terça-feira, 17 de junho de 2025

Os Dragões - Murilo Rubião




Os primeiros dragões que apareceram na cidade muito sofreram com o atraso dos nossos costumes. Receberam precários ensinamentos e a sua formação moral ficou irremediavelmente comprometida pelas absurdas discussões surgidas com a chegada deles ao lugar.

Poucos souberam compreendê-los e a ignorância geral fez com que, antes de iniciada a sua educação, nos perdêssemos em contraditórias suposições sobre o país e raça a que poderiam pertencer.

A controvérsia inicial foi desencadeada pelo vigário. Convencido de que eles, apesar da aparência dócil e meiga, não passavam de enviados do demônio, não me permitiu educá-los. Ordenou que fossem encerrados numa casa velha, previamente exorcismada, onde ninguém poderia penetrar. Ao se arrepender de seu erro, a polêmica já se alastrara e o velho gramático negava-lhes a qualidade de dragões, “coisa asiática, de importação europeia”. Um leitor de jornais, com vagas ideias científicas e um curso ginasial feito pelo meio, falava em monstros antediluvianos. O povo benzia-se, mencionando mulas sem cabeça, lobisomens.

Apenas as crianças, que brincavam furtivamente com os nossos hóspedes, sabiam que os novos companheiros eram simples dragões. Entretanto, elas não foram ouvidas. O cansaço e o tempo venceram a teimosia de muitos. Mesmo mantendo suas convicções, evitavam abordar o assunto.

Dentro em breve, porém, retomariam o tema. Serviu de pretexto uma sugestão do aproveitamento dos dragões na tração de veículos. A ideia pareceu boa a todos, mas se desavieram asperamente quando se tratou da partilha dos animais. O número destes era inferior ao dos pretendentes.

Desejando encerrar a discussão, que se avolumava sem alcançar objetivos práticos, o padre firmou uma tese: os dragões receberiam nomes na pia batismal e seriam alfabetizados.

Até aquele instante eu agira com habilidade, evitando contribuir para exacerbar os ânimos. E se, nesse momento, faltou-me a calma, o respeito devido ao bom pároco, devo culpar a insensatez reinante. Irritadíssimo, expandi o meu desagrado:

— São dragões! Não precisam de nomes nem do batismo!

Perplexo com a minha atitude, nunca discrepante das decisões aceitas pela coletividade, o reverendo deu largas à humildade e abriu mão do batismo. Retribuí o gesto, resignando-me à exigência de nomes.

Quando, subtraídos ao abandono em que se encontravam, me foram entregues para serem educados, compreendi a extensão da minha responsabilidade. Na maioria, tinham contraído moléstias desconhecidas e, em consequência, diversos vieram a falecer. Dois sobreviveram, infelizmente os mais corrompidos. Mais bem-dotados em astúcia que os irmãos, fugiam, à noite, do casarão e iam se embriagar no botequim. O dono do bar se divertia vendo-os bêbados, nada cobrava pela bebida que lhes oferecia.A cena, com o decorrer dos meses, perdeu a graça e o botequineiro passou a negar-lhes álcool. Para satisfazerem o vício, viram-se forçados a recorrer a pequenos furtos.

No entanto eu acreditava na possibilidade de reeducá-los e superar a descrença de todos quanto ao sucesso da minha missão. Valia-me da amizade com o delegado para retirá-los da cadeia, onde eram recolhidos por motivos sempre repetidos: roubo, embriaguez, desordem.

Como jamais tivesse ensinado dragões, consumia a maior parte do tempo indagando pelo passado deles, família e métodos pedagógicos seguidos em sua terra natal. Reduzido material colhi dos sucessivos interrogatórios a que os submetia. Por terem vindo jovens para a nossa cidade, lembravam-se confusamente de tudo, inclusive da morte da mãe, que caíra num precipício, logo após a escalada da primeira montanha. Para dificultar a minha tarefa, ajuntava-se à debilidade da memória dos meus pupilos o seu constante mau humor, proveniente das noites maldormidas e ressacas alcoólicas.

O exercício continuado do magistério e a ausência de filhos contribuíram para que eu lhes dispensasse uma assistência paternal. Do mesmo modo, certa candura que fluía dos seus olhos obrigava-me a relevar faltas que não perdoaria a outros discípulos.

Odorico, o mais velho dos dragões, trouxe-me as maiores contrariedades. Desastradamente simpático e malicioso, alvoroçava-se todo à presença de saias. Por causa delas, e principalmente por uma vagabundagem inata, fugia às aulas. As mulheres achavam-no engraçado e houve uma que, apaixonada, largou o esposo para viver com ele.

Tudo fiz para destruir a ligação pecaminosa e não logrei separá-los. Enfrentavam-me com uma resistência surda, impenetrável. As minhas palavras perdiam o sentido no caminho: Odorico sorria para Raquel e esta, tranquilizada, debruçava-se novamente sobre a roupa que lavava.

Pouco tempo depois, ela foi encontrada chorando perto do corpo do amante. Atribuíram sua morte a tiro fortuito, provavelmente de um caçador de má pontaria. O olhar do marido desmentia a versão.

Com o desaparecimento de Odorico, eu e minha mulher transferimos o nosso carinho para o último dos dragões. Empenhamo-nos na sua recuperação e conseguimos, com algum esforço, afastá-lo da bebida. Nenhum filho talvez compensasse tanto o que conseguimos com amorosa persistência. Ameno no trato, João aplicava-se aos estudos, ajudava Joana nos arranjos domésticos, transportava as compras feitas no mercado. Findo o jantar, ficávamos no alpendre a observar sua alegria, brincando com os meninos da vizinhança. Carregava-os nas costas, dava cambalhotas.

Regressando, uma noite, da reunião mensal com os pais dos alunos, encontrei minha mulher preocupada: João acabara de vomitar fogo. Também apreensivo, compreendi que ele atingira a maioridade.

