quinta-feira, 30 de maio de 2024

Esquerda que não é esquerda





Por Rudá Ricci*


Recentemente, alguns intelectuais sugeriram a divisão da esquerda brasileira em dois blocos: a esquerda institucional e a esquerda social. Esta é a proposição de Carlos Vainer, da UFRJ.

A divisão teria ocorrido mais nitidamente neste século 21 e, possivelmente, tem relação com o advento do lulismo como fiel da estrutura e dinâmica de poder nesta primeira quadra do século.

A esquerda social seria aquela vinculada e orientada por movimentos sociais, sindicatos e organismos ou fóruns da sociedade civil. Seus membros podem estar filiados a um partido, mas privilegiam pautas e planos de ação de suas organizações sociais.

Por sua vez, seu foco é a luta social, a ampliação dos direitos coletivos e o aumento do poder político da sua base social.

A disputa política que travam é mais aguda porque enfrentam diretamente a ordem social, embora raramente se posicionem como organizações revolucionárias.

Já a esquerda institucional é aquela que privilegia o campo institucional e sua pauta gravita ao redor de conquistas eleitorais.

Assim, se a esquerda social se orienta por práticas de confronto e conquista de direitos, a esquerda institucional se pauta pelo calendário eleitoral e acordos para manutenção dos seus mandatos.

Na esquerda social, as alianças são mais estratégicas, podendo ocorrer alguma aliança tática como, por exemplo, acordos com parlamentares para emplacarem um projeto de lei.

Já na esquerda institucional, as alianças são sempre muito amplas, muitas vezes descaracterizando até mesmo a identidade de esquerda justamente porque procuram criar bases para a governabilidade de seus mandatos, evitando ao máximo solavancos e surpresas.

Ocorre que, nos últimos anos, a esquerda institucional se encontra mais e mais nas cordas. O que a obriga a ceder mais.

O cenário mais desfavorável ocorre porque agora a maior oposição à suas pretensões não vêm de uma direita dócil, mas de uma extrema-direita mobilizadora e popular.

As ruas, portanto, passaram a ser campo de disputa, assim como corações e mentes da base popular.

Há, portanto, uma esquerda que vai se desgarrando de sua identidade original e se tornando cada vez mais moldada pelas amplas alianças e acordos que minam as agendas e pautas originais.

Esta discussão não é nova no campo da esquerda.

Lênin, em seu artigo “Mais vale pouco e bom”, de 2 de março de 1923 (ele faleceu em janeiro de 1924) já citava os erros na estruturação do aparelho de Estado.

Sem dar nome aos bois, sugere que “no que se refere ao problema do aparelho estatal, devemos concluir da experiência anterior que seria melhor ir mais devagar” e conclui “é preciso, enfim, que tudo isso mude”.

Talvez, o texto mais cirúrgico de crítica às mudanças de projeto e conceito que a máquina soviética gerou é o livro de Charles Bettelheim, “A Luta de Classes na URSS”.

Enfim, há farta literatura de esquerda a respeito desses atalhos da esquerda institucionalizada que vai se afastando da sua origem até se perder num mar revolto.

E é aqui que gostaria de lançar uma reflexão: esta esquerda institucionalizada continua esquerda? A pergunta não é meramente retórica.

A questão é se o centro de decisão desse segmento não seria nem mesmo o partido, mas a própria lógica da burocracia estatal e a base de amplos acordos.

Se esta hipótese tem sentido, estaríamos presenciando a formação de um segmento social ou político autóctone, autorreferente, que não se vincula mais à base social nenhuma, nem fora, nem à base partidária.

Ora, tal orientação ensimesmada criaria uma série de laços de lealdade de caráter grupal que se esforçaria para interditar divergências ou debate público de projetos e teses.

Não sei se o leitor desta provocação percebeu, mas minha sugestão é que tal esquerda institucional estaria criando uma elite autolegitimada pela conquista eleitoral, como provedora de uma sabedoria política.

