terça-feira, 4 de setembro de 2018

Eu estive com Luis Inácio



Queria escrever algo sobre Lula, mas não sabia como começar. Falar de sua biografia? Não, isso é do conhecimento geral. Sobre o legado de seus dois mandatos? Também não, basta uma pesquisa, que se encontra tudo. Como ajudou a eleger e reeleger Dilma? Da perseguição jurídico-midiática, que o levou a ser um preso político? Uma poesia? Ah, não. Já se falou de Lula, bem e mal, de todas as maneiras. Ora, vou falar de como o conheci desde a segunda metade da década de setenta. Século 20. De forma sucinta. Sim, eu estive frente a frente com ele, mas nunca tirei uma foto ao seu lado.
     Em 1976 iniciei a minha militância no movimento sindical metalúrgico. Foram apenas quatro anos, pois em 1980, por estar desempregado, saí da categoria. Mas já estava envolvido no movimento cultural e na construção do Partido dos Trabalhadores. Meu primeiro contato com ele foi em 1979, quando ele esteve no município em que eu morava e militava. Na grande greve dos metalúrgicos de Contagem, que participei ativamente. Lula passou rapidamente, para uma reunião sobre a criação do PT. Apenas o vi, não falei com ele, nem tirei uma foto, como tantos fizeram, para registrar o encontro. Eu tinha muitas dúvidas quanto a construção do partido. Se se seria um partido de massa, ou de quadros. Mas isso é outra história.
     Depois me lembro de tê-lo visto no palanque das Diretas-já, em Belo Horizonte, em 1984. No palanque, além dele, estavam vários políticos e artistas: Leonel Brizola; Tancredo Neves, Ulisses Guimarães, Fagner, Gonzaguinha, entre outros.
     Em 1989 ele voltou a Contagem e uma fila enorme se fez, para tirar foto com ele. Mais uma vez não fiz meu registro fotográfico. Depois explico porque.
     Voltei a ficar frete a frente com aquele que seria o melhor presidente da história do Brasil, em 1997, numa manifestação em Brasília, pelo "fora FHC". De novo, não tirei uma foto ao seu lado. Se bem, nesse dia, fosse difícil. Lula estava à frente da caminhada rumo a Esplanada dos Ministérios, de mãos dadas com outras lideranças políticas, sindicais e sociais.
      Em 1989 fizemos uma campanha emocionante. O movimento sindical me deu consciência de classe. As leituras de intelectuais e filósofos como Karl Marx, Engels, Jean-Paul Sartre, Florestan Fernandes, Marilena Chauí, entre outros e outras, além do cinema, me deram a consciência política. E Lula com sua garra, ânimo, amor ao povo e a certeza de que um outro Brasil era possível. Acho que é assim com todas as pessoas: quando a consciência política aflora, não nos larga mais. Ela é abrangente. Lula é, sem dúvida, o político que mais influenciou o engajamento político de minha geração. E isso não é fácil para os conservadores, mesmo com seu aparato jurídico e midiático, destruir. Meu filho e minha ex sempre votaram no Lula e nos candidatos que eu indicava. Pois é, dizem que santo de casa não faz milagres. Não que eu exigisse, era mais por conta de suas formações. Em nossa casa tinha uma pequena biblioteca, com livros de literatura, política, economia. De Fernando Pessoa a Drummond; de Lênin a John Reed; de Gabriel Garcia Marquez a Machado de Assis; de Eric Hobsbawm a  Sartre; Guimarães Rosa, Euclides da Cunha e por aí vai. Além dos jornais: Opinião, Pasquim, De Fato, O Companheiro. Não havia internet, óbvio. Em nossa pequena biblioteca, com cerca de mil livros, tínhamos poster de Lula e Che Guevara. Falávamos muito de política e de que o Partido dos Trabalhadores, sob a liderança de Lula, chegaria a Presidência. Em 1989, como já disse acima, quase chegamos lá. Se tivesse a internet, talvez teríamos chegado. Mas a força da Globo, influenciou (todos sabem da manipulação do último debate) e o Collor se elegeu. Com o mesmo discurso dos golpistas atuais: combate à corrupção.
    Uma noite, não me lembro o ano, creio em 1982, o Lula foi à minha casa. De novo não registrei em foto. Calma, logo logo explico. Chegou e saiu rapidamente. Deu-nos um abraço e me chamou de companheiro. E se foi.
      Lula passou a ser uma referência política em minha vida, mas jamais um ídolo. Em 1994 a campanha não foi emocionante como a de 1989. Com o processo de profissionalização do partido, a ligação com a base social se distanciou. Os núcleos deixaram de existir. O Plano Real conquistara o eleitorado. Em 1998, FHC, com a compra de deputados, aprova a emenda da reeleição, elegendo-se novamente. Em 2002, depois de perder três eleições presidenciais e uma ao governo de São Paulo, Lula se elege e implanta um programa de governo que mudou a minha vida e de minha família. Pela primeira vez viajo de avião; compro um carro e até uma chacarazinha.  A minha vida, como de tantas outras se transforma. Para melhor. O resto da história, todos sabem.
      Para finalizar, explico porque não tirei uma foto com o Lula e de sua visita em minha casa. Sempre fui arredio a líderes. Pensava e ainda penso, que cada um deve ter a sua consciência política; ser capaz de interpretar as conjunturas, sem a necessidade de um guia. Político ou espiritual. Ou seja, que a sociedade civil, coletivamente, tenha a capacidade de discernimento, para que nenhum aventureiro retire direitos, explore.  Um cenário em que "o líder" não seja necessário. É que o líder é e sempre será alvo de ataques do sistema. Ao cortar-lhe a cabeça, os liderados ficam sem rumo. Uma sociedade democraticamente sólida se constrói com indivíduos politicamente conscientes, não sujeitos à manipulação. Por isso, não registrei em foto os encontros que tive com o melhor presidente que o Brasil já teve. Quanto a visita dele em minha casa, acordei muito feliz, pois fora um sonho.
     Não direi que não estou triste com a perseguição implacável que a classe dominante, por meio de seus porta-vozes (Globo, empresários e judiciário) fizeram com o Lula, para tirá-lo da disputa presidencial. Como não ficar triste de saber que ele se encontra numa cela (diga-se de passagem, injustamente), sem poder fazer o que sempre fez: defender o povo brasileiro, em especial os mais pobres. Por isso continua na sendo o preferido.  Sim, eu votaria num condenado, dependendo de quem e da forma em que foi condenado.

