segunda-feira, 21 de julho de 2025

A Terra Desolada





 (T.S Eliot)


Abril é o mais cruel dos meses, germina
Lilases da terra morta, mistura
Memória e desejo, aviva
Agônicas raízes com a chuva da primavera.
O inverno nos agasalhava, envolvendo
A terra em neve deslembrada, nutrindo
Com secos tubérculos o que ainda restava de vida.
O verão; nos surpreendeu, caindo do Starnbergersee
Com um aguaceiro. Paramos junto aos pórticos
E ao sol caminhamos pelas aleias de Hofgarten,
Tomamos café, e por uma hora conversamos.
Big gar keine Russin, stamm’ aus Litauen, echt deutsch.
Quando éramos crianças, na casa do arquiduque,
Meu primo, ele convidou-me a passear de trenó.
E eu tive medo. Disse-me ele, Maria,
Maria, agarra-te firme. E encosta abaixo deslizamos.
Nas montanhas, lá, onde livre te sentes.
Leio muito à noite, e viajo para o sul durante o inverno.
Que raízes são essas que se arraigam, que ramos se esgalham
Nessa imundície pedregosa? Filho do homem,
Não podes dizer, ou sequer estimas, porque apenas conheces
Um feixe de imagens fraturadas, batidas pelo sol,
E as árvores mortas já não mais te abrigam,
nem te consola o canto dos grilos,
E nenhum rumor de água a latejar na pedra seca. Apenas
Uma sombra medra sob esta rocha escarlate.
(Chega-te à sombra desta rocha escarlate),
E vou mostrar-te algo distinto
De tua sombra a caminhar atrás de ti quando amanhece
Ou de tua sombra vespertina ao teu encontro se elevando;
Vou revelar-te o que é o medo num punhado de pó.


(Trecho de Terra Desolada, de T. S. Eliot. Tradução de Ivan Junqueira)


Thomas Stearns Eliot foi um poeta, dramaturgo, crítico literário e editor literário americano-britânico. É considerado um dos representantes mais importantes do modernismo literário e um dos maiores poeta.

terça-feira, 8 de julho de 2025

enquanto não vens


virás bem sei trazendo no olhar alegria e o fogo da paixão
enquanto não vens vejo aves migratórias enfeitando o céu
o balançar das cortinas
o silêncio do quarto
o sol nascendo e se pondo para dar lugar às estrelas
enquanto não vens eu me perco no devaneio das horas
marco o tempo no desgaste dos utensílios domésticos
com rios e afluentes inundando meu rosto
e a pele que amacia na flacidez da memória
enquanto não vens retirei o relógio da parede
e o coloquei no fundo do baú debaixo de grossos cobertores


J Estanislau Filho