Na tradição da literatura de esquerda, teria certo paralelo com o conceito de “aristocracia operária”, aquele segmento de operários altamente qualificados que recebem salários acima da média geral da classe trabalhador e que gerava uma identidade política e social muito peculiar, menos afeta à transformação política e social.

O termo foi criado por Engels em um artigo publicado nas revistas Commonweal, da Inglaterra, e Die Neue Zeit, da Alemanha, no ano de 1885 e, décadas depois, Lênin o retomou para analisar a consequência política que seria a separação deste segmento das grandes massas do proletariado.

Minha impressão é que estamos vivenciando no país a cristalização deste segmento social e político próprio que é a esquerda institucional que vai se distanciando tanto da sua origem que nem mesmo se sabe se ainda é esquerda.



*Rudá Ricci é sociólogo, trabalha com educação e gestão participativa. Preside o Instituto Cultiva, em BH.

Fonte: https://www.viomundo.com.br/politica/ruda-ricci-a-esquerda-que-nao-e-esquerda.html

quarta-feira, 29 de maio de 2024

haicais e os meses




tudo que faço
de janeiro a janeiro
só faço inteiro


tudo que faço
em fevereiro e março
é da tua conta







abril e maio
ah nem mesmo um raio
me tira do sério


seja como for
quando chega junho e julho
nada de horror





de agosto a agosto
não interessa o que faço
faço com gosto






setembro e outubro
meses em que descubro
o bom que virá


chuva torrente
em novembro e dezembro
é tudo que lembro


e sem dilemas
em todos os meses eu
escrevo poemas





J Estanislau Filho

crédito das imagens: acervo do autor

domingo, 26 de maio de 2024

O Camaleão (conto de Antôn Tchecov)

 

Imagem: Google



O inspetor de polícia Ochumelov (*), vestido em seu capote novo, andava pelo mercado carregando um pacote nas mãos.

Na mesma direção do inspetor, caminhava pelo mercado um policial ruivo, carregando uma bacia cheia até a borda com frutas silvestres confiscadas.

O mercado estava todo em silêncio… Parecia não haver ali viva alma… Com suas portas abertas, pequenas lojinhas e tavernas quedavam pateticamente vazias, tal qual bocas abertas e famintas. Lá não estavam sequer os usuais pedintes, rotineiramente postados à entrada das lojas.

Subitamente o som de uma voz chegou aos ouvidos de Ochumelov...

- Quer dizer que você ia morder, não ia, seu vira-latas ordinário! - Não deixe ele ir embora homem! - Morder não é permitido atualmente. – Segure-o!

Um ganido se fez ouvir.

Ochumelov lançou o olhar na direção do som e isso foi o que ele viu: um cão correndo, pisando apenas em três patas, perseguido por um homem vestido com uma camisa estampada engomada e um colete desabotoado. O homem e o cão estavam saindo da marcenaria de Pichugin. O homem corria pendido para frente, até que conseguiu agarrar o cão por uma das patas traseiras.

Um outro ganido foi ouvido, seguido de mais um grito.

- Não deixem ele fugir!

Caras sonolentas apareceram de dentro das lojas e, subitamente, uma pequena multidão, como se saída de dentro da terra, estava aglomerada na porta da marcenaria.

- Parece uma situação de comoção pública, excelência! – Assim falou o policial ruivo ao inspetor Ochumelov.

Ochumelov virou-se no sentido contrário ao que estava caminhando, dirigindo-se ao local da aglomeração. Exatamente na porta da loja ele viu o indivíduo vestido com o colete desabotoado, mão direita levantada, sangrando, enquanto mostrava o dedo ferido aos circunstantes.

- Você vai levar seu demônio!

Tais palavras pareciam escritas em seu semblante, no limite do descontrole, enquanto mostrava o dedo como se fosse uma bandeira de vitória.

O inspetor Ochumelov verificou que o indivíduo era Khryukin (**), o ferreiro.

No meio da pequena multidão, apoiado nas patas dianteiras e sentado nas posteriores, o acusado, corpo inteiro tremendo, filhote branco da raça “borzoi”, com um focinho pontudo e uma mancha amarela nas costas. Os olhos lacrimejantes mostravam uma expressão de sofrimento e horror.

