domingo, 12 de novembro de 2017

O Amor





Um dia, quem sabe,
ela, que também gostava de bichos,
apareça
numa alameda do zoo,
sorridente,
tal como agora está
no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela,
que, por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século
ultrapassará o exame
de mil nadas,
que dilaceravam o coração.
Então,
de todo amor não terminado
seremos pagos
em inumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me,
nem que seja só porque te esperava
como um poeta,
repelindo o absurdo quotidiano!
Ressuscita-me,
nem que seja só por isso!
Ressuscita-me!
Quero viver até o fim o que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravo
de casamentos,
concupiscência,
salários.
Para que, maldizendo os leitos,
saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia,
que o sofrimento degrada,
não vos seja chorado, mendigado.
E que, ao primeiro apelo:
- Camaradas!
Atenta se volte a terra inteira.
Para viver
livre dos nichos das casas.
Para que doravante
a família seja
o pai,
pelo menos o Universo,
a mãe,
pelo menos a Terra.



                                                    imagem: www.jornalviladerei.com



Vladimir Maiakovski (1893-1930)



O poema foi adaptado por Caetano Veloso e outro cara, e cantado também por Gal Costa. Não tenho certeza da tradução (que vi há muito tempo). Segundo um site, vejo agora, Maiacovski fala da dificuldade de traduzir seus versos. Acho que Caetano suavizou a força subversiva do poema.

Fonte: https://jornalggn.com.br/noticia/o-amor-de-vladimir-maiakovski

4 comentários:

  1. Uau que primor! Amei o poema, a imagem...como sempre escolhe o melhor para presentear seus leitores aqui em seu Blog.Parabens!

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  2. Parabéns. Sua cultura literária e musical é admirável. Muito obrigado pelo poema e seus comentários. Prossiga nos alimentando com o que há de melhor.

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