domingo, 5 de junho de 2016

amor e ódio



Ao dar mutuamente a palavra de honra, que não tornariam público suas relações amorosas, decidiram, em conluio plantar um jardim, para selar o pacto. Sonhavam ver seus caminhos juncados de flores e em volta o chilreio dos pássaros.
Caminhavam de mãos dadas pelos parques, sorrindo e se beijando. Sentavam-se nos bancos das praças arborizadas, observando atentamente a fonte luminosa e os passantes.
Cego de amor, ele prometeu ir até o sol e trazer acesa a tocha, para aquecer seus dias. Ela prometeu acender círios coloridos pela casa, todas as noites, para que o breu não os impedisse de ver o brilho de seus olhos. Ele garantiu que iria ao fundo mar capturar um cavalo-marinho e o colocaria em um aquário, para o sortilégio de uma felicidade a dois.
Todavia a névoa chegaria impedindo-os de vislumbrar olhares oblíquos, dissimulados, gestos de fastio.
Dos sussurros nos ouvidos percebiam-se orgasmos fingidos...
No jardim as flores murchavam.
Os círios foram se apagando um a um.
O brilho dos olhos foi substituído pela palidez.
O sorriso, outrora, espontâneo transformou-se em arremedo.
As palavras tornaram-se ásperas, insípidas.
Agora o mundo inteiro ouvia as pragas mútuas.
A honra fora substituída pela desonra.
O amor em ódio.


Esta crônica está no livro Crônica do Amor Virtual e Outros Encontros, à venda no site da editora Protexto: www.protexto.com.br

No ar o meu último lançamento. Dois livros em um: A Moça do Violoncelo (contos de mistério) - Estrelas (poesias). Aos interessados, façam contato.


LIVRO, UM PRESENTE INTELIGENTE!!!

19 comentários:

  1. A Literatura diz que é. A vida mostra que não. Quando o desamor bate à porta, nenhum gesto faz lembrar o amor vivido.A paixão acaba, o sentimento de posse também. O amor/paixão se transforma em outros sentimentos tão importantes quanto ele para o convívio humano fraterno e terno, entre pessoas amorosas e termas também. GOSTEI de rever e comentar aqui. Obrigada!

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  2. Grato pela presença e pelas palavras generosas.

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  3. Não acredito que transforma o amor em ódio, mais às vezes vem até nós momentos de indignações sobre algo que te aflige,que não está em ti pra resolver, pois nós não temos o poder de revelar mistérios da vida.O tempo é Senhor da razão e com o passar do tempo entenderemos se assim nos permitir em aceitar ou não!Abraço!

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    1. Obrigado pela leitura e pelo comentário, Leni. Volte sempre. Abraço.

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  4. Gostei muito de ler esta sua crônica. Um amor vivido intensamente e verdadeiro creio que não se transforma em ódio a menor que tenha sido simplesmente uma paixão mas mesmo assim acho forte a palavra ódio. Com apreço,

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    1. Obrigado pela presença generosa, Beki. Seja sempre bem-vinda. Abraço.

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  5. Caro Amigo e Escritor J Estanisalau Filho: Amor e Ódio são filhos duma mesma Idéia. Essa narrativa é de uma clarividência absurda! Uma compreensão humana, que é a base toda criação artística. Resumindo, fantástico, beijos da Luiza De Marillac Bessa Luna Michel

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  6. GOSTEI DEMAIS, ALGUÉM MACHUCOU ESTE AMOR, QUE ERA BELO E SE ESFRIOU...E ISTO ACONTECE SEMPRE, QUANDO ALGUÉM QUEBRA A MAGIA DE UM GRANDE AMOR.

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    1. Do amor ao ódio, um pulo, ou um tapa. Grato pela presença, Norma. Abraço.

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  7. Seria muito bom que não fizessem parte da mesma moeda. Que em hipótese alguma o amor se tornasse ódio ou desamor. Que a paixão não morresse. Que a amizade florescesse entre corações que já se amaram e se quiseram tanto. Uma ótima crônica, Estanislau. Gostei muito do tema. Parabéns!

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  8. O amor é um sentimento muito dependente, ao contrário do que se costuma dizer, que é incondicional. Nosso sententimento pode mudar em relação à mesma pessoa, porque são os nossos processos mentais que nos fazem ver e sentir o outro. Mas o ódio é muito próximo do amor. Amamos o que nos faz feliz, porque no fundo amamos a nós mesmos.

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  9. Obrigado pela atenção e pelas palavras generosas. Volte sempre. Abraço.

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  10. Muito bom, excelente, caro amigo...meu abraço....ansilgus.

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    1. Obrigado pela gentil visita. Seja sempre bem-vindo, Antônio. Abraço.

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  11. O amor é sempre a melhor parte do ódio. Dois sentimentos tão intensos e tão singulares. É possível perceber neste texto a singularidade de ambos. Para que o amor se apague basta permitir a chegada, mal resolvida, da primeira névoa. Parabéns... Lindo texto.
    Cissa Carvalho.

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