-O que isso tudo quer dizer?

O inspetor Ochumelov fez a indagação, ao mesmo tempo que empurrava com os ombros as pessoas da multidão, abrindo caminho até o centro da aglomeração.

- O que você está fazendo? - Qual a razão desse seu dedo para cima? - - Quem gritou?

- Eu estava caminhando, excelência, quieto como um cordeiro.

Assim começou a responder Khryukin, enquanto tossia com a mão na boca.

- Tinha que falar sobre uma madeira, aqui com Mitri Mitrich e, subitamente, sem nenhuma razão aparente, aquela coisa mordeu meu dedo.

- Por favor, eu sou um trabalhador… - Meu ofício é muito elaborado. - Faça com que eles paguem uma compensação. - Talvez eu não consiga sequer mexer esse dedo por mais de uma semana. - Não está escrito em lei nenhuma, excelência, que nós tenhamos que aturar animais ferozes. - Se todos os animais do mundo começarem a morder assim, a vida não vai mais valer a pena ser vivida…”

- Hum… bem, bem, respondeu Ochumelov, com um ar de autoridade, pigarreando e franzindo as sobrancelhas. - Bem, bem… quem é o dono do cão? - Eu não vou deixar isso ficar assim. - Vou ensinar a essa gente o que acontece se deixarem seus cães soltos! - Já está na hora de fazer alguma coisa contra esses cavalheiros que não estão dispostos a obedecer aos regulamentos! - Ele vai levar uma multa tamanha, esse indisciplinado... - E vou ensiná-lo acerca do que acontece quando cães e gado, de modo geral, são deixados à solta! - Vou ensiná-lo como é!

- Eldirin, prosseguiu Ochumelov, virando-se para o policial, descubra quem é o dono do cão e redija uma ocorrência. - E o cão deve ser exterminado sem demora. Ele provavelmente deve estar louco… - Afinal, de quem é esse animal, eu pergunto?”

- Eu acho que ele pertence ao General Zhigalov, disse uma voz de dentro da multidão.
- General Zhigalov! Hum. - Eldirin, me ajude a tirar esse meu casaco… Ah, como está quente! Vai chover com certeza...

O inspetor voltou-se para Khryukin.

- Uma coisa que eu não entendi ainda foi como ele mordeu você? - Como ele conseguiu chegar até o seu dedo? - Um cão tão pequeno e você um sujeito tão grande e robusto! - Você deve ter é arranhado esse seu dedo com um prego e imaginado um jeito de fazer dinheiro com isso. - Eu conheço bem vocês, um bando de demônios!

- Ele queimou a ponta do focinho do cachorro com um cigarro aceso excelência, só para fazer graça, e aí o animal mordeu o dedo dele, ninguém aqui é bobo!

Esse Khryukin está sempre criando problemas, excelência!

- Nenhuma dessas suas mentiras ocorreu, seu cego! - Você não viu nada disso acontecendo, qual a razão de você estar mentindo? - Sua excelência é um cavalheiro inteligente e sabe quem está mentindo e quem está dizendo a verdade. - Que o juiz de paz me julgue se eu estiver mentindo! - É isso que diz a lei… Todos os homens agora são iguais. Eu mesmo tenho um irmão na polícia, se você quiser saber…

- Não discuta! - Não, esse não é o cão do general, observou o policial com voz grave. - O general não tem um cão assim, todos os cães dele são “pointers”.

- Você tem certeza disso?

- Absolutamente honorável Inspetor.

- E você está certo! - Os cães do general são animais caros, de raça pura, e esse aqui, olhe só para ele... Feio, magro e vira-latas! - Por que razão alguém ficaria com um cão desses? - Você está louco? - Se um cão como esse estivesse em Moscou ou São Petersburgo, sabe o que aconteceria com ele? - Ninguém se preocuparia com a lei e se desfaria dele em um minuto. - Você é uma vítima Khryukin, e não deve deixar as coisas ficarem por isso mesmo. - Ele precisa levar uma lição! A hora é essa…

- Talvez, com tudo isso, ele seja mesmo do General, disse o policial pensando alto.

