quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Em busca de uma identidade



Imagem: Google

Estacionou o automóvel seminovo na garagem da casa recém-adquirida num financiamento, colocou as mãos nos bolsos da calça e foi contemplar, de novo,  as dependências. Vagou pelos cômodos com um olhar embevecido, respirou fundo, enquanto relembrava o esforço que fizera até chegar  a esse estágio. Retornou ao quintal, sentou-se no banco da varanda, orgulhoso de si. Vislumbrou o carro e uma lágrima escorreu pela face. Faltava algo mais, para que se sentisse completo. Afugentou o pensamento e voltou a circular pelo ambiente, atento aos detalhes. Banheiros com box, cerâmicas, luminárias, paredes pintadas. Ah, precisava encerar as portas. Chamaria um profissional. O portão de entrada carecia de um motor. Descer do carro, para abri-lo manualmente não combinava com o seu novo estilo de vida. 

     Ligou o carro e saiu, para dar uma volta pela cidade, não a conhecia completamente. Uma cidade pequena, com cerca de três mil habitantes. Encontrou um restaurante caseiro, sentou-se e pediu um almoço. Na mesa ao lado, um casal trocava carícias ao toque das mãos. Conversavam baixinho. Por um momento, ele invejou o casal. Espantou o pensamento, distraindo-se com outro casal de canarinhos chapinhas, que se tocavam no galho de uma árvore,  anexa ao restaurante. Ah,  o amor, que invade os corações no arroubo das paixões. 

     Adquirira o hábito de observar as pessoas e se imaginava sendo observado. Isso o incomodava, era como se estivesse nu, pois era um ser para os outros.  Ser alvo de avaliações alheias o petrificava. O que precisava corrigir, para ser bem avaliado? Talvez a indumentária. Um terno, ou blazer, um óculos escuros.  Precisava da certeza da aprovação das pessoas. Trocar o carro por outro mais possante, provavelmente seria visto com outros olhos. Ah, esses olhares, que o levava a afundar nas cadeiras. O desejo de não ser enxergado na sua pequenez. Queria ser grande. Decidiu então ir a uma loja, comprar roupas das melhores marcas; passar numa agência de veículos e trocar de carro. Não frequentaria mais aquele restaurante em que as pessoas o despia. 

     Abriu o aplicativo do seu banco. O saldo não era compatível com o seu projeto de ser


J Estanislau Filho


Imagem: Google

     

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

O SELO DA GRANDE OBRA

Araguaina TO



Viajo sim, nesse mundo e lá fora
No labor do pequeno ciclo, a vida 
No grande ciclo, história, nossa lida 
Em tudo e em mim permaneci no agora


Cantei minha Picos donde vim, que ora
Ascendeu junto a mim pela subida
Glórias tombadas e a morte iludida
Ajustei os ponteiros com esta hora


Sim a grande obra oculta vos revelo
Semente plantado na consciência
Finda a opinião do feio ou do belo


Habita um Deus em nós que é nossa essência
No sol - metáfora, no homem - o espelho
Foi consumado pela Providência


Marconi Barros





Marconi Barros, Poeta da cidade de Picos PI, radicado em Araguaína TO onde foi membro e presidente eleito da ACALANTO-Academia de Letras de Araguaína TO.


Picos- PI