sexta-feira, 1 de março de 2019

Suzana





Suzana trouxe alegria e leveza aos seus dias outrora desordenados. Ela afirma, categoricamente, que rir é o melhor remédio. Contraditoriamente leva isso a sério. Segue à risca esse princípio, a ponto de rir das próprias trapalhadas, como pedir ao vizinho casado, para abotoar o seu vestido cheio de botões nas costas, depois de uma noite etílica. Quando a esposa aparece e vê a cena, imaginem a e-nor-me saia justa! Nesse caso, vestido justo. Acorda os moradores do prédio, por causa de uma horripilante, porém, inofensiva barata.
   Ele quer conhecer Suzana pessoalmente. Ela diz aceitar o encontro. Mas ele desconfia, receia ser alvo de seu humor satírico. Ou ficar com cara de tacho a espera da mulher sedutora, que não irá ao encontro. Desconfia, também, que por trás dos textos leves, soltos e hilários de Suzana, esconde uma mulher triste. Mas no fundo acredita que Suzana seja mesmo uma pessoa de bem com a vida, tal a sua transparência.
   Vai correr o risco do encontro. Imagina uma conversa acompanhada de um bom vinho nacional, pois o espumante francês não cabe em seu parco orçamento, assim como um vinho do Porto. Se ela preferir um suco natural, ou uma caipirinha, ele vai gostar. A não ser que ela banque a conta, o que seria deselegante. Nos tempos atuais, o correto é a divisão. Dirá a ela para que o encontro seja na Cantina do Lucas, no edifício Maleta. Se ela não comparecer, vai lembrar-se dos tempos em que Seu Olímpio servia-lhe doses generosas de uísque. A generosidade de Seu Olímpio era somente aos comunistas. Dose reduzida aos clientes capitalistas. Na concepção do garçom comunista, era uma forma de se fazer justiça. Como Robin Hood.
   Outra ideia é surpreender Suzana em sua caminhada matinal  na esplêndida Praça da Liberdade. Pensa levar-lhe uma rosa, cuja cor ainda não definiu. Se ela cair na gargalhada, será alvo de seu bom humor. Mas se lágrimas sutis brotarem, bom sinal. Sinal de que ela, além de bem humorada, tem sensibilidade à flor da pele.


J Estanislau Filho


Obs.: Esta crônica integra o livro Crônica do Amor Virtual e Outros Encontros - 2012 - Esgotado.

2 comentários:

  1. Sheik querido! Homenagem linda! E é isso aí: rir SEM-PRE é o melhor remédio. Nem que seja da gente mesmo! Beijo e saudade desse tamanhão, ó!

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  2. Valeu, a saudade é recíproca, querida. Beijo

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