- Não se pode ter certeza apenas olhando o cão, vi um desse tipo no jardim dele um dia desses.

- É claro que pertence ao general, disse uma voz vinda da multidão.

- Hum! - Eldirin, me ajude com meu casaco… Estou sentindo uma lufada de vento. Estou arrepiado. - Leve esse cão até o pessoal do general e pergunte a eles lá. Diga que eu encontrei o animal e mandei que você o levasse. E diga também a eles que não deixem que esse animal volte para a rua. Talvez seja um cão caro e possa se estragar, caso todos os brutos acharem de queimá-lo com um cigarro no focinho. Um cão é uma criatura delicada. - E você, abaixe essa mão seu idiota! - Pare de mostrar a todo mundo esse seu dedo. - Foi por sua própria culpa que isso aconteceu…

- Ali está vindo o cozinheiro do general, vamos perguntar a ele… - Ei, você aí, Prokhor! - Venha até aqui, meu velho! De uma olhada nesse cão e veja se ele é de vocês...

- Qual é a próxima lorota?! - Nós nunca tivemos um cão como esse em toda nossa vida!
- Não precisa investigar mais nada, disse o inspetor Ochumelov. - Ele é um cão vadio. - Para que ficar aqui falando sobre isso. - Você foi avisado de que é um cão vadio, então um cão vadio ele é. - Destrua esse animal e terminemos com o assunto.

- Ele não é nosso, prosseguiu Prokhor, mas ele pertence ao irmão do general que chegou aqui faz pouco tempo. - Nosso General não tem nenhum interesse em borzois. - Tal já não acontece com o irmão dele, que gosta muito dessa raça…

- O que? - o irmão do general veio para cá? - Vladimir Ivanich? Assim exclamou Ochumelov, com um sorriso de êxtase espalhado pelo rosto. - Extraordinário! - E eu que não sabia! - Chegou para ficar?!

-É, chegou para ficar.

- Extraordinário! - Eu queria mesmo ver o irmão do general! - E olhe que eu nem sabia disso. - Então o cachorro é dele? - Fico feliz! - Pegue-o… - É um ótimo cachorrinho!

- Avance no dedo dele cachorrinho... Ha-ha-ha! - Venha agora, não trema! Gr-gr… - O danadinho está com raiva… - Que filhotinho!

Prokhor chamou o cão e foi embora da marcenaria com ele. A pequena multidão começou a rir de Khryukin.

- Eu ainda te pego, ameaçou Ochumelov a Khryukin e, ajeitando o casaco, continuou seu caminho pelo mercado...



(Traduzido e adaptado por George Felipe de Lima Dantas -- 1999)



(*) da palavra russa ochumely, enlouquecido

(**) da expressão russa khryu-khryu, grunhido de porco


sexta-feira, 24 de maio de 2024

Cinco haicais

Imagem: Google


a chuva veio
quando ela bem no meio
decidiu partir


água revolta
socorro só acontece
sobre muitas costas


Imagem: Google





cafezal pariu
lindas flores branquinhas
só você não viu


Imagem: Google



quem atravessa
na faixa de pedestre
morrer não tem pressa


Imagem: Google



gato escaldado
todo desconfiado
foge do rato

Imagem: Google


sábado, 18 de maio de 2024

Quando a água baixar



Imagem: Google

Quando a água baixar, um mundo de objetos submersos estarão expostos à visão de quem quiser enxergar. Reflexos de um sistema, cuja lógica, só funciona à base do consumo, faturado, boletado. A enchente mostrou um lado; a desenchente o outro. Dois lados de uma mesma moeda.

     Os negacionistas de sempre continuarão negando o óbvio,  apresentando, não soluções, mas o aprofundamento de desastres sociais e ambientais. Continuarão, por mais absurdo que pareça, afirmando que a culpa é das árvores; que não há mudança climática, nem aquecimento global; que a culpa é do Estado; que o Estado Mínimo é o Máximo; dirão, de forma simplista, agradável a certos ou ouvidos, que o sistema privado salva vidas e o sistema público é atraso. Em suas narrativas falsas, vão dizer e espalhar em suas redes de que toda e qualquer tragédia é culpa da esquerda, e do socialismo.

