domingo, 26 de março de 2017

Nunca te Esquecerei, Teresa



Imagem: Nômades Digitais



Nunca te esquecerei, Teresa. Tu és flor única de meu jardim. Para sempre serás. Quando me trazias os bolinhos de chuva eu me sentia um menino. Eles saciavam a minha larica. Quando eu roçava a língua nos biquinhos de teus seios, podia sentir os arrepios. Pulavas como uma gazela, com gemidos suaves. Lembras quando fomos ao Jardim Botânico e me mostravas as joaninhas coloridas? Tinhas um sorriso exuberante. Eu, inebriado te fotografava em todos os ângulos. Sei que me admoestavas por amor, quando eu me excedia com álcool e fumo. Tu sabias que eu gostava de embarcar em umas viagens alucinógenas. Por que nunca embarcaste comigo, minha flor? Reconheço, este prazer gera conflitos. Mas tu, mais que ninguém, sabes do meu amor. Te amo e te amarei. E as noites que passamos abraçados ao som de Led Zeppelim, olhando o teto, rindo à toa? Sabias que eram exatos cento e doze tijolos a lage do nosso quarto? E os azulejos do banheiro, tu te lembras? Uma noite eu estava sentado no vaso e me levaste bolinhos de chuva. E uma bandeja de pó. Insisti para cheirar, e mais uma vez recusaste. Por que nunca fumaste unzinho comigo, amor? Minha querida, olhos de fazer inveja a Monalisa. A tua mania de implicar por eu gostar de ouvir Carole King. "Como pode gostar desta voz de taquara rachada, alguém que curte Led Zeppelim e Jimi Hendrix?". Dizias assim, enquanto dava piparotes em minhas bochechas. Nunca te esquecerei, Teresa. Dos lábios finos. Dentes brancos. Como ficavas irritada quando te chamava de baixinha da bunda grande. E sempre atirava em meu rosto risos de rosas. Dançávamos ao som de Perez Prado, a cerejeira não é rosa não, hum! Era muito divertido. Hum...E os nossos passeios nos trilhos da Central? Os banhos em Copacabana, a praia mais linda do mundo. Na passagem de ano, os fogos de artifício. Naquele ano, confesso, exagerei. Cheirei muito. Suportaste a minha alucinação desmesurada. Abusaste do espumante naquela noite, a ponto de eu ter de estender o lençol nas areias. Velei teu sono. Foi a nossa melhor passagem de ano. Como te esquecer Teresa? Chamaste-me de louco ao fazer ligação direta naquele carro chique e irmos à baía da Guanabara em alta velocidade. Oh minha meiga flor. Sabias do meu ciúme e da promessa que te fiz se te encontrasse com outro homem. É com o coração partido, que enterro teu corpo aqui, neste esplêndido jardim. Durma em paz. Nunca te esquecerei, Teresa. Meu eterno amor.







Este mini-conto está em meu livro A Moça do Violoncelo - página 29
Editoração eletrônica: Fernando Ferreira.


sexta-feira, 3 de março de 2017

Deixe de bobeira, companheira. Sou eu







Estava eu lendo as mensagens que recebo inbox (são inúmeras e não dou conta de responder todas) quando vejo a de uma moça dizendo que trabalha no Instituto Lula e gostaria de conversar comigo sobre um texto que escrevi cujo link para quem não viu segue aqui:

https://elikatakimoto.com/…/24/prometo-nao-tocar-no-assunto/

A moça que se chama Gabriella pediu meu telefone. Dei uma estalqueada de leve nela para saber com quem estava conversando e se poderia fornecer meu número. Vi várias fotos no perfil dela com o Lula. Quem tira foto com o Lula não pode ser má pessoa, pensei. Quem acreditou e acredita nele torce para que a desigualdade social diminua, fica feliz em ver negros em universidades e pessoas saindo da linha da miséria. Então, concluí, ela tem cara de quem vai fazer um bom uso do meu telefone e do meu voto de confiança.

Em menos de cinco minutos o telefone tocou.

– Elika, Gabriella do Insititulo Lula. Um minuto que vou transferir sua ligação.

– Ok. – respondi pacientemente.

– Alô, Elika. Oi, querida. Aqui quem fala é o Lula.

Abre parêntese.

Não sei o que você pensa a respeito dessa figura histórica, mas uma coisa é fato: quem estava do outro lado do telefone foi o presidente mais amado do Brasil cuja vida se confunde com a luta de toda uma geração de brasileiros que sonha com um país socialmente mais justo.

