uma desvantagem para você não saber o que toda a gente sabe.
Ah sim, acha você que tem exatamente as mesmas ideias do seu parceiro.
Mas também ele é um idiota.
Faça favor, não se console a dizer que há outros Idiotas: Você é um Idiota.
De resto isso não é grave.
É assim que você consegue chegar aos 80 anos.
Em matéria de negócios é mesmo uma vantagem.
E então na política!
Não há dinheiro que o pague.
Na qualidade de Idiota você não precisa de se preocupar com mais nada.
E você é Idiota

(Formidável, não acha?)"


Bertold Brecht 

 

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Das Minhas Lembranças 58








Após a experiência de lançar dois livros pelas editoras em que se paga para publicar, retornei ao
meu modus operandi,  ou seja, publicar por conta própria.  É um processo que exige um custo menor, pelo menos no meu caso, que posso contar com o talento de meu filho na criação e edição  eletrônica. O bom neste processo é poder acompanhar o parto, desde a gravidez.



     Foi assim em 2015 ao lançar meus livros A Moça do Violoncelo (contos) e Estrelas (poesias) num só volume.  Dois filhos de papel, gêmeos, que me trouxe alegria.  Minha sugestão de capa foi aceita e aprimorada pelo Fernando. Disse  que o conto que dá título ao livro nasceu de um vídeo de um show de David Gilmour em que uma moça ruiva, linda, tocava um violoncelo, encaixado nas pernas. Uma cena sensual. Debatemos sobre a capa de Estrelas e concluímos por uma tela de Van Gogh.  Sou um contemplador de estrelas. 



     Para o lançamento convidei, além do Fernando, a Angélica, a Regina e a Nayara Bernardes, para formar comigo uma comissão organizadora do evento. O convite a Nayara tinha um motivo especial:  é filha do meu amigo Geraldo Bernardes, que sempre me apoiara em lançamentos anteriores e outros tantos momentos de agruras.  Meu bom amigo falecera.  Nayara aceitou, com os olhos marejados, pela lembrança do pai. 

     A Moça do Violoncelo/Estrelas  foi bem elaborado. Tive o cuidado na revisão, que teve a generosa e solidária contribuição da professora e poetisa gaúcha, Tânia Orsi Vargas, que também escreveu um posfácio. Os professores Vicente de Paulo e Geraldo Batista de Avila, da Escola Municipal Jonas Barcelos, de Belo Horizonte, onde participei de evento poético,  escreveram o prefácio de Estrelas, com a intermediação da professora Paula Patrícia.  

     O lançamento aconteceu no Parque Ecológico do Eldorado, em Contagem. Para que o lançamento acontecesse neste espaço público,  tive de "brigar".  A Secretaria de Meio Ambiente se recusava autorizar.  Bati pé e a secretaria cedeu e o evento aconteceu numa manhã de sábado, com a participação musical de Aninha Viola, poetisa e cantora de rua,  moradora de Mariana, numa parceria musical com Ronaldo Freitas.  Regina Rodrigues decorou o ambiente com frases retiradas de Estrelas. 



     O escritor Jorge Luiz Alves e sua companheira Fininha vieram do Rio de Janeiro, além da poetisa  bauruense Olynda Bassan, prestigiarem o lançamento. 


 

     

 J Estanislau Filho


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Das Minhas Lembranças 57



No Espaço do Saber em Contagem, autografando Crônicas do Amor Virtual

No lançamento de Crônicas do Amor Virtual

M
anter o estoque de livros em casa era um transtorno. Onde colocar quinhentos e algumas vezes mil livros?  Aprendera com a indústria e o comércio a "desovar" estoque. Mas como, se encontrar leitores e leitoras não é a mesma coisa que encontrar consumidores? Não, livro, com disse Lewis Hyde não é commodities .  Não se resolve com "promoções" e "liquidações".  Não funciona para uma obra de arte.  Nesse caso, desovar significa doar.  Assim que os lançamentos e os mecenas da cultura popular adquiriram seus exemplares, a alternativa é a doação. Ou então correr atrás de mais leitores.  Mas como, se o tempo era escasso? Mesmo autoras e autores "consagrados" não sobrevivem unicamente por meio de seus livros.  Eu sempre trabalhei na iniciativa privada, onde garantia o meu sustento e da família.  A escrita é um dom. E também um lazer, mesmo para quem quer profissionalizar-se. 
Lançamento de Palavras de Amor no Berimbau Circo Bar

     Tempos atrás,  as gráficas imprimiam por fotolitos. Nesse caso, seria inviável lançar, por exemplo, cem exemplares.  O preço unitário iria pras alturas.  Mil exemplares era o mínimo recomendado, por isso era necessário espaço maior em casa. Com a impressão digital, a coisa mudou.  E um monte de "editoras" surgiram.  Adeus fotolitos.  

     Assim, em 2011 lancei pelo selo Editora 24 horas meu livro de poesias, Palavras de Amor e no ano seguinte, 2012, Crônicas do Amor Virtual e Outros Encontros pela Editora Protexto.  E vi o meus leitores esvaírem.  Apenas cerca de cem exemplares de Palavras de Amor foram vendidos.  Crônicas do Amor Virtual e Outros Encontros, cerca de cento e cinquenta. 

Com Milson do Berimbau Circo Bar

Márcia, Isabela e eu no lançamento de Palavras de Amor

Isso posto, conto como foram os lançamentos. É possível encontrá-los nas editoras e em algumas plataformas, como Livraria Cultura, Amazon ou na Estante Virtual. 