     Os negacionistas se comportam como as avestruzes, que enfiam as cabeças nos buracos, como estratégia  de defesa. Suas narrativas sofistas, enganam muitas pessoas, mas chega uma hora que os argumentos  esgotam. Não se engana muitas pessoas por muito tempo.

     A direita, em maior grau, a extrema-direita se esconde numa tese de que não são ideológicos, quando na verdade são extremamente neoliberais fascistas.   



O Estado presente na tragédia gaúcha: imagem Google

J Estanislau Filho

quinta-feira, 16 de maio de 2024

Gente Horrorosa



Imagem: national-geographic

Tive um diálogo tenso com os meus  botões sobre essa gente horrorosa, que espalha maldades e fake news nas redes sociais. Gente escrota, que destrói reputações de autoridades e instituições sérias, na implantação de projetos sociais, para minimizar os sofrimentos de vulneráveis.  Meus botões sugeriram não baixar o nível, para medir bem as palavras.  Perguntei ainda, qual o melhor título para a crônica. Esgotadas as sugestões, optei por 'gente horrorosa'.  A opção 'ratos que saíram dos esgotos' foi descartada, por concluirmos, que apesar de serem animais repugnantes, eles seguem instintos naturais.  Essa "gente" má age de caso pensado, consciente. Gente ruim mesmo, agentes do mal, cuja maldade é tamanha, que são capazes de se rotularem do bem. De Deus, Pátria e Família. Gente sem alma, desalmados, desgraçados, canalhas. preconceituosos, nojentos. A serviço do que há de pior num ser humano. Desumanos. Usam a tecnologia, para disseminar o ódio. Mentiras espalhadas em escala empresarial, via robôs. 


Imagem: Google

     Numa busca rápida no Google, ficamos sabendo, que "o Instituto Conservador-Liberal, fundado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como entidade que promove conteúdos LGBTfóbicos, misógimos e de fudamentalismo religioso (...) o Partido Liberal como propagador de discursos LGBTfóbicos e ódio contra as mulheres" (fonte: apublica.org). O UOL informa que de 1 a cada 5 grandes disseminadores de fake news é político; metade do é do PL.

     Não sossegam em suas mentiras,  nem em momentos de tragédias. Foi assim, durante a pandemia da COVID; é assim na tragédia do Rio Grande do Sul. Gente nojenta, sem empatia, sem compaixão. Além das mentiras, pedem PIX para engordar suas contas bancárias. Gente imunda, de corações sujos de sangue e de lama.

     Gente horrorosa, nas redes, ditas sociais.


Imagem: Brasil de Fato


J Estanislau Filho


sábado, 11 de maio de 2024

O TEMPO FECHOU NO RIO GRANDE DO SUL

Por J Estanislau Filho


Imagem: Google


O desmatamento e as queimadas não são  fatos novos, sempre existiram.  Começou com a descoberta do fogo. Tempos atrás pequenas áreas eram abertas para o plantio, construção de cabanas. Em seguida estas áreas foram ampliadas para a construção de casas, as sedes das fazendas e casas para os agregados,  currais e o plantio de capim, para o gado e produção agrícola, entre outras demandas. As ferramentas utilizadas eram foices, machados, gurpiões, serrotes. 

     Depois vieram as motosserras e a tecnologia, que facilita o trabalho é a mesma que aumenta a devastação. Florestas inteiras vieram abaixo numa velocidade feroz. 

     Assim como o machado deu lugar à motosserra, máquinas enormes cortam troncos e os colocam em caminhões, rumo às serrarias. Camas, armários, cadeiras, bancos e até obras de arte são feitas para atender ao mercado consumidor.  No município de Prados, Minas Gerais, troncos são esculpidos e viram  leões, tigres, entre outras espécies de nossa fauna.

     O que isso tem a ver com as enchentes do Rio Grande? 