O fato, longe de torná-lo temido, fez crescer a simpatia que gozava entre as moças e rapazes do lugar. Só que, agora, demorava-se pouco em casa. Vivia rodeado por grupos alegres, a reclamarem que lançasse fogo. A admiração de uns, os presentes e convites de outros, acendiam-lhe a vaidade. Nenhuma festa alcançava êxito sem a sua presença. Mesmo o padre não dispensava o seu comparecimento às barraquinhas do padroeiro da cidade.

Três meses antes das grandes enchentes que assolaram o município, um circo de cavalinhos movimentou o povoado, nos deslumbrou com audazes acrobatas, engraçadíssimos palhaços, leões amestrados e um homem que engolia brasas. Numa das derradeiras exibições do ilusionista, alguns jovens interromperam o espetáculo aos gritos e palmas ritmadas:

— Temos coisa melhor! Temos coisa melhor!

Julgando ser brincadeira dos moços, o anunciador aceitou o desafio:

— Que venha essa coisa melhor!

Sob o desapontamento do pessoal da companhia e os aplausos dos espectadores, João desceu ao picadeiro e realizou sua costumeira proeza de vomitar fogo.

Já no dia seguinte, recebia várias propostas para trabalhar no circo. Recusou-as, pois dificilmente algo substituiria o prestígio que desfrutava na localidade. Alimentava ainda a pretensão de se eleger prefeito municipal.

Isso não se deu. Alguns dias após a partida dos saltimbancos, verificou-se a fuga de João.

Várias e imaginosas versões deram ao seu desaparecimento. Contavam que ele se tomara de amores por uma das trapezistas, especialmente destacada para seduzi-lo; que se iniciara em jogos de cartas e retomara o vício da bebida.

Seja qual for a razão, depois disso muitos dragões têm passado pelas nossas estradas. E por mais que eu e meus alunos, postados na entrada da cidade, insistamos que permaneçam entre nós, nenhuma resposta recebemos. Formando longas filas, encaminham-se para outros lugares, indiferentes aos nossos apelos.


sábado, 7 de junho de 2025

simples assim...

imagem: Google



a gota de orvalho
que cai da flor
a ave no galho
duma árvore qualquer
o fruto que colho
com amor


simples assim...


Imagem: Sebastião Salgado



o sorriso das crianças
que brincam na rua
a mulher de tranças
num gingado feliz
renova a esperança
alegria voa


simples assim...


Imagem: Google



não faltarão estrelas
nem raios de sol
uma lua tão bela
onde moram os sonhos
com a sua presença
estrela maior


simples assim...


J Estanislau Filho

segunda-feira, 2 de junho de 2025

Governo sob ataque sincronizado de Congresso, rentismo e Moody’s





Por Jeferson Miola

Congresso, rentismo e agência Moody’s coordenam ataques sincronizados ao governo Lula. Garroteiam o governo para asfixiá-lo e deixá-lo sem fôlego na eleição de outubro de 2026.

Nos últimos dias, os maiores bancos estadunidenses, JPMorgan e Bank of América, “aumentaram a aposta em investir no Brasil”, o que é sinônimo de pilhagem, por um motivo muito esclarecedor: “a eleição presidencial de 2026 já batendo na porta dos mercados com uma visão predominante de ‘Lula fora’, o que poderia servir de trampolim para uma nova política fiscal no País”, reporta matéria do Estadão.

Para analistas da Morgan Stanley, “o calendário eleitoral nos próximos 18 meses abre a oportunidade para iniciar uma mudança de política ‘muito necessária’ no País, especialmente na área fiscal”.
“Embora ainda estejamos a 18 meses da próxima eleição presidencial no Brasil, vemos sinais de enfraquecimento do apoio à plataforma política atual em relação à média histórica”, afirmam os banqueiros, no que pode ser entendido como uma aposta para inviabilizar a continuidade do projeto democrático liderado por Lula, mesmo sabendo que isso significa a retomada fascista no país em bases ainda mais ferozes, apesar do verniz falso-civilizado do capitão do Exército Tarcísio de Freitas.

Para cumprir a profecia do rentismo e sua mídia hegemônica de que a situação é crítica e de que é preciso cortar gastos sociais, a agência Moody’s, cuja confiabilidade vale tanto quanto uma nota de três reais, rebaixou a nota de crédito do Brasil com o manjado argumento “da deterioração fiscal”.

Editoriais da Rede Globo e da imprensa dominante então redobraram a exigência de corte dos orçamentos sociais, do fim do aumento real do salário mínimo, medida preconizada por Armínio Fraga, e, também, do fim dos mínimos constitucionais do SUS e da educação.
Hugo Motta, aquele presidente da Câmara que precisa aplicar gumex no cabelo para tentar parecer crível, escalou o deputado Pedro Paulo, do partido do Kassab, para avançar a eliminação desses direitos sociais sob o disfarce da reforma administrativa.

O que uma coisa [a reforma administrativa] tem a ver com a outra [o aumento real do salário mínimo e a garantia de verbas para saúde e educação]? Absolutamente nada!
O que está em curso, na verdade, é o mais audacioso ataque à Constituição de 1988 desde o teto de gastos criado com o golpe de 2016.

O escarcéu hipócrita em torno do decreto do IOF escamoteia a nova ofensiva do rentismo e do poder econômico, que defendem austeridade fiscal com o objetivo de ampliar a apropriação obscena do orçamento da União e dos fundos públicos pelas finanças.
Até Gabriel Galípolo, aquele que continua a política de juros estratosféricos do bolsonarista Campos Neto, reproduziu a histeria do mercado.
Passando por cima do Haddad, ele telefonou diretamente para alertar Lula sobre “ruídos na sociedade”, ou seja, para vocalizar o sentimento da Faria Lima e da turma da pesquisa Focus. Como foi atendido pelo presidente, sua deslealdade a Haddad ficou atenuada.

