quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Filhos da Terra

Rapidinho:
Filhos da Terra é uma novela dividida em vinte cinco capítulos. Narra a trajetória de Zenaide, uma ninfeta, que se envolve num mundo do sexo, droga e fúria. A história de uma garota da periferia; pobre, sensual, que sonha com o sucesso. Zenaide e sua família, num turbilhão de sentimentos. Um jornalista, como um anjo de guarda, surge em sua vida. Um amigo, um pai; um amor. Capa: Berzé - Ilustração: Eliana - Editoração eletrônica: Fernando Estanislau - Prefácio: Ignácio Hernadez - Editora: O Lutador - 2009



Sumário

1 - A Garota mais linda do bairro
2 - O Ambiente Familiar
3 - O microcosmo de Elói
4 - O Segredo de Edileuza
5 - Wallace surpreende
6 - Medo e desejo
7 - O tempo passa rápido
8 - Meu guri
9 - As revelações de Zenaide
10-Na redação
11-Tenório e Edileuza decidem se casas
12-Um corpo no matagal
13-Não sou o salvador da pátria
14-O tempo continua implacável
15-Para onde vai o governo?
16-Reviravolta
17-Vitória
18-A república em perigo
19-A loira misteriosa
20-Frango ao molho pardo
21-O que está acontecendo
22-Encontro Marcado
23-Os encontros se sucedem
24-O povo vai às urnas
25-Realidade e sentimento


1 - A Garota Mais Linda do Bairro - primeiro capítulo



Tinha apenas treze anos de idade e despertava desejo até mesmo de decrépitos indolentes. Era uma beleza vê-la andando distraída pelas ruas, balançando os cabelos com displicência, cônscia do despertar de sua sexualidade. Não era exibição, pois caminhava naturalmente, sorria naturalmente, cumprimentava a todos e todas que a conheciam e desejava o que uma adolescente geralmente deseja: diversão. Era uma menina alegre e por causa de sua beleza era muito comentada pela população masculina do bairro e, consta, também, por muitas mulheres de sexualidade dual.
     A beleza dela não era comum, não obedecia os padrões estéticos estabelecidos pela indústria da beleza. Talvez por isso, chamasse tanto a atenção. Ela era magra, mas de uma magreza estranha. Era uma falsa magra, pois, o olhar atento e quase todos olhavam-na atentamente, notaria que ela tinha umas coxas grossas, um traseiro bem delineado, de acordo com o conjunto do corpo. O rosto incomum sugeria que ela poderia ser modelo e tudo indicava, que seria beneficiada pela altura, o que aumentava a chance de tentar as passarelas. As pernas longas realçavam seu corpo, sugerindo uma idade além de seus treze anos. Era a garota mais linda do bairro, segundo a opinião dos fogosos rapazes, que sonhavam fazer sexo com ela. A família tentava de todas as formas impedi-la de circular pelas ruas do bairro e frequentar os barzinhos, onde poderia ser seduzida por um Dom Juan de plantão. Queria mantê-la distante de olhares concupiscentes, de um contato precoce, que pudesse seduzi-la. A princípio ela não ia muito além das adjacências, continha o ímpeto de conhecer locais mais distantes do bairro. Obedecia a mãe e os irmãos, pois pai ela não tinha, morrera de morte súbita numa tarde de céu azul intenso em que o sol esplendia como se não quisesse se esconder. 
     Tinha apenas treze anos e estava no esplendor da beleza, corpo de mulher a espera do amor, ávida de vida, conquistar o mundo, indicando o rumo de uma vida repleta de satisfação. O amor tocando fundo a fenda de seu íntimo, flor esplêndida se abrindo.
     Aos poucos, ela ia se distanciando de casa, indo além, ultrapassando os limites estabelecidos pela mãe. Percebia os olhares e gostava, balançava os quadris, deixando à mostra o umbigo. Resolveu  tirar os seios do esconderijo de roupas largas. Deu-lhes a liberdade, não mais prisioneiros de sutiãs. Começou a exibir um decote, que mostrava uma pele morena-clara, macia e lisa. Sorria com ar de malícia diante dos olhares inquiridores. Ela estava irresistivelmente bela, impossível não desejá-la. Quando distraída, abaixava-se, ora deixando ver o bico dos seios, ora a calcinha. Os conservadores diziam que ela era devassa, pecadora; os excluídos de sua atenção, chamavam-na de vadia; e os que foram presenteados pelo seu sorriso enigmático, embrenhavam-se em fantasias eróticas. Ela não percebia e às vezes fingia não perceber o burburinho que se fazia quando ela passava com seu short curto, apertado, deixando à mostra as coxas torneadas e a bunda arrebitada. Por causa de seu erotismo precoce, um poeta escreveu e leu um poema durante um evento público na praça principal do bairro. Não revelou o nome de sua musa inspiradora, mas os moradores não tiveram dúvidas em descobrir para quem era o poema intitulado Prazer:

