sexta-feira, 15 de setembro de 2023

CAVALOS





1


Para o lugar mais íntimo do homem
chegam os cavalos,
ali onde tudo é virgem e diferente.


Embora se diga que a noite
      é o momento certo
para que cheguem
é necessário apenas que o homem
       afogue suas penumbras
e esteja pronto para descansar.


Alguém poderia confundi-los
com a causa de tanto pesadelo.
Mas quem viu
       aqueles que dormem em paz
garantem que um cavalo
é o portador das origens mais nobres.



2


Imaginar um cavalo
é como imaginar a Deus.


Deus é a folha
                  que cai devagar
                                           sobre a água
como a própria água recebendo a folha
com toda mansidão.
Mas Deus não é a folha
                                     a plenitude da água.
Pelo contrário, é instinto:
a suavidade da queda,
a mansidão do acolhimento.


3


Aparecem de repente diante dos olhos
De quem já olha com calma
a luz começa a se mover como um pássaro
cujo ninho foi arrebatado
o pássaro mal move as asas
e não é pássaro, mas tigre
perseguindo silhuetas deliciosas
salta o tigre e não é senão uma menina
detida na beleza de suas carnes
e a menina será menina por segundos
e o casal casal por segundos
e a cidade por segundos…
até que de repente
como se alguém acendesse as luzes
      de um cinema
aquele que olhava com calma
começa a ver uma clareza embaçada.


4


Uma sombra esperando a cada momento.
Em seu verde ergue-se a pira
onde queimam as fundações. 
Do azul é feita a máscara
com que a besta engana os guardiões do sonho.


Em cada momento uma sombra à espera
de que a luz abandone seu hábito
de iluminar os agradáveis corredores.



5


Então o homem não descansa.
Confundiu a luz com a clareza,
o repouso com o simples ato de fechar os olhos,
a paz com a passagem silenciosa da besta
que espreita seu descuido.

 

Curadoria de Floriano Martins
Tradução de Elys Regina Zils


Israel Domínguez nasceu em Placetas, Villa Clara, Cuba, em 1973. Atualmente vive em La Habana. É poeta e tradutor literário. Licenciado em Língua Inglesa. Membro da UNEAC (Unión de Artistas y Escritores de Cuba). Recebeu vários prêmios, entre eles o Calendario (1999), José Jacinto Milanés (2000), Dador (2005), La Puerta de Papel (2012, 2015) e o Premio de Poesía La Gaceta de Cuba (2016). Publicou os livros de poemas Como si la muerte hubiera sidounsueño (Ediciones Vigía, 1998), Poemas tempranos(Ediciones Aldabón, 1999), Invitaciones (Ediciones Vigía, 1999), Hojas de Cal(Ediciones Abril, 2001), Collage mientras avanza mi carrode equipaje(Ediciones Vigía, 2002), Sobre un fondo de arena(Colección Sur, 2004), Después de acompañar a William Jones(Letras Cubanas, 2007), Del ciruelo y otras observaciones (Ediciones Vigía, 2009), Viaje de regreso (Ediciones Matanzas, 2011), Los mares profundos (Ediciones La Luz, 2011), En dirección contraria (Ediciones Aldabón, 2014) e Return Trip (The Operating System, 2017). Seus poemas aparecem em antologias e revistas nacionais e internacionais. Colaborou com revisões e traduções em diferentes publicações. Traduziu para o espanhol a coletânea de poemas Del pequeño Charlie Lindbergh y otros poemas, de Margaret Randall, publicada pelas Ediciones Matanzas. Participou da expedição poética La Estrella de Cuba. Foi convidado para a Feria Internacional del Libro de Venezuela (2008, 2010). Participou do Festival Internacional de Poesía de Medellín e da Feria Internacional del Libro de Antofagasta (2016). Foi editor das Ediciones Aldabón.


Fonte: https://revistaacrobata.com.br/florianomartin/atlas-lirico-da-america-hispanica/3-poemas-de-israel-dominguez-cuba-1973/


6 comentários:

  1. Palmas amigo! Parabéns pelo grande trabalho literário. Abraço

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  2. Parabéns, Estanislau, amigo querido, pela sua bela homenagem ao ilustre Poeta Israel Domingues ! Beijos ternos

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