Os parasitas da riqueza nacional são insaciáveis. Eles não se contentaram com os cortes de 31 bilhões do orçamento que o governo foi obrigado a fazer devido, aliás, à armadilha que o próprio governo armou para si com o Novo Arcabouço Fiscal e o déficit zero.
Num figurino mais assemelhado ao gangsterismo político que à prática parlamentar, Motta e Alcolumbre distribuíram ultimatos e ameaças ao governo.

Usurparam a prerrogativa de regulação tributária do governo, colocaram a faca no pescoço e ainda prometeram represálias caso o Executivo recorra ao STF para garantir sua prerrogativa constitucional. Agiram como o agressor que ameaça com mais violência a vítima que denuncia a agressão à polícia.

O plano de sabotagem do governo conta, ainda, com um profissional no ramo: Arthur Lira, aquele que diz se sentir orgulhoso em ser cogitado como vice de Bolsonaro.
Presenteado por Motta com a arma poderosa da relatoria do projeto da isenção de imposto de renda para quem ganha até cinco mil reais, Lira sinaliza dificuldades para a aprovação dessa promessa de campanha do Lula que beneficia mais de 20 milhões de contribuintes.


quarta-feira, 28 de maio de 2025

Os Lobos

 

Imagem: Google

Os lobos ocupam um lugar especial em meu coração.

     O primeiro que vi, aproximou-se de mim, desconfiado, como é da natureza dos lobos.  Fixei meus olhos nos dele, também com cuidado, para não assustá-lo,  Esse primeiro encontro foi rápido, mas deixou a percepção de que nos encontraríamos novamente. É pelos olhos que se conhece o coração de um lobo. Sempre tive dúvidas do caráter de quem não se deixa olhar, abaixando as vistas.  Como um novo encontro  fora tacitamente estabelecido no primeiro, o segundo aconteceu de forma calorosa, como se nos conhecêssemos de longa data.  E nos revelamos em total transparência. Nascia ali uma amizade verdadeira, que duraria por longos anos. Conheci  inteiramente os sentimentos dos lobos, que esse, em especial, me revelava. 

     Nossos encontros tornaram-se rotineiros, em cada um os vínculos solidificavam. Fui conhecer seu lar. A matriarca da família me recebeu com alegria. O nome dela era Margarida, que me adotou como mais um  filho. Agora eu fazia parte da comunidade dos lobos. Os laços ampliavam, assim como, a nossa cumplicidade. Muitas vezes dividi com eles saborosos e fartos cardápios de carne. Os lobos são carnívoros. 

    Ah, estava me esquecendo de apresentar o lobo do meu primeiro encontro, que me fez acreditar que a amizade construída no respeito e na empatia, perdura. Trata-se de Berzé Lobo. Por meio dele, faço  parte dessa alcatéia, composta por Pedro Lobo, Eugênio Lobo, Gabriel, Maria José, que se encantou e... a lista é grande, pois além dos filhos e filhas, têm netos e netas, como a Tetê e o Chico, o Samuel, sobrinhos, sobrinhas....  E a Tuta, que foi fazer companhia à Dona Margarida e a Zezé!



Imagem: Instagram

Foto: Raul, meu neto num flagrante

segunda-feira, 26 de maio de 2025

Janja não é primeira-dama reborn

 Por Marcelo Rubens Paiva *



Marcelo Rubens Paiva, autor de "Ainda Estou Aqui", relata suas impressões de Lula e Janja após dois encontros com o casal presidencial, um reservado em Brasília e outro em premiação no Rio. Para o escritor, a primeira-dama é alvo de preconceitos por parte de conservadores, da esquerda e da imprensa. Na intimidade, contrariando a percepção de muitas pessoas, eles demonstram plena harmonia, descreve.

No Brasil, muitos ainda pensam que mulher não pode ter opinião ou influir nas decisões de um presidente


No intervalo de 20 dias, encontrei-me duas vezes com o casal presidencial. As suspeitas de que Janja é perseguida pela ciumeira da esquerda velha e de conservadores, que não veem possibilidade de uma esposa influir nas decisões do marido, se confirmaram.

Muitos não entendem Janja. Me diziam que ela afastou Lula dos amigos, que o fez parar com hábitos antigos, como beber e fumar charutos com alguns jornalistas, dar entrevistas.

Lula me contou que parou de fumar porque ficou sem ar numa viagem e que quase não bebe, pois quer viver até 110 anos.

O primeiro encontro com o casal ocorreu em uma visita fora da agenda oficial. Eu estava em Brasília, Lula e Janja souberam, me chamaram, e fui rever o amigo de longa data; nos conhecemos quando ele era líder sindical. 

Naquela ocasião me dei conta de que ele é personagem das minhas três autobiografias, "Feliz Ano Velho" (1982), "Ainda Estou Aqui" (2015) e "O Novo Agora" (2025). Levei este último autografado.

Entrei no Palácio do Planalto assombrado pelas imagens da invasão de 8 de janeiro de 2023. Via os fantasmas dos golpistas, escutava bombas, sentia a fumaça, o medo dos poucos policiais que resistiam, o feromônio de destruição.

Vi intacto o Di Cavalcanti que fora esfaqueado e as mesas de vidro restauradas, assim como a escultura de Krajcberg e o relógio de mais de 200 anos. Cheguei a passar o dedo nele, buscando ranhuras de um restauro caseiro, daquela cola instantânea sempre na geladeira. Nada.

Entramos no gabinete com meu sobrinho Chico Rubens Paiva e Margareth Menezes, ministra da Cultura. Encontrei Lula feliz, saudável, magro, falante, gozador, afetivo, mais do que antes.

Me abraçava, me pegava, me olhava nos olhos, sorria, perguntava da minha vida. Sua pele estava mais bem cuidada do que a minha. Perguntei seu segredo. O quase octogenário presidente acorda às 5 da manhã e malha por duas horas, disse.