J Estanislau Filho

                                                                 Imagem: Google

8 comentários:

  1. O conheci quando veio a Manaus para inaugurar com seu julgamento a Auditória Militar, que antes era no Pará. Ele respondia a um processo de homicídio porque tinha apoiado uma greve no Estado do Acre, que ainda não possui sua própria auditória militar.

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  2. Boa tarde, Carlos. A perseguição vem de longe. Desde os tempos de sindicalista. O povo não desiste de Lula.

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  3. Boa noite Estanislau: Tão jovem e tão ávido em lutas políticas sociais. Lula e um Grnde Estsditaa. Nada tira esse é demais titulos dele. Um abraço da Luiza

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  4. Bom conhecer essa página da sua história. Realmente é muito triste ver o que fazem com estadistas que pensam no povo e no Brasil como Nação. Por isso nossa História é cíclica. Lamentável.

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  5. Tive o prazer de vê-lo em cima de uma caminhão pedindo pela melhoria de salário e condições de trabalho, os patrões tinham ódio dele. Depois quando se candidatou os patrões nos ameaçavam de falar ou votar em PT. Quem acompanhou a luta dele, sabe dar valor em seu caráter, sempre lutando pelos operários e pelo povo em geral, principalmente os mais pobres.

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    1. Agradecido pelas palavras sábias e generosas, Norma. Sempre bem-vinda.

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