Encontrou-o no quarto, um tanto quanto encolhido na cama espaçosa, olhando aleatoriamente a televisão, com aquele tipo de olhar que dá a impressão de nada ver. O barulho da porta fez com que virasse levemente a cabeça e observasse a sua entrada. Um sorriso meio sem vontade apontou no rosto emagrecido.
– Vim te ver, meu tio.
O velhote acomodou-se nos travesseiros, entre desconfiado e surpreso. Ele, propriamente, não sabia o que dizer, a não ser fazer umas perguntas sobre a situação do tio, que terminara sozinho, naquela clínica acanhada. Lembrava-se bem da época em que ele arrotava grandeza. Lembrava-se bem do desdém que demonstrava em relação aos que não considerava vencedores, como ele.
– Estão te tratando bem aqui?
Uma das mãos levantou-se num gesto vago, indefinido, os olhos meio que se fecharam, depois abriram-se lentamente. Aquele parente sempre o desconcertava, fosse no sucesso, fosse na decadência. Sim, era assim que o via agora, triste e esquecido. Explicou-lhe que ia viajar em seguida, de volta para casa. Saiu pensativo, estaria ele captando algo, naquela altura dos acontecimentos?
Encontrou a dois passos da clínica uma casa de cestas de presente, cestas caprichosamente adornadas, com conteúdos apetitosos: frutas, doces, mimos diversos. Comprou uma e pediu que entregassem no quarto do tio. Aquela iniciativa atenuou o desconforto que experimentava, enquanto se distanciava da cena que acabava de vivenciar.
Beatriz Mecking
Beatriz Mecking é pelotense, mestra em Teoria literária pela PUC-RS. Aposentou-se como professora do Departamento de Letras da UFPel. Tem quatro livros publicados: Tempo de Renascer (contos, 1997), Histórias do Cotidiano (contos, 2001), Os passos de Júlia (novela, 2008) e Curtas Histórias (minicontos, 2014).
Pertence a várias academias de Letras e participa do Recanto das Letras (Béti Mecking).
Béti, tão bem retratou o quanto não vale a pena a riqueza, o orgulho, por mais que se tenha, é preciso manter a ternura e humildade, chega um dia em que somos todos igualmente frágeis. É preciso plantar o amor, para poder colher os seus frutos. Como é bom na velhice, ou na enfermidade, estarmos cercados pelo amor. Daqueles que cativamos, independente de laço sanguíneo. Parabéns, poetisa, e parabéns ao meu amigo Estanislau.
ResponderExcluirMuito obrigada, Liduina!
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ResponderExcluirUm texto muito realista.
ResponderExcluirSim, nem sempre a vida é como queremos. Um abraço.
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ExcluirBom dia, um texto,maravilhosos de se ler, adorei.
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ExcluirQue bom, Menduina! Um abraço.
ExcluirUm retrato triste, de um fim de vida de tantos que se arvoram o máximo e acabam no ostracismo
ResponderExcluirRealmente, Arnaldo, a vida dá voltas. Um abraço.
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