terça-feira, 2 de agosto de 2016

Uma carta aberta ao jornalista Flávio Freire, que escreveu uma matéria no O Globo sobre a saída da minha mãe hoje (01 de agosto de 2016):

Ela sorri. Ela sorri sempre. Ela ri até quando chora. Ela sorriu desmedidamente até no dia que eu fui visitar ela numa penitenciária de segurança máxima, onde ela ficou 45 dias. Me deixaram vê-la depois de 30 dias que ela passou em período de "triagem", onde só podia tomar banho de sol 3 vezes por semana, passava todo o resto do tempo trancada numa cela de 2 metros. Ficou as primeiras 48 horas seguidas nessa mesma cela, sem luz nenhuma. Sem saber que horas eram, sem poder pedir pra que os seus advogados trouxessem uma lâmpada, afinal, eram regras do presídio. Sem acesso a uma caneta pra escrever uma carta pros filhos dela. Com as costelas machucadas porque estava dormindo num colchão fino que fazia com que ralasse as costas a noite toda. Ah, ela estava na ala das prisioneiras do PCC, umas das mais perigosas do país.

Não, ela não tinha sido condenada... Sequer julgada... Mas aí estava. Cada vez que ela tinha que ver um advogado, o que acontecia diariamente, ela precisava fazer aquela revista humilhante, sem roupa alguma.. Mas sabe o que ela fez nessas 3 horas que permitiram que eu ficasse com ela? Ela sorriu. Riu, deu gargalhada de cada história que contei. Sorriu com a alma mesmo, riu de chorar.

Desculpe, se te incomoda muito, Flávio. Mas é o jeito que a minha mãe sabe viver. Eu sei que você e muitas pessoas preferiam que ela estivesse triste e cabisbaixa no pior momento da vida dela.

Mas a minha mãe é assim: ela sorri. O que você chama de não demonstrar fragilidade, é apenas uma felicidade interna que injustiça nenhuma desse mundo vai tirar dela. E eu só posso agradecer ao universo por isso. Sei que pra você não é nada pessoal, é só mais uma matéria lixo que você acha que vai ter alguma audiência ou alguns amigos vão compartilhar no Facebook. Mas pra mim não, pra mim é a minha vida toda, é a mulher que eu mais amo no mundo sendo retratada como uma pessoa sem sentimentos.

Eu espero, de coração, que você tenha alguém na sua vida como a minha mãe: que ri e sorri mesmo
quando as coisas não vão nada bem.


Por Alice Requião no Facebook



12 comentários:

  1. Assim que o Moro quer que os presos vivam ou sofram e por medo ou dor não tenha coragem e nem ri.

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  2. Nos piores momentos da vida, é quando mais temos que demonstrar felicidade e alegria porque se a tristeza nos alcança, será difícil ver o horizonte!

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  3. Moro está a serviço do golpe e de grandes corporações empresarias, midiáticas, com a anuência do STF

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  4. Não nos cabe julgar os motivos pelos quais essa pessoa teve a sua liberdade confinada, mas, com certeza, não roubou, descaradamente, bilhões do povo e não tem foro privilegiado. Talvez seja esse o motivo dela rir e chorar, ao mesmo tempo, porque o nosso país é, realmente, um país dos contrastes...lamentavelmente! Isso só vai mudar quando o povo se conscientizar da força que tem e quando todos se unirem com o mesmo objetivo. Bjss no coração, amigo poeta, com carinho.

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    1. Olá Lucia, prazer receber a sua visita. Sim, não nos cabe julgar, mas tenho muitas dúvidas e algumas certezas sobre a atuação do Juiz Moro. Em nome da corrupção tem agido contra a Constituição. Fazendo política em vez de justiça.

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  5. Infelizmente muitos estão sendo condenados somente por suspeitas, é preciso ter provas e julgamento. Está mais parecendo o tempo de Roma antiga, que se condenavam, por mera antipatia... Assim estamos regredindo ao invés de evoluir, e ninguém faz nada...

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  6. Esta pessoa da narrativa está sofrendo tanto que está meio enlouquecida...É muito sofrer e penar...

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  7. Excelente as colocações ... vivemos num pais onde as noções estão perdidas... todas as nocões.. abração

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