Mandou chamar Janja. Serviu suco de cupuaçu. Reclamou que para dar corda no relógio restaurado é preciso chamar um técnico com luvas e apontou para o hit do seu gabinete, uma caixa lacrada do tamanho de um Kindle, com poeira da Lua. Presente de Xi Jinping.

"Não abri, porque vai saber o que tem lá dentro...", gargalhou. Disse que iria se encontrar com o líder chinês e pediria para ele abrir a caixa na sua frente, para se certificar. Rimos.

Falamos do Corinthians, de Memphis Depay, da dívida impagável do clube, de passarinhos, das taxações de Trump e da missão do Brasil de encontrar com o Brics e a União Europeia uma fórmula mágica para diminuir a influência do dólar nas transações internacionais.

Janja chegou. Dividiram a mesma cadeira, diante de mim. Ele me confidenciou que tem lucidez para se retirar da vida pública, se a saúde física ou mental forem impedimentos. Lamentamos o melancólico fim da carreira de Biden.

Reclamou que o pessoal do PT o obrigou a se mudar para Alto de Pinheiros, em São Paulo. "Queria me aposentar numa praia", disse. Lula sonha em se aposentar em Salvador. Janja topa, apesar de preferir o Rio de Janeiro.

Enquanto Janja me contava como teve que, após os ataques de 8 janeiro, implorar para o governo não assinar a GLO, Lula despachava com Margareth, cobrando a instalação dos Conselhos de Cultura e outras demandas.

A Garantia da Lei e da Ordem (GLO) é um caminho provisório de policiamento feito pelas Forças Armadas para o restabelecimento da ordem pública, o que se propunha diante do tumulto golpista em Brasília. Caso autorizada, estaria dada a ordem para os tanques irem às ruas. Seria a institucionalização do golpe militar.

Janja me confidenciou que, depois de estudar ciências sociais na Universidade Federal do Paraná, e MBA em gestão social, foi trabalhar na Itaipu Binacional e admitida no curso de um ano da Escola Superior de Guerra, em que teve contato com as minúcias de uma GLO. Ao não assinar, Lula conseguiu barrar a blitzkrieg, que por pouco não atravessou a porta dos quarteis.

Certa vez, me descreveram Janja como a cuidadora de um velhinho. O que se percebe ali é um casal em plena harmonia, sintonia, saudável, feliz. Um parece adivinhar o que o outro pensa. Por vezes, um completa a frase do outro. O que se vê ali é cumplicidade, com brilho nos olhos e amor. Quem está ao redor admira ou inveja. Por isso Lula quer viver 110 anos.

Vinte dias depois, 20 de maio, fui com meu filho Joaquim, 11 anos, ao Palácio Capanema, no Rio. A família implorara para ele ir com a camisa do Corinthians, mas não adiantou. Vestiu um impecável terno azul e gravata. Nos colocaram numa saleta da biblioteca. Faríamos uma surpresa.

Lula e Janja chegaram. Lula logo abraçou o menino e elogiou a elegância. Janja, de gozação, fez uma saudação como se ele fosse um príncipe. Contei que o apelido do moleque na escola é Putin.

Lula passou o dia gozando Joaquim, dizendo que ele era mais elegante que o líder russo, e que quando encontrasse o Putin real diria que conheceu seu sósia brasileiro.

Depois de anos fechado, ameaçado de ser demolido, para o terreno ser vendido pelo projeto liberal — que visa diminuir o Estado, se desfazer dos bens da União, se desfazer da memória, da mitologia, da cultura e da história —, o projeto arquitetônico premiado de Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Le Corbusier, com paisagismo de Burle Marx, revestido por azulejos de Portinari, foi reinaugurado numa cerimônia plural: a entrega de Ordem ao Mérito Cultural.

Depois de anos massacrados pelo correntão de apagamento do governo anterior, que transformou o Ministério da Cultura na sombra da goiabeira de Jesus, o talento e a inteligência brasileiros recuperavam seu protagonismo.

Foram muitas as pessoas homenageadas na noite: Zezé Motta, Alaíde Costa, Liniker, Mônica Martelli, Alcione. Gilberto Gil recebeu a honra no lugar de sua filha, Preta Gil. Odair José, Tony Tornado, Armandinho, Lilia Schwarcz, Alice Ruiz, Paulo Betti, Bárbara Paz, que veio direto de Cannes para a cerimônia, Walter Salles, Fernanda Torres e eu, Daniel Munduruku, Chico César, Silvio Tendler, entre outros e outras, compusemos o leque da diversidade.

Mas nas manchetes dos jornais aparecia: "Lula concede a Janja principal honraria por mérito cultural do país". Quem concedeu foi o Ministério da Cultura, não ele.

Discursei, contando que a dedicatória do livro que dei para eles tinha uma só palavra: "Resistam". Pelo visto, o amor entre eles resiste ao mau olhado dos invejosos.

Lula, o presidente dos Correios e eu deveríamos carimbar o selo em homenagem à Eunice Paiva. Mas Janja e Lula mudaram o protocolo e fizeram Joaquim carimbar, diante da imprensa e dos homenageados.

Lula discursou, Janja lhe dava as folhas, lia antes, checava, deu uma folha errada, ele a corrigiu e sorriu, ela sorriu para mim, como se tivesse feito uma travessura. E eram o "gagá" Lula e a "metida" Janja que organizavam as fotos com os homenageados, diante da confusão do cerimonial e da imprensa. Ele se sentou no chão, fez pose, se levantou sozinho.

A má vontade com a esposa do presidente se tornou uma verruga jornalística. Se ela viaja com o marido, calculam o gasto, como se ela estivesse passeando com o maquiador. É Janja quem se reúne com a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) para debater iniciativas contra a fome e a pobreza.

Se ela fala num almoço privado, questionam se não deveria ter ficado quieta. A conversa foi vazada por um ministro. Isso sim deveria causar perplexidade. 

Mas o comentário de uma mulher, num jantar a portas fechadas, no país em que vazamento não existe como figura de linguagem, foi o assunto.

