quarta-feira, 13 de abril de 2022

Século XVIII, Cachaça e Cia

 

Engenho Século XVIII - Imagem cedida por Zélia Zelinha

Falar do século XVIII é prosa pra mais de horas. Para não cansar o leitor e a leitora, dividi a crônica em dois assuntos: a Inconfidência Mineira e a cachaça. Temas que se encaixachaçam perfeitamente.
     Os inconformados inconfidentes não queriam papo com a Coroa Portuguesa. Chegara a hora da ruptura. Para que isso acontecesse, precisavam se organizar. Planejamento exige conversa e conversa precisa de pessoas. Nesse caso, dispostos à luta. Ah, precisavam, também, de um local seguro.  Um desses locais foi a Fazenda do Pombal, localizado em Ritápolis, à beira do Rio das Mortes, na região de São João del Rei, Tiradentes e Coroas, que tempos depois, com a emancipação, passaria a se chamar de Coronel Xavier Chaves. 
     O líder desse movimento separatista era o Alferes Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido por Tiradentes.  Assim como Tiradentes, seus companheiros, não eram de ferro.  Durante as reuniões conspiratórias, para acalmar ou exaltar os ânimos, tomavam umas biritas. Consta que a cachaça vinha do Engenho de Coroas, à beira do Ribeirão Mosquito. Mas isso o narrador não garante. Vai que é fake. Fica a dúvida. 
     De qualquer forma, a Coroa Portuguesa, também não queria conversa. Tratou logo de dar cabo ao movimento. Prendeu todos os envolvidos, e para provar que não estava de brincadeira, enforcou Tiradentes no dia 21 de abril de 1792. Por tudo isso, o século XVIII é um marco importante em nossa história. 
     Quanto ao Engenho, não há dúvidas, continua em funcionamento e é o mais antigo do Brasil, quiçá do mundo.  É patrimônio histórico de Coronel Xavier Chaves, nas Minas Gerais, no coração do Vale das Vertentes, produzindo as famosas cachaças Século XVIII e Santo Grau, sob o comando do Mestre Nando Chaves,  descendente da oitava geração de Antônia Rita da Encarnação Xavier, irmã mais nova de Tiradentes.  
     E como bom fabricante das premiadas cachaças, o  Nando conta: "Lá pelo ano 2000, um repórter  da revista Play Boy escrevia uma matéria sobre as cachaças produzidas em Minas. Como somos referência no ramo, o repórter veio conhecer a nossa esquenta peito. Conversa vai, conversa vem, meu pai (Seu Rubinho), interrompeu a prosa, para que o repórter provasse da branquinha. O tal repórter, cujo nome não me lembro, com cara de espanto exclamou: - Nas minha pelejas como repórter, só tenho encontrado a cachaça amarela, a sua é branca!  Meu pai respondeu na lata: - Uai, minha cachaça é branca, porque não tem vergonha de ser cachaça.  Todos caíram na gargalhada. 
     Em seguida, Seu Rubinho oferece um trago da xodó do Engenho, a Século XVIII, do rótulo vermelho. Enquanto degustam, num brinde fraterno, Nando completa: - Cachorro que não morde, pimenta que não arde, cachaça que não é forte, não resolve.


 Seu Rubinho, Nando e Francisco-três gerações Século XVIII


As saborosas do Engenho Século XVIII


Vista parcial do Engenho Século XVIII

51 comentários:

  1. Parabéns Estanislau,regate da nossa história da inconfidência mineira e do produto cultural mineiro, onde os envolvidos no movimento, tinham na cachaça uma forma de aliviar as tenções da coroa Portuguesa.

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  2. Cachaça maravilhosa elaborada num engenho que transpira glamour. Vale muito à pena conhecer, um mergulho na nossa história. Satisfação garantida!

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  3. Que texto gostoso de ler! Apareça na fonte para degustarmos uma branquinha e contar uns " causos" . Obrigada 😃

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  4. ACONCHEGO, ALEGRIA, HISTORIA ,HUMOR E SABOR NO ENGENHO SEC.XVIII.LEMBRANÇAS INTENSAS E QUERIDAS.

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  5. Sabor de história, de prosa boa, de privilégio da amizade! Saúde!

