segunda-feira, 12 de junho de 2023

O egoísmo de cada um. Qual é o teu?




Sei que gostarias de ouvir palavras que elevassem a autoestima; palavras de alegrias e belezas, ou ainda, palavras de amor. Acontece que estou triste. E se pensas que estou triste por causa das guerras; da fome no mundo; da exploração capitalista ou por causa de muitos jovens afundados nas drogas, adianto que estás enganada.

    Nem penses que estou triste por conta da natureza agredida. Danem-se os mendigos, que viram tochas humanas, por incendiárias mãos desumanas. Afinal, o que eu tenho a ver com isso?

   Não me digas que a saúde do povo vai mal; que faltam vagas nos hospitais. Arre! estou farto de ouvir que o filho matou o pai; que o pai estuprou a filha; que a violência é geral. Por favor, me poupes notícias de corrupção.

    Por favor, não me lembre dos cães e gatos maltratados; da exploração sexual e do trabalho escravo e do tráfico de órgãos humanos. Nem tente me convencer, que tenho de defender os recursos hídricos; a flora e a fauna. Que se lasquem!

    Estou triste por um único motivo: egoísmo. É isso mesmo. Estou triste porque não tenho um carro zero; um iate; por não poder ter ao meu lado as mais belas mulheres, bebidas caras e não poder conhecer as oito maravilhas do mundo. Eu quero é ter. Do bom e do melhor. A mais fina seda; os mais belos cristais; ouro e diamante. Cartões de créditos e débitos, com muito dinheiro no banco. Aliás, eu queria ser dono do Bradesco; sócio da Microsoft e único dono do Facebook. Queria a Guanabara toda pra mim. Lá eu receberia quem eu desejasse.

    Tenho ou não motivos de estar triste?

   Ah o egoísmo! Que coisa terrível no coração e mente de homens ocos. Que tristeza!






J Estanislau Filho



Homens ocos

Nós somos os homens ocos
Os homens estofados
Uns aos outros apoiados
Crânio recheado de palha
Ai de nós!
Nossas vozes secas
Frouxas sem sentido
São vento em capim seco
Pés de rato pisando
Em nossa adega seca
 
Figura sem forma
Sombra desbotada,
Força entorpecida, gesto sem expressão
 

Assim é que o mundo acaba:

não com um estrondo, mas com um gemido


TS Eliot





6 comentários:

  1. Reflexivo texto! Beijos ternos

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  2. Luiza De Marillac Michel. A tristeza é um traço do seu caráter ilibado querido parceiro das letras J Estanislau Filho. Lindíssimo texto. Meus parabéns e um abraço com carinho de sempre

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