quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Filhos da Terra: Capítulos 14, 15 e 16


Rapidinho:

Filhos da Terra é uma novela dividida em vinte cinco capítulos. Narra a trajetória de Zenaide, uma ninfeta, que se envolve num mundo do sexo, droga e fúria. A história de uma garota da periferia; pobre, sensual, que sonha com o sucesso. Zenaide e sua família, num turbilhão de sentimentos. Um jornalista, como um anjo de guarda, surge em sua vida. Um amigo, um pai; um amor.
Capa: Berzé; Ilustrações do miolo: Eliana; editoração eletrônica: Fernando Estanislau; impressão: Editora O Lutador - 2009, primeira edição
Agradeço pela leitura e peço a quem encontrar algum erro de gramática ou digitação, por favor, me avise.


14 - O Tempo Continua Implacável

A vida segue o seu curso, com cada um se virando como pode. Marcelo era outro que estava com os dias contados. O álcool ia, aos poucos, roendo o seu fígado. Quando alguém lhe dizia para parar de beber, que o álcool matava aos poucos, ouvia como resposta a frase de que não tinha pressa de morrer. Acabou virando um personagem do bairro. Quase todos conviviam com ele, sem maiores problemas. Alguns até lhe pagavam uma dose de pinga, compartilhavam cerveja; outros se recusavam terminantemente, mas ele insistia. Como um cão enxotado, enfiava o rabo entre as pernas e saía, ou continuava rondando o ambiente, mas logo abanava o rabo ao primeiro que surgisse em seu itinerário, em geral de um dos bares do bairro, próximo de sua casa. Algumas vezes fora visto dormindo nos passeios, com as crianças bulindo com ele. A família tentou de todas as formas, afastá-lo do vício. Ele até cedeu, passou vários dias sem beber, trabalhando de servente de pedreiro e frequentando o centro espírita, em companhia da mãe, Edileuza e Tenório. Encontrar bons ajudantes era uma dificuldade que Tenório enfrentava, e nas semanas em que Marcelo o acompanhava nas obras, sentiu-se satisfeito, pois o ajudante era bom de serviço, mas durou pouco, ele voltava sempre pra bebida. Edileuza pedia paciência, como forma de ajudar o irmão. "Tenho fé", dizia Edileuza, "com a nossa ajuda ele vai largar a bebida. Mas Tenório era cético, por conta do próprio processo evolutivo. Para ele, Marcelo havia reencarnado nessa condição, por causa de encarnação passada e pelo seu livre-arbítrio. Mas a amada rebatia, com argumentos da própria doutrina, alegando que o irmão "não reencarnara entre eles por acaso, a espiritualidade o colocou em nosso caminho, para podermos ajudá-lo. Não podemos julgá-lo, talvez ele esteja nessa condição por responsabilidade nossa. Não sabemos o que fizemos em vidas passadas e agora a espiritualidade está nos dando a oportunidade de nos redimirmos, por meio dele, pelo amor", concluía com os olhos umedecidos. Tenório olhava a companheira com ternura e compreensão.
     Impossível, nessas horas não falar da situação em que Zenaide se encontrava. Com muito esforço Edileuza conseguiu convencer a irmã de não prosseguir com a ideia do aborto. Depois de algumas tentativas fracassadas e de muito sofrimento, ela desistiu. Um dia teve de ser levada ao pronto-socorro. Ao tentar enfiar uma agulha de tricô no útero, feriu as paredes da vagina e o sangue jorrou. Foi um desespero. A mãe, que até então não sabia de nada, foi quem prestou os primeiros socorros. Para evitar ocorrência policial, alegaram uma queda no banheiro e ao tentar se segurar, derrubara uma escova pontiaguda , nela caindo sentada, ocasionando, assim, os ferimentos. A garota caminhava para o quarto mês de gravidez, quando da última tentativa de aborto. Antes tomara uns chás de guiné, sem sucesso. Após se conformar, telefonou para a redação do jornal e informou a Elói, que iria a clínica fazer todos os exames, inclusive o de HIV e o pré-natal. Elói garantiu-lhe o apoio e disse, que quando tivesse um tempo livre, iria visitá-los.

