quarta-feira, 20 de março de 2019

Alma Gêmea



João Batista tinha algumas qualidades que as mulheres com as quais saíam gostavam:

Primeiro, era discreto. Não alardeava suas conquistas. Segundo, sabia ouvir, falava pouco e tinha uma intuição forte em dizer o que elas queriam ouvir. Terceiro, era um amigo. Tornou-se amigo de todas, exceto de Luzia, que exigia fidelidade. Ficou amigo inclusive de algumas em que o sexo não rolou. E finalmente, sabia esperar e tinha sempre uma palavra de consolo, quando desabafavam suas tristezas e mágoas. Levava uma lembrança à amada: Uma muda de planta, uma peça de decoração doméstica, uma peça íntima, que elas exibiam para os maridos tontos
.
Maura era uma mulher esplêndida. Casada com funcionário público que só chegava em casa embriagado, ela não pensava duas vezes: ia se encontrar com João Batista, na casa dele. Quando voltava, por volta das vinte e três horas, o marido estava roncando ou ainda não tinha chegado.

Quando não está bêbado, está reclamando de alguma coisa, dizia para sim mesma, talvez para justificar a sua traição. O traste nem me procura mais. Mas tem suas qualidades, não deixa faltar nada em casa, tem um bom salário.

Maura iniciava o ritual erótico diante do espelho, enquanto Batista permanecia deitado, olhando-a tirando peça por peça, dançando ao som de uma música imaginária. Inteiramente nua, rebolava sensualmente, mordendo os lábios. João, nu, excitado, não tirava os olhos de cima dela. Tudo maravilhoso durante quase um ano, quando a coisa começou a desandar. Primeiro Maura contou-lhe que o marido tinha outra mulher. E ao contar, chorou copiosamente. João propôs pararem com os encontros, afinal, Maura estava dividida.

Ficaram quase quinze dias sem se ver, quando o telefone tocou: era Maura, queria vê-lo. O marido saíra de casa e tinha ido morar com a outra, lamentou.

- Mas há males que vem pra bem, consolou ele, agora você está livre, a gente pode sair da clandestinidade. Quem sabe a gente possa morar junto. Penso em construir um lar.

- Se você frequentar a minha igreja, prometo pensar. E farei deliciosos bolinhos de chuva...


J Estanislau Filho



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