Não querem Lula na Rússia, nem na China, buscando redesenhar o comércio mundial. E querem uma primeira-dama reborn, um cabide sem voz, sem ouvido, sem olhos, porque no Brasil mulher não pode ter opinião, nem se meter em conversa dos maridos.


Resistam!

24.mai.2025 às 23h00


Marcelo Rubens Paiva



* Escritor e dramaturgo. Autor, entre outros livros, de "Feliz Ano velho", "Malu de Bicicleta" e "Ainda Estou Aqui"



Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2025/05/janja-nao-e-primeira-dama-reborn.shtml


quinta-feira, 22 de maio de 2025

Aforismos




A flor que desabrocha é como uma criança nascendo, frágil e necessitada de cuidados.



A nascente, que se transforma num rio, nos ensina a exercitar a paciência, para crescermos com sabedoria. 



O mar, ao beijar a praia, não revela os seus mistérios aos castelos de areia.



O deserto é uma lição, para superarmos o nosso deserto interior. 



Que vive sob a égide da acumulação de recursos materiais está limitado a evoluir-se espiritualmente.



Somos a soma de exemplos e experiências acumuladas, para o bem e o mal. 


J Estanislau Filho





domingo, 18 de maio de 2025

Porque se mata em Gaza




Mulheres crianças
homens e animais
morrem de fome sede e explosivos
em Gaza


Segue a matança
de ódios infernais 
poucos compreendem os motivos
porque se mata em Gaza


Não é só por vingança
é por muito mais
porque vingar em crianças
ou em quem não tem nada com isso
reflete outro compromisso


Tamanha carnificina 
que a mídia esconde
engana
manipula e vende
de combate ao terror
não é verdade


Na realidade
mata-se em Gaza
por interesses comerciais
acúmulo de capitais


Todas as imagens copiadas do Google
J Estanislau Filho

terça-feira, 6 de maio de 2025

Os Estatutos do Homem

Imagem: Revista Xapuri



(Ato Institucional Permanente)


Thiago de Mello 


A Carlos Heitor Cony

 

Artigo I.

Fica decretado que agora vale a verdade.
que agora vale a vida,
e que de mãos dadas,
trabalharemos todos pela vida verdadeira.

 Artigo II.

Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

 Artigo III.

Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

 Artigo IV.

Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

Parágrafo Único:

O homem confiará no homem
como um menino confia em outro menino.
 

Artigo V.

Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

 Artigo VI.

Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

 Artigo VII.

Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.
 

Artigo VIII.

Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

 

Artigo IX.

Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha sempre
o quente sabor da ternura.

 Artigo X.

Fica permitido a qualquer pessoa,
a qualquer hora da vida,
o uso do traje branco.
 
Artigo XI.

Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo.
muito mais belo que a estrela da manhã.
 
Artigo XII.

Decreta-se que nada será obrigado nem proibido.
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único:

Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

 
Artigo XIII.

Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.
 
Artigo Final.

Fica proibido o uso da palavra liberdade.
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.
 
Santiago do Chile, abril de 1964

domingo, 13 de abril de 2025

Cara chato

Por J Estanislau Filho

Imagem: Google

Um velho ranheta, cidadão ranzinza, cara chato. É o que as pessoas dizem dele e eu, Voltaire, atesto. Por conta da mania que ele tem de contrariar e não gostar de ser contrariado. A especialidade dele é a discordância. Pra todo argumento, por mais embasado, ele faz um contraponto. Quer ver como destruo o seu argumento? É assim que ele começa a contestação. O diálogo, se é que pode ser considerado assim, pode ser estressante. Por causa disso, mudei a estratégia. Decidi concordar com tudo o que ele dizia. Não que suas teorias não fizessem sentido. Sua capacidade cognitiva é elevada. Resolvi me abster do debate, apenas concordar. Ele me questionou: - Voltaire, você está concordando comigo, por quê? Ora ora, respondi, porque penso que você está certo! Não, retrucou Rousseau (esse é o nome do velho ranzinza), estou dissertando sem nenhuma base científica, como um sofista e você concordando, que desatino! Mas sua teoria faz sentido, respondi. Rousseau contra atacou: - A sua concordância me irrita, parece ironia, deboche. pois o que exponho não faz sentido aqui, nem na China. Mas você é mesmo um cara chato, respondeu Voltaire, impaciente, discorda até da concordância!

quarta-feira, 9 de abril de 2025

O ódio ao Lula é o ódio aos pobres


Por J Estanislau Filho


O ódio aos pobres ocorre pelo medo que a classe média tem de perder seu poder de mando. Para a classe média, o pobre é uma ameaça à sua posição na sociedade, não podendo, portanto ter ascensão social. Também para ter alguém para a sua autoafirmação, para pisar, explorar e humilhar. Estudos apontam que a classe média é composta por  70% da população, sendo que, 30% dela é progressista. 

Quem faz a cabeça dos 70% da classe média são os endinheirados, apenas 1% da população. A classe média é o seu escudo de proteção.  Ou seja, os ricaços, manipulam a classe média, que manipula e intimida  os pobres remediados, que manipula os mais pobres. Assim gira a roda da luta de classes. Nessa roda, pobres negros levam a pior. 




O ódio ao Lula é o ódio aos pobres, porque Lula é um semianalfabeto, nordestino e pobre, que ousou ascender socialmente e chegar à presidência. Um símbolo que precisa ser destruído. Ricos e 70% da classe média não aceitam isso. As grandes corporações midiáticas, financeiras, agro,  fazem uma campanha com o propósito de deslegitimá-lo.  