                             ************

     Olhando Edileuza às vésperas do parto, Tenório falou da felicidade de ser pai. "Um filho, ou filha, tanto faz, vai mudar a nossa vida", dizia estampando um sorriso sereno, alisando carinhosamente a barriga da futura mãe, com palavras ternas ao pequeno ser, a nova vida que brotava das entranhas da mulher amada. Era a grávida mais bela. Revelara-se uma excelente companheira e não parecia existir no mundo um casal mais feliz. Quanto a irmã, estavam otimistas, apesar de ainda não saber o resultado dos exames. Todos aguardavam com ansiedade, devido a possibilidade de a mãe e feto estarem infectados. "Vai dar tudo certo", dizia Edileuza, com as mãos postas, "mamãe terá dois netinhos", "ou duas lindas netinhas", corrigia Tenório.
"Também acontecer de vir um neto e uma neta, porque não?", completava Edileuza. Abraçaram e se beijaram . Nesse momento ouviram batidas forte na porta. "Deve ser a mãe, conheço seu jeito afobado", disse Edileuza, levantando-se para atender. Mal abriu a porta, Dona Sônia entrou esbaforida: - Minha filha, o resultado é positivo - disse sentando-se no sofá. - Calma mãe, o que deu positivo?  - Ora, filha, Zenaide está infectada, tem aquela doença... - A senhora quer dizer que ela está com AIDS, esse é o nome correto "daquela doença", mãe - corrigiu Edileuza. - É... É isso daí. Meu Deus!, vocês sabiam? Indignou-se. - Não mãe, claro que não. Tínhamos suspeitas, mas isso não interessa. Saber o que aconteceu não muda nada. O que tem de ser feito, será feito. AIDS não é mais um bicho de sete cabeças. Os infectados, com acompanhamento médico, fazendo uso do coquetel, podem levar uma vida quase normal - respondeu a filha em tom professoral. - Ai meu Deus do céu - desesperava-se -, a gente não consegue ter sossego. Mais esta! E a criança, a pobre criança! Alguém sabem quem é o pai? - Zenaide não conta, mãe, diz que não sabe. - Sem pai, com AIDS, sem futuro...
     - Preste atenção, Dona Sônia, vamos esperar. É possível que a criança nasça saudável. Zenaide deixou de ser desmiolada. Ela me contou sobre as palestras que assistido no Iria Diniz e os médicos disseram da possibilidade de o feto não estar infectado. Antes da realização dos exames e até hoje, ela participa, atenta, das palestras. Além da enorme ajuda que Elói esta dando, ela está surpreendentemente responsável, mãe, procurando atendimento, também na saúde pública. Ela me disse não ser justo explorar o Elói. Não é bacana? - dizia Edileuza, para abrandar o coração agitado da mãe.
     - Ah sei não! Às vezes penso que o Elói é o pai, sumiu de repente... Não confio em mais ninguém.
     - Ah pára com isso, mãe! Elói não é o pai, tenho certeza e se fosse até que seria ótimo. Infelizmente não é. Vamos fazer o que tem de ser feito. Nada de pânico, pois a hora é de cabeça fria, Zenaide já sabe?
     - Está sabendo. Vim com ela do médico, esqueceu que ela é de menor? Ela chorou muito, está em casa. Conversamos com o médico e agora começa o tratamento. Segundo o doutor, o vírus não se desenvolveu, há chances , com o tratamento, de a criança nascer saudável. Uma cesariana, sem contato com o sangue. A doença pode se desenvolver, ou não. A medicina está avançada - disse a filha, consolando a mãe.
     - O Lula começou mal. Está pior que o outro. Votei nele porque o Elói pediu, eu queria anular. Os postos de saúde estão abarrotados. Tudo de errado é culpa da tal herança maldita do Fernando Henrique. Em Contagem, então, nem se fala...
     - Eu já me decepcionei com um deputado evangélico. Realmente, Lula está deixando a desejar. Mas é cedo, ele ainda nem esquentou a cadeira. Pior que FHC é impossível. Mas não quero saber de política. Vamos dar apoio a Zenaide, assim como estamos apoiando o Marcelo. Além de ter o nosso sangue, são filhos da terra abençoada e como tais, não se entregam - animou Edileuza.
     - E tem outro jeito? São meus filhos e desejo a todos a maior felicidade do mundo - respondeu a mãe. Em seguida foram ver Zenaide, em repouso.



15 - Para Onde Vai o Governo?