     A lógica do sistema capitalista-neoliberal é o lucro. O sistema vai engolindo tudo: madeiras, minérios, água,  entre outros recursos naturais. Nós, consumidores, queremos mais e a indústria vende mais. O sistema avança, para obter mais lucro, em constante expansão. A natureza não dá conta e reage. 

     Morros e encostas ficam sem a sua proteção natural. E dão seus lugares às casas, viadutos, estradas, pontes. A mata ciliar, que protege o curso de rios e córregos é agredida. A legislação ambiental é alterada, para a boiada passar.

     Não é apenas no Rio Grande do Sul, que  eventos climáticos produzem estragos. . Quem não se lembra da lama e dos mortos de Brumadinho?  


Imagem: Pragmatismo Político

VALE


A Vale
outrora do Rio Doce
era nossa.
Hoje só vale
promessa nos comerciais.
Vale,
vala comum
de lucros colossais.
Vale,
vela volátil
valha-me Deus,
muitas velas para poucos uns
breu e bruma para muitos alguns.
Vale,
verso versátil...
não vale a pena verso
para vale adverso
valeria se vale fosse
do Rio Doce.
Fosse nossa
não seria vale de lágrimas.
Vale cada vez mais
verde covarde
amarelo sangue_
suga os recursos naturais.

Imagem: Google


     Ecoam em nossos ouvidos o rompimento da barragem de Mariana.  Mal tivemos tempo de nos recuperarmos das enchentes de Petrópolis,  nos deparamos com a tragédia  no Rio Grande do Sul.  Na realidade, não fomos surpreendidos. A natureza vem dando sinais.

     O que fazer? 


Imagem: Google


sábado, 4 de maio de 2024

era uma vez...



Imagem: gov.br




hegemonia


a disputa ideal
          por hegemonia 
é a de quem
          busca harmonia 
e paz social 


para um bom começo 
         respeito e apreço
expressam valores morais 
não precisa pôr preço
o amor não é mercadoria 
que se vende em comerciais 


lutar por uma hegemonia 
onde ninguém tenha menos 
ninguém tenha mais 


utopia

a utopia é uma 
   luz acesa
na caminhada escura 
   de quem procura
realizar sonhos 
    sejam eles 
de qualquer tamanho 
    tem como norte 
          A VIDA 
  jamais a morte 


moedeiros falsos


a lógica distópica
é inverter valores
           o mal é o bem 
ódios e rancores
            ((amores aquém)
            justiça no encalço
alcança moedeiros falsos






fake news

se sua índole é mentir mente
mas esteja consciente 
que espalhar mentiras 
tem retorno 
lugar de mentiroso
é no inferno



democracia x liberdade de expressão


A Democracia não tolhe a Liberdade de Expressão
mas o uso da Liberdade de Expressão como escudo
para destruir a Democracia
leva à destruição da Liberdade de Expressão! 


quem cala...


quem cala, consente,
diz o ditado…
será mesmo assim?
ou o interlocutor está ausente, 
talvez distraído 
com as maravilhosas nuvens, enfim,
não quer polemizar,
prefere contemplar 
as flores do jardim!


Imagem: Google



clubes de tiros


clube de sócios 
           cujo ofício 
       é o exercício
    de treinar tiros
em alvos escolhidos 

              para uns lazer
para outros o prazer 
de eliminar adversários 

quantos tiros são necessários 
                para formar 
um exército de mercenários? 


negacionismo


você pode negar 
o que quiser 
(problema seu)
pode negar Deus
a ciência e tudo mais 
para o seu negacionismo 
não conte comigo jamais


fogo amigo


amigo do fogo
     ou do fogo amigo 
          faz parte do jogo 
     apoiar o inimigo 
   (boas intenções no meio)
mas de boas intenções 
      o inferno está cheio


