quinta-feira, 3 de março de 2016

o dono do cão




Dagoberto fora subitamente acordado ao som do despertador às sete horas em ponto. Deu um pulo da cama, abriu a janela e chamou seu cão. Ele não veio, como sempre fazia todas a manhãs, abanando o rabo alegremente. O dono do cão estranhou.
    Dagoberto era um homem frio, segundo alguns amigos, sem sentimento. Ele respondia que isto era uma questão de ponto de vista.
     Foi ao quintal e chamou o cão em voz alta. Como resposta, só silêncio.
  Dagoberto colocou a mão no queixo com ar pensativo. Alguma coisa estranha estava acontecendo. Serelepe, este era o nome do cão, nunca se distanciava do quintal e sempre atendia ao seu chamado imediatamente.
    De repente Dagoberto viu Serelepe deitado entre as plantas do jardim, quieto, amuado, triste. Aproximou-se dele e notou uma baba escorrendo da sua boca. O cão tinha sido envenenado. O dono do cão correu até a geladeira, pegou leite e deu-lhe para beber. Serelepe, entendendo, bebeu avidamente, em seguida bebeu água e vomitou muito. Dagoberto ficou durante o dia todo observando seu fiel amigo, dando-lhe soro caseiro, pão molhado no leite, na esperança de salvá-lo. Enquanto isto, pensava em quem poderia ter feito tamanha maldade. À tarde, o cão parecia ter melhorado. Atendia ao chamado do dono, abanava o rabo e, juntos, deram uma volta no quintal. Veio a noite. Dagoberto providenciou um abrigo para o amigo, colocou leite e alimento frugal em um prato esmaltado junto do amigo inseparável. Em seguida foi dormir.
    As sete em ponto foi acordado pelo som estridente do despertador e pelo canto dos pássaros sobre as árvores do sítio. Lembrou-se de Serelepe e correu até a varanda. Chamou-o e ele não atendeu. Apenas olhava para Dagoberto com olhos tristes. Serelepe estava morrendo. O dono do cão entrou em desespero. Ligou para o veterinário, que disse não poder ir naquele momento, pois estava em uma fazenda, cuidando de um rebanho, assim que terminasse ele iria ver o cão. Fez algumas perguntas, que Dagoberto respondeu nervoso. Após desligar o celular, chamou o cão, que se levantou com dificuldade, seguindo o dono para dentro da casa. Dagoberto sentou-se em uma cadeira e Serelepe deitou sob seus pés e lançou um último olhar para o dono, para estremecer, se esticar e morrer. Dagoberto deu um grito de dor e chorou copiosamente abraçado ao cão. Ligou imediatamente para o veterinário avisando-o que não precisava vir mais. Em seguida pegou enxada, pá e cavadeira e fez uma cova no jardim, para enterrar seu fiel amigo. Enquanto fazia a cova, Dagoberto chorava e foi assim durante todo o dia.
     
À tarde saiu para ver se descobria o autor do crime. Depois de uma semana de investigação, descobriu o assassino.
   Na noite seguinte depois da descoberta, Dagoberto encontrava-se na área verde do sítio assistindo as contorções do assassino do seu cão, amarrado ao tronco de uma árvore, após engolir à força mais uma dose de veneno. 



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6 comentários:

  1. Narrativa super interessante porque perdi um cão de raça com parmovirose exatamente assim! Foi triste ver o meu cachorro morrendo, chorando, olhando para mim e eu para ele, sem poder fazer nada. No meu desespero, vi uma lágrima escorrendo do olho do meu cachorro e outra escorreu de meus olhos. Depois disso, meu cachorro morreu e eu olhando para ele sem poder fazer nada porque a parmovirose é uma doença inrreversível! Maravilhosa e emocionante narrativa, companheiro. Parabéns

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  2. Que triste,lamentável a perda de 'Dagoberto'. Admirável a sua sensibilidade pra descrever este momento.

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  3. Lamentável, mas, um erro não justifica o outro. Se Serelepe tivesse sido assistido por um veterinário, na primeira ocorrência, e seu dono tivesse redobrado os cuidados com ele, o final dessa história poderia ter sido outro. Sempre temos duas ou mais formas de resolver um mesmo problema. De qualquer forma, sua narrativa demonstrou que Dagoberto tinha muito amor pelo seu amigo cão. Parabéns! Bjss

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  4. Verdade, talvez se o dono do cão tivesse se empenhado mais teria salvado seu amigo. Obrigado pela leitura e pela opinião. Volte sempre.

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