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  6. Este engenho me remete à infância, os passeios até a fazenda nos dias de domingo, as boas prosas com os moradores tão hospitaleiros, o cheiro da cana moída e a garapa adocicando o final de tarde! A cachaça Século XVIII abrilhanta a nossa mesa hoje, completando os aromas da nossa cozinha, agradando o paladar de todos os nossos convidados!

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  7. Uma relíquia a ser degustada, tem sabor de tradição.

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  8. Conheço as cachaças desde o século xx, mas infelizmente nunca fui no engenho. Elas que vieram...

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  9. A cachaça é produto cultural Brasileiro; não só Mineiro. Salve a cachaça! Salve a Sec XVIII! Salve Sr. Rubinho, Nando, Francisco e toda família, pela espetacular cachaça Sec. XVIII!

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  10. Tive o prazer em conhecer esses encantador engenho. Ouvir a história contada pelo fantástico Nando. E uma honra ser amigo seu amigo Nando. Um brinde a você e sua família.

    Carlos Xavier

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  11. O engenho da cachaça Século XVIII tem uma herança histórica e marcante do guerreiro o Alferes Tiradentes. Em consequência, a melhor cachaça do Brasil é sem dúvida Século XVIII, porque manter em seu DNA a competência e o segredo de produzir a cachaça ao longo do tempo. Parabéns. Marcos Queiroz.

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  12. O engenho da cachaça século XVIII tem uma herança histórica juntamente com o guerreiro o Alferes Tiradentes.Em consequência, o DNA da cachaça é sem dúvida a melhor cachaça do Brasil. Parabéns. Sucesso na operação.

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  13. É um texto realmente interessante, quase poético...Uma viagem pela História dá Inconfidência Mineira,escrita a partir de, Encontros e Reuniões regadas a uma boa birita, quê atravessou Séculos e continua fazendo história... Isso é Fantástico!!

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  14. Passado, presente, futuro, sempre uma Bela história. Parabéns!

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  15. Não conhecemos a face do revolucionário Tiradentes mas podemos, através da cachaça do Engenho Boa Vista, experimentar exatamente o que ele apreciava. Também, visitar ambientes vividos pelo mártir da independência do Brasil de Portugal. Parabéns aos seus mantenedores. Luiz Carlos Prestes Filho

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  16. Belo texto! nada melhor do que uma boa pinga acompanhada de boa história.

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  17. Maravilha! Recordando a história e a cultura mineira com sapiência e maestria. Parabéns, Estan!

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  18. Lembro na praia os bares vende cachaça e falam que e da boa que e de Minas Gerais ,mas mistura tudo no meio as pessoas fica caídas nas porta do bar 😫 que tem ganância engana o povo toma enganados.pena né que todos fala que a cachaça de Minas Gerais e as melhores ,exprementei u m pouquinho de uma senhora que trouxe uma de lá muito boa 🙈Maria Luiza Bremide

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    1. Obrigado pela presença sempre generosa, Maria Luiza. Gratidão 🙏, sempre.

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  19. É uma volta ao passado. Me lembro do engenho da fazenda do meu avô, do alambique. Lembranças de um passado tão presente em minha memória... parabéns!!!

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  20. Histórias que compõe a cultura são as melhores. Parabéns!

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  21. Um prazer te ler, Stan. Ouço você contar. Seus causos, tradição, história de gente embrulhados com Literatura. Gratidão.

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  22. Saborosa crônica, fazenda, cachaça e uma ótima leitura, pra que mais? Parabéns Stan! Um abraço.

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  23. Belo texto! Durante a leitura também dei uma volta no passado, senti saudades, de tudo que vivi nas terras maranhenses, que por sinal ainda existe engenho, alambique ( produção de cachaça )tudo idêntico os do passado, da minha infância. Meu sobrinho faz questão de manter a tradição.(terras que for do meu avô paterno).

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  24. Belo texto! Durante a leitura também dei uma volta no passado, senti saudades, de tudo que vivi nas terras maranhenses, que por sinal ainda existe engenho, alambique ( produção de cachaça )tudo idêntico os do passado, da minha infância. Meu sobrinho faz questão de manter a tradição.(terras que for do meu avô paterno).
    Abraço.
    Risilda

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  25. Essa escolha para viver por um tempo foi muito acertada não é mesmo? Coronel Xavier é um marco em sua Vida, e com certeza tem muitas histórias.

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