sábado, 5 de janeiro de 2019

Uma flor




Eu a chamo de flor, simplesmente. Ela se abre uma vez ao ano. Ganhei a batata, ou tubérculo, de uma amiga lá em Esmeraldas, onde nós tínhamos uma chácara. Ainda lá ela se abriu por dois ou três anos, se bem me lembro. Quando vendemos a chácara, arranquei a batata e a trouxe comigo. Como voltei a morar na cidade, planteia-a em um vaso com terra adubada. Ela me acompanha há uns anos. Em novembro ela começa a sair debaixo da terra, para contemplar a vida aqui fora, respirar e exibir suas vestes vermelhas pontiagudas. Ela forma uma bola vermelha cheia de pontas, agulhas macias.  As flores se abrem e se fecham, sem culpas; sem pressa.  Enquanto para nós, humanos, o tempo é um inimigo sórdido a ser batido. As flores não têm a preocupação com seu tempo de vida. Nascem, dão flores e morrem naturalmente. Espalham sementes e brotos, para manter viva a espécie. enquanto nós, humanos, travamos uma batalha de Pirro contra a morte.  A nossa relação com a vida é distópica. Destruímos as nossas flores internas. Vida e morte caminham lado a lado e podem viver em harmonia, como esta flor que morre e renasce uma vez ao ano, cujo nome, segundo informações colhidas por aí, é: Coroa Imperial. Apesar de eu não ter a mínima admiração por impérios, apaixonei-me por ela. A natureza não está preocupada com isso.  Mas nós queremos um nome; até brigamos por um. Tem uma cena em Cem Anos de Solidão, do genial Gabriel Garcia Marquez, em que uma comunidade perde a memória e esquece o nome das coisas. Os nomes são invertidos, como flor não é flor, passa a ser nomeada de :minério, por exemplo; uma porta não é mais porta; porteira vira bacia, algo assim.  Sabemos, graças à biologia, o nome de várias espécies.  E de como cuidar delas.
  Pois é: a Coroa Imperial fulorô...



       Imagem: jef


J Estanislau Filho



20 comentários:

  1. Uma flor maravilhosa, a Coroa Imperial e o texto. Tudo na natureza nos ensina, os ciclos da vida, a morte, o renascimento, assim como nós outros, na Perfeição de Deus!

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    1. Grato pela generosa presença, Eneida. Sempre bem-vinda. Abraço

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  2. Analogia para refletir a alma humana. Parabéns!

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  3. Que linda essa flor e apesar do nome pomposo, não é metida à besta,rs... Ainda que apareça apenas uma vez ao ano, não se acha, é modesta e singela!Nada de prepotência, como a que estamos vendo por quem não usa coroa, mas se acha... Linda flor!! abração, tudo de bom,chica

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    1. Grato pela presença e pelo se comentário generoso e atento. Sempre bem-vinda.

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  4. VOCÊ SABE ESCREVER E TRANSFORMA OS ASSUNTOS EM CATIVANTES CONTOS DA SABEDORIA DO COTIDIANO. parabéns

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    1. Obrigado, Verly, talentoso leitor e escritor. Seu comentário me honra. Abraço.

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  5. "Quem não gosta de flor, bom sujeito não é!". O sambista chegou, viu, gostou e levou… meus parabéns para os dois: você e sua fulô, meu bom amigo J ESTANISLAU FILHO! Abraço!

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  6. Lindíssima essa flor e você guardou com tanto carinho ,e agora virou poema.

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    1. Obrigado, Maria Luiza, pela,sempre amável presença. Volte sempre.

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  8. Maravilhosa flor que guardaste com amor,linda, beijos

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    1. Obrigado pela amável presença, minha querida amiga e parceira de letras. Volte sempre. Abraço.

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  9. Não consigo publicar, Stan. Tentei duas vezes e nada. Beijinhos na sua flor, Coroa Imperial. Boa noite.

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    1. KKKKKKKk, conseguiu sim, Gernaide. Deve ser por causa do moderador. Valeu a presença. Bem-vinda.

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  10. Amei,que escândalo de flor,e que texto belo e bem narrado ,uma arte a batata,a flor,e é seu coração que a espera flor!!

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  11. Uma bela flor! Mesmo só uma, enche nossos olhos de beleza. Um cheiro. Teresa Cristina flordecaju.

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