     Palavras de Amor teve um único lançamento, no bar do Milson, o Berimbau, em Contagem, que tinha e talvez ainda tenha, um pequeno palco, onde a Banda Negume, cujo vocalista era o meu amigo Sebastião Maria, se apresentou.  Foi uma noite agradável. Apesar de algumas ausências, lá estiveram meus mecenas. Expus,  a convite do parceiro de letras, Wagner M Martins, Palavras de Amor, juntamente com o poeta Fábio Brandão e a poetisa Marli Caldeira, durante um encontro cultural no Teatro Municipal de Sabará. Suzana Barbi foi quem nos deu carona. Foi uma noite de muitas gargalhadas.  

     E de novo, em Contagem, no Espaço do Saber, lancei em 2012,  o Crônicas do Amor Virtual e Outros Encontros, que contou a apresentação musical da banda Taxman. 

Celêdian, eu e Dayrel


Lançamento de Palavras de Amor no Berimbau Circo Bar


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

O BRASIL PRECISA ENXERGAR A GUERRA CONTRA OS MATADORES DE YANOMAMIS


Por Moisés Mendes


Homens sem dentes aparecem em vídeos que mostram garimpeiros invasores das terras yanomamis. São bandidos, mas são também a versão amazônica da Fátima de Tubarão.

São a ralé do garimpo artesanal, que presta serviços a gente bem mais poderosa. São eles que fazem o serviço sujo, a mando de alguém ou por encomenda.

Os homens sem dentes são a parte visível de um gigantesco esquema criminoso sustentado por quadrilhas protegidas por Bolsonaro, com a conivência, a omissão ou a cumplicidade de militares.

É com essa ralé que o governo vai se entender de imediato pelos danos ambientais, pela rapinagem e pela matança de yanomamis. Muitos desdentados devem ser presos.

Mas os homens com dentes, que circulam na área em aviões e helicópteros, esses não são vistos, mesmo que sejam conhecidos em toda a região.

Os garimpeiros do trabalho braçal são a parte visível do cerco que leva à matança. E será agora com o cerco a eles que vamos nos contentar por enquanto.

Lula já mandou cortar a circulação de aeronaves na região com o fechamento do espaço aéreo. Os manés do garimpo ficarão sem proteção e sem suprimentos.

O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, anunciou um mutirão das Forças Armadas para acelerar a repressão.

Polícia, Ministério Público e órgãos do governo se mobilizam para conter os criminosos. O Judiciário terá de se engajar à urgência do genocídio.

Mas nada é mais urgente do que a ação em mutirão para mostrar ao mundo, e não só Brasil, que todas as frentes andam na mesma direção.

Um esforço que não pode cumprir os ritos de situações de normalidade. Mais do que inquéritos céleres e processos que não andem só para os lados, o Brasil precisa agora, já, ver a ação contra os bandidos.

E ver significa o que o verbo diz: precisa enxergar. Todas as instituições terão de impor, pela presença ostensiva, a força do Estado.

É a hora do espetáculo do começo da reparação. Sim, espetáculo, como ação visível, impositiva, com a destruição prevista e legal de equipamentos e prisões em massa, em flagrante.

É disso também, da imposição do seu poderio contra o crime, que vive a democracia. Se as instituições tratarem os bandidos da floresta com as liturgias de tempos de normalidade, nada irá acontecer.

Como não aconteceu até agora com o gabinete do ódio, com os vampiros da vacina, com os golpistas financiadores de patriotas. Todos com fartura de dentes.

Os garimpeiros da chinelagem da Amazônia, assassinos de índios e indigenistas, mandaletes das gangues do garimpo, todos protegidos por Bolsonaro, esses terão de pagar pelo espetáculo que o Estado precisa oferecer aos brasileiros.

O Estado precisa dizer: nós estamos aqui. E convencer, por ação coercitiva, que está presente, lá onde o crime acontece, e não só nos gabinetes de governo ou do sistema de Justiça.

Ninguém espera que peguem todo mundo. O Ministério Público calcula que 20 mil garimpeiros atuam na região.

Não há como flagrar e prender todos. Peguem o que é possível pegar, como aconteceu dia 9 de janeiro com os manés de Brasília.

Mas peguem com estardalhaço, com pompa, como demonstração de força. Promovam, num dia, o espetáculo da limpeza das terras yanomamis.

Não como fazem nas favelas. Não. Não cheguem matando. Cheguem destruindo máquinas e equipamentos, como manda a lei, e prendendo os bandidos.

Façam como deve ser feito, com ação integrada, legal e legítima de todas as instituições.

Não trabalhem com muita discrição. Atuem com determinação, porque estamos em guerra, em nome dos yanomamis que foram assassinados.

A partir da prisão dos homens sem dentes, cheguem aos homens com boas dentaduras.

Para que os grandões não fujam de novo, como fazem os donos de frotas de helicópteros e aviões e os grandes negociantes de ouro.

As cenas do sofrimento de crianças devem ter, como contraponto, imagens da prisão de bandidos, mesmo os pequenos, que poderão levar aos bandidos graúdos.

A repórter Sônia Bridi mostrou na Globo que os garimpeiros reagiam com naturalidade e sem medo diante da aproximação de helicópteros da FAB. É uma informação terrível para as Forças Armadas.

O Brasil precisa enxergar o Estado tentando salvar a floresta e o povo da floresta. E o Estado precisa se livrar da percepção dos próprios criminosos de que é sócio do genocídio.


Fonte:https://www.blogdomoisesmendes.com.br/o-brasil-precisa-enxergar-a-guerra-contra-os-matadores-de-yanomamis/