sábado, 20 de fevereiro de 2016

Cuidando da horta, do pomar, do jardim...




A vida pode ser vivida feliz com a beleza das coisas simples, que se apresentam cotidianamente à nossa volta. Ao perceber a presença do beija-flor dentro de casa, parando no ar durante alguns segundos como quem perscruta o ambiente, assuntando ou, quem sabe, como acreditam alguns, anunciando que em breve chegará notícia boa; vendo algo tão simples como uma flor abrindo pétalas para enfeitar o jardim e ofertar o néctar ao beija-flor intrometido e às abelhas fazendo mel. Belo e simples são os micos comendo bananas no pé de banana ou em mãos estendidas. Simples, belas e altruístas são as árvores pequenas e frondosas, a vegetação rasteira, que doa sombras, umidade e alimento em troca simplesmente de respeito e gratidão. Obrigado, obrigado, obrigado! E o que dizer, então, do solo e do subsolo, do ar e da chuva, dos rios, lagos, cachoeiras e mares, dos jardins, pomares, parques e praças?
   Estamos cercados de belezas. Para vê-las, basta-nos somente não termos cercas nos olhos e nos corações. Às vezes perdemos um tempo enorme a procura de algo belo, porém distante, quando ele se encontra próximo, debaixo do nariz, como um coração pulsando, por exemplo... Queremos a beleza das savanas africanas, das Ilhas Gregas e das Muralhas da China ou de belezas menos distantes como as águas do Caribe e as praias de Cuba. Não percebemos a beleza ao nosso redor: a Serra do Curral; a Pampulha; a Praça da Liberdade; o Parque Municipal; a Vargem das Flores; os Parques Ecológicos; as chaminés do Itaú... Quem as construiu? Ali deveria ter uma placa com seus nomes.

    Em todo lugar há beleza em profusão. É só olhar e sentir... Crianças com bocas lambuzadas de sorvete e chocolate, crianças jogando bola em campo de terra batida, adultos dialogando, música, cinema, dança e as belezas naturais, que não exigem bilhetes de entrada. Em Esmeraldas tem pequis e outras plantas do cerrado, tem aves, tem areia, tem artesanato; em Betim corre o Rio Betim, tem chácaras, jardins; em Ibirité tem hortas e hortaliças, tem flores, tem Dolores. Em Sete Lagoas tem lagoas, talvez nem todas as sete lagoas... Pode ter mais até, tem Odete, tem Donizete. Nova Lima está protegida por montanhas e nascentes belas. Raposos, raposa e lobo-guará no Caraça, cães e gatos. Em Rio Manso a vida segue mansa. Há beleza em Itaúna, em Divinópolis, em Vespasiano, Sabará, Ouro Preto, Mariana. Temos beleza mais próxima ainda: uma casa, um jardim e uma horta.
Uma boniteza cavoucar a terra, preparar canteiros, semear, transplantar, colher, contemplar. Cuidar como quem cuida de uma creche. Diariamente, afetuosamente. Irrigando e chegando terra e estrume nos pezinhos. Agradecidas elas se desenvolvem e se transformam em belezas adultas. Festa para os olhos e para estômago.
   Puxa vida! Isto é de uma boniteza de partir o coração, de se banhar de lágrimas. Agora, contemplar esta beleza não significa deixar de olhar que tem gente impedida de ver a luz. Lógico que para ver a luz não basta ter visão, alguns cegos vêem mais do que alguns de vistas boas. Dá até para fazer uma comparação com um pensamento do Mário Quintana, que diz, creio, assim: “O verdadeiro analfabeto é o que sabe lê e não lê”. Então a gente não deve tapar o sol com uma peneira olhando em uma só direção. Olhar para onde não tem vegetação, não tem água, não tem jardim, não tem horta, não tem alimentação. E assim, ó, de gente necessitada. Às vezes este gesto não faz bem aos olhos, a gente se sente diminuído por fazer parte da espécie humana, mas desperta o coração para as injustiças. Por que não podemos ser todos felizes? Claro que a felicidade tem aspectos subjetivos, nestes casos, paciência... só nos resta respeitar. Ter não quer dizer ser, mas ter deve ser um direito de todos. Assim, simples, sem encompridar a prosa. Sem complicar a poesia:

Quero poesia simples
como água indo pro mar,

igual plantas nascendo
sobre túmulos abandonados,

como os frutos do pomar.

Quero poesia simples
como saque de sem-terra,

igual sonhos de inocentes
em meio a canaviais imensos

como o sol luzindo a terra.

Quero poesia simples
como a música do vento

como o fogo em movimento




Do livro Filhos da Terra - Edição do Autor 2009 - Esgotada



J Estanislau Filho, autor de A Moça do Violoncelo-Estrelas - à venda. Direto com autor, pelo e-mail jestanislaufilho@gmail.com e também de Todos os Dias são Úteis, Crônicas do Cotidiano Popular, entre outros.




13 comentários:

  1. Que perfeita visão da vida simples e da felicidade, Estanislau. Parabéns pelo texto.Abraços.

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  2. Uma visão de vida que mostra que precisamos de revisão de caminhos!! Parabéns pela beleza!!

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  3. Companheiro Estanislau Filho, gosto desse tipo de vida que o amigo tão bem narra, mas é impossível para mim nos dias de hoje, tanto porque preciso fazer visitas semestrais a vários médicos e o campo não me permitiria esse tipo de compromisso.
    Maravilhosa criação! Parabéns

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    1. Entendo Carlos. Em cada fase da vida, novos desafios, mas sempre aceitando a realidade que não pode ser modificada. E com felicidade.

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  4. Mais do que uma enorme inveja das suas crônicas e contos uma eu gostaria tanto de ter escrito, uma profunda admiração pelas crônicas e contos que me confirmam que há tanta beleza na vida. Que maravilha! Parabéns!

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  5. LINDO DEMAIS, O TEXTO E OS VERSOS. MEUS SINCEROS APLAUSOS. MUITO SUCESSO. PAZ E LUZ

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  6. Como esta simplicidade é algo que me fascina,tudo muito significativo.Muito lindo José Estanislau Filho...Sucesso!!!

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  7. Grato pelas lindas palavras, Maria. Volte sempre!

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