Além de tudo isso, temos outro fenômeno, que agrega a esse ataque: o pobre de direita. Dá pra entender? Lógico que dá. Mas para isso é necessário mais que uma pequena crônica. Necessário um ou mais livros. Tais livros existem e estão à disposição de  quem tem interesse de compreender porque os pobres são humilhados e manipulados. O autor é Jessé Souza. Segue a lista:


A Classe Média no Espelho

Brasil dos Humilhados

O Pobre de Direita








BOA LEITURA!

sábado, 29 de março de 2025

Fizeram por merecer




Por Jeferson Miola

Jair Bolsonaro e outros sete denunciados pela Procuradoria-Geral da República que integraram o “núcleo crucial” da “organização criminosa armada” agora são réus.
Integram este primeiro grupo do total de 34 denunciados dois policiais federais e seis oficiais das Forças Armadas: um tenente-coronel, um capitão reformado, três generais do Exército e um almirante da Marinha.

A decisão da 1ª Turma de Julgamento do STF representa uma resposta inédita da institucionalidade democrática.

Pela primeira vez na história do Brasil militares da cúpula das Forças Armadas, dentre eles ex-comandantes, ex-integrantes do Alto Comando do Exército e ex-ministros da Defesa, serão julgados perante a justiça civil pela tentativa de golpe de Estado.

A apuração, entretanto, precisa continuar. É necessário se investigar todos os demais militares e civis envolvidos na conspiração e que ficaram de fora do inquérito inicial da PF.
Ainda precisam ser descobertas outras camadas do empreendimento golpista, como a participação de empresários, agentes públicos, políticos, juristas e parlamentares que financiaram, estimularam o bando armado e defenderam a virada de mesa.
.
O agronegócio, por exemplo, além de ter financiado etapas terroristas do plano, também se ocupou da infraestrutura, recrutamento e manutenção dos golpistas radicalizados nos acampamentos nos quartéis do Exército.
De todo modo, o julgamento e a condenação desses civis e militares pela Suprema Corte é um marco relevante para o processo de memória, verdade e justiça do nosso país.

Na Argentina, os comandantes militares implicados com o terror de Estado durante a ditadura foram condenados até à prisão perpétua. Alguns morreram no cárcere.

Diferentemente do país vizinho, contudo, no Brasil os facínoras ficaram impunes e não foram responsabilizados pelos crimes da ditadura de 1964 a 1985.

Eles recebem normalmente aposentadorias polpudas pagas pelo povo brasileiro. E aqueles que morreram impunes, legaram pensões vitalícias para filhas e esposas, como os militares envolvidos no sequestro, desaparecimento e assassinato de Rubens Paiva.

Os militares se autoanistiaram no contexto da transição conservadora imposta, controlada e tutelada por eles mesmos.

A impunidade foi fatal. Confiantes na impunidade eterna, décadas depois do fim da ditadura as cúpulas fardadas se jogaram novamente numa empreitada golpista para concretizar um projeto de poder militar de longa duração.

Em 2018 os militares alardearam a volta ao poder “democraticamente”, por meio da vitória da chapa militar Bolsonaro-Mourão na eleição fraudada sem a concorrência de Lula.
Em março de 2022 publicaram o “Projeto de Nação”, documento que traduziu o projeto de poder militar para pelo menos até o ano de 2035.

Em abril de 2021, no entanto, quando Lula recuperou seus direitos políticos suprimidos pela gangue da Lava Jato, ele retomou a elegibilidade que fora cancelada pela pressão do general Villas Bôas sobre o STF.

Lula se tornou, a partir de então, a única alternativa do campo democrático capaz de deter a continuidade do projeto de poder fascista-militar em andamento.

Como o Procurador-Geral Paulo Gonet destacou na denúncia oferecida à Suprema Corte, o golpe não foi apenas aquele “instantâneo épico” do 8 de janeiro, porque foi um processo contínuo, prolongado no tempo e motivado pela mudança da conjuntura causada pela reabilitação política do Lula.

Na denúncia o PGR descreve que os golpistas “integraram, de maneira livre, consciente e voluntária, uma organização criminosa constituída desde pelo menos o dia 29 de junho de 2021 e operando até o dia 8 de janeiro de 2023, com o emprego de armas”.

Neste espaço de tempo, a organização criminosa colocou em marcha um processo metódico, planejado, com eventos encadeados para desestabilizar o ambiente político, provocar crise e esgarçamento institucional e, assim, legitimar a intervenção militar com Bolsonaro no poder – as “aproximações sucessivas”, nas palavras do general Mourão.

“Essa organização utilizou violência e grave ameaça com o objetivo de impedir o regular funcionamento dos Poderes da República e depor um governo legitimamente eleito”, descreveu o Procurador-Geral.

O que se descobriu é alarmantemente grave: o plano consistia, dentre outros atos bárbaros, assassinar o presidente e o vice-presidente eleitos, Lula e Alckmin, e o ministro do STF e então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes.

A punição de todos envolvidos na tentativa de golpe é uma apólice de seguro e de proteção da democracia. A realização exemplar da justiça é a melhor vacina antiditadura.
É totalmente inaceitável e fora de propósito discutir-se anistia para golpistas criminosos.


https://www.viomundo.com.br/politica/jeferson-miola-resposta-historica-a-golpistas-e-conspiradores.html

segunda-feira, 17 de março de 2025

Novos Tempos

Imagem: Google


Houve um tempo que prevíamos o tempo
olhando o céu
o dia que a chuva viria
hora de fazer o plantio
tempo de colheita
a natureza não era afoita
os rios corriam macios...


Houve um tempo que ouvíamos o tempo
cheirávamos o vento
o movimento das nuvens
anunciava mudanças
se vinha chuva ou seca
ou se era época
de caírem as folhas
desabrocharem as flores...


Houve um tempo que respeitávamos o tempo
não! não  era bem assim
havia quem o desafiava
havia desrespeito também
até chegarmos a esse tempo de desordem 
mas também tempo de coragem
para construirmos novos tempos!