Quero me perder nas ondulações sensuais de teu corpo
cegar-me com o brilho de teus olhos

Quero seguir
o teu hábito
achar-me em teus passos

Quero sentir
o teu hálito
embriagar-me em teus braços

Como as ondas do mar beijando a areia
quero beijar teu corpo
em cada curva estacionar meu sonho

Quero ser atrevido
violar os teus sentidos
afogar-me em tuas águas
mar de delícias
envolver-me em carícias

Roçar meu corpo em tua pele
sentir o calor
brotar em nossos poros

Quero me atazanar me estrepar
em teus espinhos
Conquistar, palmo a palmo errante
tua selva misteriosa
e me eleger teu bandeirante

Quero teu corpo molhado suado
a formar vapor subindo
virando nuvens no céu

Chuva caindo sem assombro
sobre a terra fértil
Quero-te ave de múltiplas cores
pousada sobre meu ombro

     Certa vez uma emissora de televisão enviou uma equipe de jornalistas, para fazer uma reportagem sobre umas nascentes do Ribeirão Jatobá, que estavam sendo drenadas pelas máquinas de uma imobiliária e uma multidão de curiosos se aglomerou no local. Lá estava a mais bela do bairro, com seu mini-traje, acompanhando a reportagem. Intencional ou não, ela fora flagrada pelas lentes do cinegrafista e quando a reportagem foi exibida no jornal da noite, ela tornou-se uma celebridade na região metropolitana. No dia seguinte, carros luxuosos circulavam pelo bairro. Os moradores comentavam, que não se tratava de preocupações ambientais: procuravam a garota mais linda do bairro, não para fazê-la feliz, não para propiciar-lhe um futuro promissor. Praticamente todos pensavam o pior, com destaque para a exploração sexual.
     Mas, a garota mais linda do bairro, apesar da pouca idade, tinha um projeto de vida: queria brilhar!

A seguir:


2 - O Ambiente Familiar


19 comentários:

  1. parabéns. Você sabe escrever. Sou seu grande admirador. Leio e crio na minha mente a realidade dos personagens que v. imagina. Sucesso. Sucesso garantido.

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    1. Grato pela presença, Verly. Na próxima quarta-feira, vou postar o segundo capítulo. Aguarde. Abraço.

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  2. Quero adquirir este livro. Onde encontra-lo?
    Gostei do sumário. Crio expectativas sempre.

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    1. Sebastião, a primeira edição esgotou-se. Tenho apenas um exemplar do meu acervo. Grato pelo interesse.

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  3. Poeta Estanislau: Doces, sensíveis, frias, ternurentas... Mas,
    sempre presentes em qualquer parte. São donos da Amizade...O desconhecido é o território dos escritores. E quão difícil é olhar dentro dos olhos perdidos pela visão de um vale desconhecido, e saber que é preciso fazer esses olhos enxergarem. Trabalho, sob literatura de porte maior. Receba meus parabéns. Luiza

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  4. Obrigado, Luiza, sempre presente e com palavras de estímulo. Abraço. Chove aqui em minha terra. Chuva benfazeja.

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  5. Esse livro é show amei ler ele.meu Abraço com carinho! Maria Luiza ...

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    1. Muitíssimo obrigado, Maria Luiza. Embora já tenha lido o livro, na próxima quarta-feira postarei o segundo capítulo.

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  6. Li o primeiro capítulo. Muito bem descrita seu conto, que levou-me a imaginar-me presente na história. Excelente, caro amigo Escritor. Aceite meus aplausos! Agora, vou para o segundo capítulo. Frio congelante aqui no Sul, so no aquecedor e fogão à lenha. Um abraço

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  7. Boa noite, Menin. Muito feliz com a sua presença e as suas observações. Forte abraço.

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  8. Amei mesmo.Excelente narrativa cheguei a ver a linda menina..Parabéns. ..

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  9. parabéns,amei ler esse livro,você escreve maravilhosamente bem. O admiro muuito .

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    1. Obrigado pela visita, Antonio. Apareça para um café. Abraço.

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  10. De forma poética descreve a sensualidade da garota, amei. Parabéns!

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