Não convém enumerar todos os prêmios e condecorações que ele recebeu não somente aqui como em vários outros países. A título de exemplo, no Brasil, Lula recebeu a medalha de ordem do Mérito Militar, Naval, Aeronáutica, a Ordem do Cruzeiro do Sul, do Rio Branco, a ordem do Mérito Judiciário e da Ordem Nacional do Mérito. Recebeu da UNESCO, em 2008 o Prêmio da Paz; em 2009 foi destacado como O Homem do Ano nos jornais Le Monde e o El País. Em 2012 recebeu o prêmio de Estadista Global em Davos na Suíça. Mas há N outros que não citarei para a postagem não virar uma biografia dele.

O que quero dizer a vocês é que eu estava falando com um homem que mudou o destino de muitos brasileiros e no qual votei em todas as vezes em que ele se candidatou para presidente por acreditar no projeto que ele apresentou.

Não estou dizendo que quem me ligou foi o homem mais honesto do Brasil, mas sem dúvida, o homem que proibiu em seu governo a palavra “gasto” quando o assunto era Educação e Saúde. O responsável pelo Brasil ter saído do mapa da fome e por hoje ter nas salas de aula do meu CEFET, negros e pessoas carentes cujo destino foi mudado por uma oportunidade. Como disse no meu texto supra citado “Se ganharam os cotistas com a oportunidade, ganhamos muito mais os professores por entender que capacidade intelectual nada tem a ver com a nota de uma prova de seleção e mais ainda enriqueceram os outros alunos por testemunhar o esforço de quem vive em outra realidade.”

Fecha parêntese.

– Mas o quê? Como?! Lula!!! Não acredito!!!!!

– Acredite, querida. Estou te ligando porque quero te parabenizar e agradecer por esse texto maravilhoso que você escreveu.

– Mas quem me garante que não é um imitador? No Brasil inteiro tem gente que imita o Lula!

– Deixe de bobeira, companheira. Sou eu.

Daí, meu povo, eu saí de mim. Meu coração acelerou. Se fosse o Fernando Henrique me ligando eu ia ficar feliz porque tenho umas coisas para dizer para ele. Mas Lula?! Meodeos. Não queria deixar a emoção estragar aqueles minutos. Pensei: “aproveite esse momento, Elika. Fale, pergunte… agarre a oportunidade. Quantas pessoas você acha que recebe uma ligação do Lula?”, refleti e tentei me acalmar.

– Presidente, – assim o chamei no impulso – eu quero lhe dizer que quem merece ser parabenizado por tudo não sou eu e sim você. Em nome de todos os brasileiros que hoje comem, se vestem e estudam, eu quero dizer: muito obrigada, Lula. E receba todo meu sentimento pelo falecimento de Dona Marisa.

– Obrigada, companheira. Mas quero te dizer umas coisas. Eu não sou de sair ligando para todo mundo. Mas seu texto me tocou muito. Percebi sinceridade nele inteiro e sua angústia com tudo o que está acontecendo. Liguei para te abraçar, agradecer e dizer para continuar sendo quem você é porque você é uma pessoa maravilhosa demais.

Ah gente… sinto muito. Chorei como um bezerro com ele do outro lado da linha e soluçando falei:

– Presidente, eu não quero deixar passar essa oportunidade e preciso te fazer uma pergunta. O nosso país anda esquisito, você viu pelo meu texto que ando sofrendo pressão para deixar de falar sobre política, todo dia uma notícia desse governo que vai de encontro ao projeto de diminuição da desigualdade social… Eu não tenho vontade de desistir de lutar porque sou dessas, meu presidente, de insistir nos sonhos. Mas, por vezes, lutamos apenas para não deixar o inimigo nos abater sem que resistamos, ainda que a morte seja certa. Isso posto: Lula, como você vê o futuro do nosso país? Sua luta está sendo movida pela esperança de ainda tocar para frente o seu projeto ou apenas para ter uma morte política digna?




A resposta veio imediata:

– Companheira, acredite que há muita coisa boa para acontecer. Estou animado e muito otimista.

E me disse muito mais coisas que acho que não convém falar aqui. Frases boas de serem ouvidas, sabe? Dessas que dá vontade da gente fazer muito mais do que anda fazendo pelo próximo.

Enfim, gente. É isso. Lula me ligou, disse que sou maravilhosa e trouxe a força que me faltava para continuar lutando por uma sociedade mais justa.

Felicidade é pouco. O que sinto não tem nome.

Vou ali agora enfartar e já volto.

Zerei a vida…



Fonte: https://elikatakimoto.com/