Na redação, Elói passava maus momentos, por ter votado e defendido a eleição de Lula. Ao completar um ano de governo, a realidade econômica e social não davam sinais de melhoras. Ao contrário, a situação estava difícil: a saúde um caos; o desemprego aumentando; a violência crescendo; os ataques da mídia empresarial aumentando e os argumentos em defesa do governo, diminuindo. As pessoas perguntavam: afinal, para onde vai o governo? Elói era alvo de deboches de muitos colegas de redação, que acabavam revelando seus preconceitos e ódio contra o novo governo. E, claro, o governo dava munição aos opositores com declarações confusas e trapalhadas palacianas. Elói não cedia aos argumentos dos colegas, mas intimamente estava decepcionado. O governo aderira à política do capital financeiro; o Partido dos Trabalhadores transformara-se em um apêndice do governo, abrindo mão de sua autonomia, perdendo a capacidade crítica de suas características originais, de partido democrático, socialista e de massas. Não era mais um espaço de organização do povo brasileiro e o governo consolidava políticas conservadoras. A esperança de Ellói era de que os movimentos sociais saíssem do imobilismo, pois somente por meio deles poderia haver pressão sobre mudanças de rumo. Era um governo que estava em disputa, e o poder econômico, com o apoio da mídia empresarial, estava levando a melhor. Elói compreendia, que o poder de fato, estava em outras mãos, representando, simbólica e terrivelmente pelo FMI. O malabarismo continuava com Palocci.
     - E aí, companheiro? - perguntou Manuela, com ironia -, Até quando vamos aguentar este governo chinfrim?
     - Você deve estar se referindo ao governo do estado, esse sim, acabou com a liberdade de imprensa - respondeu irritado.
     - Pelo menos não vejo ninguém reclamando dele, mas o governo federal, puxa!
     - Manuela, o Lula não vai solucionar nada da noite para o dia. Enquanto o seu Aécio intimida jornalistas! Vai ver se eu estou lá na esquina - retrucou, encolerizado.
     - As piadinhas o deixava estressado. A única resposta que conseguia formular era: - cuidado, o Lula pode conquistar um segundo mandato e calar a boca de vocês.
     Embora não tivesse votado em Lula, Renato Barros era bom de prosa. Com ele, mantinha um diálogo de alto nível. Era também um fiel depositário das decepções e críticas de Elói.
     - Renato, na verdade não estou nem um pouco satisfeito com os rumos, ou a falta de rumo do governo - dizia, bebendo seu uísque doze anos, na Cantina do Lucas -, minhas críticas são as concessões absurdas aos padrões econômicos e financeiros ao FMI e a obsessão com o equilíbrio das contas, inclusive, influenciando gastos. Entendem, que gastar com universidades públicas é favorecer as elites endinheiradas, como se fosse um desperdício. Isso é política neoliberal, continuísmo.
     - Sim, concordo. Renato interrompe a conversa, para perguntar ao garçom sobre Seu Olímpio, o velho garçom comunista. - Então, Elói, concordo com você, além das dificuldades por conta das alianças. Você conhece a história do fisiologismo sedento de verbas, o baixo-clero, a corrupção. Essa turma não tem jeito, eles sempre se elegem e não importa quem está no executivo. Entra governo, sai governo, o PMDB está de plantão, para colaborar com a go-ver-na-bi-li-da-de! Já pensou? Sarney, Jader Barbalho, Newton. Sem falar em Paulo Maluf, Delfim... Mas voltando a questão da conciliação, no Brasil sempre foi assim. A história comprova que somos campeões de conciliação de classes e me parece que tem aprovação popular. Neste processo conciliatório, o Estado é instrumento da elite. Muitos defendem, que para melhorar as condições de vida da população é necessário fazer o país crescer, com base em taxas de no mínimo sete por cento ao ano durante décadas, para recuperar os anos de estagnação, etecétera e tal. No governo Fernando Henrique, bastou um leve crescimento, para os problemas de infraestrutura surgirem, houve apagão de energia elétrica. Que tipo de apagão poderá surgir no governo Lula eu não sei, uma vez que ele terá de tomar medidas em favor do crescimento, isto é, se antes não for deposto.
     - Esse é o meu conflito - disse Elói olhando as horas -, a elite do dinheiro não engole o Lula, apesar de ele ser extremamente benevolente  com ela, ficam o pé atrás, por causa de sua origem pobre, sindicalista. E claro, por sua inserção social. Nesse sentido eu o defendo, contra o preconceito de classe, mas quando o vejo aplicando o receituário neoliberal...
     - Eu não descarto a possibilidade de um impeachment - interrompeu Renato -, porém não vejo uma conjuntura favorável. Mas aqui tudo é possível, se for para manter o privilégio de uns poucos. Acontece que saímos recentemente de uma ditadura militar, de um presidente afastado e o Lula teve uma votação expressiva. Torná-lo refém das políticas neoliberais, creio ser a opção preferencial da burguesia nacional e internacional. Assim não será necessário tirá-lo da presidência. O Fernando Henrique era o queridinho das elites, de repente o Lula aparece...
     - É aí que entram os movimentos sociais, porque não é possível! As desigualdades sociais são enormes, há uma demanda e nós, queremos as tais mudanças, não podemos nos omitir - finalizou Elói, anunciando que precisava ir pra casa.
     - Nós não, cara-pálida, vocês. Tô fora, você sabe do meu ceticismo com os políticos... Não tenho idade, nem tempo - retrucou Barros, rindo.
     - Alienado, é isso que você é - respondeu Elói, retribuindo o sorriso.
     - Não misture alhos com bugalhos. Se há governo, sou contra!
     Despediram-se.


