sábado, 25 de fevereiro de 2023

Meu pé de ingá

 

Imagem: Google

O garoto encontrava-se na fase de descobertas.  Adquirira o hábito de contar estrelas,  principalmente em noites de lua cheia. 

     - Menino, está na hora de ir pra cama - a mãe chamou, lá da cozinha, enquanto apagava as brasas  do fogão. 

     - Esse menino é meio esquisito,  com a mania de contar estrelas, você não disse a ele que nasce verruga? - indagou o pai. 

     - Ah, Zé, o menino é sabido, não acredita nessas coisas!

     - Tá com a cabeça rachada - interviu o irmão, com uma risada. 

     O menino entrou e antes de ir pra cama, ouviu as instruções do pai.

     - Amanhã, depois de voltar da rua, precisa voltar de novo pra entregar as laranjas. 

     Toda manhã, depois de ajudar o pai na ordenha das vacas, o menino levava o leite pra cooperativa. Nos tempos da colheita de laranjas, ele era o responsável pelas vendas à partir das encomendas. Um cento para Fulano, meio cento pra Beltrano e por aí vai. 

     O que ele não gostava era de levantar de madrugada. Mas entregar o leite e vender as laranjas,  ele gostava.  Tudo por causa do pé de ingá, onde fazia uma parada, ao retornar da rua.  Estacionava a charrete, mas antes colocava o animal à beira do córrego, para beber água e comer capim.  Atravessava a cerca de arame farpado e deitava-se num tapete feito de folhas secas, sob a sombra do pé de ingá, onde passava um bom tempo contemplando o tronco e a copa da árvore. O vento agitava as folhas, produzindo uma brisa, que abrandava o calor e o suor do corpo  do menino. 

     Sob a sombra do pé de ingá seus pensamentos corriam solto até chegar ao ápice do prazer. 


J Estanislau Filho

Imagem: Google-domínio público

23 comentários:

  1. Muito graciosa esta história!!

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  2. Interessantíssimo! Porém o final ficou ambíguo. O q será q este menino fazia debaixo deste pé de ingá hein???

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    1. ô amiga conterrânea e parceira de letras, já leu O meu pé de Laranja Lima? Grato

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  3. É também não compreendi bem o final da história.

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  4. O que esse menino pensava debaixo do pé de ingá? Acho que não só pensava... fazia longas viagens também!

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  5. Acredito que o menino usava esse tempo para meditação,
    Pra olhar para dentro dele mesmo e acreditar que poderia encontrar um sentido pra se transformar, e quase acreditar que não era nada ao lhe tratarem como nada.
    Por acharem que não seria capaz quando o chamavam..
    E assim ele acreditou ser diferente entre tantos iguais, entre tantos capazes e sabidos.
    Quase acreditou estar de fora quando lhe deixavam de fora porque ... que falta fazia?
    E foi assim que o menino se admirou, acreditou profundamente em seu valor.
    E se admirou, como verdadeira fonte de riqueza.
    Foi assim que que foi crescendo acreditando...
    Debaixo do pé de ingá.

    Parabéns amigo escritor e desculpa pelo comentário.

    _ Maria José Gomes

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    1. Desculpo não, agradeço a sua paciência lendo os meus rabiscos. Sempre bem-vinda.

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  6. Belo conto. A pureza de uma criança nos tempos que ainda existiam sonhos.

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    1. Oi J. Sou a Neide. Não sei pq meus comentários estão aparecendo como anônimos. Não sei como consertar isso.

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  7. Maravilha poeta!!!! As descobertas mágicas de um adolescente!!!

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  8. Sob sua pena de ouro, reina esse texto sublime. Meus parabéns. Abraço

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  9. Gente estou doida pra saber tudo desce pé de Inga ,um dia ele conta !!!!Maria Luiza...

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