quinta-feira, 9 de abril de 2015

Amor e Ódio



Ao darem a palavra de honra de não tornar pública suas relações amorosas, decidiram, em conluio,  plantar um jardim, para selar o pacto. Sonhavam ver seus caminhos juncados de flores e em volta, o chilreio dos pássaros.
     Caminhavam de mãos dadas pelos parques, sorrindo e se beijando. Sentavam-se em bancos de praças arborizadas, observando atentamente a fonte luminosa e os passantes. Em casa saboreavam bolinhos-de-chuva.
     Cego de amor, ele prometeu ir até o sol e trazer acesa a tocha, para aquecer seus dias. Ela prometeu acender círios coloridos pela casa, todas as noites, para que o breu não os impedisse de ver o brilho de seus olhos. Ele garantiu que iria ao fundo mar capturar um cavalo-marinho e o colocaria em um aquário, para o sortilégio de uma felicidade a dois.
     Todavia a névoa chegaria, impedindo-os de vislumbrar olhares dissimulados, gestos de fastio.
     Dos sussurros nos ouvidos percebiam orgasmos fingidos. Noites mal dormidas.
     No jardim as flores murchavam.
     Os círios foram se apagando um a um.
     O brilho dos olhos foi substituído pela palidez.
     Os sorrisos, outrora espontâneos transformaram-se em arremedos.
     As palavras tornara-se ásperas, insípidas.
     Agora o mundo inteiro ouvia as pragas mútuas.
     A honra fora substituída pela desonra.
     O amor pelo ódio.


J Estanislau Filho 

Do meu livro Crônica do Amor Virtual e Outros Encontros páginas 61/62
Os últimos exemplares ainda podem ser adquiridos no site da editora Protexto:
www.protexto.com.br 

26 comentários:

  1. Triste,mais há desencontros em nossa vida,onde poderia ser tranformados em uma linda história de amor...e que esta névoa desaparecesse e brilhasse o sol novamente ,pois o amor supera tudo.Parabéns pela crônica bem escrita meu caro escritor José Estanislau Filho.

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    1. Obrigado Maria Leni. Seu comentário me honra muito. Volte sempre.

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  2. Uma bela história de amor, sonhos e paixões, terminando. O cotidiano muitas vezes transforma as quimeras, pelo desgaste da rotina. por uma triste realidade. Um sábio relato de um caso de amor que acabou. Sua crônica, muito bem construída, atrai a atenção do início ao final. Aplausos Poeta Estanislau. Continue divulgando seus textos, para que possamos nos deliciar com tão gostosa leitura. Abraços
    luiza menin manfredi.

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    1. Pois é Luiza, dizem que o ódio é a outra face do amor. Obrigado pela leitura e pelo comentário. Seja sempre bem-vinda.

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  3. Um conto belo e, ao mesmo tempo, muito intenso. Penso ser o amor um compartilhar de sentimentos que se direciona na busca da harmonia. Onde se há ódio, não existe amor. Abraço, caro amigo e poeta, J Estanislau. (Giovanni Pelluzzi)

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    1. Sim Giovanni, que o amor não desarvore e se transforme em ódio. Obrigado pela presença, Volte sempre.

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  4. Uma pena, tantas juras e promessas esquecidas. Mas, o amor é assim mesmo...um tanto volátil! Mas, parabéns poeta pela belíssima crônica. Bj!

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    1. É isso Nana, quando se transforma em ódio, talvez nunca tenha havido amor. Obrigado pelo comentário, volte sempre.

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  5. MUITO BOM TEXTO, MAS PREFIRO OS TRÊS PRIMEIROS PARÁGRAFOS, DE ÓDIO BASTA O QUE VIVEMOS RSRSRS....
    PARABÉNS!
    ABRAÇOS

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    1. Terezinha, infelizmente o ódio existe, não podemos fugir a esta realidade. Eu também prefiro o amor, sempre. Obrigado pela presença. Seja sempre bem-vida. Abraços.

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  6. Parabéns pelo trabalho. Muito bom seu texto. Me senti parte desse texto, já vivenciei esse fato. Parabéns!

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    1. Obrigado Rubens Alves. Infelizmente é algo bastante comum. Seja sempre bem vindo. Abraço.

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  7. Belíssimo. Só que o momento que estou passando tem muito desse conto curto. Assim, sei muito bem o que é ter substituído todo o amor pelo ódio e começar a criar o ódio para uma troca justa. Sebastião Verly

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    1. É isso aí, Sebastião, contudo, a consciência prossegue. Obrigado, pela honra da leitura e do comentário. Volte sempre.

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  8. Sheik, Sheik, prefiro acreditar nos cavalos marinhos e nas noites de lua cimitarra turca. Beijo

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  9. Fantástica criação. Parabéns, amigo.

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  10. Amor e ódio se cruzam na avenida da solidão... Beijos querido Stan*****, Luiza Michel

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  11. Acho falar de amor, sempre uma coisa difícil. E do do "desamor", mais ainda. As palavras são como os "tons", que nos conduzem ao raciocínio do sentimento. Parabéns.

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  12. É o que chamo de inevitabilidades, resultantes das inabilidades nos relacionamentos...Hoje mostrei umas fotos dos meus primordios anos (está no face) e a inabilidade do maridão foi esta: não acho essas fotos bonitas, tem outras muito mais. Azedou o meu dia rsss.penso que quando não temos algo bom para falar é melhor ficar de boca calada. Considero essas inabilidades, pior do que infidelidade.

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    1. A um anônimo é sempre difícil responder, mas faz sentido. A inabilidade talvez seja resultado da ausência de amor.

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  13. Enquanto não trazemos a tona o nosso lado oculto, escuro, assombrado, fantasmagórico, afim de o integrarmos, a Luz da Consciência, circulamos indefinidamente, nas polaridades, amor x ódio, trevas x luz; bem x mal, pois que quando transformamos a sabedoria em amor, este se transforma em felicidade e a felicidade é um atributo e expressão legítima do Ser..
    Como sempre excelente tuas palavras e conteúdo que indaga a psique humana e suas manifestações sociais, psicológicas, mentais..Mil bjs.. Alice

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    1. Há que se superar o ódio. Como disse Nelson Mandela, mais ou menos assim sobre algo similar: ninguém nasce odiando. E se se aprende a odiar pode-se aprender a amar.

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