quinta-feira, 28 de março de 2019

As Dúvidas de Fátima

                                                                    Imagem: jef


Fátima de Albuquerque só tomou consciência de que era solteira e livre ao comemorar cinquenta e cinco anos de vida. Estava sob fogo cerrado das amigas há mais de oito anos, para que saísse da abstinência sexual desde que separara de Claudionor, aos quarenta e cinco. Portanto comemorava os cinquenta e cinco anos de idade e dez de separação. Dez anos de tortura, afora, pelo menos, mais dez de vida a dois. Porque no começo eles até que se davam bem e tiveram três filhos, ou melhor: um filho e duas filhas: Flávio, Ana Clara e Lúcia. Flávio, o caçula, morava com ela. Parece não ter conseguido superar a fase edipiana. 

Brindaram, com espumante francês! Mas Fátima estava insegura e não queria fazer sexo com qualquer um. Não se lembrava de como era um orgasmo. Nem tinha certeza se tivera algum. Depois de ter saído de uma relação dramática, só não entrou em profunda depressão por causa dos filhos. Sublimou-se. 

Voltou a pensar em fazer sexo. A ideia foi crescendo e se desenvolvendo mais rápido do que ela pensava. Começou a sentir arrepios repentinos. A suar sem mais nem menos e sentir um calor gostoso entre as coxas. Até que um dia não suportou e se masturbou. Mas sentia-se insegura, não sabia como abordar um homem, ela que recebera uma educação conservadora.

- Fátima, os tempos mudaram. As mulheres estão no comando - diziam-lhe as amigas, em conluio.

Foi então que Flávio convidou o amigo João Batista a ir à sua casa, para mostrar-lhe sua parafernália eletrônica. Mas João se encantou mesmo foi com a mãe. Olhou-a de soslaio e ela sentiu um arrepio. Aproveitou o instante em que o outro foi ao banheiro e disse para Fátima, assim na lata:

- Estou afim de você. Posso te ver uma hora dessas?

- Pode vir amanhã, às dez. Aqui em casa! Flavinho não estará - respondeu sem pestanejar. Em seguida se arrependeu, "ai, Fátima, sua tonta, não seja tão fácil". Era tarde para voltar atrás. Também não queria.

Batista se fez de difícil: chegou às dez e trinta e foi logo agarrando Fátima com leveza. Ela amoleceu. Beijou-a de língua. Fátima sentia o ar sumir. Arrancaram as roupas e fizeram sexo na cozinha, em pé, contra a parede. Depois do amor, saborearam um delicioso bolinho de chuva. Durante cerca de um ano encontraram-se ao menos uma vez por semana para fazerem sexo. Gostavam de gozar olhando-se nos olhos, que ficavam mágicos nestes momentos. Ela dava longos suspiros quando ele sussurrava em seu ouvido a palavra gostosa. Fátima se transformou em outra mulher. Foram dias felizes até João entender ter chegado a hora de romper os laços. Deu adeus a Fátima, que retribuiu com um aceno e um sorriso. 



J Estanislau Filho





2 comentários:

  1. História bem contada, rica em detalhes e nos fez perceber todas as fases de Fátima até novamente ficar só...Na certa agora já assim muito tempo não ficaria! abraços, tudo de bom,chica

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    1. Olá, Rejane. Sempre uma alegria receber seu comentário. Sempre generosa. Tudo de bom pra ti, amiga e parceira de letras. Abraços

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