J Estanislau Filho




sexta-feira, 14 de março de 2025

Massarandopió

Imagem: Google


Fomos passar as férias
no litoral da Bahia
em Massarandopió
onde a natureza nua
se expressa em poesia


Antes de chegarmos ao destino
encontramos feras
não eram onças leões panteras
preconceitos interditavam o caminho


Como se estivessem à nossa espera
avançaram em nossa direção
para nos reprimir
era essa a intenção
derrotamos as feras
desobstruímos o caminho
e chegamos em Massarandopió
onde a liberdade é plena


Imagem: Google


J Estanislau Filho

Imagem: Google

terça-feira, 11 de março de 2025

Poema para adiar o fim do mundo

Imagem: Jefil


O melhor poema 
ainda não foi escrito
não precisará de rima
e de um vocabulário bonito
vai abordar vários temas
o amor será o centro
adornado de imagens sem filtro
com inteligência cerebral
pois a vida não é artificial.


Será um poema diversificado:
sobre violência global
sobre signos e significados
sexo e amor sob todos os ângulos
o amor em primeiro plano
e um oceano musical
de espantar o terror
das mudanças climáticas
em defesa dos mananciais.


Florestas protegidas
jardins nos quintais
com casa e comida
sol e chuva calor e frio
e um arrepio de alegria
numa manhã que faz brotar
no sorriso das crianças
uma nova poesia



Um poema de conteúdo profundo
para adiar o fim do mundo. 

 

J Estanislau Filho


Imagem: Google

sábado, 22 de fevereiro de 2025

História e Estória


Imagem: G1

A ideologia dominante é a ideologia da classe dominante

Karl Marx


É algo fácil de entender, mas muitos não entendem. Por quê?  É falta de conhecimento da história de mentes dominadas pela ideologia da classe dominante!  Mentes alienadas e mistificadas por estórias, narrativas falsas.

     A classe dominante é dona dos meios de produção: fábricas, usinas, terras, bancos, jornais, rádios, canais de tv.  Dona, também das big techs: Google, Facebook, X, Instagran, Youtube... Esta pequena galera,  1% da população mundial, espalha as ideias que nos convencem de como devemos nos comportar.

     Todas as vezes  que um governo popular é eleito e tenta fazer políticas de inclusão social, esta pequena galera o derruba.  É assim em todos os países capitalistas. O Brasil não escapa da ação desses mafiosos. Quando Getúlio Vargas começou a incluir o povo no orçamento, essa galera o levou ao suicídio,  por meio de calúnias e difamações. Quando João Goulart (o Jango) decidiu fazer as reformas de base, foi apeado do governo num golpe de estado, que durou quase três décadas. Em seguida foi a vez da Dilma. Lula, aos trancos e barrancos conseguiu terminar dois mandatos. Há que se registrar, ter feito concessões  à classe dominante.  Nesse terceiro mandato, essa minoria o boicota noite e dia.  

     "Se o Brasil não cresce, está mal. Se cresce, está pior. Se o governo age, é intervencionista. Se não age, é omisso. Se Lula fala, está errado. Se se cala, está se omitindo. Se gera emprego, pressiona a inflação. Se não gera, é um fracasso. Se aumenta a renda, causa medo de descontrole. Se empobrece, é cruel. A linha editorial da imprensa golpista é sempre o antilulismo, criando narrativas que descredibilizam o governo"  (Rodolfo de Vasconcelos).

     Não é complicado entender, mistificados pelo massacre de desinformações, ameaças de toda natureza e meias verdades, sendo que meias verdades implicam meias mentiras, nós, o povo, feitas a exceções de praxe, passamos a defender quem quer o nosso sofrimento.


J Estanislau Filho 


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Agradecimento







Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me dio dos luceros, que cuando los abro,
Perfecto distingo lo negro del blanco
Y en el alto cielo su fondo estrellado
Y en las multitudes el hombre que yo amo

Violeta Parra Sandoval

 

Amaldiçoamos um mundo de coisas: o sol inclemente ou a falta dele; a chuva ou a sua ausência. Amaldiçoamos as dificuldades da vida e até mesmo por termos nascidos; amaldiçoamos nossos pais e a pátria; a Deus por nos ter jogado nesse mundo de injustiças. Praguejamos contra os políticos, corruptos ou não, chamando-os de farinha do mesmo saco; não temos saco de suportar o vizinho ou o mendigo. Selecionamos alvos preferenciais, para destilar nossos ódios. Nos insurgimos contra as árvores, que oxigenam o ar e nos fornecem sombras. Como bestas-feras destruímos reputações com calúnias. Nestes tempos virtuais, criamos ou compartilhamos notícias falsas, produzidas por fake's news. Em meio a esta cegueira coletiva, nos tornamos cães raivosos.

Não, não se pode generalizar. Há muita gente que pratica a solidariedade; que se coloca no lugar do outro. Há quem vê a vida como dádiva.

Eu queria escrever uma crônica que comovesse as pessoas; que as convencesse de que a bondade gera bondade e transforma o mundo. Tenho consciência de que é uma luta desigual, nada fácil. A força contrária não é invencível, mas é necessário conhecer sua estratégia. A maldade, assim como o ódio, são armas produzidas, para garantir uma hegemonia, que não se comove com o sofrimento de outros seres. Não sejamos tolos, até porque, bondade não é sinônimo de tolice.




"A bondade em palavras cria confiança;
a bondade em pensamento cria profundidade;
a bondade em dádiva cria amor."

Lao-Tsé

"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar".

Nelson Mandela

Dito isso, volto ao tema do agradecimento. Como não agradecer a terra, que germina o grão, que se transforma em nosso pão de cada dia? A água que jorra e sacia a sede; o sol que aquece; a brisa que alivia o calor. Agradeçamos a vida que nos foi concedida; aos pais, que nos ensinaram os primeiros passos; as professoras e professores a nos mostrar o mundo mágico das letras, dos números; o primeiro flerte; os políticos, que elaboraram bons projetos de inclusão social.