 16 - Reviravolta

O que antes era de um jeito, transforma-se repentinamente. Em alguns casos as mudanças são lentas, quase imperceptíveis. Nem mesmo os que têm condições econômicas favoráveis podem se acomodar, pois o mundo está em constante transformação. Alguns conseguem prever as mudanças que acontecerão em décadas futuras e planejam suas ações. De um lado os poucos privilegiados se preparam para uma nova realidade econômica e social, enquanto do outro lado os apartados apertados vão se virando  como podem, correndo atrás do prejuízo, sobrevivendo às intempéries. Permanente mesmo é a luta pela vida.
     É possível fazer algumas previsões catastróficas quando se trata das pessoas que vivem precariamente. É possível prever tragédia social quando governantes atropelam direitos ao defender a responsabilidade fiscal e a redução de déficit previdenciário através de reduções salariais de aposentados e pensionistas; quando criam obstáculos jurídicos e periciais na concessão de aposentadorias; quando são lentos na implantação da reforma agrária; quando não há perspectivas de curto prazo para os jovens. Seria possível prever o futuro da garota mais linda do bairro? Ela teria condições objetivas e subjetivas de realizar os sonhos? Os otimistas e de corações puros diriam que ela seria feliz, que pela sua beleza faria sucesso. Torciam por ela. Os pessimistas empedernidos diriam que o destino dela estava definido: drogas, prostituição, vadiagem, tristeza e dor. Quais eram as opções de Zenaide? Por enquanto deixemos a garota mais linda do bairro e vamos ver o que Marcelo anda fazendo.
     Quem poderia imaginar que ele abandonaria o vício etílico e pegaria rumo na vida? Uma aposta, que nem mesmo os membros da família fariam, exceto Edileuza. Marcelo não só abandonou o vício, como se tornou um exímio pedreiro. Ele e Tenório planejavam construir uma microempresa, a T & M Construção Civil. Não dispunham de capital suficiente, mas estavam otimistas. Marcelo era outra pessoa, as marcas deixadas pelo vício apagavam-se de sua face, a pele estava lisa e depois de ter ido ao dentista, podia sorrir com segurança. As mulheres, mesmo as que o evitavam, agora faziam charme, tentando seduzi-lo. Ele não se fazia de rogado, atendia a todas com atenção, ao ponto de muitas passarem a chamá-lo de "galinha". Ele respondia, "galinha não, galo". E gritava Galo, Galo! Era atleticano, para irritação do cruzeirense Nestor do Bar. De fato, nas noites de folga e em finais de semana, estava sempre acompanhado de uma garota diferente. Dona Sônia o aconselhava arranjar uma moça séria, para constituir uma família e progredir na vida. O filho respondia que não queria saber de casamento, precisava recuperar o tempo perdido no alcoolismo. Nas conversas sobre sexo, em casa ou com os amigos, gabava-se de sua virilidade. Em tom machista dizia não conseguir trepar com todas as mulheres do mundo, mas estava tentando. Tenório e Edileuza esforçaram-se em convencê-lo a se manter fiel à doutrina kardecista, mas ele preferiu ser voluntário do AA. Depois de se livrar do vício, continuou assíduo, empenhando na causa, como forma de retribuir a ajuda recebida. Frequentava o AA Mãos Amigas, dava depoimentos, ajudava a manter a sede organizada, um exemplo de que é possível sair da dependência química.
