terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Os Pobres


 


"Quanto aos pobres, vós sempre o tereis, mas a mim nem sempre tereis". (João 12:8)


De tão pobre não tinha onde cair
morto estava desde que nascera
de um útero que jamais pedira
num ambiente que não escolhera

Em meio a pobreza nasceu
alimentando nos primeiros meses
de tetas murchas  que às vezes
um tênue fio de leite jorrava

Nesse ambiente de escassez
onde a morte é uma constante
brotava nos olhos do infante
sede e fome de uma vida farta

Mordia os seios com avidez
na ânsia de saciar a fome
enquanto a mãe chorava
a dor que a consumia

Aos oito era um adulto
pernas finas e cambotas
fez o seu primeiro furto
na mercearia mais próxima

A mãe preparou a refeição
ovo frito arroz e feijão
comeram e se fartaram
sentados no meio-fio

E no meio-fio tombou
ao som duma bala milícia
"bandido bom é bandido morto"
foi a manchete de triste notícia



J Estanislau Filho






12 comentários:

  1. A realidade cotidiana retratada com maestria em teu poema...Parabéns, Stan, excelente dia pra você.

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  2. Muito triste!
    De quem é a culpa?
    Da nossa indiferença, ou de um governo negligente? Cleonice Borges

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  3. Um poema narrativo que expõe uma dolorosa realidade!

    Um abraço da Beatriz

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  4. As vezes fico pensando o que é a "humanidade". Teu poema é uma ferida que nâo se cura, é uma realidade vergonhosa que mostra o quanto somos imperfeitos.

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    1. É isso aí, meu caro amigo e parceiro de letras. Abraço fraterno.

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  5. Essa realidade nos consome todos os dias.

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  6. Quando podermos valorizar e sentir a dor do outro seremos um ser melhor.

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  7. Querido Poeta!
    Assim tem sido e piorado cada dia que vai passando nesta nossa
    "Pátria Amada Brasil" (?)
    Seu poema é a tragédia anunciada no nosso dia-a-dia!
    E pensar que os chamados cristãos ,em nome de deus,elegeram um capeta...O seu poema é sempre a dor do humanamente desacreditável!

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  8. Luiza De Marillac Michel, poesia que sai das vísceras. Sensacional Stan! Um abraço fraterno.

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