Tenho muitas dívidas de gratidão, que é impossível citar nomes. Por isso, como símbolo de minha gratidão à vida, deixo impresso no coração de cada uma e de cada um, que ler esta singela crônica, um fragmento da Prece para oferenda de luz:



Ó grande e compassivo Buda!
Neste mundo,
Existem pessoas que precisam de tua luz
para que virem a página de seus problemas;
Existem pessoas que precisam de tua luz
Para que reflitam e se autoconheçam;
Existem pessoas que precisam de tua luz
De bondade e honestidade;
Existem pessoas que precisam de tua luz

J Estanislau Filho 

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Os sete pecados capitais

 

Imagem: Google


AVAREZA


ÁLVARO  tinha como alvo esconder o patrimônio. Desconfiado, pensava que quem se aproximava dele, era por interesse de lapidar sua economia. Andava pelas ruas da pequena cidade em que morava, com sua chinela de dedos, roto e sempre desacompanhado. Não tinha amigos.  Amizade apenas com o dinheiro. Ao contrário da maioria das pessoas, não era consumista. Não viajava, não frequentava restaurantes, nem mesmo a sua casa era minimamente confortável. Guardava a sete chaves uma montanha de dinheiro, parte dele num colchão recheado de notas. Seu Paulo, o único conterrâneo, que teve acesso à casa de Álvaro, espalhou entre os moradores, que viu um baú descomunal, trancado por um enorme cadeado, onde guardava seu precioso tesouro. 


IRA


ARI, o irado. Assim o nomeou seu amigo Santos. Ari é a fúria em pessoa. Nele mora apenas sentimentos de rancor e ódio. Nada presta. Viver não vale a pena, morrer também não.  Ninguém compreende como o pacato Santos o tem em consideração.  Santos deve ter vocação pra santo, para interagir com esse pulha, afirma o beato Horácio, seu parceiro de dominó. 


SOBERBA


ARMANDO  sempre armava uma "casinha" contra alguém, que na sua visão, pudesse superá-lo. Estava sempre de nariz empinado, peito estufado. Humilhar outras pessoas era o seu esporte favorito. Armando se considerava melhor em tudo, o suprassumo. Do jogo de cartas ao futebol; das análises de conjuntura às previsões climáticas; da colheita de frutas à culinária; no modo de vestir à contemplação da beleza. Desmontava qualquer argumento contrário. Armando era, além disso, um negacionista.  Discordava até mesmo de alguém que concordasse com suas ideias.  Dava uma sonora e corrosiva gargalhada ao suposto adversário. 


INVEJA


IRMA é irmã da inveja. Andam lado a lado. Está sempre atenta à vida das pessoas. Cresce o olho no patrimônio alheio. Se a vizinha compra uma televisão nova, além de querer saber porquê,  vai ao Magazine Luíza e compra outra melhor. Inveja o sapato de uma, implica com o cabelo de outra. Gosta de ir à casa das pessoas e botar olho gordo nos jardins. Quando Jurema, sua parceira de fofocas viajou para Punta Cana, Irma entrou em depressão. 


LUXÚRIA


SADE,  tinha sede de sexo. Mas não era sádico, nem masoquista. O prazer vinha sempre em primeiro plano. Movido pelo desejo, não media esforços nas conquistas. A sedução brotava de seus poros, criando uma atmosfera de lascívia irresistível. Sade não se prendia a nenhuma moral conservadora, que interdita o erotismo. Sexo jamais fora sinônimo de pecado.  Tinha o corpo e o desejo livres. 


PREGUIÇA


PERPÉTUA, permanece atenta ao que considera seu direito à preguiça. Defende com argumentos sólidos, que a preguiça é um direito sagrado. Esparramada na poltrona, não se incomoda com a pia cheia de louça. Quem na verdade condena o ócio, não passa de um escravocrata, diz convicta. A mente de Perpétua perpetua o pensamento de Paul Lafargue, que disse a mais de cento e cinquenta anos, que todos temos direito à preguiça, para o descanso, o lazer e a criatividade.



GULA


GULLIVER, vive uma ambivalência com a gula. Gosta de se empanturrar de tudo, mas se enche de culpa, por admitir que a gula é um pecado.  Cumpriu a promessa de subir de joelhos as escadas da Penha.  Foi a Aparecida do Norte, pedir a Nossa Senhora, que aplacasse sua gula. Santas e santos não atenderam suas súplicas. A gula e a culpa aumentaram, para o mal de seus pecados. Sua última tentativa foi se fartar num enorme banquete. O método, segundo uma cartaomante, era infalível.  Após a comilança, foi conduzido ao hospital onde fez uma cirurgia bariátrica. Finalmente Gulliver controlou o apetite, mas a ambivalência continua. Não sabe se foi a ciência ou a crença que o salvou da gula. 



J Estanislau Filho

domingo, 26 de janeiro de 2025

Aos mecenas da cultura popular

 Olá, tudo bem?

Eu em Brasília

Eu com meu filho Fernando


Nesse ano de 2025 pretendo lançar o meu livro de memórias, Baú de Lembranças, em que narro a minha trajetória - ao lado de muitas outras pessoas - de luta pela volta da Democracia em nosso país. Esta caminhada de luta se inicia no ano de 1976 até 2015. De 1976 até o ano de 2005 me envolvi, além da participação política, na defesa do meio ambiente e no movimento popular, por melhorias da saúde, dos transportes e da habitação popular, pela Central de Movimentos Populares - CMP.  Á  partir de 2005 até 2015, no movimento cultural, com lançamento de vários livros. Não, ainda não me aposentei da luta, mas isso é outra história. 

Para que o meu livro de memórias se torne realidade, preciso do apoio dos MECENAS DA CULTURA POPULAR.


Charge do Berzé para o meu primeiro livro Nas Águas do Arrudas

 

Sua generosa doação pode ser feita por meio da chave do PIX: 14091151604 (CPF) em nome de José Estanislau Filho


Antecipo agradecimentos


José Estanislau Filho



eu com parceiros de luta
Eu na praça, divulgando cultura