     Dona Sônia, inteiramente recuperada da perda de Wallace, frequentava o centro espírita. Estava feliz, apesar dos desatinos de Zenaide, mas não sofria, porque tinha a resposta: livre-arbítrio. A menopausa deixou-a mais serena. Estava namorando o Seu Atílio, um viúvo sacudido, no dizer dela, médium do centro, que recebia mensagens de almas inconformadas, ansiosas por reencarnar. Dona Sônia, Soninha para Seu Atílio, tomou uma decisão, que estava deixando os vizinhos incomodados. Cuidar dos gatos abandonados é uma missão altamente espiritual, dizia. "Mas Sônia, com tantas crianças desamparadas, esperando adoção, você vai gastar dinheiro e tempo com gatos?" - inquiria Ivonete, a amiga dos tempos da gandaia.  - É de partir o coração ver estes pobres animais perambulando pelas ruas, famintos e doentes, maltratados. Pobrezinhos, tão carentes, tão fofinhos. Como alguém pode deixar estes pobres animais, indefesos, sem o aconchego de um lar? Vou cuidar sim! - afirmava, convicta, olhando fundo os olhos da amiga - Eles também têm almas, não nasceram gatos atoa, porque tudo tem uma razão, uma explicação. Ivonete caía na gargalhada, achava uma esquisitice a nova mania da amiga, mas respeitava. Porém alguns vizinhos tinham opiniões contrárias, sentiam-se incomodados. Alegavam serem importunados pelos miados, impedindo-os de dormirem, e muitas vezes invadindo suas casas, transmissão de doenças, ataques nas despensas. - Doença eles não transmitem - afirmava convicta - porque são vacinados; não bolem nas despensas, porque eu os alimento e não é verdade que perturbam o sono, porque dormem como anjos à noite... - Um momento, interrompia Ivonete - gatos tem hábitos noturnos... - Os meus não - retrucava Sônia - às vezes miam de dia, porque é da natureza de gatos, miar e não é normal as pessoas dormirem de dia, a não ser estes desocupados, que passam a noite toda nos botecos, bebendo e jogando cartas, ou criminosos, que dormem durante o dia, para fazer assaltos à noite. - A senhora está me chamando de vagabundo? - reagia, nervoso, Seu Justino, metalúrgico aposentado, que tentara várias vezes, sem sucesso, seduzi-la. - Não quis dizer isso pro senhor, Seu Justino, me desculpe - respondia, caindo em si -, tenho o maior respeito pelo senhor, que conheço ó, faz tempo.

     Estes atritos eram facilmente contornados, porém alguns garotos da Vila Subaco das Cobras, deram para caçar gatos e fazer churrasco deles, para o desespero dela. - Mas que merda, estes meninos não têm o que comer? Precisam sacrificar os meus bichanos? - Recamava com os vizinhos. Assim Dona Sônia vivia feliz com seus amores. Para a felicidade ser completa, só faltava Zenaide se ajeitar na vida.


                                                                  Imagem: Google




Aguarde os próximos capítulos quarta-feira.
Obrigado pela presença generosa

O autor

2 comentários:

  1. Boa tarde Amigo Escritor Estanislau: Quando mentem e você já sabe toda a verdade, tem um sarcasmo no sorriso, que é implacável. Quando pedimos a uma pessoa para que seja Justa, autorizamos também para que seja implacável. Winston Churchill, político: sucesso é ser implacável “O sucesso é ir de fracasso em fracasso; sem perder o entusiasmo”. Tudo é emergia que gira e isso é o mais importante. Nesse capitulo, a reviravolta é impactante.´Prendendo o leitor, do princípio ao fim. Meus parabéns, aguardarei já ansiosa, os próximos! Abraço da Luiza, com toda admiração !

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  2. Fatos sociopolíticos escritos com maestria.

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