 
Imagem: Uol Educação




Terra plana


se a Terra fosse plana 
seus planos dariam certo 
a liberdade não seria plena 
(o poema incompleto)
governar por decreto
seria a nova onda
desse ser abjeto 
como a Terra é redonda
a mentira bateu no teto


distopia


xinga os adversários
de tudo que é possível
ele próprio um larápio 
(de joias e outras tretas)
distopia desse ser inelegível 


sadismo


no auge da pandemia 
                     da covid-19
a falta de empatia 
daquele que não se comove 
                 com a dor alheia 
             teve a sádica idéia
de receitar cloroquina 
        ((ele que nem médico é)
em vez de comprar a vacina 
         para salvar vidas



preconceito


preconceito que se espalha 
           nas redes sociais 
           corta feito navalha 
em vidas reais 

se se diz que um afrodescendente 
            é pesado em arroubas 
rouba dele a dignidade 
            independentemente
de quem diz tal obscenidade 
(mais grave se for um presidente)
            no mínimo precisa ser
ressocializado


limitação cognitiva


para desqualificar uma 
ideia bem elaborada 
o extremista de direita 
(de cognição limitada)
a nomeia de narrativa 
narrativa esquerdaopata



policianos



o poder das milícias
           seria menor sem o
suporte das polícias 
           o poder dos milicianos
não cresceu por ouvir 
           chicos e caetanos
nem por causa 
           do funk da periferia
ou dos desfiles de carnaval
          cresce quando o governo 
dá aval assim como deu 
           ao garimpo ilegal



um homem mau


uma vez…

um homem tipo lobo mau
           (cara de pau)
chapeuzinho vermelho 
era sua fantasia sensual
encontrou meio por acaso
inocentes meninas
pobres venezuelanas
o homem mau conta 
ter pintado um clima 
entrou na casa viu camas…



palavrões


na boca seja lá 
     de quem for 
palavrão é um horror:
imbecil canalha e bosta
  da boca de um presidente 
               evidente 
   tem gente que gosta:
   otário merda foder
        de sua boca jorra 
        palavrão de doer
acabou porra!



golpistas


a pista para 
desmascarar golpistas 
não vem da pista de dança 
vem de onde pende a balança 
da acumulação de capital 
um golpista não age sozinho 
                          forma uma aliança
com empresários banqueiros 
                 e grileiros 
é um ninho de serpentes gananciosas


Imagem: blog do Carlos Brito


8/01/23


na América do Norte 
        se escondeu 
     um anjo da  morte…

e enquanto no conforto 
    do quarto em que dormia
esperava o golpe contra a democracia 
              que aconteceria 
      em 8 de janeiro de 23
               que dessa vez
              não se consumou …

como hoje se sabe 
             tudo foi pago
   com o dinheiro do povo 
          num voo da FAB 




Imagem: Poder 360




8 de janeiro


a fuga do cabrunco 
          fora planejada 
          para a manada
acampada nos quartéis 
   Invadir o ambiente
     dos três poderes
e promover o quebra-quebra
      munida de revólveres
      de paus e pedras
    num golpe tabajara 
   que acabou na vara da justiça…

               presos os arruaceiros
golpistas de 8 de janeiro 



tornozeleira


ao ver um verde-amarelo 
fica vermelho de vergonha
mira o seu tornozelo
(o cidadão não se acanha)
a bandeira nas costas 
é apenas uma artimanha



financiadores



quem deu suporte financeiro 
         para os arruaceiros
          ficarem acampados 
        na frente dos quartéis ?

quem deu-lhes passagens
              pagou aluguéis 
      de tendas e  banheiros 
        forneceu churrascos 
              churrasqueiros
  foram candidatos a carrascos?
      quem bancou tudo isto?
      algum verde-periquito?



era uma vez...


era uma vez 
      um homem infeliz …
ele queria compartilhar 
   infelicidade  no país 
mas para isso precisava de um plano
    que convencesse a multidão 
                de que a maldade 
era a solução…
                e foi no exército 
que ele teve ascensão 
mas foi expulso e entrou na política 
e fez carreira esse infeliz cidadão 
que desde menino 
tinha como ídolos 
Hitler e Mussolini 

era uma vez um homem 
que tinha um  plano 
de desumanidade 


J Estanislau Filho



J Estanislau Filho no Usina Liberdade no lançamento de Filhos da Terra e de Todos os dias são úteis